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Tecnologia e Educação:O aluno aprende sozinho a usar, o professor garante segurança

Tecnologia e Educação:O aluno aprende sozinho a usar, o professor garante segurança

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Pesquisa TIC Educação 2018 destaca a importância do educador como mediador para uso de tecnologias, mas falta formação estruturada para isso.

Texto Portal Porvir

Aprender sozinho é o principal caminho encontrado pelos alunos na hora de usar tecnologia. Apenas para 44% dos estudantes de escolas urbanas, os professores são considerados fonte de informação sobre o tema. Antes de recorrer ao apoio dos educadores, eles trocam informações com amigos, parentes ou até mesmo buscam vídeos e tutoriais disponíveis na internet. Os dados são da TIC Educação 2018, divulgada em julho pelo CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil), por meio do Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação) do NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR). Para investigar o acesso, o uso e a apropriação das TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) nas escolas públicas e particulares brasileiras de ensino fundamental e médio, a pesquisa entrevistou presencialmente, em escolas urbanas, 11.142 alunos de 5º e 9º ano do ensino fundamental e 2º ano do ensino médio, 1.807 professores de Língua Portuguesa, de Matemática e que lecionam múltiplas disciplinas (anos iniciais do ensino fundamental), 906 coordenadores pedagógicos e 979 diretores. Nas escolas rurais, foram ouvidos 1.433 diretores ou responsáveis pela escola. “Mesmo não sendo a principal referência para os alunos (na busca por conhecimento em tecnologia), os professores são mediadores para o uso das tecnologias”, disse Daniela Costa, coordenadora da pesquisa TIC Educação. Segundo ela, os educadores já são reconhecidos pela maior parte dos alunos de escolas urbanas públicas e particulares como validadores do conteúdo encontrado na internet, seja na hora de comparar informações em sites diferentes, para indicar sites ou produzir trabalhos. Diante dos riscos à privacidade e de perigos on-line, assumir papel de mediador não significa saber menos que o estudante. Para a consultora Maria da Graça Moreira da Silva, docente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e consultora do Instituto Natura, os educadores devem trazer uma intenção pedagógica clara para fazer o uso desses recursos digitais. “Os alunos normalmente sabem usar as tecnologias com os seus colegas para jogar, conversar ou acessar WhatsApp e Instagram, mas isso não significa que eles sabem aprender por meio de tecnologias”, disse a consultora.

 

Formação de professores em tecnologia

 

Quando o assunto é tecnologia, a tendência de aprender sozinho também ganha força entre os educadores. De acordo com a pesquisa, 90% dos professores afirmaram que aprenderam sozinhos a usar as tecnologias. Nos últimos três meses anteriores à realização da pesquisa, 76% dos professores participaram de cursos sobre tecnologia, especialmente sobre como melhorar sua prática e ajudar alunos a fazer uso seguro delas. Daniela Costa, do NIC.Br, ressaltou, no entanto, que ainda faltam maneiras mais estruturadas para formar professores, seja nas escolas públicas ou particulares. Na formação inicial, o contato de tecnologia acontece de forma desigual dependendo da área de conhecimento do professor. Enquanto 58% dos professores de Matemática disseram ter cursado disciplina específica para tecnologia, apenas 42% de Língua Portuguesa dizem ter passado pela mesma experiência. “Existe uma tendência de a tecnologia estar mais presente nas áreas de ciências exatas, mas eu diria que as políticas públicas enfrentam um grande desafio, porque a tecnologia é aliada em todos os campos do conhecimento. Não obstante as escolas já estejam conectadas e alunos em posse de tecnologias, os professores ainda trazem essa falha na formação”, disse Alexandre Barbosa. A TIC Educação revela que, em 2018, 64% dos professores até 30 anos tiveram a oportunidade de participar, durante a graduação, de cursos, debates e palestras sobre o uso de tecnologias e aprendizagem promovidos pela faculdade, assim como 59% realizaram projetos e atividades para o seu curso sobre o tema. Por mais que tenham buscado aprimorar seus conhecimentos na internet ou com colegas, apenas 30% dos professores realizaram algum curso de formação continuada. No momento da realização da entrevista 30% das escolas particulares participaram de alguma iniciativa do tipo, enquanto que, entre as públicas, esse número era menor: 21%. “O papel do gestor escolar é muito importante. Não basta ter infraestrutura e vontade do professor se os responsáveis pelos programas de formação não estimularem e criarem as condições necessárias para que esse processo de formação continuada se estabeleça”, afirmou Leila Iannone, coordenadora da pesquisa.

 

Cidadania digital e uso seguro dos dados

Além de apoiar os alunos na apropriação das ferramentas, a formação também é fundamental no que diz respeito ao uso seguro e consciente da tecnologia. Entre os educadores, 38% afirmam terem apoiado algum aluno a enfrentar situações como bullying, discriminação, assédio ou disseminação de imagens sem consentimento na internet. A proteção de dados também é um assunto que ganha destaque na comunidade escolar. Entre os coordenadores pedagógicos entrevistados, 59% deles afirmaram que buscaram cursos, palestras e fontes de informação sobre a disseminação de dados dos alunos e da escola na internet. Quando o assunto é segurança, os alunos reconhecem que recorreram aos professores para buscar auxílio sobre uso seguro da internet (48%) e receberam orientações para comparar informações em diferentes sites (51%).

Conectividade

Assim como nos levantamentos anteriores, quase que a totalidade das escolas urbanas (98%) conta com um computador conectado à internet. Em 2018, apenas 12% das escolas públicas tinham uma conexão de banda larga de 11 Mbps ou mais rápida, enquanto que esse cenário já era percebido em 42% das escolas privadas. O acesso ao wi-fi também continua baixo entre os estudantes. Apenas 16% dos alunos de escolas urbanas afirmaram ter permissão para uso da rede sem fio.

 

Para saber mais

TIC Educação 2018: mod.lk/ticedu18 Especial

Tecnologia na Educação (Porvir): mod.lk/porvirtc

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A hora e a vez do steam na sala de aula

A hora e a vez do steam na sala de aula

Débora Garofalo - Colunista

Débora Garofalo - Colunista

Projetos inovadores e em grupo vão além de investimentos: são uma mudança de atitude.

Texto Débora Garofalo

A metodologia steam (do inglês Science, Technology, Engineering, Arts e Mathematics) foi criada nos Estados Unidos na década de 90, a partir de pesquisas e avaliações que registravam um desinteresse dos alunos pelas ciências exatas. A metodologia ou abordagem pedagógica, baseada em projetos, integra áreas e tem por objetivo formar pessoas com diversos conhecimentos e diferentes habilidades. Por isso, casa perfeitamente com as exigências da Base Nacional Comum Curricular (bncc), ao desenvolver competências e habilidades socioemocionais que preparam os alunos para os desafios futuros. As atividades guiadas na metodologia steam permitem resolver problemas ao conectar ideias que parecem desconectadas, ajudando a “pensar fora da caixa”, beneficiando o aprendizado interdisciplinar e trazendo os estudantes para o centro do processo cognitivo. O professor atua como responsável pela mediação e apoio às equipes, exercendo a colaboração para que a turma aprenda durante todo o processo de forma integrada e coletiva. A adoção do steam prevê um conjunto de conhecimentos técnicos essenciais para despertar a criatividade, a empatia, o humanismo e o desenvolvimento de tendências como o pensamento computacional e a cultura maker. Nas escolas brasileiras, o steam tem potencial transformador ao aumentar o protagonismo do aluno, incentivar a inovação e a colaboração, fortalecendo o processo de ensino e aprendizado. Segundo os dados do Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (pisa), 2015, entre os 70 participantes, o Brasil é o 63o colocado em Ciências e o 66o em Matemática, sendo emergencial que sejam revistos o processo de aprendizagem e as práticas docentes para reverter essa situação. A chave para o sucesso de uma educação inovadora é criar um ambiente que permita a participação dos atores envolvidos, para que conheçam e que contribuam, dando-lhes a sensação de pertencimento e autoria. Não existe um modelo pronto para aplicar e a mudança de atitude deve partir de todos para alcançar uma aprendizagem significativa e envolvente, quebrando velhos paradigmas e ambientes pouco propícios.

As diferenças entre steam e stem

Além da diferença na nomenclatura — pela inclusão de Arte, que tem a concepção de melhorar o desempenho escolar, o senso estético e crítico, tornando a lógica matemática mais humana —, podemos dizer que o termo stem trata de como fazer e o steam incentiva a descoberta do porquê realizar em cinco etapas: 1 Investigar; 2 Descobrir; 3 Conectar; 4 Criar; 5 Refletir.

Ambas metodologias permitem aos alunos vivenciar e experienciar o pensamento científico e crítico de maneira interpretativa e reflexiva, por meio da ludicidade e ou projetos interdisciplinares que podem ser aplicados desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, em todas áreas do conhecimento.

A importância do steam no contexto escolar

O steam, em consonância com a bncc, tem foco no desenvolvimento de habilidades essenciais ao século xxi. As atividades baseadas na metodologia devem ser planejadas para que os alunos se sintam desafiados e trabalhem de forma colaborativa, compreendendo o seu projeto e buscando alcançar conhecimentos e habilidades de forma interativa e autônoma. Dessa forma, o steam dialoga e facilita o desenvolvimento das 10 competências da bncc. A abordagem steam favorece a aprendizagem por experimentação por meio de metodologias ativas, em que o aluno tem a oportunidade de lidar com situações e problemas de forma criativa, sem perder o foco investigativo. O ambiente é fundamental e deve ser inspirador e facilitador, porém, não é suficiente para proporcionar a aprendizagem. O professor deve estabelecer objetivos claros e integrar as áreas para que a aprendizagem ocorra. É necessário também que os projetos contemplem a educação ambiental pautada nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a fim desenvolver colaboração, reflexão, ética e empatia, trazendo esses pontos para o centro da discussão. Os ODS são uma coleção de 17 metas globais estabelecidas pela Assembleia Geral das Nações Unidas. O steam permite viabilizar, por exemplo, projetos a baixo custo com materiais alternativos, como sucata, de maneira sustentável e dentro da sala de aula.

Aplicando o steam na prática

Por ser baseada na aprendizagem criativa e em tendências educacionais como programação, robótica, inteligência artificial etc., a metodologia steam pressupõe a investigação científica, o trabalho por projetos e o movimento maker. Assim, a adoção do modelo deve partir inicialmente da intencionalidade do professor, mas deve-se ouvir os estudantes e sistematizar essa escuta para aplicar o steam nas aulas.

  • 01 – Valorize o espaço de aprendizagem. O espaço de aprendizagem é o lugar para aceitar o desconhecido, reconhecer o erro e trabalhar colaborativamente. Deve ser regulado por dois valores: segurança e respeito. Os alunos e professores devem priorizar uma convivência harmoniosa e produtiva, cuidando uns dos outros, do espaço e de si mesmo. Ao saber qual a atitude necessária para o trabalho no ambiente, as intervenções docentes fazem sentido para o aluno. O professor deve ser um mediador que permita aos alunos aprender pela experiência, prezando a relação humana e a horizontalidade. A hierarquia se dá por reconhecimento e não por autoridade. Busca-se a autonomia a partir da empatia, criando vínculo com os alunos, reconhecendo o contexto de cada um, descobrindo o que tem sentido e significado para eles. Ao ampliar seu horizonte de conhecimento, o estudante ganha autoconfiança e segurança para ousar e propor novas soluções.
  • 02 – Transforme conceitos em aulas práticas. O professor deve olhar para o currículo e possibilitar aos alunos, por meio da resolução de problemas, trabalhar de forma prática, permitindo que testem suas hipóteses com ações mão-na-massa (learning by doing), unindo os conceitos das diversas áreas do conhecimento para resolver o desafio proposto.
  • 03 – Crie oficinas. Para iniciar essa abordagem em sala de aula, realize uma oficina com a turma dividida em grupos. Leve um problema relacionado ao conteúdo trabalhado e proponha que viabilizem a solução de maneira prática. Vale manusear materiais simples de sucata e fazer questões norteadoras e provocativas para que os alunos se envolvam nas atividades.
  • 04 – Problematize. As perguntas são essenciais para avançar nas hipóteses e para o docente mediar a aprendizagem. Esse momento pode gerar debates e intervenções para instigar os grupos a encontrarem caminhos diversos. O desafio tem de ser interessante, sem respostas prontas, permitindo espaço para imaginação e criatividade para produzir, testar e refazer. Ao final, sistematize os conhecimentos para que os alunos se sintam motivados a compartilhar aprendizados com um debate ou apresentação.
  • 05 – Planejamento. Estabeleça roteiros e parcerias com a turma já que a proposta é realizar um projeto integrado, com etapas definidas, pesquisa e produção e testes de aplicação.

  • 06 – Foque na integração de conhecimentos e traga problemas reais. Na hora da prática, é essencial equilibrar conhecimentos das cincos áreas. Defina o contexto e parta de desafios reais para que os alunos possam atuar na sociedade ou se envolverem com problemas do entorno da escola, aplicando conceitos ao propor soluções.
  • 07 – Trabalhe com habilidades socioemocionais. O steam é um propulsor para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais por permitir que atividades sejam desenvolvidas em grupos, em que os papéis podem e devem ser revisados. As atividades devem ter objetivos claros e abordar novas maneiras de articular o currículo proposto para desenvolver competências como empatia, colaboração e criatividade.

Atitudes que transformam

Convidamos Andrea Barreto, professora da rede municipal do Rio de Janeiro e coordenadora do Núcleo do Rio de Janeiro da Conectando Saberes, para contar duas experiências práticas que mostram como a metodologia steam pode ressignificar de forma simples e coletiva a aprendizagem. 

Steam no Fundamental 1. Certa vez, quando eu lecionava para o 9o ano de uma escola, a professora do 4o ano me procurou com uma preocupação. Os alunos dela perguntavam se a borboleta “nascia da lagarta ou da minhoca”. Pergunta fantástica! Ela esclarecia que era da lagarta, mas um grupo jurava que viu uma “minhoca se transformar em borboleta”. Chegamos à conclusão de que seria ótimo realizar uma experiência com as crianças. Para ajudá-la, coletei algumas lagartas, que se transformariam em casulos, e coloquei, com algumas folhas, em uma caixa de sapatos sem o tampo, que substituí por uma rede de filó. Pedi para ela levar as minhocas com a terra. Orientei-a para não fazer grandes comentários e falar que queria ver se alguma “minhoca” se transformaria em borboleta. Ao mostrar para a turma, um dos meninos falou logo que “aquelas minhocas não eram do tipo certo” e ela pediu que eles trouxessem o tipo certo. Assim foi feito. 

Nos dias seguintes, a turma fazia e anotava as observações e colocavam mais folhas para as lagartas. “Por que mais folhas?” — se perguntavam. “Pode ser qualquer folha?”; “E a minhoca não come?”. Com o incentivo da professora, pesquisas, anotações e compartilhamentos comprovaram que as minhocas não comem terra. Passamos a pesar o pote semanalmente. “Tem mais terra?”; “Não é cocô de minhoca?”. Vejam o quanto está sendo trabalhado: observação, linguagens, matemática, competências socioemocionais como respeito, resiliência, liderança, tudo a partir de um desafio teimoso de um grupo de alunos. 

Um dia, os casulos apareceram e a turma ficou eufórica. Os alunos não paravam de perguntar e fui até a sala para responder algumas perguntas. “Está tudo morto, professora?”; “Acabou”? A essa altura, a escola toda sabia do nosso projeto. Alguns dias depois, as borboletas apareceram. Soltamos em uma manhã de risadas, pulos e lágrimas. “Nossas lagartas irão embora!”. No fim, anotaram as conclusões e nós atingimos vários objetivos, entre eles o de vivenciar o steam na prática. 

Steam no Fundamental 2. Em uma turma do 7o ano, os alunos entraram na sala falando sobre o livro Cem dias entre Céu e Mar (Amyr Klink), que a professora de Língua Portuguesa estava lendo com eles. Eu só ouvia: “O cara remou muito!” – dizia um. “Nada, foram as correntes marinhas!” – retrucava outro. Daí se seguiu a discussão sobre o que eram as tais correntes marinhas. Eu tentava começar a minha aula – que seria sobre célula –, mas a turma estava alheia e logo percebi que era melhor seguir a maré e abordar as tais “correntes marinhas”. 

Pedi para tentarem me explicar como se formavam as correntes e anotei no quadro. “São os ventos!”; “É a rotação da Terra!”; “É a Lua!”; “É a inclinação da Terra!” – eles me diziam. Anotei tudo. Dividi a turma em equipes e pedi para cada equipe provar sua teoria. Eles anotaram a hipótese escolhida e foram em busca das respostas. Na aula seguinte, cada equipe apresentou o que tinha coletado e o que ficou na cabeça de todos foi a diferença de temperatura.

Usei animações feitas na internet para explicar a diferença dos movimentos das moléculas na água quente e fria: algo muito pouco palpável e complicado de se explicar. Eles me diziam que na água quente as moléculas se “movimentam mais” que na fria, porém não se convenciam. Lancei o desafio: “Vocês têm certeza do que estão falando? Provem!”

Estimulei que montassem uma experiência para provar a diferença entre o movimento das moléculas. Pedi para trazer o passo a passo por escrito e reunimos o material: água quente e gelada, copos de vidros iguais, anilina azul e vermelha (as cores foram escolhidas por eles). Na aula seguinte, montamos a experiência. Falei para observarem. Eu enchi os copos de água quente e o restante cada equipe fez.

Um copo com água quente e outro com água gelada na mesma quantidade, duas gotas de anilina em cada copo – na água quente, a vermelha e na fria, a azul –, colocadas ao mesmo tempo, e silêncio absoluto na sala. Eles não sabiam se riam ou se falavam ao mesmo tempo. Pedi para cada equipe relatar o que aconteceu. Na água quente, a anilina se misturou rápido. Na fria, não. Mostrei as animações. Conversamos, interagimos e concluímos a experiência. 

Nesses dois casos, percebemos que não foram necessários altos recursos para aplicar o steam. Em ambos, levantou-se perguntas feitas pelos estudantes que poderiam ser respondidas rapidamente pelo professor. Ressignificar o processo é levar em conta que aprender só faz sentido se encantar o aluno. Deixe-os errar e questione com eles o que deu errado. Faça a mediação, mas não deixe que eles parem de perguntar. Se o aluno pergunta, é o momento de ensinar. 

É preciso explorar novas abordagens na educação, mediando o espaço entre o aluno e a informação, de forma participativa, envolvente e interativa, próxima da realidade no processo de construção e reconstrução do seu conhecimento ao trabalhar com as diversas facetas do processo de aprendizagem. Com soluções criativas, é possível reinventar a educação. 

Débora Garofalo  é professora da rede pública de Ensino de São Paulo. Formada em Letras e Pedagogia, mestranda em Educação, colunista de Educação inovadora no blog Redes Moderna e finalista do Prêmio Global Teacher Prize.

Para saber mais

  • Agenda 2030 – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável:
    https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/

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Como levar a cultura maker para dentro da sala de aula

Como levar a cultura maker para dentro da sala de aula

Débora Garofalo - Colunista

Débora Garofalo - Colunista

Ultimamente, muitos de nós ouvimos falar sobre o termo “maker”. Mas o que é exatamente isso?

 

Robótica é maker? Programação é maker? Pintura é maker? Eletrônica é maker? Impressora 3D é maker? Marcenaria é maker? Costura é maker?  O que você acha?

 

O movimento maker propôs nos últimos anos o resgate da aprendizagem mão na massa trazendo o conceito “aprendendo a fazer” que, aplicado ao ambiente escolar, tem como objetivo promover e estimular a criação, a investigação e a resolução de problemas pelos alunos, proporcionando um pensamento “fora da caixa”, conectando ideias desconectadas, usando ao máximo, qualquer tipo de recurso. Uma verdadeira oportunidade de reinventar e inovar a educação!

Se procurarmos no dicionário o termo maker, veremos que está relacionado ao “fazer” e por aí podemos ter uma dica: o maker é aquele que faz, que põe a mão na massa. Porém, ser um maker é mais que simplesmente quem faz alguma coisa, está ligado a uma forma de fazer, a uma atitude. E qual atitude seria esta?

 

Ser maker é olhar um problema e elaborar um projeto criativo para resolvê-lo, explorando possibilidades, sendo curioso, resiliente, experimentador. É errar e aprender com os erros. Essas características estão muito presentes em todos nós na infância, porém, apenas alguns conseguem mantê-las na idade adulta.

 
Uma pessoa maker é aquela que, por meio da curiosidade, busca ajuda e tem uma atitude de abertura para troca com outras pessoas. E fundamentalmente, é apaixonado pelo que faz! Se refletir, essas são características que estão muito relacionadas com competências e habilidades que desejamos desenvolver na escola.
 

FILOSOFIA MAKER

 

A cultura maker favorece a aprendizagem por experimentação, ou seja, ao vivenciá-la pelas metodologias ativas, procura tirar o aluno da passividade e trazê-lo para o centro do processo de aprendizagem.

 

E POR ONDE COMEÇAR?

 

Temos visto uma grande preocupação das escolas com a construção de salas dedicadas às atividades “mão na massa”, principalmente com o investimento em máquinas, equipamentos e na adaptação do espaço.

O ambiente tem importância no aprendizado. Ele deve ser inspirador e facilitador, porém, não é suficiente para proporcionar a aprendizagem. Normalmente, ao se criar um espaço maker na escola sem o cuidado de se trabalhar antes com as pessoas envolvidas, paradoxalmente, acontece um afastamento delas ao invés de uma aproximação e integração. Como seres humanos, temos medo do desconhecido e do incomum!

Uma chave para o sucesso na implementação de um projeto inovador é criar um ambiente que permita a participação dos atores envolvidos, para que conheçam e que contribuam, dando-lhes a sensação de pertencimento e autoria. Somos todos criadores e quando o fazemos, geralmente, nos sentimos felizes e realizados. Desta forma, a motivação intrínseca desperta o interesse para a realização de projetos, muitas vezes, tidos como impossíveis!

ESPAÇO MAKER

 

Ao pensar em implementar um espaço maker devemos, antes de começar, nos perguntar o quê queremos com ele e, principalmente, como iremos trabalhar neste espaço.

O lugar deve ser organizado de forma que mesas coletivas fiquem em seu centro e que os recursos como ferramentas, máquinas e materiais sejam dispostos na periferia, acompanhando as paredes.

Se você não possui um espaço maker, não tem problema, saiba que é possível tornar a sua sala de aula mais acolhedora, reorganizando o mobiliário, como por exemplo: agrupar mesas e cadeiras em formato de bancada; reaproveitar madeira de porta e de carteiras velhas; e acrescentar um tripé para formar uma bancada. Assim, você estará criando um ambiente de trabalho participativo e colaborativo para que os estudantes possam exercitar a criatividade.

Lembre-se: as pessoas são o centro do espaço maker. A principal dificuldade que encontramos para implementar um projeto de educação mão na massa na escola é a mudança de cultura necessária em nós, professores. Ser maker é, antes de mais nada, uma atitude!

 

 

O espaço mão na massa é o lugar para aceitar o desconhecido e o erro e para trabalhar colaborativamente, características que não são habituais no nosso dia a dia. Precisamos nos permitir a mudar um hábito arraigado em nós: o papel do professor que se apresenta à frente dos alunos e que instrui muito ao invés de deixar que os alunos aprendam pela experiência. No espaço maker, prezamos a relação humana e a horizontalidade. A hierarquia se dá por reconhecimento e não por autoridade.

Esse espaço é regulado por dois valores: segurança e respeito. Os participantes das atividades devem entender que para uma convivência harmoniosa e produtiva, deve-se sempre cuidar dos outros, do espaço e de si mesmo. Assim, todos sabem qual a atitude necessária para o trabalho no ambiente e, as intervenções fazem sentido para o aluno.

Busca-se sempre a autonomia a partir da empatia, criando vínculo com os alunos, reconhecendo o contexto de cada um, descobrindo o que tem sentido e significado para eles e ajudando a criar um ambiente propício para aprender. Ao ampliar seu horizonte de conhecimento, o aluno ganha autoconfiança e segurança para ousar, conquistando cada vez mais autonomia.

MATERIAIS

 

Para começar, você precisará de ferramentas simples (chaves de fendas, madeira, cola quente, ferro de solda, solda, tesouras, estiletes, fita isolante, furadeira, serrote), materiais eletrônicos (fios, suporte de baterias e ou de pilhas, motores de 6v e 3v – que é possível encontrar em brinquedos quebrados e em computadores sem uso, leds, resistores, jacarés, controladores) e materiais de sucata (papelão, potes, isopor, madeira) e muita imaginação.

No especial Mão na Massa do Porvir traz um simulador maker para você se inspirar e ir estruturando esse espaço. Vale a pena envolver a comunidade e pedir doações.

CRIE SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM

 

Utilize as metodologias ativas, como resolução de problemas e aprendizagem por projetos, com questões norteadoras:

 

COMECE SIMPLES

 

Desenvolva projetos simples com os estudantes e vá aumentando o nível de dificuldade aos poucos, exercitando o espírito lúdico, a criatividade e a vivência da aprendizagem em torno de um problema.

 

 

Leve materiais de sucata para a sala de aula como potes, papelão, tampinhas, entre outros e eletrônicos como motores, resistores, fios, suportes de baterias. Com esse material, você será capaz de incentivar os alunos a desenvolver projetos mão na massa.

Estabeleça um roteiro de trabalho e faça perguntas para instigar e aguçar a criatividade dos estudantes. Nessas aulas, a sua turma poderá codificar, desvendar o Scratch (software livre e gratuito) ou montar circuitos elétricos simples, assim, dessa maneira, o pensamento maker vai sendo incorporado gradativamente.

Como professor, você pode montar fichas de observação e investigação para que os alunos registrem o aprendizado. A sua intervenção só é feita quando necessária, no processo de mediação.

A aprendizagem mão na massa é simples, mas demanda empenho e esforço para mudança de concepção.

DÊ LUGAR AO ERRO

 

Errar faz parte do processo!

Os estudantes precisam estar envolvidos nas etapas, participando da construção da sua aprendizagem. Eles precisam de espaço para tentar, errar, tentar de novo até acertar.

Falhar faz parte desse processo e o torna significativo, tornando os alunos mais criativos e capazes de resolver problemas com autonomia.

Essas habilidades são importantes para resgatar o encantamento das aulas e desenvolver espírito inovador.

PARA SE INSPIRAR

Que tal colocar a mão na massa em um hackerspace?

Estamos falando de laboratórios comunitários que seguem a filosofia do conhecimento livre, acesso amplo às tecnologias, respeito à privacidade, liberdade, valor social, criatividade e inventividade.

Nos hackerspaces, o destaque vai para o espírito inovador, que atrai pessoas interessadas em colaborar em vários projetos makers e refletir sobre diversos assuntos.

O espaço é um ponto de encontro para quem quer trocar conhecimento e experiências. Clique aqui para localizar o endereço mais próximo a você.

E então?  Robótica, programação, pintura, eletrônica, impressão 3D, marcenaria, costura são atividades maker? Vai depender de como você mediará as atividades…a ferramenta principal de um espaço maker sempre será você!

Um grande abraço,

Débora e Fabio

Débora Garofalo é formada em Letras e Pedagogia, pós-graduada em Língua Portuguesa pela Unicamp e mestranda em Educação pela PUC de SP. É professora de Tecnologias, trabalha com Cultura Digital, Robótica com sucata/livre, programação e animações; e implementação em tecnologias em Escolas Públicas.

Fabio Zsigmond é empreendedor, inovador e cofundador do MundoMaker (www.mundomaker.cc), um espaço de aprendizagem mão na massa em que crianças, jovens e adultos aprendem programação, mecânica, robótica, meditação e trabalho em equipe – baseado na educação integral e no aprendizado por projetos (PBL). É bacharel em ADM pela FGV e atua como diretor voluntário no Projeto Âncora (www.projetoancora.org.br), uma organização sem fins lucrativos, onde os alunos aprendem o currículo sem aulas e através de projetos. Em 2016, viajou 77 dias pelo Brasil a bordo de um Maker Truck levando o acesso a cultura maker para mais de 500 professores e 2000 alunos vindos de 250 escolas públicas de 8 estados.

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Ferramentas digitais para inserir no planejamento

Ferramentas digitais para inserir no planejamento

Débora Garofalo - Colunista

Débora Garofalo - Colunista

Que tal começar o ano inserindo ferramentas digitais no seu planejamento?

O uso de ferramentas digitais na educação, possibilita inovação e mudança efetiva no processo de ensino e aprendizagem. É possível usar celulares e tablets e ferramentas no modo offline!

 

Essa transformação está pautada em mudanças de hábitos e paradigmas em nós professores, capaz de alterar relações diárias, gerar  colaboração e empatia. Não basta esperar que a transformação chegue a sala de aula, ela precisa ser um ponto de partida dentro do ambiente escolar, onde o planejamento é o ponto chave para que isso ocorra.

 

A chegada da Base Nacional Comum Curricular deixa evidente a necessidade de trazer a tecnologia para dentro da sala de aula. Segundo a BNCC, os estudantes devem desenvolver ao longo da Educação Básica a competência para:

Compreender e utilizar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares), para se comunicar por meio das diferentes linguagens e mídias, produzir conhecimentos, resolver problemas e desenvolver projetos autorais e coletivos.

 

A seguir, apresento algumas formas e ideias de inserir ferramentas digitais no seu planejamento, trabalhando com a tecnologia de maneira relevante e integrada ao dia-a-dia da turma.

 
 
 

Ambientes virtuais

 

Nossos alunos, nasceram nessa era e navegam em ambientes virtuais. Eles se comunicam com desenvoltura nesse meio. É necessário inserir as aulas neste contexto, incentivando e orientando a interação nesses espaços que tem muito acrescentar a prática pedagógica. Para o professor é uma oportunidade de identificar tarefas que podem ser realizadas, produzidas no meio digital.

As ferramentas são infinitas, se sua preocupação é a idade correta, você pode utilizar o Edmodo, desenvolvido para a educação, onde é possível criar grupos, comunidades e fóruns de discussão com temáticas específicas relacionado ao currículo estudado, permitindo uma extensão da sala de aula.

 

Textos digitais

 

A forma que se dá a leitura também está mudando, e é essencial trabalhar textos digitais nas aulas, permitindo ampliar o conhecimento acerca de uma temática, elucidando e ilustrando conceitos, momentos históricos, esclarecendo vocabulários e trabalhando com informações e fontes relevantes ao contexto digital.

A Editora Moderna, possui o portal do professor que pode ser  usado para apoio e suporte de trabalho com e-books e pdf´s interativos. Os textos multimodais permitem links, imagens, vídeos, referências e diversos formatos de informações adicionais, que possibilita a transformação na forma de ler e de produzir os textos.

 

Gêneros Digitais

 

Como a leitura se modificou a forma de também lidar com os gêneros passou a esfera digital, além dos nossos alunos serem produtores de tecnologia, eles necessitam ser produtores e é possível trabalhar com produção dos novos gêneros digitais:

  • Blogs;
  • Tweets;
  • Mensagens instantâneas;
  • Memes;
  • GIFs;
  • Vlogs;
  • Fanfics.

O trabalho com esses gêneros pode ser explorado em diferentes áreas do conhecimento, valorizando o trabalho interdisciplinar, conforme prevê a BNCC.

 

Ferramentas colaborativas

 

Uma forma de engajar os alunos com o planejamento é torna-los parte da construção do conhecimento. Mobilize produção de blogs e interação com imagens, comentários, vídeos e produções textuais.

Google docs, é um exemplo de ferramenta gratuita, que funciona muito bem com celulares, tablets que permite interação e colaboração, permitindo comentários e retornos de maneiras instantâneas.

 

Diferentes formas de promover a avaliação

 

A forma de avaliar também pode ser realizada na esfera digital, onde você pode desenvolver avaliações, pesquisas e questionários utilizando ferramentas gratuitas, como o google forms, trabalhando de forma prática e prazerosa.

 

Tendências Digitais

 

Utilizar elementos lúdicos, estimula, engaja os estudantes no processo de aprendizagem, tirando da passividade e trazendo para o centro da aprendizagem, entre as tendências estão:

Realidade Virtual – A realidade virtual é uma tecnologia de interface entre um usuário e um sistema operacional, que tem o objetivo de recriar ao máximo a sensação de realidade. Ela apresenta aos nossos sentidos (paladar, tato, olfato, visão e audição) um ambiente virtual, que podemos explorar de várias formas e funciona através dos óculos VR funciona de uma maneira simples, basta baixar, pelo celular, as fotos ou os vídeos em 360º graus, que são imagens tiradas em sequência e agrupadas. O Google fornece o modelo dos óculos Google Cardboard,  que você junto da turma pode fazer os óculos.

Programação – A linguagem de programação pode ser trabalhada em diferentes contextos e propostas, além de ser uma propulsora ao ensino de robótica, serve também para produzir jogos e criar narrativas digitais. Temos um software totalmente gratuito e que pode ser trabalhando de forma offline, permitindo interação e o aprendizado através do raciocínio lógico que é o Scratch.

 

E você querido professor, quais ferramentas estão contemplados no seu planejamento. Conte aqui nos comentários e ajude outros docentes a inovar em sala de aula neste ano.

Um abraço,

Formada em Letras e Pedagogia, pós-graduada em Língua Portuguesa pela Unicamp e mestranda em Educação pela PUC de SP. É professora de Tecnologias, trabalha com Cultura Digital, Robótica com sucata/livre, programação e animações; e implementação em tecnologias em Escolas Públicas. Vencedora na temática Especial Inovação na Educação no Prêmio Professores do Brasil e Finalista no Global Teacher Prize, considerado o Nobel da Educação.

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Como usar BYOD na Educação

Como usar BYOD na Educação

Débora Garofalo - Colunista

Débora Garofalo - Colunista

Você já ouviu o termo BYOD?

 

Conhecendo mais

O BYOD é a sigla de Bring Your Own Device (traga o seu próprio aparelho), também conhecida como mobile learning (aprendizagem móvel) e é uma tendência que surgiu no mundo corporativo e que tem ganhando espaço na educação, ao propor que os alunos tragam para a sala de aula seus próprios dispositivos digitais.

 
 

Um dos principais impactos é viabilizar a adoção de tecnologia na rotina de estudos, sem a necessidade de fazer altos investimentos de compra, manutenção e atualização de hardwares. Outro ponto forte é a oportunidade de engajamento dos estudantes nas atividades propostas, dando um novo destino aos celulares e tablets dos discentes, rompendo com o paradigma dos docentes que utilizar esses equipamentos irá dispersar a aulas e os estudantes irão acessar conteúdos impróprios que podem (e devem) ser superados com mudança cultural e implementação de sistemas de segurança e controle.

 

É um novo olhar para a sala de aula! Na medida que possibilita ao professor trabalhar com equipamentos móveis, onde muitas vezes o aluno, já o possui, se utilizando de uma rede wireless, facilitando a dinâmica da sala de aula, ao mesmo tempo que permite ao professor utilizar recursos disponíveis trazidos pelos alunos possibilitando um viés pedagógico. Muitos professores já têm utilizado essa prática ao adquirir um roteador e utilizando os aparelhos móveis dos alunos em suas aulas.

 

Outro ponto positivo nesta abordagem e criar um espaço acolhedor dentro da sala de aula, sem ter a necessidade de deslocar os alunos para um outro espaço para realizar atividades que necessitem do suporte das ferramentas digitais. Muitas vezes, esse é um fator que desestimula o professor a utilizar tecnologias nas aulas, justamente pelo tempo de deslocamento e perda de parte da aula gerenciar o espaço e equipamentos.

 

 

Levando o BYOD para a sala de aula

 

O BYOD possibilita que a aprendizagem ocorra em outros espaços, além da sala de aula e sem ser em um espaço físico. Pode ser uma aula pública, um estudo de campo e ou explorar espaços dentro da própria escola, explorando ferramentas fundamentais para envolver os alunos em atividades de pertencimento como imagem, vídeo e até mesmo uma viagem virtual e ou explorando ferramentas de colaboração ao alcance de dispositivos móveis.

É necessário compreender o uso da tecnologia não como ciência, mais, uma propulsora ao ensino aprendizagem, tendo em mente que os alunos se apropriem de recursos que está nas mãos para realizar atividades propostas. O BYOD é uma possibilidade real de otimizar recursos educacionais.

 

Fica a dica

No entanto, é necessário tomar alguns cuidados, como ter objetivos claros, para desenvolver as atividades, manter bom diálogo com os discentes, principalmente sobre os equipamentos e suas funcionalidades, como por exemplo, quando os equipamentos pertencem a unidade escolar é fácil conversar sobre os aspectos do coletivo, quando os equipamentos são dos alunos, é necessário trabalhar a colaboração para que o individualismo não sobressaia sobre as atividades.

 

Outro ponto interessante é envolver a comunidade escolar, pensando colaborativamente sobre a adoção do BYOD na unidade escolar, constituindo um fórum para pensar em ações conjuntas, conhecendo a fundo o perfil da comunidade escolar e constituir um politica de uso com a sensibilidade da unidade escolar, além de envolver o colegiado para pensar em adquirir conectividade. Outro ponto, é colocar os alunos em situação de produtores de tecnologias ao desenvolver aplicativos. Uma ferramenta que pode ser utilizada é a fabrica de aplicativos, onde os alunos podem desenvolver uma aprendizagem interativa e criar games, e-books e materiais interativos, usando como limite a imaginação.

 

E você querido professor, já teve alguma experiência com BYOD, se sim como foi sua experiência? Conte aqui nos comentários e ajude a fomentar práticas e inspirar professores.

Um abraço,

Débora

Formada em Letras e Pedagogia, pós-graduada em Língua Portuguesa pela Unicamp e mestranda em Educação pela PUC de SP. É professora de Tecnologias, trabalha com Cultura Digital, Robótica com sucata/livre, programação e animações; e implementação em tecnologias em Escolas Públicas. Vencedora na temática Especial Inovação na Educação no Prêmio Professores do Brasil e Finalista no Global Teacher Prize, considerado o Nobel da Educação.

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Estratégias de leitura para gêneros digitais

Estratégias de leitura para gêneros digitais

Débora Garofalo - Colunista

Débora Garofalo - Colunista

É fato que nossos alunos apresentam problemas com a leitura! Dados do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), aplicada de três em três anos entre 35 membros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), incluindo o Brasil, demonstra que somos uns dos últimos países no ranking em leitura.

Os dados apontam dificuldades dos alunos em localizar informações no texto tanto explicitas como implícitas no texto, reconhecimento de ideia principal, inferências e a situação se agrava quando envolve leituras de mapas, gráficos, charges, consequência da pouca circulação desses gêneros na escola. Este déficit transcende a disciplina de língua portuguesa e atinge as demais matérias do currículo.

Nesse sentido, é importante lembrar do papel da educação e superar a barreira da dificuldade da leitura para que o problema da interpretação seja superado, principalmente em um mundo que está em transformação, no qual temos um problema na leitura realizada no texto impresso que com o avanço das tecnologias se agravaram nos textos e gêneros digital.  E diante desse cenário como alavancar a leitura dos gêneros digitais nas aulas?

 

A leitura traz diversos benefícios, entre eles o desenvolvimento do repertório, senso crítico, amplia o vocabulário, estimula a criatividade e facilita a escrita e para avançarmos a resposta pode estar em dar voz para os estudar e explorar outros processos como a leitura dialógica.

É necessário abolir das aulas a leitura monológica, aquela que prioriza o individualismo e que muitas vezes silencia o aluno e priorizar a leitura dialógica, que permite dar voz aos alunos, conversando e dialogando sobre os textos e gêneros digitais, perpassando por vivências de leitura, a fim de provocar o leitor a interagir com os textos lidos, falando sobre suas impressões e fazendo conexões com o mundo real.

Dentro deste cenário, os gêneros digitais é um facilitador, pela interatividade, no qual o professor deve estimular o aprendizado em sala de aula.

 

Gêneros digitais

É necessário inserir no planejamento os gêneros digitais e os meios que eles circulam. As redes sociais, são diferentes, é necessário conversar com os estudantes sobre esses aspectos, como por exemplo, o twitter é um servidor para microblogging, na qual, as informações circulam com um limite de caracteres, já o Instagram é uma rede social de compartilhamento de fotos e vídeos. Conhecer a especificidade e trabalhar esses pontos nas aulas é importante.

O trabalho pode partir de exemplos de posts, em conversas virtuais, gêneros (vídeo, fotos, texto) e interatividade do leitor com o autor, analisando e conhecendo o contexto da conversa. Por exemplo, muitas vezes quando os alunos acompanham um cantor(a) e ou ator (atriz), muitas vezes, eles interagem com os posts, conhecendo a história de forma macrotexto e no microtexto. Explorar esses aspectos é importante para a leitura e compreensão destes textos, sendo um excelente recurso para as aulas.

 
 

Produtores de gêneros digitais

 

A web proporciona interatividade, trazer esse gancho as aulas para despertar desafios, aguçar a leitura, através das produções, é uma estratégia de leitura. Temos vários programas, inclusive no celular, que produz memes, gifs, charges.

 

Dicas de ferramentas para trabalhar com gêneros digitais

Memes – Memes Generator Free

Gifs  – Gifs Makers

Charges – Hagaquê

 

E você querido professor, quais estratégias de leitura vocês utilizam para trabalhar com os gêneros digitais? Conte aqui nos comentários e ajude a fomentar práticas pedagógicas.

Um abraço,

Débora

Débora Garofalo é Assessora Especial de Tecnologias da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (SEE SP) e professora da rede pública de ensino de São Paulo. Formada em Letras e Pedagogia, mestranda em Educação pela PUC-SP, vencedora na temática Especial Inovação na Educação no Prêmio Professores do Brasil, Vencedora no Desafio de Aprendizagem Criativa do MIT e considerada uma das dez melhoras professoras do mundo pelo Global Teacher Prize, o Nobel da Educação.

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5 maneiras de usar a tecnologia na Educação

5 maneiras de usar a tecnologia na Educação

Débora Garofalo - Colunista

Débora Garofalo - Colunista

Início de ano letivo e uma tendência indiscutível na educação é o uso das tecnologias. Muitos educadores, ainda associam o uso com recursos e conectividade.

Sem dúvidas, é importante ter uma boa infraestrutura e conectividade para alavancar o seu uso, no entanto, é importante salientar que a utilização vai muito além disso, e muitas das vezes não perpassa nem conectividade e nem infraestrutura e sim atitude e se permitir aprender no processo, utilizando por exemplo, tecnologias sociais, que permeiam o território educativo. Além de poder ser trabalhada de maneira plugada com auxílio de aparatos tecnológicos e ou desplugadas com atividades de maneira concreta.

Assim, o uso de tecnologia na educação, visa facilitar processos de ensino e aprendizagem, através do processo de criação em que muitas vezes não precisamos reinventar a roda, mas dar um outro olhar para ferramentas e metodologias conhecidas, como no caso do pacote office e também das metodologias ativas, a cultura maker, entre outros.

Para os educadores é uma oportunidade de inovar na sala de aula, ao permitir mais interatividade, colaboração, empatia e uma educação pautada no processo integral. Desta maneira reunimos algumas maneiras que enfatizam o seu uso na educação. Vamos lá!?

 

Para levar à sala de aula

 

É importante ter mente que o uso da tecnologia na sala de aula, pode auxiliar a:

  • Interação professor e aluno;
  • Compreender dificuldades e personalizar o ensino dos estudantes;
  • Promover o protagonismo e autoria dos estudantes;
  • Promover um ambiente inclusivo.
 

Pelos seus benefícios, é importante que seu uso não seja focado apenas em uma sala de aula e ou um espaço específico, mas, que contemple o projeto político pedagógico da escola, para que de fato a tecnologia seja uma propulsora a aprendizagem e não um fim em si mesma.  Para isso é necessário:

 

Investir em formação docente

 

Aproveite os espaços de formação pedagógica para formar e orientar os educadores sobre o uso, criando uma cultura de uso da tecnologia na educação. É importante que os educadores também tenham a oportunidade de vivenciar a aprendizagem que podem variar desde a cultura digital, cultura maker, pensamento computacional, entre outros e que se permita aprender com os colegas.

 

Planejamento das aulas

 

É essencial que o educador contemple no seu planejamento o uso das tecnologias, que podem ter a finalidade de deixar as aulas mais atrativas e significativas e ou que busquem os estudantes a serem produtores de tecnologia.

Existe uma gama de possibilidades a serem trabalhadas na sala de aula, desde a personalização do ensino através de sites e blogs que promovam a criação, reflexão e autoria, a maneiras de desenvolver protagonismo como atividades mão na massa e ainda de autoria como documentários, animações que permitem interação entre os estudantes, estimulo a expressividade, respeito a diversidade de ideias, promoção de debates e ideias.

 

Incentivar a pesquisa

 

Os estudantes ainda possuem dificuldades em realizar pesquisas na esfera digital, é importante apontar caminhos, promover reflexões, dialogar sobre autoria e plagio e ensinar sobre textos multimodais e pesquisar em fontes que sejam confiáveis, trabalhando com temas de combate a desinformação.

 

Gêneros digitais

 

Em novos tempos, é essencial trabalhar com gêneros digitais que circulam em redes sociais que os alunos estão familiarizados e que, no entanto, possuem dificuldades em serem produtores, entre os gêneros podemos destacar, fanfics, blogs, vlogs, memes, podcasts, entre outros. A escola é um espaço propicio para vivenciar esses novos gêneros e compreender sua circulação.

 

Jogos para engajar a aprendizagem

 

O lúdico necessita ser ponta de entrada para a aprendizagem, e os jogos possibilita engajamento e motivação aos estudantes, além de trabalhar com situações de problemas e o desenvolvimento de habilidades importantes para a formação integral dos estudantes.

 

É necessário romper com velhos paradigmas e usar a tecnologia a serviço da educação!

Um abraço,

Débora

Débora Garofalo é Assessora Especial de Tecnologias da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (SEE SP) e professora da rede pública de ensino de São Paulo. Formada em Letras e Pedagogia, mestranda em Educação pela PUC-SP, vencedora na temática Especial Inovação na Educação no Prêmio Professores do Brasil, Vencedora no Desafio de Aprendizagem Criativa do MIT e considerada uma das dez melhoras professoras do mundo pelo Global Teacher Prize, o Nobel da Educação.

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Território educativo: Como se tornar uma escola transformadora?

Território educativo: Como se tornar uma escola transformadora?

Planejamento coletivo e gestão democrática são caminhos de ampliação da escola para a transformação da comunidade.

Já se tornou corriqueiro nos debates sobre educação lembrar que o mundo vem mudando velozmente nas últimas décadas e que este campo social, especialmente no que se refere à sua principal instituição — a escola e o sistema escolar —, precisa se reinventar para a nova realidade. Vamos avançar um pouco mais nessa reflexão.

A revolução tecnológica possibilitou a coordenação eficiente de grande número de fornecedores independentes, demolindo o gigantismo burocrático que dominava a organização interna das empresas, marcadas por fortes hierarquias e departamentalização dos conhecimentos. Na mesma direção, possibilitou a multiplicação de micro, pequenas e médias empresas na indústria, na agricultura e nos serviços, que passaram a se organizar em rede, não mais nas estruturas hierárquicas anteriores. Nos ambientes de trabalho, valoriza-se cada vez menos a alta especialização e cada vez mais a participação e criação.

A produção de conhecimento científico e de bens culturais passou a se organizar também de modo descentralizado, com base em novas e sofisticadas formas de trabalho em equipe e em rede, e a catalisação de oportunidades e recursos.

Estão dadas as condições tecnológicas para que pessoas e coletivos sejam agentes econômicos e sociais produtivos e, mais importante, agentes de mudanças sociais positivas. Para que isso se torne realidade, é urgente um projeto nacional de desenvolvimento sustentável, que valorize a diversidade ambiental e cultural do país para a superação da sua inaceitável desigualdade econômica. Um projeto dessa natureza permite reconhecer o papel estratégico que as escolas podem desempenhar. Como a principal instituição formadora das novas gerações e produtora de conhecimento, a escola pode catalisar processos e projetos que favoreçam o desenvolvimento local.

Hoje no Brasil, assim como em muitos outros países, a escola é o equipamento público mais bem distribuído pelo território nacional. Tal equipamento possui um corpo multidisciplinar de profissionais, proximidade cotidiana com as famílias e a maior de todas as potências nacionais: as crianças e os jovens. Essas pessoas que, não tendo sido formadas no mundo da repetição, das hierarquias e especializações, não têm nada a desaprender e possuem todas as condições para se desenvolverem como agentes de transformação positiva.

Escola transformadora

A transformação da escola em um centro local de produção de conhecimento e cultura começa pela construção coletiva do seu projeto político pedagógico (PPP). Gestores, professores, colaboradores, estudantes, famílias e agentes da comunidade são convidados a refletir juntos sobre o contexto em que se encontram. Considerando o contexto social, a origem e a cultura das pessoas do lugar, os desafios econômicos, sociais e ambientais e as potências locais, qual o papel que a escola deve desempenhar para que as crianças e jovens daqui tenham condições de se realizar pessoal e profissionalmente?

Ao responder a tal pergunta coletivamente, o projeto pedagógico da escola definirá sua visão, seus valores e sua forma de organização. A partir disso, a cada ano o currículo será desenhado de modo a engajar estudantes e professores em processos de pesquisa e projetos de intervenção que possibilitem a realização do objetivo maior da escola. Partindo do levantamento da história, da paisagem, das expressões e tradições culturais e dos desafios socioambientais, cada instituição define seu plano anual, considerando as potências locais, os objetivos comunitários e os interesses dos estudantes, para o desenvolvimento de projetos coletivos que, ao mesmo tempo e tomam o lugar um território educativo, possibilitam que os estudantes aprendam a manejar e interpretar as informações, criando novas soluções e oportunidades.

A base metodológica da escola transformadora busca garantir o desenvolvimento de quatro habilidades fundamentais para o mundo em constante transformação. A primeira é a empatia: já não é possível realizar o bem comum seguindo estritamente as regras, por isso dependemos cada vez mais da capacidade de compreender as diferentes formas de conexão entre pessoas, seres vivos, coletivos e instituições, e como as mudanças constantes afetam tais conexões para, assim, encontrar as soluções que priorizam o todo. A empatia só pode se desenvolver no coletivo. O primeiro coletivo é a própria escola, na qual os estudantes devem ser convocados a participar da elaboração e da implementação das regras de convivência, da mediação de conflitos e dos cuidados com o outro e com o que é de todos. O segundo coletivo a que o estudante deve se engajar é o da comunidade em que está inserida a escola. É no contexto comunitário que o estudante deve ser participante ativo nos processos de investigação, reflexão e intervenção sempre pautados pelo bem comum.

Neste mundo em constante transformação, as institucionalidades, os departamentos e as hierarquias têm cada vez menos relevância. As pessoas estão frequentemente atuando em grupos diversos, novas equipes se formam em torno de objetivos comuns e depois se dissolvem. Ser capaz de assumir papéis diferentes e complementares em equipes diferentes, ora liderando processos, ora sendo liderado, é condição básica para a realização profissional e social. Chegamos aqui à segunda habilidade a ser desenvolvida na escola transformadora: trabalhar em equipes fluidas, com pessoas de competências, culturas e interesses diversos, construindo projetos conjuntos.

Cada vez mais, há uma urgência pela atitude. É um momento histórico em que não há tempo para soluções que colocam em risco a própria existência de futuro. O imediatismo e as emergências exigem indivíduos com uma atitude ao mesmo tempo prudente e criativa, que sejam capazes de formular novas soluções para problemas socioambientais urgentes. Soluções que criadas com base no domínio das diferentes linguagens, ciências e saberes, mas que sejam capazes de reinventá-las. A criatividade é, portanto, outra habilidade a ser desenvolvida.

A síntese de tudo isso pode ser o tão falado protagonismo do estudante. Esse pode ser um termo que expresse o movimento de o estudante se sensibilizar em relação a alguma questão, engajar outras pessoas no processo de criar ideias para enfrentá-la e colocar tais ideias em prática. O estudante transforma seu meio ao mesmo tempo que se transforma.

Território educativo

A escola que forma indivíduos capazes de se reconhecer como agentes de mudança e que conhecem sua potência para melhorar o mundo, catalisa processos que transformam seus contextos em territórios orientados para o pleno desenvolvimento de todos.

quando a escola se reconhece como agente da comunidade, transforma seu currículo para atender aos problemas locais.

Quando a escola mobiliza sua equipe e seus estudantes para investigar o lugar o em que está e os convida a pensar como o ambiente pode ser melhorado, invariavelmente induz a conhecer outros agentes do território que também têm potencial para transformá-lo e estão disponíveis para isso. Normalmente há em um mesmo território, outros estabelecimentos do sistema educacional, creches ou escolas, voltadas para outros níveis de ensino ou pertencentes a outras redes de ensino. Em alguns casos, há também instituições de nível superior. É comum que a maior parte de crianças de uma determinada creche siga para a mesma escola da Educação Infantil, dessa para a de Ensino Fundamental e, às vezes, até para a escola de Ensino Médio. Acontece com frequência de a mesma família ter filhos em diferentes estabelecimentos de ensino do mesmo bairro. No entanto, apesar de todas essas conexões, é raro que esses estabelecimentos se encontrem. A escola que se identifica como um agente da comunidade vai, muitas vezes, buscar conhecer, trocar experiências e unir forças com as outras escolas, criando, em alguns casos, até mesmo um plano educativo local. Esse plano parte do compartilhamento de experiências, visões e desafios das instituições do lugar, da definição de objetivos comuns e da eleição de prioridades.

No compartilhamento dos desafios enfrentados pelas escolas do mesmo território, certamente elas se deparam com questões que não são capazes de solucionar sem o engajamento de agentes de outros setores: alunos que faltam muito porque as famílias estão passando por situação de vulnerabilidade, estudantes que sofrem violência doméstica, jovens que precisam sair mais cedo porque não há transporte público no horário necessário, episódios recorrentes de assalto no entorno da escola. Para enfrentar problemas desse tipo, as escolas precisam buscar outros agentes do território: assistência social, saúde, transporte, segurança, entre outros. Juntos, criam estratégias que fazem funcionar o sistema de garantia de direitos e são capazes de mobilizar a comunidade local para reivindicar seus direitos. Por isso, as associações de moradores e outras organizações comunitárias são agentes estratégicos do território educativo.

O diagnóstico feito pelas escolas pode apontar desafios ambientais, ausências de espaços de lazer e oportunidades culturais. Nesse caso, os parceiros a serem procurados são os da cultura, esporte, comunicação, meio ambiente, entre outros. Tanto os equipamentos públicos quanto os agentes comunitários e mesmo os equipamentos privados.

Um bom exemplo é o Bairro Educador de Heliópolis, na cidade de São Paulo, em que a catalisação de todo o processo foi feita pela Escola Municipal de Ensino Fundamental Campos Salles, em aliança com a União de Núcleos e Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (UNAS). Concentrando-se inicialmente na transformação de uma área degradada no entorno da escola em uma área de lazer que comportasse mais escolas para atender à alta demanda local, a aliança iniciada no final dos anos 90 segue até hoje, incluindo cada vez mais agentes para atender aos 125 mil moradores da região.

Com mais de mil estudantes, na Campos Salles, não há aulas. Nem salas de aula. Em um ambiente que valoriza a convivência democrática, a estrutura é de amplos salões, com mesas em que grupos de estudantes trabalham juntos, com base em roteiros de pesquisas escolhidos por eles. Quando precisam de ajuda, recorrem aos três professores que estão no espaço no momento. Os professores trabalham em parceria, rompendo com a estrutura do isolamento da sala de aula. A gestão da convivência escolar é feita pela República de Alunos, em que há um prefeito e vereadores eleitos pelo conjunto de estudantes, secretários nomeados pelo prefeito e comissões mediadoras.

Da aliança entre a Campos Salles e a UNAS, nasceu a Caminhada da Paz, que há 20 anos leva milhares de pessoas às ruas do bairro, com bandeiras e cartazes, resultantes de pesquisas que envolvem estudantes e educadores ao longo do ano. A organização anual da Caminhada é feita pelo Movimento Sol da Paz, que une escolas, associações de moradores, organizações da assistência social, da cultura e do esporte.

Há uma dimensão quantitativa dos resultados alcançados. Além da Campos Salles, a comunidade conquistou uma escola de Educação Infantil, uma escola técnica e uma universidade aberta. Na escola técnica, são oferecidos cursos de escolha da comunidade – nutrição, edificações e webdesign. O Bairro Educador de Heliópolis conquistou também onze Centros de Educação Infantil (CEI), oito Centros da Criança e do Adolescente (CCAs), dois núcleos do Serviço de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto, o Serviço de Atendimento Social a Família (SASF) e sete núcleos do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA), todos geridos pela UNAS. Além dos equipamentos educativos, o Bairro Educador conta com uma biblioteca, um teatro/cinema, uma escola de música que sedia a Orquestra Sinfônica de Heliópolis, um centro poliesportivo, um Ponto de Cultura, uma rádio comunitária e um laboratório de fabricação digital. Todos esses equipamentos conquistados pela comunidade foram integrados pela gestão municipal constituindo um Centro Educacional Unificado (CEU). Na moradia, a conquista se revela em um condomínio com prédios redondos projetados em parceria entre a comunidade e o arquiteto, com área de lazer e comunitária.

Jovens agentes de transformação

Quando a escola se reconhece como agente da comunidade, possibilita que seu currículo seja construído na interface entre os desafios locais e os interesses dos estudantes. Os estudantes, motivados pela leitura compartilhada dos desafios locais, muitas vezes, são os catalisadores dos processos que podem transformar o lugar em um território educativo.

Em Araguatins, região do Bico do Papagaio, no Tocantins, Rhenan Cauê, de 13 anos, foi motivado pelo Colégio Estadual Osvaldo Franco a desenvolver uma iniciativa para enfrentar os desafios ambientais que o sensibilizavam. Na escola, Rhenan compreendeu que a sujeira do Rio Brejinho, o afluente do Araguaia em sua cidade, era a responsável pelas doenças tropicais como a dengue e a lepra, que vitimavam os moradores lugar. Para enfrentar a questão, Rhenan e os colegas vão às escolas para falar da prevenção das doenças tropicais, além de liderarem ações de conscientização em relação à mudança climática. Mas, foi com o projeto para limpar o rio, que Rhenan foi indicado como representante de sua escola na Conferência Estadual Escolar de Meio Ambiente e, depois, na Nacional. A partir disso, adquiriu as ferramentas para colocar o projeto em pé. Junto com os colegas, primeiro engajaram as outras escolas e organizações da sociedade civil para o mutirão de limpeza do rio. No processo, mobilizaram Prefeitura, Polícia Militar, Ambiental, Corpo de Bombeiros, Órgãos ambientais, universidades, Promotoria de Justiça. Rio limpo, partiram para a construção de alianças com Governo do estado e demais agentes do território, em busca das sementes para o plantio de árvores que dará origem à construção de um parque ecológico.

São muitos os exemplos de escolas que estimulam jovens a desenvolverem projetos para a transformação positiva de seus contextos. Escolas de Ensino Médio e técnico em áreas rurais que integram os saberes comunitários com os saberes científicos de manejo agroecológico, possibilitando aos jovens as condições para permanecer no campo, realizando-se pessoal, profissional e socialmente. Escolas em territórios indígenas que sediam os planos de manejo anuais da comunidade, tendo os estudantes como seus protagonistas. Escolas que se tornam polos culturais da comunidade, sediando eventos, mostras, festivais e outras iniciativas que valorizam as expressões locais, inclusive criando novas oportunidades econômicas. Todas essas experiências revelam é que o território educativo se constitui exatamente como resultado da ação articulada e catalisadora de escolas e estudantes que integram e potencializam as oportunidades locais.

texto Helena Singer

 

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Planejamento coletivo e gestão democrática são caminhos de ampliação da escola para a transformação da comunidade.

Já se tornou corriqueiro nos debates sobre educação lembrar que o mundo vem mudando velozmente nas últimas décadas e que este campo social, especialmente no que se refere à sua principal instituição — a escola e o sistema escolar —, precisa se reinventar para a nova realidade. Vamos avançar um pouco mais nessa reflexão.

A revolução tecnológica possibilitou a coordenação eficiente de grande número de fornecedores independentes, demolindo o gigantismo burocrático que dominava a organização interna das empresas, marcadas por fortes hierarquias e departamentalização dos conhecimentos. Na mesma direção, possibilitou a multiplicação de micro, pequenas e médias empresas na indústria, na agricultura e nos serviços, que passaram a se organizar em rede, não mais nas estruturas hierárquicas anteriores. Nos ambientes de trabalho, valoriza-se cada vez menos a alta especialização e cada vez mais a participação e criação.

A produção de conhecimento científico e de bens culturais passou a se organizar também de modo descentralizado, com base em novas e sofisticadas formas de trabalho em equipe e em rede, e a catalisação de oportunidades e recursos.

Estão dadas as condições tecnológicas para que pessoas e coletivos sejam agentes econômicos e sociais produtivos e, mais importante, agentes de mudanças sociais positivas. Para que isso se torne realidade, é urgente um projeto nacional de desenvolvimento sustentável, que valorize a diversidade ambiental e cultural do país para a superação da sua inaceitável desigualdade econômica. Um projeto dessa natureza permite reconhecer o papel estratégico que as escolas podem desempenhar. Como a principal instituição formadora das novas gerações e produtora de conhecimento, a escola pode catalisar processos e projetos que favoreçam o desenvolvimento local.

Hoje no Brasil, assim como em muitos outros países, a escola é o equipamento público mais bem distribuído pelo território nacional. Tal equipamento possui um corpo multidisciplinar de profissionais, proximidade cotidiana com as famílias e a maior de todas as potências nacionais: as crianças e os jovens. Essas pessoas que, não tendo sido formadas no mundo da repetição, das hierarquias e especializações, não têm nada a desaprender e possuem todas as condições para se desenvolverem como agentes de transformação positiva.

Escola transformadora

A transformação da escola em um centro local de produção de conhecimento e cultura começa pela construção coletiva do seu projeto político pedagógico (PPP). Gestores, professores, colaboradores, estudantes, famílias e agentes da comunidade são convidados a refletir juntos sobre o contexto em que se encontram. Considerando o contexto social, a origem e a cultura das pessoas do lugar, os desafios econômicos, sociais e ambientais e as potências locais, qual o papel que a escola deve desempenhar para que as crianças e jovens daqui tenham condições de se realizar pessoal e profissionalmente?

Ao responder a tal pergunta coletivamente, o projeto pedagógico da escola definirá sua visão, seus valores e sua forma de organização. A partir disso, a cada ano o currículo será desenhado de modo a engajar estudantes e professores em processos de pesquisa e projetos de intervenção que possibilitem a realização do objetivo maior da escola. Partindo do levantamento da história, da paisagem, das expressões e tradições culturais e dos desafios socioambientais, cada instituição define seu plano anual, considerando as potências locais, os objetivos comunitários e os interesses dos estudantes, para o desenvolvimento de projetos coletivos que, ao mesmo tempo e tomam o lugar um território educativo, possibilitam que os estudantes aprendam a manejar e interpretar as informações, criando novas soluções e oportunidades.

A base metodológica da escola transformadora busca garantir o desenvolvimento de quatro habilidades fundamentais para o mundo em constante transformação. A primeira é a empatia: já não é possível realizar o bem comum seguindo estritamente as regras, por isso dependemos cada vez mais da capacidade de compreender as diferentes formas de conexão entre pessoas, seres vivos, coletivos e instituições, e como as mudanças constantes afetam tais conexões para, assim, encontrar as soluções que priorizam o todo. A empatia só pode se desenvolver no coletivo. O primeiro coletivo é a própria escola, na qual os estudantes devem ser convocados a participar da elaboração e da implementação das regras de convivência, da mediação de conflitos e dos cuidados com o outro e com o que é de todos. O segundo coletivo a que o estudante deve se engajar é o da comunidade em que está inserida a escola. É no contexto comunitário que o estudante deve ser participante ativo nos processos de investigação, reflexão e intervenção sempre pautados pelo bem comum.

Neste mundo em constante transformação, as institucionalidades, os departamentos e as hierarquias têm cada vez menos relevância. As pessoas estão frequentemente atuando em grupos diversos, novas equipes se formam em torno de objetivos comuns e depois se dissolvem. Ser capaz de assumir papéis diferentes e complementares em equipes diferentes, ora liderando processos, ora sendo liderado, é condição básica para a realização profissional e social. Chegamos aqui à segunda habilidade a ser desenvolvida na escola transformadora: trabalhar em equipes fluidas, com pessoas de competências, culturas e interesses diversos, construindo projetos conjuntos.

Cada vez mais, há uma urgência pela atitude. É um momento histórico em que não há tempo para soluções que colocam em risco a própria existência de futuro. O imediatismo e as emergências exigem indivíduos com uma atitude ao mesmo tempo prudente e criativa, que sejam capazes de formular novas soluções para problemas socioambientais urgentes. Soluções que criadas com base no domínio das diferentes linguagens, ciências e saberes, mas que sejam capazes de reinventá-las. A criatividade é, portanto, outra habilidade a ser desenvolvida.

A síntese de tudo isso pode ser o tão falado protagonismo do estudante. Esse pode ser um termo que expresse o movimento de o estudante se sensibilizar em relação a alguma questão, engajar outras pessoas no processo de criar ideias para enfrentá-la e colocar tais ideias em prática. O estudante transforma seu meio ao mesmo tempo que se transforma.

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A escola que forma indivíduos capazes de se reconhecer como agentes de mudança e que conhecem sua potência para melhorar o mundo, catalisa processos que transformam seus contextos em territórios orientados para o pleno desenvolvimento de todos.

quando a escola se reconhece como agente da comunidade, transforma seu currículo para atender aos problemas locais.

Quando a escola mobiliza sua equipe e seus estudantes para investigar o lugar o em que está e os convida a pensar como o ambiente pode ser melhorado, invariavelmente induz a conhecer outros agentes do território que também têm potencial para transformá-lo e estão disponíveis para isso. Normalmente há em um mesmo território, outros estabelecimentos do sistema educacional, creches ou escolas, voltadas para outros níveis de ensino ou pertencentes a outras redes de ensino. Em alguns casos, há também instituições de nível superior. É comum que a maior parte de crianças de uma determinada creche siga para a mesma escola da Educação Infantil, dessa para a de Ensino Fundamental e, às vezes, até para a escola de Ensino Médio. Acontece com frequência de a mesma família ter filhos em diferentes estabelecimentos de ensino do mesmo bairro. No entanto, apesar de todas essas conexões, é raro que esses estabelecimentos se encontrem. A escola que se identifica como um agente da comunidade vai, muitas vezes, buscar conhecer, trocar experiências e unir forças com as outras escolas, criando, em alguns casos, até mesmo um plano educativo local. Esse plano parte do compartilhamento de experiências, visões e desafios das instituições do lugar, da definição de objetivos comuns e da eleição de prioridades.

No compartilhamento dos desafios enfrentados pelas escolas do mesmo território, certamente elas se deparam com questões que não são capazes de solucionar sem o engajamento de agentes de outros setores: alunos que faltam muito porque as famílias estão passando por situação de vulnerabilidade, estudantes que sofrem violência doméstica, jovens que precisam sair mais cedo porque não há transporte público no horário necessário, episódios recorrentes de assalto no entorno da escola. Para enfrentar problemas desse tipo, as escolas precisam buscar outros agentes do território: assistência social, saúde, transporte, segurança, entre outros. Juntos, criam estratégias que fazem funcionar o sistema de garantia de direitos e são capazes de mobilizar a comunidade local para reivindicar seus direitos. Por isso, as associações de moradores e outras organizações comunitárias são agentes estratégicos do território educativo.

O diagnóstico feito pelas escolas pode apontar desafios ambientais, ausências de espaços de lazer e oportunidades culturais. Nesse caso, os parceiros a serem procurados são os da cultura, esporte, comunicação, meio ambiente, entre outros. Tanto os equipamentos públicos quanto os agentes comunitários e mesmo os equipamentos privados.

Um bom exemplo é o Bairro Educador de Heliópolis, na cidade de São Paulo, em que a catalisação de todo o processo foi feita pela Escola Municipal de Ensino Fundamental Campos Salles, em aliança com a União de Núcleos e Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (UNAS). Concentrando-se inicialmente na transformação de uma área degradada no entorno da escola em uma área de lazer que comportasse mais escolas para atender à alta demanda local, a aliança iniciada no final dos anos 90 segue até hoje, incluindo cada vez mais agentes para atender aos 125 mil moradores da região.

Com mais de mil estudantes, na Campos Salles, não há aulas. Nem salas de aula. Em um ambiente que valoriza a convivência democrática, a estrutura é de amplos salões, com mesas em que grupos de estudantes trabalham juntos, com base em roteiros de pesquisas escolhidos por eles. Quando precisam de ajuda, recorrem aos três professores que estão no espaço no momento. Os professores trabalham em parceria, rompendo com a estrutura do isolamento da sala de aula. A gestão da convivência escolar é feita pela República de Alunos, em que há um prefeito e vereadores eleitos pelo conjunto de estudantes, secretários nomeados pelo prefeito e comissões mediadoras.

Da aliança entre a Campos Salles e a UNAS, nasceu a Caminhada da Paz, que há 20 anos leva milhares de pessoas às ruas do bairro, com bandeiras e cartazes, resultantes de pesquisas que envolvem estudantes e educadores ao longo do ano. A organização anual da Caminhada é feita pelo Movimento Sol da Paz, que une escolas, associações de moradores, organizações da assistência social, da cultura e do esporte.

Há uma dimensão quantitativa dos resultados alcançados. Além da Campos Salles, a comunidade conquistou uma escola de Educação Infantil, uma escola técnica e uma universidade aberta. Na escola técnica, são oferecidos cursos de escolha da comunidade – nutrição, edificações e webdesign. O Bairro Educador de Heliópolis conquistou também onze Centros de Educação Infantil (CEI), oito Centros da Criança e do Adolescente (CCAs), dois núcleos do Serviço de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto, o Serviço de Atendimento Social a Família (SASF) e sete núcleos do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA), todos geridos pela UNAS. Além dos equipamentos educativos, o Bairro Educador conta com uma biblioteca, um teatro/cinema, uma escola de música que sedia a Orquestra Sinfônica de Heliópolis, um centro poliesportivo, um Ponto de Cultura, uma rádio comunitária e um laboratório de fabricação digital. Todos esses equipamentos conquistados pela comunidade foram integrados pela gestão municipal constituindo um Centro Educacional Unificado (CEU). Na moradia, a conquista se revela em um condomínio com prédios redondos projetados em parceria entre a comunidade e o arquiteto, com área de lazer e comunitária.

Jovens agentes de transformação

Quando a escola se reconhece como agente da comunidade, possibilita que seu currículo seja construído na interface entre os desafios locais e os interesses dos estudantes. Os estudantes, motivados pela leitura compartilhada dos desafios locais, muitas vezes, são os catalisadores dos processos que podem transformar o lugar em um território educativo.

Em Araguatins, região do Bico do Papagaio, no Tocantins, Rhenan Cauê, de 13 anos, foi motivado pelo Colégio Estadual Osvaldo Franco a desenvolver uma iniciativa para enfrentar os desafios ambientais que o sensibilizavam. Na escola, Rhenan compreendeu que a sujeira do Rio Brejinho, o afluente do Araguaia em sua cidade, era a responsável pelas doenças tropicais como a dengue e a lepra, que vitimavam os moradores lugar. Para enfrentar a questão, Rhenan e os colegas vão às escolas para falar da prevenção das doenças tropicais, além de liderarem ações de conscientização em relação à mudança climática. Mas, foi com o projeto para limpar o rio, que Rhenan foi indicado como representante de sua escola na Conferência Estadual Escolar de Meio Ambiente e, depois, na Nacional. A partir disso, adquiriu as ferramentas para colocar o projeto em pé. Junto com os colegas, primeiro engajaram as outras escolas e organizações da sociedade civil para o mutirão de limpeza do rio. No processo, mobilizaram Prefeitura, Polícia Militar, Ambiental, Corpo de Bombeiros, Órgãos ambientais, universidades, Promotoria de Justiça. Rio limpo, partiram para a construção de alianças com Governo do estado e demais agentes do território, em busca das sementes para o plantio de árvores que dará origem à construção de um parque ecológico.

São muitos os exemplos de escolas que estimulam jovens a desenvolverem projetos para a transformação positiva de seus contextos. Escolas de Ensino Médio e técnico em áreas rurais que integram os saberes comunitários com os saberes científicos de manejo agroecológico, possibilitando aos jovens as condições para permanecer no campo, realizando-se pessoal, profissional e socialmente. Escolas em territórios indígenas que sediam os planos de manejo anuais da comunidade, tendo os estudantes como seus protagonistas. Escolas que se tornam polos culturais da comunidade, sediando eventos, mostras, festivais e outras iniciativas que valorizam as expressões locais, inclusive criando novas oportunidades econômicas. Todas essas experiências revelam é que o território educativo se constitui exatamente como resultado da ação articulada e catalisadora de escolas e estudantes que integram e potencializam as oportunidades locais.

texto Helena Singer

 

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Como inovar nas aulas em tempo de pandemia

Como inovar nas aulas em tempo de pandemia

Com as aulas sendo ministrada por tecnologia, muitos professores estão com dúvidas de como inovar em suas aulas, já que o planejamento das aulas presenciais e  das aulas mediadas por tecnologia são muitos diferentes entre si. Além de alguns materiais que estávamos acostumado a usar em sala de aula, sofrerem alterações para que possam se apresentando em aulas e suportes digitais. 

Precisamos olhar para esse período, como um período emergencial das aulas, considerando que é normal enfrentar dificuldades em preparar as mesmas, por isso planejá-la, trocar com o colega e compreender as diferenças podem te auxiliar a inovar no aprendizado. E para te auxiliar neste momento, reunimos algumas sugestões para que possa refletir e replicar. Vamos lá?!

 
 

Menos é mais

 

Sabe aquela frase menos é mais, é propícia para esse momento! Para que os estudantes possam se engajar com as aulas, é preciso que as mesmas sejam atrativas, interativas e que se sintam pertencente a ela, criando uma conexão com os alunos,  já que o meio ministrado é o suporte digital.

Os passos da aula devem ser apresentados aos estudantes e as mesmas devem ser compostas pela apresentação inicial e um acolhimento, apresentando a habilidade a ser trabalhada para que o estudante possa compreender a proposta e uma problematização e ou um tema gerador. Na sequência o desenvolvimento da aula com atividades e por fim uma retomada dos principais assuntos e também uma avaliação para compor o portfólio e ou uma rubrica que servirá de base para um replanejamento e compreensão se os estudantes estão conseguindo acompanhar as aulas. 

É importante promover a interação, mas permitindo que os estudantes escolham a maneira de participar. Muitos sentem receios de se expor e dizer algo que possa está errado e os amigos ficarem com brincadeiras, por isso é importante estabelecer combinados e sempre conversar com a turma sobre internet segura e cyberbullying.

Para levar para as aulas

 

Metodologias ativas

 

As metodologias ativas podem ser trabalhadas de diversas maneiras e um dos objetivos principais é tirar o aluno da passividade e trazê-lo ao centro do processo de aprendizagem, para que participe de maneira ativa da sua aprendizagem.

Vale trazer problemas reais e conversar com os estudantes sobre o momento atual em que estamos vivenciando e ofertar que os alunos reflitam sobre alguns aspectos, encontrando possíveis soluções.

A sala de aula invertida, também pode trazer engajamento e personalização ao aprendizado ao antecipar conteúdos que pode ser uma música, uma leitura e ou filme para que o estudante possa trazer pontos para a discussão nas aulas. O cuidado é somente propor coisas que são acessíveis aos discentes nesse momento.

 

Cultura Maker

 

Outro desafio possível neste momento é trabalhar com a cultura maker que propõe um aprendizado mão na massa. É possível aliar o seu aprendizado as metodologias ativas e incentivarem os estudantes criarem, utilizando a criatividade com materiais de fácil acesso e também apresentando propostas de substituição.

 

Habilidades Socioemocionais

 

Trabalhar com as habilidades socioemocionais é essencial, principalmente porque estamos administrando muitos sentimentos neste momento de pandemia. Prevê um acolhimento, uma atividade que pode até ser em formato de rubrica, ajuda a compreender um pouco mais como estão nossos estudantes e a replanejar as ações.

 

Os desafios são muitos, trazer os pilares da inovação, é importante  para mantermos a tranquilidade  e repassá-la aos estudantes, construindo caminhos juntos. As pessoas sempre serão o centro do processo de aprendizagem.

Um abraço carinhoso,

Débora

Débora Garofalo é Assessora Especial de Tecnologias da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (SEE SP) e professora da rede pública de ensino de São Paulo. Formada em Letras e Pedagogia, mestranda em Educação pela PUC-SP, vencedora na temática Especial Inovação na Educação no Prêmio Professores do Brasil, Vencedora no Desafio de Aprendizagem Criativa do MIT e considerada uma das dez melhoras professoras do mundo pelo Global Teacher Prize, o Nobel da Educação.

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