Tudo o que memorizamos e aprendemos altera a estrutura de nosso cérebro
As novas tecnologias têm modificado a forma como crianças e adolescentes compreendem e processam o mundo. O que os pais devem saber para facilitar o processo de aprendizagem dos filhos e diminuir os fatores de risco?
Não temos como impedir ou mesmo proibir a utilização de recursos tecnológicos, mas temos como selecionar conteúdos e monitorar usos
Como processamos as informações do ambiente?
Tudo o que conhecemos e nomeamos é resultado das reconstruções que nosso cérebro faz dos estímulos recebidos por meio dos canais sensoriais (visão, audição, tato, olfato e paladar). Cada estímulo é transformado em impulso elétrico, permitindo que o órgão entre em contato com tudo o que acontece ao redor.
A partir daí temos a reconstrução do estímulo pelo cérebro, que ficará na memória (com a ajuda da atenção) até que seja identificado, nomeado, armazenado e/ou seja formulada uma resposta específica para esse estímulo.
De que forma isso se relaciona com as novas tecnologias?
Tudo o que memorizamos e aprendemos vai alterando a estrutura de nosso cérebro, ao modificar rotas e conexões neurais. As novas tecnologias têm modificado a forma como crianças e adolescentes compreendem e processam o mundo, já que possuem características de estímulos e exigem respostas bastante específicas.
Os estímulos das novas tecnologias digitais
Recursos que envolvem estímulos visuais com cores fortes, movimento, elementos que surgem e desaparecem exigem respostas automatizadas e com pouca elaboração cognitiva, ou seja, pouca criação do cérebro. Muitas vezes, as respostas são dadas de forma automática.
Quando perguntamos a uma criança ou adolescente como respondeu ao estímulo de um jogo, ou por que deu determinada resposta numa situação envolvendo mídia digital, normalmente recebemos como respostas um “porque sim” ou “porque era para dar essa resposta”.
Nesses momentos, fica claro o processamento envolvido em jogos digitais e em novas tecnologias: a estimulação de processos automáticos como a atenção e a ausência de raciocínio que exige planejamento e organização por meio de recursos verbais. A interatividade que exige respostas imediatas para múltiplos estímulos também provoca pouca elaboração cognitiva. Sim, são estimulados processos que envolvem a visão e que estão diretamente relacionados à organização viso-espacial, mas fica a pergunta: essas habilidades são as únicas que queremos desenvolver?
Como as tecnologias digitais podem estimular aprendizados
Existem recursos tecnológicos que não se baseiam nessa avalanche de estímulos sensoriais. Há atividades que envolvem reflexões e elaborações cognitivas altas, mas elas não são atrativas porque exigem atenção voluntária e controle do raciocínio. Esses estímulos normalmente não são vendidos e não são largamente usados por crianças e adolescentes; São utilizados em contextos educacionais ou clínicos, já que devem ter mediação para que promovam progressos cognitivos e aquisição de conhecimento.
Até mesmo a televisão pode ter esses dois usos se os programas forem acompanhados por um adulto que desenvolva crítica e elaborações sobre o que está sendo visto e apresentado. O problema, então, não é a tecnologia, mas o uso que fazemos dela. Não temos como impedir a utilização de recursos tecnológicos, mas podemos selecionar os conteúdos e monitorar os usos.
O ambiente e a cultura em que estamos inseridos afetam e determinam os processos cognitivos que serão predominantes no funcionamento cerebral. Podemos repensar o uso, o tempo e os motivos que nos levam a utilizar a tecnologia como forma de entretenimento passivo perguntando: “Quais são as necessidades reais hoje para cada faixa etária?”
O cérebro não se reorganiza de forma fácil, casual ou arbitrária. São necessários processos de atenção e entradas sensoriais significativas utilizados de forma repetitiva e intensa para que as modificações ocorram. Assim, o uso eventual e lúdico não é condenado, e a pergunta que devemos formular é: “Como é o uso por parte das crianças no mundo atual?”
Não podemos prever as capacidades e habilidades exigidas para as crianças daqui a 30 ou 40 anos, porém o equilíbrio e o bom senso devem prevalecer. O problema, mais uma vez, não é a tecnologia, mas o uso que se faz dela. Cada vez mais devemos proporcionar às crianças e aos adolescentes oportunidades de construção de realizar reflexões e elaborar pensamentos críticos a partir das experiências vividas. As novas tecnologias devem fazer parte da temática desses questionamentos.
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