É essencial ensinar uma criança a planejar seus gastos, a ter metas financeiras, a economizar e a ficar longe de dívidas.
Associar o mundo emocional às atitudes práticas ao lidar com dinheiro previne inúmeros problemas financeiros no decorrer da vida.
Sentimentos como empolgação excessiva, ansiedade, preocupação e culpa acompanham e influenciam de maneira direta cada decisão ligada ao dinheiro.
Muitas escolas brasileiras já incluem a educação financeira em sua grade curricular e, felizmente, bons programas foram desenvolvidos para garantir que esse tema seja implementado de forma transversal e integrada às disciplinas tradicionais.
No entanto, é muito difícil encontrar uma visão sobre educação financeira que englobe os fatores psicológicos pessoais e familiares relacionados ao uso do dinheiro. Algumas iniciativas até unem o aprendizado das finanças a aspectos ligados a comportamento, impacto social e valores humanos – isso é fundamental, mas ainda é limitada a consciência de que sentimentos como empolgação excessiva, ansiedade, preocupação e culpa acompanham e influenciam cada decisão ligada ao dinheiro.
Mais restrita ainda é a noção de que padrões familiares financeiros são transmitidos de geração em geração e, muitas vezes, impedem as pessoas de ter uma vida financeira saudável, independentemente do quanto aprendam sobre juros, aplicações, descontos e orçamentos.
Em geral, a visão sobre o dinheiro é muito racional, e o impacto das emoções e dos fatores psicológicos na gestão financeira pessoal sempre foi negligenciado.
Uma educação financeira desconectada da compreensão emocional é, na maioria das vezes, pouco eficaz a longo prazo. Quantos adultos preparados tecnicamente para lidar com suas finanças se atrapalham e acabam gastando demais por excesso de empolgação? Ou ficam tão ansiosos com sua vida financeira que preferem nem pensar sobre o assunto e acabam se endividando? Ou, ainda, economizam em excesso por medo ou culpa e deixam de aproveitar a vida? Isso acontece porque as pessoas não entendem as emoções que emergem ao lidar com o próprio dinheiro. Como consequência, tomam decisões equivocadas baseadas em fatores psicológicos que desconhecem.
Ensinar uma criança a planejar seus gastos, a ter metas financeiras, a economizar e a ficar longe de dívidas é essencial. Também é importante conscientizá-la sobre o impacto de seu comportamento financeiro na sociedade e sobre a importância de assuntos como economia circular, consumo consciente e ética nas finanças. Entretanto, uma vida financeira saudável na fase adulta é, em grande parte, resultado de muitas experiências vividas na infância. Você sabe como isso se dá? Por meio da cultura familiar em relação ao dinheiro e, sobretudo, dos padrões de comportamentos da família. Perguntas do tipo “Como seus pais lidam com dinheiro?”, “Qual o significado do dinheiro em sua família?” e “Como foi a história financeira das gerações passadas?” também devem acompanhar os conteúdos técnicos de educação financeira.
O comportamento dos pais é aprendido pela criança sem que ela perceba. Pais que gastam demais, que controlam demais o dinheiro, que ficam deprimidos quando gastam ou que não se preocupam com dívidas passam para a criança mensagens éticas e psicológicas silenciosas que afetam seu desenvolvimento.
O encontro da educação financeira com a emocional permite desenvolver a capacidade de tomar decisões baseadas no autoconhecimento e na história de vida familiar de cada um. Isso facilitará a construção de uma estratégia financeira de longo prazo que inclua momentos vulneráveis, como envelhecimento e adoecimento dos pais, perda de emprego, morte de um provedor e aposentadoria.
Associar o mundo emocional às atitudes práticas ao lidar com dinheiro previne inúmeros problemas financeiros no decorrer da vida. Além disso, reconhecer os padrões de comportamento da família em relação ao assunto protege o indivíduo contra uma série de comportamentos de risco.
Os programas de educação financeira devem incluir reflexões, pesquisas pessoais e ações práticas que ajudem professores, alunos e pais a entender a importância dos aspectos emocionais na construção de uma vida financeira consistentemente saudável. Educação financeira e educação emocional devem andar de mãos dadas desde a infância. Aliar o ensino da gestão do dinheiro ao conhecimento e à gestão das emoções é urgente para desenvolver cidadãos mais generosos, com menos necessidade de ostentar e mais capazes de tomar decisões adequadas, sustentáveis e com impacto positivo para a sociedade.