Data Literacy: a importância do letramento em dados

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Você já ouviu falar na expressão “Data Literacy”? Em português, poderíamos adotar uma tradução livre na forma de “Letramento em Dados”. Em linhas gerais, estamos falando de um conjunto de habilidades que nos ajudam a navegar com sucesso pelo século 21, marcado pelo aumento constante do uso de dados nas mais variadas facetas da vida. Pode parecer exagero, mas já há quem aponte que ser fluente na área dos dados será como dominar uma língua comum, que todos, em qualquer lugar do mundo, deverão aprender para tomar decisões bem fundamentadas ou ter margem competitiva no mercado de trabalho.

Há várias analogias possíveis para pensarmos sobre esse assunto. Uma delas, é se lembrar de quando costumávamos ser abordados com certa frequência para respondermos pesquisas sistematizadas em torno do bom e velho formulário de papel. Outra é a de pensarmos no Censo, levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que mapeia questões-chave para a sociedade brasileira. Podemos analisar práticas de sala de aula como ferramentas de coleta e tratamento de dados? Sem dúvidas! Das enquetes mais corriqueiras aos simulados pré-vestibular, existem vários caminhos para que a gente possa entender como já estamos imersos, mesmo sem saber, no universo atrelado ao conceito de Data Literacy.

O que temos hoje é um ganho de robustez no campo da Letramento de Dados, uma conquista possível graças ao avanço e popularização das mais variadas tecnologias. O que antes era feito apenas por institutos de pesquisa pode ser executado, em menor escala, por meio de ferramentas gratuitas acopladas às redes sociais, por exemplo. No ambiente da educação, há quem faça um ótimo uso de ambientes digitais e de gadgets – como tablets – para otimizar o fluxo que se inicia na coleta e termina na interpretação dos dados. No campo mais tech, há quem aplique linguagens como a Python (linguagem utilizada para programação e amplamente usada na web) para criar dashboards alimentados em tempo real para as mais variadas finalidades.

Desde o surgimento da internet, muito do nosso comportamento cotidiano é transformado em dados de maneira automática, como o armazenamento de fotos na nuvem, por exemplo, o que deve ganhar uma dimensão ainda desconhecida com o avanço do 5G, da Internet das Coisas e da Inteligência Artificial. Tudo isso torna necessário uma compreensão minimamente mais aprofundada do universo dos dados.

E um bom primeiro passo é se ambientar! Por exemplo, você sabia que segundo o estudo britânico Creating an Understanding of Data Literacy for a Data-driven Society (Criando uma Compreensão da Alfabetização de Dados para uma Sociedade Orientada a Dados), de 2016, existem quatro níveis de habilidades no uso de dados? A gradação leva em conta desde cidadãos comuns com bons conhecimentos até o cientista de dados. Vejamos o que já nos apontava esse estudo!

• Comunicadores: compreendem dados e contam narrativas a partir deles, para que outras pessoas formem suas conclusões.

• Leitores: aqueles que sabem ler e interpretar dados.

• Criadores: usam suas habilidades em leitura e interpretação de dados para criar soluções para problemas da sociedade.

• Cientistas: combinam habilidades técnicas em dados com habilidades de comunicação e domínio aprofundado no manejo de dados.

De olho no que falamos até aqui, quais ideias surgem quando você pensa no seu dia a dia e na realidade das escolas? Por exemplo: o que poderíamos aprender ao compilarmos e avaliarmos as notas dos alunos em uma dada disciplina no decorrer da última década? Será que isso nos diria mais se cruzássemos este levantamento com as mudanças nas diretrizes que norteiam a Educação no país? Quais ferramentas digitais poderíamos utilizar para realizar tal levantamento? Como apresentaríamos os dados de maneira interessante, inclusive do ponto de vista visual? Tal qual em outras áreas da contemporaneidade, para cada pergunta há inúmeras respostas, de modo que o mais importante, talvez, seja aguçar a curiosidade e tomar gosto por perguntar! Afinal, de acordo com o interesse pessoal e os recursos à disposição é possível encontrar as mais variadas saídas e, também, os mais variados pontos de partida.

O interessante é notar que na Era dos Dados eles passam a ocupar um lugar cada vez mais central para as nossas práticas. O “achismo” pode, enfim, dar lugar ao surgimento de insights devidamente baseados em dados concretos. Porém, ao contrário do que pode parecer, o universo dos dados oferece amplo espaço para a criatividade e o debate. Sendo assim, é como se tivéssemos o ferramental necessário para boas fotografias, mas como iremos utilizá-lo e o que faremos com as fotografias está em aberto. Compreender, por exemplo, que, historicamente, um determinado mês é o que mais concentra a falta dos alunos só ganha sentido quando a escola toma uma iniciativa para sanar esse ponto. De alguma forma, trata-se de um desdobramento mais potente do movimento que nos tirou das bibliotecas e nos levou para as ferramentas de busca digital. Agora, é como se pudéssemos nos transformar em agentes de investigação, aplicando técnicas e instrumentos para descobrir se nossas hipóteses para compreender a realidade fazem sentido. Sim: estamos melhor equipados para perguntar, obter respostas e dar passos com base no que foi apurado.

Trazer a discussão sobre os dados para a escola é o primeiro passo para entender como a instituição vai interagir com seus profissionais, seus alunos, as famílias e os responsáveis para executar ciclos que envolvem a coleta, o tratamento, a interpretação e a análise dos dados. Nesse sentido, é possível, por exemplo, nomear embaixadores de dados, que vão liderar os processos e criar conexões com especialistas no assunto, promovendo intercâmbios e aprendizados.

Seja qual for o caminho, o importante é não ficar parado. O letramento em dados pode parecer complicado em um primeiro momento, mas, além de necessário, tem se tornado cada vez mais acessível. Saber ler e interpretar dados vai desde ajudar você a compreender como instituições públicas e privadas usam suas informações pessoais, passando por melhorar sua tomada de decisão de compras e indo até aprender a identificar fake news. Vai além do essencial: o conhecimento em dados é capaz de formar cidadãos mais conscientes e, consequentemente, mais livres.

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