Tecnologias Ativas

Tecnologias Ativas

Plataformas e tutoriais para quem está começando – ou não! 

 
 

EDUCAÇÃO NO SÉCULO 21

Como escolas e educadores no mundo todo estão repensando suas práticas, procurando inovar e aproximar suas salas de aula da sociedade contemporânea? Esta publicação discute a educação dentro do contexto brasileiro e traz iniciativas e projetos desenvolvidos no Brasil pelo Google for Education para inspirar as instituições de ensino que querem transformar suas práticas pedagógicas, a partir da formação de seus alunos e professores. SAIBA MAIS Livro digital gratuito disponível em http://mod.lk/smart

 HANGOUTS MEET 

 
A plataforma de compartilhamento do Google permite videochamadas com até 250 participantes e está com todos os recursos avançados disponíveis gratuitamente até 1o de julho de 2020. ACESSE EM http://mod.lk/faveduc
 

POPPLET 

 
 
A ideia é formar um mapa mental de determinado tema, sendo possível criar remota e coletivamente uma apresentação dinâmica sobre qualquer assunto. O aplicativo é também usado para construir “tempestade de ideias” em grupos. ACESSE EM https://popplet.com/
 

ONENOTE  

Ferramenta de produção e compartilhamento de conteúdos desenvolvida pela Microsoft, o OneNote permite criar lições interativas, com orientações em áudio e texto, e inserção de comentários do professor sobre as lições de casa. ACESSE EM http://mod.lk/favedc2

 

FLIPGRID 

Cada tema é tratado em uma “grade”, que serve como ponto de encontro da turma. Ali, o professor vai agregando reflexões, vídeos, palestras e textos, podendo interagir com os alunos, por áudio ou vídeos curtos. ACESSE EM https://flipgrid.com

 

WEBQUEST

 
Trata-se de uma metodologia de pesquisa que usa os próprios recursos da internet e que vem sendo usada por educadores há mais de uma década. Cria-se um roteiro de aprendizagem sobre determinado tema e os alunos aprendem enquanto o completam. Veja um exemplo a seguir com o tema Biodiversidade. ACESSE EM http://mod.lk/favbio

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Diálogo: escola-família
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A importância dos jogos na educação emergencial
Os jogos sempre tiveram um lugar especial na educação

Educar cidadãos globais para manter a paz no mundo

Educar cidadãos globais para manter a paz no mundo

A educação é a principal ferramenta para combater um mundo cada vez mais intolerante.

Texto: Fernando M. Reimers | Tradução: Rafael Spigel | Ilustração: Vinícius Matsuei

Em 1925, o professor Isaac Kandel, da Universidade Columbia, discursou para a associação de diretores de escolas do ensino médio e defendeu veementemente a educação para a cidadania global. Ele argumentou que se as escolas norte-americanas não preparassem seus alunos para uma compreensão global, os Estados Unidos não se tornariam um poder para a paz, mas sim um poder para a instabilidade no mundo. Kandel fez tal discurso apenas sete anos após o fim da Primeira Guerra Mundial e 14 anos antes do principal conflito global que estava por vir. Nascido na Romênia e tendo imigrado para os Estados Unidos, ele conhecia a dor e o sofrimento causados pela guerra e sentiu, à época de seu discurso, como a paz é frágil, como o conflito nunca está tão distante e como a paz requer o cultivo de disposições. Outros educadores que sobreviveram às duas guerras tiveram percepções semelhantes sobre a importância da educação para a paz. Em seu famoso discurso sobre Paz e Educação em 1932, Maria Montessori defendeu uma pedagogia que motivasse a criança a fazer escolhas e contestou a educação autoritária, que preparava o aluno para seguir governantes autoritários. Seu discurso foi publicado pelo Bureau Internacional de Educação da Unesco, do qual Jean Piaget era diretor. Anos mais tarde, o próprio Piaget escreveria uma biografia de Jan Amos Comenius, destacando o papel de Comenius na promoção da educação para a paz.

A conscientização da devastação e do sofrimento causados pela Segunda Guerra Mundial levou governos ao redor do mundo a procurarem condições para a paz sustentável, o que se refletiu na criação das Nações Unidas, na adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos e na inclusão da educação como um direito humano. A Declaração tinha como base os valores de liberdade, igualdade e solidariedade global, que foram o alicerce de boa parte do trabalho dos governos e das instituições globais criadas no pós-guerra. E não há um lugar no qual esses valores são melhor refletidos do que no relatório da Unesco sobre Educação para o século XXI, Educação: um tesouro a descobrir. No entanto, tais valores são cada vez mais contestados por movimentos populistas e nacionalistas, com nuances de xenofobia e intolerância.

Os atuais e crescentes desafios da educação para a cidadania global

Uma ideologia populista emergente desafia as aspirações do ensino público, em especial da educação para a cidadania global, bem como o trabalho de instituições que promovem os valores de liberdade, igualdade e solidariedade. Os populistas defendem mais poder para grupos locais definirem as metas da educação e menos ação das instituições governamentais e intergovernamentais. Além disso, contestam a ideia de direitos humanos universais. Se o nacionalismo é a nova força organizadora, a noção de pertencimento e não pertencimento é definida pela cidadania, e não por associação à humanidade, uma contestação à educação para a cidadania global. Tal questionamento aos direitos humanos universais leva à contestação dos direitos das minorias culturais e étnicas, por exemplo, o direito de se enxergarem representadas no currículo. Nos Estados Unidos, indivíduos e grupos pressionam escolas por mudanças no currículo que reduzem a ênfase em tópicos e conteúdos globais. Grupos conservadores discutem há muito tempo sobre o currículo e os livros didáticos nas escolas, e tais conflitos têm aumentado desde a última campanha presidencial, segundo relatos que ouvi de professores e diretores.

O populismo representa um risco ao enfrentamento dos desafios globais. Ao renegar uma ação conjunta para enfrentar desafios globais, como a mudança climática ou os direitos humanos, cria-se um contexto social no qual professores encontrarão cada vez mais dificuldade para lecionar sobre tais temas.

Um estudo do Southern Poverty Law Center, mostra que, além do nacionalismo e do populismo, há um aumento de grupos de ódio e manifestações odiosas em muitas partes do mundo. Nos Estados Unidos, cresceram os casos de intolerância, dentro e fora das escolas e universidades, na forma mais explícita de antissemitismo, supremacia branca, islamofobia e ódio a negros e imigrantes.

Nesse contexto, é imprescindível redobrar nossos esforços para educar os alunos para a cidadania global. A inclusão disso como uma das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável representa uma oportunidade. O comprometimento da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) para incluir a avaliação da competência global nos estudos do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) trará muita da atenção necessária para esse domínio de competência do aluno, assim como os estudos comparativos internacionais sobre educação cívica conduzidos pela IEA (Associação Internacional para a Avaliação da Conquista Educacional).

Para contribuir com esses esforços a favor da educação para a cidadania global, publiquei recentemente três recursos curriculares, desenvolvidos com meus alunos da pós-graduação. O livro Empoderar Crianças e Jovens para a Cidadania Global defende que a educação deve auxiliar o aluno a entender e a promover os direitos humanos e oferece um rigoroso currículo para apoiar a educação para a cidadania global desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. O livro Empoderando Alunos Para Melhorar o Mundo: Um Guia Prático explica por que uma ênfase renovada sobre a cidadania global é essencial em face do crescente populismo e ódio. Ele oferece protocolos para ajudar os professores e diretores a desenvolverem estratégias escolares amplas que defendem a educação e o currículo para a cidadania global, alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável; e um complemento para a Declaração dos Direitos Humanos em que expõe nossas obrigações para alcançar um mundo que seja inclusivo, pacífico e sustentável.

O livro Learning to Collaborate for the Global Common Good é uma análise dos desafios que a democracia enfrenta ao redor do mundo e traz uma série de recursos para promover competências e habilidades para a participação cívica democrática. Os cinco princípios a seguir conduzem as três publicações:

01 – Planejar o currículo com o objetivo em mente

Uma abordagem eficiente para desenvolver o currículo é inicia-lo com os objetivos em mente. Embora a maioria dos planejamentos comece com a orientação em termos de conhecimento ou competências com às quais estão alinhados, eles raramente estendem tal meta a uma visão mais ampla que informe a seleção de tais competências. Como resultado, embora possa haver uma visão implícita de longo prazo que forneça orientação para as competências que conduzem o desenvolvimento do currículo, tal visão não é pública e, portanto, a hipótese central que conduz tal currículo (“se os alunos adquirem essas competências, eles serão capazes de alcançar as seguintes”) não é de conhecimento público e, dessa forma, não é avaliável. Proponho uma abordagem alternativa que torne pública as duas hipóteses-chaves que reforçam qualquer currículo: se envolvermos os alunos em experiências de aprendizagem específicas, eles vão adquirir certas competências; se eles adquirirem tais competências, serão capazes de alcançar resultados específicos a longo prazo, com consequências para eles e para as comunidades das quais fazem parte.

Esses recursos dão ao currículo uma visão pública, não partidária e que tem sido endossada por governos ao redor do mundo. Isso é o mais próximo que conseguimos chegar de um pacto público que reflita a aspiração compartilhada do “bem comum” da humanidade. Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, incluídos na estrutura adotada por mais de 150 líderes mundiais na Assembleia Geral da ONU em 2015, oferecem uma visão otimista de um mundo que é inclusivo, pacífico e sustentável. Os objetivos conduzem uma série de metas específicas e mensuráveis. Por exemplo, o Objetivo 1 – Erradicação da Pobreza propõe a erradicação das formas mais extremas de pobreza no planeta e traz seis metas específicas:

 

1

Até 2030, reduzir pelo menos à metade a proporção de homens, mulheres e crianças, de todas as idades, que vivem na pobreza, em todas as suas dimensões, de acordo com as definições nacionais.

 

Implementar, em nível nacional, medidas e sistemas de proteção social adequados, para todos, incluindo pisos, e até 2030 atingir a cobertura substancial dos pobres e vulneráveis. 

 

3

Até 2030, garantir que todos os homens e mulheres, particularmente os pobres e vulneráveis, tenham direitos iguais aos recursos econômicos, bem como o acesso a serviços básicos, propriedade e controle sobre a terra e outras formas de propriedade, herança, recursos naturais, novas tecnologias apropriadas e serviços financeiros, incluindo microfinanças.

 

4

Até 2030, construir a resiliência dos pobres e daqueles em situação de vulnerabilidade, e reduzir a exposição e vulnerabilidade destes a eventos extremos relacionados com o clima e outros choques e desastres econômicos, sociais e ambientais.

 

5

Garantir uma mobilização significativa de recursos a partir de uma variedade de fontes, inclusive por meio do reforço da cooperação para o desenvolvimento, para proporcionar meios adequados e previsíveis para que os países em desenvolvimento, em particular os países menos desenvolvidos, implementem programas e políticas para acabar com a pobreza em todas as suas dimensões.

 

6

 

Criar marcos políticos sólidos em níveis nacional, regional e internacional, com base em estratégias de desenvolvimento a favor dos pobres e sensíveis a gênero, para apoiar investimentos acelerados nas ações de erradicação da pobreza.

Alcançar cada uma dessas metas requer ações específicas que, por sua vez, requerem capacidades específicas. Como essas metas globais só podem ser alcançadas se as comunidades locais fizerem a sua parte, elas necessariamente implicam em ações e escolhas feitas por muitas pessoas ao redor do mundo. Proporcionar às pessoas as capacidades para fazer escolhas e tomar atitudes é tarefa da educação.

Ao envolver os educadores na análise de quais competências são necessárias para alcançar as metas, e, por sua vez, discernir quais pedagogias e experiências ajudarão os alunos a adquiri-las, a abordagem que segui fez mais do que começar com o objetivo em mente. Ela proporcionou um nível de transparência e responsabilidade profissional e pública para as escolhas feitas em qualquer planejamento de currículo que raramente estão disponíveis em normas estatais ou com livros didáticos e recursos curriculares.

02 – Ativar redes de melhoria para projetar o currículo

O segundo princípio é que a tarefa de planejar o currículo, especialmente quando envolve domínios inovadores ou complexos, requer a colaboração de colegas. Embora possamos apreciar o ideal de que cada professor seja capaz de desenvolver o seu próprio currículo, na prática, o trabalho de ensinar é estruturado de tal forma que limita consideravelmente a quantidade de tempo dedicada ao planejamento do currículo. Não é surpresa que existem muitos recursos on-line para a ajudar o professor a compartilhar currículos e aulas e que, na prática, muitos docentes recorrem a recursos já existentes.

A razão pela qual os professores já criaram redes informais para compartilhar recursos, ou dependem de recursos existentes, é a complexidade do desenvolvimento curricular de alta qualidade. Tradicionalmente essa tem sido a vantagem das editoras de livros didáticos: a capacidade de envolver diversos editores especialistas, autores e outros profissionais, produzindo materiais de alta qualidade e distribuindo os custos necessários para financiar sua produção pelo grande número de usuários.

No entanto, existem limites para a forma convencional de alcançar economias de escala ao produzir materiais instrucionais, e um deles é que esses recursos devem ter como alvo algum grupo específico, razão pela qual muitos livros didáticos estão alinhados com as normas dos estados onde há mais alunos. Um dos méritos da ideia da Base Nacional Comum Curricular, um conjunto nacional de normas curriculares, é justamente o de capacitar tais economias de escala no desenvolvimento de recursos instrucionais de alta qualidade.

As redes profissionais têm uma nítida vantagem como forma de alavancar a inteligência coletiva. Elas podem se adaptar dinamicamente ao feedback decorrente dos ciclos rápidos da experimentação e podem aumentar o aprendizado decorrente de ciclos similares que ocorrem concomitantemente em diversos cenários. Nesse sentido, as redes profissionais têm um potencial inerente para aprendizagem e adaptação que foge das formas mais convencionais de produzir currículo e livros didáticos.

03 – Aprender fazendo

Os profissionais devem necessariamente experimentar como uma forma de criar novos conhecimentos. De fato, uma rede de desenvolvimento é um amplo laboratório para experimentações contínuas em busca de soluções para desafios complexos.

A epistemologia que reforça esse princípio é que o conhecimento profissional deve se valer da prática, não pode ser gerado na ausência de ou desprovido de prática. Ser professor é uma profissão não apenas porque aqueles que a praticam devem dominar o conhecimento especializado para conduzir seu trabalho, mas também no sentido de que aqueles que a praticam devem contribuir para o desenvolvimento de conhecimento especializado. Para tal conhecimento, baseado na prática, se tornar conhecimento profissional, disponível para outros, ele deve ser público, e não privado. Uma rede profissional é uma forma de fazer que o conhecimento oriundo da prática se submeta à análise essencial para se tornar público. Ademais, a confiança nos princípios de pensamento com base em planejamento e em redes de desenvolvimento proporciona um contexto para a experimentação sistemática e teste de hipóteses que estão implícitas em qualquer currículo.

04 – O poder de uma educação baseada em problemas

Algumas das competências necessárias para prosperar no século XXI são melhor adquiridas ao envolver os alunos em problemas reais e ao convidá-los a testarem soluções. Tal educação, baseada em problemas e projetos como esses, vale-se das tradições da educação progressiva desenvolvida por John Dewey e é consistente com o atual conhecimento sobre como defender um aprendizado mais profundo.

05 – O poder da colaboração em equipes diversas

A realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável exigirá colaboração sem precedentes em todos os níveis. Se há uma habilidade que todos os alunos precisarão desenvolver é a colaboração. Os recursos apresentados nesses livros sobre metodologias baseadas em projetos ajudam a desenvolver tais habilidades colaborativas. Mas se os professores devem ensinar os alunos a colaborar, eles próprios devem aprender a co- laborar profissionalmente.

A prática da educação global e o movimento da educação global

Ao alinhar o currículo à estrutura dos Objetivos de Desenvolvimento das Nações Unidas, pretende-se cultivar uma mentalidade entre os alunos para educá-los como cidadãos globais.

O projeto de educar todos os alunos é um movimento global que começou com a disseminação do ensino público. Esse movimento de educação global acontecia de duas formas: envolvia colaborações entre a fraternidade de educadores de várias nações e ensinava os alunos a compreender o poder de tais colaborações globais para promoverem as suas próprias, bem como desafios compartilhados.

Não é por acaso que o ensino público expandiu significativamente ao redor do mundo após o direito à educação ser incluído como um dos direitos na Declaração Universal adotada pelas Nações Unidas em 1948. Foi o resultado da solidariedade global e da cooperação mobilizada para promover a paz mundial e da estabilidade que fez o ensino público expandir o seu alcance para incluir metade das crianças do mundo que foram excluídas antes da adoção da Declaração.

De forma semelhante, a expansão do ensino público antes da adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos beneficiou-se também da cooperação e das trocas entre as fronteiras nacionais.

Tais interesses e esforços sempre contestaram (e foram contestados por) visões mais paroquiais da educação. Atualmente, um nacionalismo e isolacionismo intolerante e ressurgente desafia as colaborações globais e a própria aspiração de educar alunos a serem cosmopolitas. Vemos tal ascensão do nacionalismo intolerante, ao qual o ex-vice-presidente norte-americano Joe Biden denominou “populismo falsificado e nacionalismo falso”, como um perigo ao princípio democrático básico, tal como à ideia de igualdade fundamental de todas as pessoas ou à ideia democrática de que os indivíduos devem colaborar com os outros para o bem comum. Esses desafios aos valores democráticos são exatamente a razão para envolver os alunos na educação global.

A educação global é sempre um caminho para desenvolver um conjunto mais amplo de competências necessárias para a participação em um mundo em constante mudança, que alguns denominaram “habilidades do século XXI” ou “aprendizado mais profundo” (Reimers e Chung 2016 e 2018). Como professores buscam novas formas de aprendizagem para preparar os alunos para as exigências do século XXI, descobrir pontos eficazes de entrada para a renovação pedagógica é fundamental. Mudanças são desafiadoras. As noções de que os alunos deveriam se envolver em problemas reais, ou de que eles deveriam fazer isso de forma colaborativa, por exemplo, embora raramente novas, já provaram ser bem difíceis de serem traduzidas para novas abordagens pedagógicas que foram dimensionadas para servir a todos os alunos. A educação global, largamente ausente em muitas escolas, proporciona um conveniente ponto de entrada para a renovação pedagógica, de uma forma que não ameaça diretamente culturas escolares estabelecidas, mas que pode, gradual e fundamental- mente, modernizar a instrução.

Uma nova liderança para o ensino público

As instituições de ensino público estão sob ataque das mesmas forças que atacam a democracia e os direitos humanos. Manter escolas públicas vai exigir a mesma liderança eficaz que a manutenção da democracia exige. Professores e suas organizações têm um importante papel para cumprir ao liderar um movimento amplo em apoio às escolas públicas.

Se for para mobilizar um movimento democrático de apoiadores de forma bem-sucedida, tal liderança deve se concentrar nas necessidades dos estudantes. Ou seja, tal liderança deve estar no centro da prática profissional do educador, e não apenas em questões básicas do dia a dia. Construir essa liderança vai exigir novas abordagens que deverão começar no ensino e no aprendizado. A rede profissional que desenvolvemos é uma forma de construir uma liderança profissional em que os professores se envolvem com o desafio de reinventar o currículo e a pedagogia a fim de servir aos alunos, para prepará-los para um mundo de constantes e rápidas mudanças.

Ao fazer esse trabalho, esses líderes dos professores estão desenvolvendo as habilidades necessárias para a colaboração e para a liderança colaborativa. Como o processo que esses professores seguiram incluía a aproximação de colegas em suas escolas, persuadindo-os a experimentar as novas aulas e recursos, essa experiência desenvolveu a liderança e cultivou habilidades necessárias para exercer influência sem autoridade, apoiando-se em conhecimento profissional e no comprometimento com um processo aberto e sujeito à responsabilidade profissional e pública.

Quase um século depois de Isaac Kandel defender a promoção do entendimento internacional nas escolas norte-americanas, para educar cidadãos globais que poderiam ser emissários da paz, as ameaças crescentes do populismo e da intolerância fazem isso tão necessário hoje em dia quanto era naquela época. Devemos renovar nossos esforços ao avançar na educação dos direitos humanos, na educação para a paz, na educação para a sustentabilidade e no desenvolvimento para a cidadania global, mesmo que esse trabalho se torne ainda mais difícil de fazer e os riscos de fazê-lo se tornem maiores.

Fernando M. Reimers

Especialista na área de políticas educacionais globais e inovação. É professor de Práticas Internacionais de Educação da Fundação Ford, diretor da Global Education Innovation Initiative e do Programa de Políticas de Educação Internacional da Harvard University.

Para saber mais:

  • REIMERS, Fernando M.; CHOPRA, Vidur; CHUNG, Connie K.; HIGDON, Julia; O’DONNEL, E.B. Empoderar Crianças e Jovens para a Cidadania Global. Download em mod.lk/ed15empo
  •  
  • REIMERS, Fernando M. Empoderando alunos para melhorar o mundo: um guia prático. Download em mod.lk/ed15guia
  •  
  • 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Disponível em mod.lk/17objsus
  •  
  • Educação: um tesouro a descobrir (Unesco, 2010). Disponível em mod.lk/ed15ten1
  •  
  • Southern Poverty Law Center. Hate map. Disponível em mod.lk/hatemap

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Texto: Fernando M. Reimers | Tradução: Rafael Spigel | Ilustração: Vinícius Matsuei

Em 1925, o professor Isaac Kandel, da Universidade Columbia, discursou para a associação de diretores de escolas do ensino médio e defendeu veementemente a educação para a cidadania global. Ele argumentou que se as escolas norte-americanas não preparassem seus alunos para uma compreensão global, os Estados Unidos não se tornariam um poder para a paz, mas sim um poder para a instabilidade no mundo. Kandel fez tal discurso apenas sete anos após o fim da Primeira Guerra Mundial e 14 anos antes do principal conflito global que estava por vir. Nascido na Romênia e tendo imigrado para os Estados Unidos, ele conhecia a dor e o sofrimento causados pela guerra e sentiu, à época de seu discurso, como a paz é frágil, como o conflito nunca está tão distante e como a paz requer o cultivo de disposições. Outros educadores que sobreviveram às duas guerras tiveram percepções semelhantes sobre a importância da educação para a paz. Em seu famoso discurso sobre Paz e Educação em 1932, Maria Montessori defendeu uma pedagogia que motivasse a criança a fazer escolhas e contestou a educação autoritária, que preparava o aluno para seguir governantes autoritários. Seu discurso foi publicado pelo Bureau Internacional de Educação da Unesco, do qual Jean Piaget era diretor. Anos mais tarde, o próprio Piaget escreveria uma biografia de Jan Amos Comenius, destacando o papel de Comenius na promoção da educação para a paz.

A conscientização da devastação e do sofrimento causados pela Segunda Guerra Mundial levou governos ao redor do mundo a procurarem condições para a paz sustentável, o que se refletiu na criação das Nações Unidas, na adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos e na inclusão da educação como um direito humano. A Declaração tinha como base os valores de liberdade, igualdade e solidariedade global, que foram o alicerce de boa parte do trabalho dos governos e das instituições globais criadas no pós-guerra. E não há um lugar no qual esses valores são melhor refletidos do que no relatório da Unesco sobre Educação para o século XXI, Educação: um tesouro a descobrir. No entanto, tais valores são cada vez mais contestados por movimentos populistas e nacionalistas, com nuances de xenofobia e intolerância.

Os atuais e crescentes desafios da educação para a cidadania global

Uma ideologia populista emergente desafia as aspirações do ensino público, em especial da educação para a cidadania global, bem como o trabalho de instituições que promovem os valores de liberdade, igualdade e solidariedade. Os populistas defendem mais poder para grupos locais definirem as metas da educação e menos ação das instituições governamentais e intergovernamentais. Além disso, contestam a ideia de direitos humanos universais. Se o nacionalismo é a nova força organizadora, a noção de pertencimento e não pertencimento é definida pela cidadania, e não por associação à humanidade, uma contestação à educação para a cidadania global. Tal questionamento aos direitos humanos universais leva à contestação dos direitos das minorias culturais e étnicas, por exemplo, o direito de se enxergarem representadas no currículo. Nos Estados Unidos, indivíduos e grupos pressionam escolas por mudanças no currículo que reduzem a ênfase em tópicos e conteúdos globais. Grupos conservadores discutem há muito tempo sobre o currículo e os livros didáticos nas escolas, e tais conflitos têm aumentado desde a última campanha presidencial, segundo relatos que ouvi de professores e diretores.

O populismo representa um risco ao enfrentamento dos desafios globais. Ao renegar uma ação conjunta para enfrentar desafios globais, como a mudança climática ou os direitos humanos, cria-se um contexto social no qual professores encontrarão cada vez mais dificuldade para lecionar sobre tais temas.

Um estudo do Southern Poverty Law Center, mostra que, além do nacionalismo e do populismo, há um aumento de grupos de ódio e manifestações odiosas em muitas partes do mundo. Nos Estados Unidos, cresceram os casos de intolerância, dentro e fora das escolas e universidades, na forma mais explícita de antissemitismo, supremacia branca, islamofobia e ódio a negros e imigrantes.

Nesse contexto, é imprescindível redobrar nossos esforços para educar os alunos para a cidadania global. A inclusão disso como uma das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável representa uma oportunidade. O comprometimento da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) para incluir a avaliação da competência global nos estudos do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) trará muita da atenção necessária para esse domínio de competência do aluno, assim como os estudos comparativos internacionais sobre educação cívica conduzidos pela IEA (Associação Internacional para a Avaliação da Conquista Educacional).

Para contribuir com esses esforços a favor da educação para a cidadania global, publiquei recentemente três recursos curriculares, desenvolvidos com meus alunos da pós-graduação. O livro Empoderar Crianças e Jovens para a Cidadania Global defende que a educação deve auxiliar o aluno a entender e a promover os direitos humanos e oferece um rigoroso currículo para apoiar a educação para a cidadania global desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. O livro Empoderando Alunos Para Melhorar o Mundo: Um Guia Prático explica por que uma ênfase renovada sobre a cidadania global é essencial em face do crescente populismo e ódio. Ele oferece protocolos para ajudar os professores e diretores a desenvolverem estratégias escolares amplas que defendem a educação e o currículo para a cidadania global, alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável; e um complemento para a Declaração dos Direitos Humanos em que expõe nossas obrigações para alcançar um mundo que seja inclusivo, pacífico e sustentável.

O livro Learning to Collaborate for the Global Common Good é uma análise dos desafios que a democracia enfrenta ao redor do mundo e traz uma série de recursos para promover competências e habilidades para a participação cívica democrática. Os cinco princípios a seguir conduzem as três publicações:

01 – Planejar o currículo com o objetivo em mente

Uma abordagem eficiente para desenvolver o currículo é inicia-lo com os objetivos em mente. Embora a maioria dos planejamentos comece com a orientação em termos de conhecimento ou competências com às quais estão alinhados, eles raramente estendem tal meta a uma visão mais ampla que informe a seleção de tais competências. Como resultado, embora possa haver uma visão implícita de longo prazo que forneça orientação para as competências que conduzem o desenvolvimento do currículo, tal visão não é pública e, portanto, a hipótese central que conduz tal currículo (“se os alunos adquirem essas competências, eles serão capazes de alcançar as seguintes”) não é de conhecimento público e, dessa forma, não é avaliável. Proponho uma abordagem alternativa que torne pública as duas hipóteses-chaves que reforçam qualquer currículo: se envolvermos os alunos em experiências de aprendizagem específicas, eles vão adquirir certas competências; se eles adquirirem tais competências, serão capazes de alcançar resultados específicos a longo prazo, com consequências para eles e para as comunidades das quais fazem parte.

Esses recursos dão ao currículo uma visão pública, não partidária e que tem sido endossada por governos ao redor do mundo. Isso é o mais próximo que conseguimos chegar de um pacto público que reflita a aspiração compartilhada do “bem comum” da humanidade. Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, incluídos na estrutura adotada por mais de 150 líderes mundiais na Assembleia Geral da ONU em 2015, oferecem uma visão otimista de um mundo que é inclusivo, pacífico e sustentável. Os objetivos conduzem uma série de metas específicas e mensuráveis. Por exemplo, o Objetivo 1 – Erradicação da Pobreza propõe a erradicação das formas mais extremas de pobreza no planeta e traz seis metas específicas:

 

1

Até 2030, reduzir pelo menos à metade a proporção de homens, mulheres e crianças, de todas as idades, que vivem na pobreza, em todas as suas dimensões, de acordo com as definições nacionais.

 

Implementar, em nível nacional, medidas e sistemas de proteção social adequados, para todos, incluindo pisos, e até 2030 atingir a cobertura substancial dos pobres e vulneráveis. 

 

3

Até 2030, garantir que todos os homens e mulheres, particularmente os pobres e vulneráveis, tenham direitos iguais aos recursos econômicos, bem como o acesso a serviços básicos, propriedade e controle sobre a terra e outras formas de propriedade, herança, recursos naturais, novas tecnologias apropriadas e serviços financeiros, incluindo microfinanças.

 

4

Até 2030, construir a resiliência dos pobres e daqueles em situação de vulnerabilidade, e reduzir a exposição e vulnerabilidade destes a eventos extremos relacionados com o clima e outros choques e desastres econômicos, sociais e ambientais.

 

5

Garantir uma mobilização significativa de recursos a partir de uma variedade de fontes, inclusive por meio do reforço da cooperação para o desenvolvimento, para proporcionar meios adequados e previsíveis para que os países em desenvolvimento, em particular os países menos desenvolvidos, implementem programas e políticas para acabar com a pobreza em todas as suas dimensões.

 

6

 

Criar marcos políticos sólidos em níveis nacional, regional e internacional, com base em estratégias de desenvolvimento a favor dos pobres e sensíveis a gênero, para apoiar investimentos acelerados nas ações de erradicação da pobreza.

Alcançar cada uma dessas metas requer ações específicas que, por sua vez, requerem capacidades específicas. Como essas metas globais só podem ser alcançadas se as comunidades locais fizerem a sua parte, elas necessariamente implicam em ações e escolhas feitas por muitas pessoas ao redor do mundo. Proporcionar às pessoas as capacidades para fazer escolhas e tomar atitudes é tarefa da educação.

Ao envolver os educadores na análise de quais competências são necessárias para alcançar as metas, e, por sua vez, discernir quais pedagogias e experiências ajudarão os alunos a adquiri-las, a abordagem que segui fez mais do que começar com o objetivo em mente. Ela proporcionou um nível de transparência e responsabilidade profissional e pública para as escolhas feitas em qualquer planejamento de currículo que raramente estão disponíveis em normas estatais ou com livros didáticos e recursos curriculares.

02 – Ativar redes de melhoria para projetar o currículo

O segundo princípio é que a tarefa de planejar o currículo, especialmente quando envolve domínios inovadores ou complexos, requer a colaboração de colegas. Embora possamos apreciar o ideal de que cada professor seja capaz de desenvolver o seu próprio currículo, na prática, o trabalho de ensinar é estruturado de tal forma que limita consideravelmente a quantidade de tempo dedicada ao planejamento do currículo. Não é surpresa que existem muitos recursos on-line para a ajudar o professor a compartilhar currículos e aulas e que, na prática, muitos docentes recorrem a recursos já existentes.

A razão pela qual os professores já criaram redes informais para compartilhar recursos, ou dependem de recursos existentes, é a complexidade do desenvolvimento curricular de alta qualidade. Tradicionalmente essa tem sido a vantagem das editoras de livros didáticos: a capacidade de envolver diversos editores especialistas, autores e outros profissionais, produzindo materiais de alta qualidade e distribuindo os custos necessários para financiar sua produção pelo grande número de usuários.

No entanto, existem limites para a forma convencional de alcançar economias de escala ao produzir materiais instrucionais, e um deles é que esses recursos devem ter como alvo algum grupo específico, razão pela qual muitos livros didáticos estão alinhados com as normas dos estados onde há mais alunos. Um dos méritos da ideia da Base Nacional Comum Curricular, um conjunto nacional de normas curriculares, é justamente o de capacitar tais economias de escala no desenvolvimento de recursos instrucionais de alta qualidade.

As redes profissionais têm uma nítida vantagem como forma de alavancar a inteligência coletiva. Elas podem se adaptar dinamicamente ao feedback decorrente dos ciclos rápidos da experimentação e podem aumentar o aprendizado decorrente de ciclos similares que ocorrem concomitantemente em diversos cenários. Nesse sentido, as redes profissionais têm um potencial inerente para aprendizagem e adaptação que foge das formas mais convencionais de produzir currículo e livros didáticos.

03 – Aprender fazendo

Os profissionais devem necessariamente experimentar como uma forma de criar novos conhecimentos. De fato, uma rede de desenvolvimento é um amplo laboratório para experimentações contínuas em busca de soluções para desafios complexos.

A epistemologia que reforça esse princípio é que o conhecimento profissional deve se valer da prática, não pode ser gerado na ausência de ou desprovido de prática. Ser professor é uma profissão não apenas porque aqueles que a praticam devem dominar o conhecimento especializado para conduzir seu trabalho, mas também no sentido de que aqueles que a praticam devem contribuir para o desenvolvimento de conhecimento especializado. Para tal conhecimento, baseado na prática, se tornar conhecimento profissional, disponível para outros, ele deve ser público, e não privado. Uma rede profissional é uma forma de fazer que o conhecimento oriundo da prática se submeta à análise essencial para se tornar público. Ademais, a confiança nos princípios de pensamento com base em planejamento e em redes de desenvolvimento proporciona um contexto para a experimentação sistemática e teste de hipóteses que estão implícitas em qualquer currículo.

04 – O poder de uma educação baseada em problemas

Algumas das competências necessárias para prosperar no século XXI são melhor adquiridas ao envolver os alunos em problemas reais e ao convidá-los a testarem soluções. Tal educação, baseada em problemas e projetos como esses, vale-se das tradições da educação progressiva desenvolvida por John Dewey e é consistente com o atual conhecimento sobre como defender um aprendizado mais profundo.

05 – O poder da colaboração em equipes diversas

A realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável exigirá colaboração sem precedentes em todos os níveis. Se há uma habilidade que todos os alunos precisarão desenvolver é a colaboração. Os recursos apresentados nesses livros sobre metodologias baseadas em projetos ajudam a desenvolver tais habilidades colaborativas. Mas se os professores devem ensinar os alunos a colaborar, eles próprios devem aprender a co- laborar profissionalmente.

A prática da educação global e o movimento da educação global

Ao alinhar o currículo à estrutura dos Objetivos de Desenvolvimento das Nações Unidas, pretende-se cultivar uma mentalidade entre os alunos para educá-los como cidadãos globais.

O projeto de educar todos os alunos é um movimento global que começou com a disseminação do ensino público. Esse movimento de educação global acontecia de duas formas: envolvia colaborações entre a fraternidade de educadores de várias nações e ensinava os alunos a compreender o poder de tais colaborações globais para promoverem as suas próprias, bem como desafios compartilhados.

Não é por acaso que o ensino público expandiu significativamente ao redor do mundo após o direito à educação ser incluído como um dos direitos na Declaração Universal adotada pelas Nações Unidas em 1948. Foi o resultado da solidariedade global e da cooperação mobilizada para promover a paz mundial e da estabilidade que fez o ensino público expandir o seu alcance para incluir metade das crianças do mundo que foram excluídas antes da adoção da Declaração.

De forma semelhante, a expansão do ensino público antes da adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos beneficiou-se também da cooperação e das trocas entre as fronteiras nacionais.

Tais interesses e esforços sempre contestaram (e foram contestados por) visões mais paroquiais da educação. Atualmente, um nacionalismo e isolacionismo intolerante e ressurgente desafia as colaborações globais e a própria aspiração de educar alunos a serem cosmopolitas. Vemos tal ascensão do nacionalismo intolerante, ao qual o ex-vice-presidente norte-americano Joe Biden denominou “populismo falsificado e nacionalismo falso”, como um perigo ao princípio democrático básico, tal como à ideia de igualdade fundamental de todas as pessoas ou à ideia democrática de que os indivíduos devem colaborar com os outros para o bem comum. Esses desafios aos valores democráticos são exatamente a razão para envolver os alunos na educação global.

A educação global é sempre um caminho para desenvolver um conjunto mais amplo de competências necessárias para a participação em um mundo em constante mudança, que alguns denominaram “habilidades do século XXI” ou “aprendizado mais profundo” (Reimers e Chung 2016 e 2018). Como professores buscam novas formas de aprendizagem para preparar os alunos para as exigências do século XXI, descobrir pontos eficazes de entrada para a renovação pedagógica é fundamental. Mudanças são desafiadoras. As noções de que os alunos deveriam se envolver em problemas reais, ou de que eles deveriam fazer isso de forma colaborativa, por exemplo, embora raramente novas, já provaram ser bem difíceis de serem traduzidas para novas abordagens pedagógicas que foram dimensionadas para servir a todos os alunos. A educação global, largamente ausente em muitas escolas, proporciona um conveniente ponto de entrada para a renovação pedagógica, de uma forma que não ameaça diretamente culturas escolares estabelecidas, mas que pode, gradual e fundamental- mente, modernizar a instrução.

Uma nova liderança para o ensino público

As instituições de ensino público estão sob ataque das mesmas forças que atacam a democracia e os direitos humanos. Manter escolas públicas vai exigir a mesma liderança eficaz que a manutenção da democracia exige. Professores e suas organizações têm um importante papel para cumprir ao liderar um movimento amplo em apoio às escolas públicas.

Se for para mobilizar um movimento democrático de apoiadores de forma bem-sucedida, tal liderança deve se concentrar nas necessidades dos estudantes. Ou seja, tal liderança deve estar no centro da prática profissional do educador, e não apenas em questões básicas do dia a dia. Construir essa liderança vai exigir novas abordagens que deverão começar no ensino e no aprendizado. A rede profissional que desenvolvemos é uma forma de construir uma liderança profissional em que os professores se envolvem com o desafio de reinventar o currículo e a pedagogia a fim de servir aos alunos, para prepará-los para um mundo de constantes e rápidas mudanças.

Ao fazer esse trabalho, esses líderes dos professores estão desenvolvendo as habilidades necessárias para a colaboração e para a liderança colaborativa. Como o processo que esses professores seguiram incluía a aproximação de colegas em suas escolas, persuadindo-os a experimentar as novas aulas e recursos, essa experiência desenvolveu a liderança e cultivou habilidades necessárias para exercer influência sem autoridade, apoiando-se em conhecimento profissional e no comprometimento com um processo aberto e sujeito à responsabilidade profissional e pública.

Quase um século depois de Isaac Kandel defender a promoção do entendimento internacional nas escolas norte-americanas, para educar cidadãos globais que poderiam ser emissários da paz, as ameaças crescentes do populismo e da intolerância fazem isso tão necessário hoje em dia quanto era naquela época. Devemos renovar nossos esforços ao avançar na educação dos direitos humanos, na educação para a paz, na educação para a sustentabilidade e no desenvolvimento para a cidadania global, mesmo que esse trabalho se torne ainda mais difícil de fazer e os riscos de fazê-lo se tornem maiores.

Fernando M. Reimers

Especialista na área de políticas educacionais globais e inovação. É professor de Práticas Internacionais de Educação da Fundação Ford, diretor da Global Education Innovation Initiative e do Programa de Políticas de Educação Internacional da Harvard University.

Para saber mais:

  • REIMERS, Fernando M.; CHOPRA, Vidur; CHUNG, Connie K.; HIGDON, Julia; O’DONNEL, E.B. Empoderar Crianças e Jovens para a Cidadania Global. Download em mod.lk/ed15empo
  •  
  • REIMERS, Fernando M. Empoderando alunos para melhorar o mundo: um guia prático. Download em mod.lk/ed15guia
  •  
  • 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Disponível em mod.lk/17objsus
  •  
  • Educação: um tesouro a descobrir (Unesco, 2010). Disponível em mod.lk/ed15ten1
  •  
  • Southern Poverty Law Center. Hate map. Disponível em mod.lk/hatemap

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ESPECIAL EDUCAÇÃO 4.0 | 01 Por onde começar?

ESPECIAL EDUCAÇÃO 4.0 | 01 Por onde começar?

O termo Educação 4.0 invadiu as pautas educacionais. Mas como a sua escola pode adentrar as portas do futuro que já chegou?

Revolução industrial e tecnológica, inteligência artificial, Internet das Coisas (IoT), linguagem computacional, robótica são termos ligados à Educação 4.0, que chegou para ficar! Antes de tudo, é importante entender que não existe um modelo pronto para aplicar e todos podem e devem contribuir, quebrando velhos paradigmas de uma educação descontextuali- zada, pautada em transmissão unilateral de conhecimento e ambientes pouco propícios ao processo de aprendizagem.

Com a recente aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a tecnologia se tornou, de fato, uma competência de ensino, e deverá atravessar todo o currículo, permeando todas as áreas do conhecimento. Para muitos educadores e especialistas ligados ao tema, o modelo pautado na cultura maker — do faça você mesmo — é um dos caminhos.

Introduzir a escola nesse contexto torna-se cada dia mais essencial, principalmente porque o uso das tecnologias possibilita interação, colaboração e personalização do ensino. O seu uso, como estratégia, vem crescendo nas escolas, trazendo soluções inovadoras como o learning by doing, o aprender fazendo. 

O último Censo Escolar, realizado em 2017 pelo Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa (INESP), disponível no site do QEdu, afirma que das 144.726 escolas da Educação Básica, apenas 40% (57.946 escolas) possuem laboratório de informática, 62% (90.027 escolas) possuem internet e 49% (71.145 escolas) possuem banda larga. Para acompanhar essa transformação na educação, a formação dos professores é primordial. As políticas públicas devem dar suporte, repensando o processo educacional e permitindo que criatividade e inventividade invadam as salas de aula.

Diante desse cenário, reunimos aqui algumas informações e conceitos que vêm sendo discutidos, para ajudar você a se preparar para o futuro que já chegou. 

 

Por onde começar?

A discussão sobre o tema está apenas começando e devemos enxergar aqui uma oportunidade de modificações no ensino, não somente com o uso de ferramentas virtuais, mas de ações inovadoras, por meio de novas abordagens educacionais que atendam ao perfil dos alunos que são nativos digitais.

O ponto de partida é a criação de ambientes propícios para o desenvolvimento de projetos que permitam aos estudantes vivenciar essa nova realidade. Espaços onde possam aprender fazendo e testando possibilidades, com metodologias ativas e com um processo de aprendizagem inovador. O movimento maker é a porta de entrada!

Por meio do pensamento maker, é possível criar uma cultura de inovação, invenção, programação e colaboração, trabalhando com metodologias ativas, transformando ferramentas em agentes de modificação, em que os alunos são ouvidos e se tornam parte vital do processo de aprendizagem.

No Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, o grupo de trabalho Lifelong Kindergarten foi idealizado para pensar a educação pautada no brincar, a fim de explorar novos modelos, buscando soluções com uso de tecnologia e diversos materiais estruturados ou não.

O pesquisador do Media Lab do MIT, Leo Burd, defendeu no evento Hackathon Desafio 4.0, que ocorreu em Manaus, organizado pelo Instituto CERTI Amazonas, com apoio da Positivo Tecnologia, uma aprendizagem baseada no concreto, compartilhando trabalhos e experiências, respeitando o ambiente e promovendo a interação social. Para ele, permitir o erro é positivo no processo de aprendizagem. Esse modelo está sendo levado a escolas públicas brasileiras, por meio de uma rede brasileira de aprendizagem criativa, com intuito de promover trocas e encontros para formação docente. “Precisamos de gente inovadora que saiba usar os recursos que temos de forma criativa, consciente e colaborativa”, diz Burd.

 

Aprendizagem na educação 4.0 

Estamos vivendo um período de transformações, em que se faz necessário uma mudança de concepção da escola e na forma como os alunos aprendem, que passa a seguir novas abordagens e a exigir um currículo que valorize a experimentação e a vivência.

Colaborar, criar, pesquisar, compartilhar são ações do processo de cognição. Com a abertura do Ciberespaço, é uma tendência natural que o aluno tenha autonomia e busque conhecimento fora do ambiente escolar. O ensino híbrido permite trabalhar com modelos de rotações que mesclam di- versas estações de atividades, favorecendo a construção do conhecimento, tanto dentro quanto fora do ambiente escolar.

As salas de aulas passam a ter novas configurações no aspecto físico, favo- recendo a colaboração e a interação entre os estudantes. Além disso, o de- senvolvimento de habilidades e competências que valorizam a pesquisa e a troca de experiências colaborativas será a base da cognição, tornando o processo significativo e envolvente para os alunos. 

Métodos de aprendizagem baseados em projetos “mão na massa”, como STEAM (Science, Technnology, Engi- neering, Arts e Mathematics) e Design Thinking, possibilitam reflexão, inter- disciplinaridade e motivação para pro- mover ações diferenciadas, convidando os alunos a explorar resoluções de problemas pensadas a partir de questões sociais, interesses próprios e realidade escolar, propondo novas soluções para investigar, descobrir, conectar, refletir, intervir, sensibilizar a partir dos resultados, testando possibilidades, dentro de um processo contínuo. 

Os estudantes passam a ser o centro do processo de aprendizagem, em que o erro terá um espaço fundamental na metodologia. Ao testar possibilidades, ele terá a oportunidade de analisar sua trajetória e intervir sobre ela, aprendendo de maneiras e formas diferentes, em processos que privilegiam a cognição e não o produto, desenvolvendo habilidades e competências:

 

Com a internet, cada dia mais acessível, móvel e presente no cotidiano, os estudantes têm acesso a múltiplos conhecimentos a um clique e buscam referências sobre tudo o que quiserem. Tais mudanças têm refletido na atuação das escolas, que passam a valorizar a criação de situações de pertencimento em que os alunos tenham voz e autonomia para participar ativamente da construção do aprendizado. — De acordo com a Lei 9.610/98 é proibida a reprodução total ou parcial desta website, em qualquer meio de comunicação, sem prévia autorização.

Habilidades do professor 

São inúmeros os benefícios de uma educação pautada no aprender fa- zendo. Esta permite a aplicação de um currículo mais interessante e in- terdisciplinar, a realização de atividades de investigação, o fazer com as mãos e o compartilhar, focando em um modelo de ensino que leve em consideração a evolução do conhecimento, com qualidade e equidade. 

O desafio é grande, devido à infraestrutura e à conectividade de muitas escolas, porém, como contraponto, vemos as narrativas digitais incorporadas à rotina escolar, em que educadores são e serão cada vez mais essenciais, sendo motivadores para o uso de novas possibilidades de atividades, projetos e interação na sala de aula, fomentando autonomia, criticidade e protagonismo.

O professor deve ter o olhar para essa revolução, estimulando múltiplas redes de aprendizagem, permitindo uma gama de associações e de significações entre a escola e a comunidade do entorno. 

A participação efetiva de todos os atores é fundamental para que a prática educativa seja revitalizada, permitindo interação e ampliação desse ambiente de aprendizagem que contribui diretamente para o desenvolvimento intelectual e pessoal do aluno. O docente deve refletir sobre as diferentes práticas adotadas para garantir que o aluno seja o eixo central do processo de aprendizagem.

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Revolução industrial e tecnológica, inteligência artificial, Internet das Coisas (IoT), linguagem computacional, robótica são termos ligados à Educação 4.0, que chegou para ficar! Antes de tudo, é importante entender que não existe um modelo pronto para aplicar e todos podem e devem contribuir, quebrando velhos paradigmas de uma educação descontextuali- zada, pautada em transmissão unilateral de conhecimento e ambientes pouco propícios ao processo de aprendizagem.

Com a recente aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a tecnologia se tornou, de fato, uma competência de ensino, e deverá atravessar todo o currículo, permeando todas as áreas do conhecimento. Para muitos educadores e especialistas ligados ao tema, o modelo pautado na cultura maker — do faça você mesmo — é um dos caminhos.

Introduzir a escola nesse contexto torna-se cada dia mais essencial, principalmente porque o uso das tecnologias possibilita interação, colaboração e personalização do ensino. O seu uso, como estratégia, vem crescendo nas escolas, trazendo soluções inovadoras como o learning by doing, o aprender fazendo. 

O último Censo Escolar, realizado em 2017 pelo Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa (INESP), disponível no site do QEdu, afirma que das 144.726 escolas da Educação Básica, apenas 40% (57.946 escolas) possuem laboratório de informática, 62% (90.027 escolas) possuem internet e 49% (71.145 escolas) possuem banda larga. Para acompanhar essa transformação na educação, a formação dos professores é primordial. As políticas públicas devem dar suporte, repensando o processo educacional e permitindo que criatividade e inventividade invadam as salas de aula.

Diante desse cenário, reunimos aqui algumas informações e conceitos que vêm sendo discutidos, para ajudar você a se preparar para o futuro que já chegou. 

 

Por onde começar?

A discussão sobre o tema está apenas começando e devemos enxergar aqui uma oportunidade de modificações no ensino, não somente com o uso de ferramentas virtuais, mas de ações inovadoras, por meio de novas abordagens educacionais que atendam ao perfil dos alunos que são nativos digitais.

O ponto de partida é a criação de ambientes propícios para o desenvolvimento de projetos que permitam aos estudantes vivenciar essa nova realidade. Espaços onde possam aprender fazendo e testando possibilidades, com metodologias ativas e com um processo de aprendizagem inovador. O movimento maker é a porta de entrada!

Por meio do pensamento maker, é possível criar uma cultura de inovação, invenção, programação e colaboração, trabalhando com metodologias ativas, transformando ferramentas em agentes de modificação, em que os alunos são ouvidos e se tornam parte vital do processo de aprendizagem.

No Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, o grupo de trabalho Lifelong Kindergarten foi idealizado para pensar a educação pautada no brincar, a fim de explorar novos modelos, buscando soluções com uso de tecnologia e diversos materiais estruturados ou não.

O pesquisador do Media Lab do MIT, Leo Burd, defendeu no evento Hackathon Desafio 4.0, que ocorreu em Manaus, organizado pelo Instituto CERTI Amazonas, com apoio da Positivo Tecnologia, uma aprendizagem baseada no concreto, compartilhando trabalhos e experiências, respeitando o ambiente e promovendo a interação social. Para ele, permitir o erro é positivo no processo de aprendizagem. Esse modelo está sendo levado a escolas públicas brasileiras, por meio de uma rede brasileira de aprendizagem criativa, com intuito de promover trocas e encontros para formação docente. “Precisamos de gente inovadora que saiba usar os recursos que temos de forma criativa, consciente e colaborativa”, diz Burd.

 

Aprendizagem na educação 4.0 

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Colaborar, criar, pesquisar, compartilhar são ações do processo de cognição. Com a abertura do Ciberespaço, é uma tendência natural que o aluno tenha autonomia e busque conhecimento fora do ambiente escolar. O ensino híbrido permite trabalhar com modelos de rotações que mesclam di- versas estações de atividades, favorecendo a construção do conhecimento, tanto dentro quanto fora do ambiente escolar.

As salas de aulas passam a ter novas configurações no aspecto físico, favo- recendo a colaboração e a interação entre os estudantes. Além disso, o de- senvolvimento de habilidades e competências que valorizam a pesquisa e a troca de experiências colaborativas será a base da cognição, tornando o processo significativo e envolvente para os alunos. 

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Os estudantes passam a ser o centro do processo de aprendizagem, em que o erro terá um espaço fundamental na metodologia. Ao testar possibilidades, ele terá a oportunidade de analisar sua trajetória e intervir sobre ela, aprendendo de maneiras e formas diferentes, em processos que privilegiam a cognição e não o produto, desenvolvendo habilidades e competências:

 

Com a internet, cada dia mais acessível, móvel e presente no cotidiano, os estudantes têm acesso a múltiplos conhecimentos a um clique e buscam referências sobre tudo o que quiserem. Tais mudanças têm refletido na atuação das escolas, que passam a valorizar a criação de situações de pertencimento em que os alunos tenham voz e autonomia para participar ativamente da construção do aprendizado. — De acordo com a Lei 9.610/98 é proibida a reprodução total ou parcial desta website, em qualquer meio de comunicação, sem prévia autorização.

Habilidades do professor 

São inúmeros os benefícios de uma educação pautada no aprender fa- zendo. Esta permite a aplicação de um currículo mais interessante e in- terdisciplinar, a realização de atividades de investigação, o fazer com as mãos e o compartilhar, focando em um modelo de ensino que leve em consideração a evolução do conhecimento, com qualidade e equidade. 

O desafio é grande, devido à infraestrutura e à conectividade de muitas escolas, porém, como contraponto, vemos as narrativas digitais incorporadas à rotina escolar, em que educadores são e serão cada vez mais essenciais, sendo motivadores para o uso de novas possibilidades de atividades, projetos e interação na sala de aula, fomentando autonomia, criticidade e protagonismo.

O professor deve ter o olhar para essa revolução, estimulando múltiplas redes de aprendizagem, permitindo uma gama de associações e de significações entre a escola e a comunidade do entorno. 

A participação efetiva de todos os atores é fundamental para que a prática educativa seja revitalizada, permitindo interação e ampliação desse ambiente de aprendizagem que contribui diretamente para o desenvolvimento intelectual e pessoal do aluno. O docente deve refletir sobre as diferentes práticas adotadas para garantir que o aluno seja o eixo central do processo de aprendizagem.

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Especial Metodologias ativas | Aplicando estratégias na prática

Especial Metodologias ativas | Aplicando estratégias na prática

Como aplicar estratégias que tornem os alunos parceiros na construção de aulas mais atrativas? 

 
 
O professor tenta exaustivamente explicar o conteúdo seguidas vezes, muda o ponto de vista, muda o esquema exposto na lousa, exemplifica de duas, três, quatro formas diferentes. A cada pausa, chama a atenção de diferentes grupos de alunos, que insistem em não prestar atenção. Alguns conversam, alguns mexem nos seus celulares, outros fazem tarefa de outra disciplina, outros ainda simplesmente permanecem com o olhar vazio de quem faz força para manter os olhos abertos no início da manhã. Já transpirando e quase rouco de tanto aumentar o tom de voz, o professor chama a atenção de um aluno que ri alto, distraído com alguma piada contada no fundo da classe.
 
“– Fica de boa, profe. Depois eu vejo isso aí no YouTube.” A cena em questão é real e aconteceu comigo, mas com certeza se repetiu muitas vezes e ainda se repete em diversas salas de aula ao redor do mundo. No meu caso, foi um divisor de águas para minha prática docente. Depois de quase espumar de raiva diante da insolência, do desrespeito, parei e pensei: ele tem razão. — De acordo com a Lei 9.610/98 é proibida a reprodução total ou parcial desta website, em qualquer meio de comunicação, sem prévia autorização.
 
O professor e palestrante indiano Sugata Mitra, em sua apresentação na Campus Party de 2012, afirmou categoricamente que um professor que possa ser substituído por uma máquina deve ser substituído. E, tirando todo o mal-estar que essa declaração pode nos causar, fica muito mais fácil entender o ponto de vista do meu aluno quanto ao que eu estava fazendo naquele momento. O que a minha aula oferece que a faz ser melhor que as videoaulas superenvolventes ao alcance das mãos dos meus alunos? Meu aluno consegue controlar o professor do vídeo ao toque do seu dedo. Ele pausa, volta, explica de novo. O professor do vídeo não fica bravo se o aluno dorme no meio da explicação, nem se ele resolve trocar a aula por um joguinho para continuar depois, nem se ele não anota ou não faz o exercício. E o professor do vídeo não impede o aluno de comentar com os colegas o último episódio de Game of Thrones. Mas então, como competir com o professor do vídeo? A resposta é muito simples: oferecendo ao aluno uma experiência com a qual o professor do vídeo não consegue competir.
 

Inversão da sala de aula com um tempero a mais 

A ideia de inversão de sala de aula não é nada nova, mas ganhou fôlego novo com a nova geração de EduTubers. Toda aquela explicação maçante e que não depende de interação, exatamente aquela parte da aula que meu aluno preferiu assistir no YouTube, pode ser passada como lição de casa. E a lição de casa tradicional – os exercícios – nós trazemos para a sala de aula. Dificilmente você nunca ouvir falar disso, mas como tornar essa experiência verdadeiramente enriquecedora para os seus alunos? 

 

01 – A escolha do vídeo de preparo prévio 

#CAPACIDADEDEPESQUISA #RACIOCÍNIOCRÍTICO #CIDADANIADIGITAL

A internet tem muita informação, mas isso não significa que essa informação toda tem qualidade. A escritora Martha Gabriel compara a nossa prática de buscar respostas na internet com a prática dos gregos de buscar respostas em oráculos. A resposta pode até estar lá, mas quase nunca será direta, objetiva e perfeitamente confiável. O seu aluno vai buscar essas respostas com ou sem a sua ajuda. Então, o melhor que podemos fazer como educadores é ajudar nesse caminho.
 
A solução mais óbvia para o professor seria assumir a pesquisa e curadoria do material. O próprio YouTube nos ajuda nesse sentido com o YouTube EDU (youtube.com/edu), que é um portal que reúne conteúdo de uma infinidade de criadores e que passam por uma curadoria refinada de acadêmicos das mais diversas áreas numa parceria do Google com a Fundação Lemann. Mas, se a ideia é justamente centrar o processo de aprendizado no nosso aluno, por que não permitir que ele se responsabilize por isso também?
 
E se, ao invés de investir meu tempo em pesquisar os melhores vídeos de um determinado conteúdo, eu dividisse os alunos em grupos e destinasse a cada um desses grupos a responsabilidade pelo material de referência para a turma? Eles podem fazer a pesquisa ou mesmo produzir os próprios vídeos. Pode aparecer algum vídeo ruim, com falhas conceituais? Pode, claro. Mas a principal característica de um professor disposto a inovar em suas práticas é a compreensão de que o erro não é algo a ser evitado, mas sim uma valiosa oportunidade de aprendizado. Discuta o erro, construa junto com seus alunos uma discussão a partir da qual todos entendam os princípios do conceito e quais as falhas identificadas no material.
 
Mas como verificar se os alunos se prepararam ou não? Podemos pedir resumos no caderno ou perguntar oralmente, mas tenha em mente que a melhor estratégia será sempre reforçar positivamente os estudantes que se prepararam. Esse é um processo contínuo, ou seja, não vai acontecer do dia para a noite. Sempre que possível destaque os alunos preparados durante a aula para que os outros entendam que eles estão perdendo mais do que nota quando não se preparam.
 

Uma possibilidade interessante é apresentada pelas perguntas abertas no Google Classroom. Podemos criar uma pergunta em que os alunos enxergam as respostas uns dos outros e podem inclusive comentar o trabalho dos colegas. Lembre-se de que não precisa estar certo. Nessa fase do processo, muito mais desejado que um trabalho perfeito é um trabalho feito.

 

02 – Trabalho em pares 

#EMPATIA #FIXAÇÃODECONTEÚDOS  

A explicação foi transferida para a lição de casa. O aluno vai assistir a um vídeo e fazer um resumo ou responder uma pergunta. Em determinados pontos do seu planejamento, ele vai inclusive ser responsável pelo preparo prévio da turma inteira. Chegou a hora de pensar em como será a experiência na sala de aula. O que a sua sala de aula tem que o professor do YouTube não tem? O celular tem touch screen, mas a sala tem touch skin.

A sala tem outros estudantes ao vivo, tem contato, colaboração. E se o que seu aluno quer é interagir com os colegas, forneça para ele uma experiência que propicie essa interação de modo a construir conhecimento.

Um diagrama muito ilustrativo sobre a forma como retemos os conteúdos acadêmicos, embora falsamente atribuído a William Glasser, é a Pirâmide de Aprendizagem. Enquanto o topo da pirâmide nos aponta uma aprendizagem pífia, quando apenas lemos, a base nos apresenta um aprendizado muito mais amplo quando ensinamos aos outros. — De acordo com a Lei 9.610/98 é proibida a reprodução total ou parcial desta website, em qualquer meio de comunicação, sem prévia autorização.

Algo que eu aprendi na prática, muito antes de conhecer a Pirâmide de Aprendizagem, é que quando juntamos dois alunos com níveis muito diferentes de compreensão de um determinado assunto e um explica para o outro, quem mais ganha com a experiência é quem explica. O ato de refletir sobre o que se está aprendendo, estruturar as ideias e elaborar um jeito de passar para o colega faz com que o explicador adquira inevitavelmente uma compreensão superior do conceito em questão.

Quando o aluno assiste a uma palestra dentro da sala de aula para tentar fazer os exercícios em casa, qualquer fragilidade na compreensão dos conceitos apresentados em sala se transformará numa barreira intransponível quando se encontrar sozinho diante desse desafio. Trazer para a sala esse momento e contar com a interação entre pares para o desenvolvimento da prática dos conceitos apresentados traz para perto do professor as dúvidas e humaniza o processo, algo que a princípio é uma ideia contraintuitiva quando falamos do uso de vídeos educacionais. 

03 – Avaliação compartilhada

#METACOGNIÇÃO #RESPONSABILIZAÇÃOCOLETIVAPELOPROCESSO 

Quando falamos de avaliação, pensamos quase que imediatamente em provas. Uma prova avalia de maneira questionável o conhecimento adquirido pelo aluno, normalmente ao final do um processo. E quanto à avaliação entre pares? E se os alunos pudessem também avaliar o seu trabalho ou mesmo a experiência como um todo? O consultor educacional Cadu Braga diz em suas palestras que temos todos os dias os melhores consultores educacionais disponíveis em nossas salas de aula, sentados à nossa frente. Então, não faz sentido que desperdicemos essa expertise ignorando o que ela pode nos oferecer.

No início do processo, podemos pedir para que os alunos, por exemplo, avaliem o quanto o material do preparo os ajudou a compreender o conceito apresentado. Mais tarde, nos exercícios em duplas ou grupos, podemos pedir que os alunos avaliem seus colegas. E, ao final, que autoavaliem seu envolvimento e seu domínio do conteúdo. Não faz sentido resumir essas perguntas apenas a notas e, se houver a oportunidade, cabe discutir com eles inclusive quais são as perguntas que definem melhor o que vocês querem saber. Ferramentas digitais como o Formulários Google ou o Survey Monkey podem ajudar, mas uma caixa de coleta de avaliações escritas em papel já resolve a questão. Qualquer que seja o suporte de sua avaliação, discutir os critérios e resultados são momentos cruciais, já que o motivo central de todo esse esforço está justamente em fazer com que o aluno reflita sobre a experiência de aprendizado oferecida e, ainda mais importante, o seu processo individual de aprendizado. 

 

Não planeje aulas 

Antes de começar a pensar nos conteúdos, nos vídeos ou nas tarefas, é preciso fazer uma reflexão profunda sobre nosso papel como professores. O que significa ser um bom professor? Assim como as comédias românticas, em geral, distorcem nossas expectativas sobre o que esperar de um relacionamento, as cenas de sala de aula do cinema nos fazem sonhar com alunos vidrados e admirados com nossos discursos eloquentes, sempre finalizados com salvas de palmas. Mas ser um bom professor é, acima de tudo, promover experiências de aprendizado eficazes para seus alunos. E, se é esse o objetivo, não faz sentido que nosso planejamento esteja focado nos conteúdos, nos exercícios que serão realizados ou na prova que os alunos terão de fazer no final do bimestre. Essas coisas todas são importantes, mas não são fins: são meios.
 
Precisamos fazer nosso planejamento do ponto de vista do aluno. Não dos conteúdos, mas da experiência que fornecemos. O que esse aluno fará no tempo que passará com você?
 

Esteja pronto para a resistência

Se você já iniciou suas incursões em meio à inovação no ensino, com certeza, já se deparou com resistências. Mas talvez a resistência mais doída para o professor é a dos alunos, e você tem que estar preparado para ela. O princípio mais básico das metodologias ativas é que os alunos devem estar fazendo algo, não apenas passivos diante de explicações e exemplificações. Mas trabalhar, de fato, dá trabalho. Ponha-se no lugar de seus alunos: você também reclamaria se de repente lhe fizessem trabalhar mais apenas confiando que isso é o melhor para você.
 

Compartilhe, compartilhe, compartilhe!  

Por fim, precisamos entender que acabou o tempo de trabalhar sozinho. Tente sempre que possível fazer com que o produto do seu trabalho e também o de seus alunos seja algo passível de ser compartilhado. Quando um aluno sabe que seu trabalho será compartilhado com o resto da sua turma ele quase que magicamente passa a se importar mais com o resultado. E, de forma semelhante, quando você compartilha seu trabalho com colegas, quase que magicamente sua coragem é multiplicada. 
 
Tiago Bevilaqua
É professor desde 2006 com experiências desde o Ensino Fundamental 2 até o pré-vestibular. É consultor em Tecnologia Educacional pela RedeXplica e possui certificação Google Certified Teacher e Google Innovator.
 
Para saber mais
  • Sugata Mitra na Campus Party 2012 youtu.be/BBzDOS5UrG0
  • Martha Gabriel com Marcelo Tas: A Era da Busca: oráculos digitais youtu.be/n150AZ0Jetg
  • Ted Talks – Let’s use video to reinvent education, Salman Khan youtu.be/nTFEUsudhfs
  • Formulários Google para professores goo.gl/dQwTKK
  • Compartilhamento de prática – Trabalho em grupo com moderação e avaliação compartilhada youtu.be/pv37LxRuzi4

Por – Tiago Bevilaqua

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Especial Metodologias ativas | O fim do aluno nota 10

Especial Metodologias ativas | O fim do aluno nota 10

Novos modelos de avaliação em projetos com metodologias ativas 

Novas profissões estão emergindo dia após dia com as transformações da sociedade e o avanço das tecnologias. Como a escola pode colaborar para a formação de alunos capazes de desenvolver habilidades e competências durante toda a vida?

A urgente necessidade de realizar profundas transformações nas metodologias de ensino para promover oportunidades de aprendizagem significativa que permitam desenvolver as competências para o século XXI traz o desafio inexorável de reveros ultrapassados processos de avaliação dos alunos, que ainda são julgados muito mais pelo conhecimento teórico adquirido nos bancos escolares do que por suas habilidades socioemocionais e a capacidade de aplicar seus saberes na prática.

Nos próximos 10 ou 15 anos, quando nossas crianças e jovens estarão ingressando no mercado de trabalho, o mundo corporativo será completamente diferente do que conhecemos até hoje como fruto da revolução industrial. A economia criativa irá demandar (e já está valorizando) profissionais que sejam inovadores, visionários e, acima de tudo, empreendedores; sempre prontos a enfrentar desafios e solucionar problemas.

Se nas últimas décadas o sucesso na carreira esteve atrelado à capacidade de aprender uma profissão em determinada área (humanas, exatas ou biológicas), as novas gerações precisarão, cada vez mais, aprender a aprender, ou seja, terão que ser multicomponentes e estudar por toda vida.

A automação de funções repetitivas com o avanço da inteligência artificial levará ao desaparecimento de profissões milenares, que serão assumidas por robôs, e ao surgimento de profissões do futuro que sequer somos capazes de imaginar, fazendo com que os momentos de aprendizagem sejam permanentes e por toda a vida.

Para ser competitivo, o profissional deste novo mundo precisará acompanhar continuamente a próxima invenção, a próxima tendência, o próximo mercado a eclodir. Está saindo de cena o profissional tecnicista e subindo ao palco o profissional criativo, aberto ao risco e à inovação, capaz de pensar o tempo todo ‘fora da caixa’.

Para ser competitivo, o profissional deste novo mundo precisará acompanhar continuamente a próxima invenção, a próxima tendência, o próximo mercado a eclodir. Está saindo de cena o profissional tecnicista e subindo ao palco o profissional criativo, aberto ao risco e à inovação, capaz de pensar o tempo todo ‘fora da caixa’.

Será que as políticas pedagógicas atuais estão alinhadas aos desafios desta nova sociedade digital, conectada, veloz e sedenta por enterrar antigos modelos corporativos para dar lugar a empresas com gestão horizontal, estruturas organizacionais flexíveis e, acreditem, dispostas a reconhecer o erro como combustível para a inovação?

Caros educadores, cabe a reflexão

Os modelos pedagógicos de nossas escolas ainda são muito mais direcionados ao ensino teórico para passar no funil do vestibular, obrigando os alunos a decorar fórmulas matemáticas, afluentes de rios ou a morfologia dos insetos para ter depois seus conhecimentos testados e avaliados por notas que não diferenciam as vocações ou interesses individuais.

É uma avaliação cruel, que prioriza a inteligência da decoreba ao invés da inteligência criativa.

Se quisermos realmente formar nossos alunos para a economia do século XXI, movida pelas novas tecnologias e a revolução nas relações de trabalho, precisaremos dar espaço a uma cultura maker, ao ‘fazer para aprender’, desenvolvendo e implementando metodologias ativas de ensino que tirem os alunos da zona de conforto da sala de aula e os desafie a desenvolver projetos multidisciplinares, capazes de causar impacto real e efetivo na comunidade em que vivem e, assim, trazerem significado ao aprendizado.

Faça uma experiência. Dê um brinquedo novo para uma criança e observe sua reação. Ela vai brincar, desmontar, remontar e investigar o brinquedo, não é mesmo? Este impulso de querer desvendar o desconhecido, descobrir o mundo, perguntar os porquês de tudo é próprio da natureza das crianças. Elas têm um potencial criativo pronto a ser estimulado. Mas, ao invés de priorizar um aprendizado prático, a escola como está estruturada hoje, apresenta uma tonelada de teorias que terão pouca aplicação na vida pessoal ou profissional do aluno. Sem motivação, os jovens entram em um looping de conteúdos pensados para atender uma geração que buscava ter ‘empregabilidade’, mas que agora precisará ter ‘trabalhabilidade’.

Os profissionais que começarão suas carreiras nas próximas décadas não passarão longos anos no mesmo emprego. Ao invés disso, precisarão reunir competências para trabalhar em diferentes projetos que tragam reconhecimento e realização, que sejam éticos e sustentáveis, que ajudem a mudar o mundo para melhor.

Neste futuro, o fim das salas de aula como conhecemos, com um professor trabalhando o mesmo conteúdo com as mesmas estratégias para todos os alunos, será inevitável. Ao adotarem novos formatos de ensino e inserirem novas tecnologias como ferramentas pedagógicas, as escolas também irão rever seus processos de avaliação.

Outros critérios deverão ser incorporados. Mais do que simplesmente ser avaliado se estudou para a prova (e esquecer tudo assim que entregá-la ao professor), o aluno será testado por sua força criativa e inovadora, sua capacidade de liderança, de resolver problemas e trabalhar em equipe, de se relacionar, de ter autonomia e proatividade, de aprender com os erros e dominar o uso das novas tecnologias, entre outros parâmetros.

Nesta nova escola, a avaliação deixa de ter um papel de julgar e expor o nível de conhecimento de um aluno para ser vista como a valorização e a validação do aprendizado. Não caberá mais exaltar o aluno que tirou boa nota e crucificar o aluno que foi mal na prova. A avaliação deve ser não o fim, mas uma parte intrínseca ao processo de construção do conhecimento.

Na economia criativa e na cultura da inovação o erro é reconhecido como a melhor forma de aprender. E, da mesma forma, a escola precisa incorporar o feedback contínuo ao aluno com critérios muito além dos técnicos avaliados na prova bimestral e na prova final. O professor passa a ser um mediador do aprendizado, fazendo um diagnóstico mais amplo das habilidades e conhecimentos do aluno. Não basta saber; é preciso fazer.

Em processos que envolvem metodologias ativas, tais como aprendizagem baseada em projetos, três fatores são essenciais para alcançar resultados significativos: a curiosidade, o interesse pela pesquisa e ter uma postura cooperativa. O conteúdo não deve seguir a velha cartilha. O caminho para o aprendizado significativo está em incentivar o aluno a ser questionador, a buscar respostas para problemas identificados por ele mesmo e a atuar como um time com seus colegas.

Com fácil acesso a um oceano infinito de conteúdos disponíveis na nuvem e tendo à disposição ferramentas tecnológicas que propiciam a interação e participação ativa, estudar deixa de seguir um roteiro unidirecional (professor – livros – aluno) para ser impulsionado por um aprendizado colaborativo pautado pelo desejo de aprender, refletir, perguntar, analisar, confrontar, revisitar e descobrir.

A adoção de modelos pedagógicos ativos para que o aluno vivencie na prática o dia a dia profissional e aprenda a enfrentar desafios, trabalhar em equipe e sob pressão, administrar o tempo e fazer sua autoavaliação, entre outras competências, torna a avaliação muito mais complexa do que simplesmente checar o gabarito. Exige, de fato, uma visão mais holística sobre o aluno.

No Instituto Crescer desenvolvemos, por exemplo, a metodologia ativa Tecendo Redes que segue o pressuposto teórico da pedagogia construtivista para implementação de projetos de aprendizagem. Neste modelo, o aluno parte da curiosidade e das indagações para iniciar um processo investigativo de problemas reais que atingem sua vida e, com a mediação do professor (e não como única fonte de conhecimento), conquistar maior autonomia nos seus estudos. Ao término do projeto, o estudante compartilha o que aprendeu com a comunidade escolar ou outras pessoas pela internet.

Nesta metodologia, analisamos critérios que serão levados em conta quando os alunos de hoje chegarem ao mercado de trabalho. Processo similar pode ser organizado para avaliar outras metodologias ativas implementadas em processos de ensino e aprendizagem na sua escola. Relaciono abaixo 10 passos que podem ser úteis na transformação do processo de avaliação formativa de seus alunos, fazendo com que ela seja parte integrante de um processo de aprendizagem significativa e esteja alinhada com o desenvolvimento de competências para o século XXI:

01 – Compartilhe o processo avaliativo deixando claro para os alunos o que será analisado antes de dar início ao processo.

02- Organize uma rubrica com critérios qualitativos e quantitativos de avaliação, como: organização, interação e trabalho da equipe, qualidade da pesquisa e da apresentação do projeto, administração do tempo, clareza na apresentação oral, complexidade no uso de tecnologias digitais, inovação e criatividade.

03 – Conhecimentos prévios. No início do projeto, peça aos alunos que registrem o que já sabem sobre o tema e o que mais gostariam de saber.

04 – Dedique um tempo para uma autoavaliação. No final do projeto, com a rubrica em mãos, os alunos deverão analisar seus pontos fortes e o que devem melhorar para futuros projetos.

05 – Organize uma roda de conversa e faça perguntas esclarecedoras. Auxilie no entendimento do contexto e de como o processo foi vivenciado pela equipe. Quem participou? Quanto tempo levou para definirem o tema? Como se organizaram?Quais ferramentas tecnológicas utilizaram?

06 – Utilize paráfrases que ajudem a equipe a confirmar o entendimento sobre a avaliação que fizeram: quer dizer que…?, pelo que entendi…?, foi isso mesmo? — De acordo com a Lei 9.610/98 é proibida a reprodução total ou parcial desta website, em qualquer meio de comunicação, sem prévia autorização.

07 – Faça perguntas de sondagem que levem os alunos a tirar suas próprias conclusões sobre o que vivenciaram. O que poderia ser feito para administrar melhor o tempo? Como vocês poderiam utilizar melhor os recursos tecnológicos?

08 – Repasse o resultado da avaliação com cada equipe. Encerre a roda de conversa olhando os resultados apresentados na rubrica e confirmando entendimento. 

09 – Estimule a autoavaliação dos integrantes da equipe. O que você leva deste projeto? O que você já sabia? O que foi desafiador? O que gostaria de sugerir ao professor e para equipe?.

10 – Compare os conhecimentos. Peça às equipes uma lista comparativa dos conhecimentos adquiridos após o processo de pesquisa com os conhecimentos prévios. — De acordo com a Lei 9.610/98 é proibida a reprodução total ou parcial desta website, em qualquer meio de comunicação, sem prévia autorização.

A estratégia apresentada acima para promover a avaliação em processos de metodologias ativas ajuda a verificar o avanço dos alunos em relação ao desenvolvimento de suas competências para o século XXI. Dentre elas, podemos mencionar a busca de informações na internet, a leitura e produção de diferentes tipos de texto, o uso de tecnologias digitais, o trabalho em equipe, a administração do tempo, a autoavaliação, etc.

Já para avaliar os resultados de aprendizagem referente ao currículo, sugerimos que os alunos dediquem um tempo para registrar, individualmente, o que agora sabem sobre o tema investigado. O resultado deverá ser comparado aos conhecimentos que eles tinham sobre o tema no início do projeto, quando fizeram uma lista do que já sabiam e suas principais curiosidades. Provavelmente, você se surpreenderá ao ver o quanto eles avançaram e confirmará a efetividade do trabalho com metodologias ativas, não só para desenvolver competências, foco da educação contemporânea, mas também para aprender coisas novas. Traços de felicidade, satisfação, engajamento, iniciativa e criatividade serão constantes, o que se configura em momentos reais de aprendizagem significativa que ficam marcados para toda a vida. Crie coragem! Ouse e experimente esta nova dinâmica nas suas próximas aulas! 

Luciana Allan 

Diretora do Instituto Crescer e Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) com especialização em tecnologias digitais aplicadas à educação.

Para saber mais

Instituto Crescer www.institutocrescer.org.br 

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Luciana Allan

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ESPECIAL Trilhas da BNCC | Matemática, outras áreas e os desafios do século XXI

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Resolver problemas, analisar dados e tomar  atitudes criativas no dia a dia.

Texto Fábio Martins de Leonardo

É comum encontrar pessoas que dizem não saber ou não gostar de matemática. Esse fato provavelmente é uma consequência do modo equivocado como essa ciência é ensinada nas escolas brasileiras: um estudo quase sempre segmentado e conteudista, carente de formação de professores e vulnerável à inconsistência do sistema educacional.  A matemática é uma das mais significativas conquistas do conhecimento humano, produzida e organizada ao longo da história por diversos povos e civilizações. É uma ciência que contribui para a compreensão, tradução e modelagem de situações em diversas áreas do conhecimento (astronomia, medicina, engenharia, arquitetura, arte e tecnologia da informação são alguns dos exemplos, só para se ter uma ideia). Além disso, vale ressaltar sua importância nas práticas cotidianas, como para a compreensão e tomada de decisões em situações financeiras, para a leitura e interpretação de gráficos e tabelas encontrados nos noticiários, para a elaboração de estimativas e inferências com base em análise de dados e para o desenvolvimento de estratégias de resolução de problemas, argumentação e exposição de ideias.  Ao estudar matemática, desenvolvemos competências, habilidades e atitudes tão imprescindíveis ao mundo do trabalho quanto à vida cotidiana. Por exemplo: planejar ações e projetar soluções para novos problemas de mercado, que exijam iniciativa e criatividade; compreender e transmitir ideias matemáticas, por escrito ou oralmente, desenvolvendo a capacidade de argumentação na sustentação de projetos; interpretar matematicamente situações do dia a dia ou do mundo tecnológico e científico e saber utilizar a matemática para resolver situações-problema nesses contextos; avaliar os resultados obtidos na solução de situações-problema para definições, por exemplo, de estratégias de marketing; fazer estimativas de resultados ou cálculos aproximados; utilizar os conceitos e procedimentos estatísticos e probabilísticos. No artigo “O pensamento computacional e a reinvenção do computador na educação”, Paulo Blikstein, professor na Escola de Educação e no departamento de Ciência da Computação da Universidade de Stanford nos EUA, discorre sobre as exigências do nosso mundo. “(…) o mundo atual exige muito mais do que ler, escrever, adição e subtração. A lista de habilidades e conhecimentos necessários para o pleno exercício da cidadania no século XXI é tão extensa quanto controversa. Não sabemos muito bem quais são essas habilidades, muito menos como ensiná-las.” Na sequência, ele fala da importância do “pensamento computacional” e sobre o ensino de ciências. “Felizmente, nossas pesquisas têm mostrado que os alunos aprendem ‘ciência computacional’ mais facilmente do que ciência tradicional, por uma série de fatores cognitivos, epistemológicos e motivacionais. Boa parte da ciência e da matemática que ensinamos na escola foi inventada porque não tínhamos computadores, e seu aprendizado é desnecessariamente difícil, afastando qualquer aluno mais criativo. Portanto, a habilidade de transformar teorias e hipóteses em modelos e programas de computador, executá-los, depurá-los, e utilizá-los para redesenhar processos produtivos, realizar pesquisas científicas ou mesmo otimizar rotinas pessoais, é uma das mais importantes habilidades para os cidadãos do século XXI. E, curiosamente, é uma habilidade que nos faz mais humano. Afinal, o que há de mais humano do que livrarmo-nos de tarefas repetitivas e focar no mundo das ideias?” Não são poucas as competências, habilidades e atitudes necessárias para o exercício da cidadania no século XXI, para o enfrentamento do mundo do trabalho e para a imersão no mundo da tecnologia. Atualmente, desenvolver o raciocínio lógico, a autonomia e a criatividade é mais importante do que aprender conteúdos. Nesse contexto, o professor é imprescindível para ajudar os alunos em seus percursos com foco onde querem chegar, ajudá-los a selecionar as informações que de fato precisam, prepará-los para o mundo como um todo, inclusive o do trabalho, tornando-os cidadãos críticos, criativos e autônomos.

Fábio Martins de Leonardo

é licenciado em Matemática pela Universidade de São Paulo. Elaborador e editor responsável da obra Conexões com a Matemática (PNLD 2018).

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Contra a pandemia das fake news, a vacina é a educação

Contra a pandemia das fake news, a vacina é a educação

O combate às fake news passa por uma educação que forme leitores críticos, capazes de diferenciar textos jornalísticos de ficcionais e de ler texto, subtexto e contexto.

Texto Paulo de Camargo

As notícias falsas não respeitam os fatos, a ciência, tampouco os sentimentos ou a segurança das pessoas. Até mesmo durante a pandemia da covid-19, mentiras desumanas como fotos de caixões carregados apenas com pedras, falsos remédios e teorias conspiratórias que alimentavam discursos de ódio circulavam pelas redes sociais. O advento das fake news colocou um imenso ponto de interrogação entre os seres humanos e a busca pela informação confiável. Notícias falsas sempre existiram, é certo, mas nunca conseguiram ganhar tal aparência de verdade, nem circular de maneira tão veloz, varrendo o mundo no espaço de poucos minutos como agora. E, se está no mundo, também pertence ao universo da educação e das escolas, envolvendo as crianças, os adolescentes e suas famílias. Como lidar com esse fenômeno, que só tende a se agravar? Responder a essa pergunta é o desafio da pesquisadora e jornalista Januária Alves, coautora do livro Como não ser enganado pelas fake news (Moderna), parte da coleção Informação e Diálogo. Quando fez seu mestrado na USP, há 15 anos, sobre grupos de crianças que produziam jornais, Januária se aproximou do mundo da educomunicação – área que estuda as intersecções entre educação e a produção de informação. Desde então, vem se aprofundando neste tema que se tornou um desafio global e agora integra a Base Nacional Curricular Comum (BNCC). “O que há de novo nas fake news é a forma pela qual são produzidas e se proliferam”, afirma Januária, que vê os professores preocupados e se sentindo sem apoio para trabalhar uma área que desconhecem. As estratégias históricas, como discutir notícias em sala de aula, representam apenas um pequeno passo porque hoje, com as redes sociais, os alunos são produtores de informação. “É um trabalho de cidadania”, explica Januária, que participou da construção de um currículo de educação midiática para a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. É isso o que as escolas vêm sentindo na pele. Muitas vezes, circulam informações não apenas mentirosas, como prejudiciais para alunos, professores e outros profissionais da Educação. Há dois anos, o diretor de uma tradicional escola da Zona Sul carioca estava a caminho de seu sítio, quando começou a receber mensagens torrenciais sobre um caso de racismo na escola, o que nunca de fato acontecera. “Ficamos indefesos, tendo que explicar algo que simplesmente não tinha origem ou base em verdade”, lembra o diretor, que nunca esqueceu o episódio e prefere não se identificar. Apenas no segundo semestre do ano passado, duas tradicionais escolas, uma em São Paulo e outra em Belo Horizonte, sofreram com a divulgação de notícias falsas sobre supostos casos de assédio sexual. Ao final, nada foi comprovado, em nenhum dos casos, mas os traumas permaneceram.

 

Por que acreditamos?

 

Muitas vezes, as notícias são absurdas, mas mesmo assim ganham tração e circulam. Segundo Januária, as pesquisas mostram que as fake news possuem um forte componente emocional. “Uma notícia falsa tem 70% mais chance de circular do que uma verdadeira. Existe um fator sedutor que é o desejo humano de contar histórias de impacto”, diz a pesquisadora. Para causar esse efeito, o texto frequentemente usa termos exagerados, muitos adjetivos, tons de denúncia, traz apelos e chamados à ação, como “você tem que repassar isso”, “mande para o máximo de pessoas que puder”. Em uma reação de impulso, basta apertar o botão Enviar, e lá se vai a mentira para amigos, família e grupos de afinidades: mais veloz do que um vírus e, algumas vezes, mais prejudicial. Por isso, como explica Januária, o primeiro desafio da escola é ensinar a seus alunos as diferenças marcantes entre o texto jornalístico e o texto ficcional – que é a classificação das notícias falsas. Mais recentemente, um novo fenômeno veio somar à divulgação de notícias falsas: a sua transformação em um produto. Robôs – programas que simulam perfis reais de pessoas nas redes sociais – invadiram as redes sociais replicando notícias enganosas com determinados objetivos. “Há um movimento mais amplo hoje que é o da desinformação intencional, que está ligado ao descrédito das ciências”, diz Januária. Turbinadas por teorias conspiratórias, enxurradas de fake news atacam as instituições que produzem informação de credibilidade, como o jornalismo, a universidade, os cientistas e os sistemas eleitorais. É o caso das notícias que tentam dar asas à inconcebível teoria de uma Terra plana ou a que atribuiu a covid-19 a uma ação maquiavélica do governo chinês. Até mesmo o avanço tecnológico cria condições para uma nova geração de mentiras: a chamada deep fake news. Utilizando aplicativos de fácil acesso, pessoas com algum domínio de ferramentas digitais podem inserir em um vídeo qualquer fala de outra pessoa, com a mesma voz e simulando os movimentos da sua boca. Da mesma forma, pode-se distorcer fotos antigas, como se fossem recentes, e inserir informações falsas que gerem credibilidade, como dados e números, conferindo-lhe aspecto de verdade. “Pela maneira como são desenvolvidas essas fake news, fica mesmo difícil não embarcar”, explica Januária. A crescente complexidade do tema obriga a escola a dedicar mais tempo para utilizar melhores estratégias para trabalhar com os alunos. O Colégio Rio Branco, em São Paulo, dá atenção especial ao assunto. No dia 1 º de abril, tradicional Dia da Mentira e já durante o período de isolamento social, os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental e de todo o Ensino Médio participaram da oficina virtual Mídia Digital, pra quê?, que debateu as fake news no contexto da pandemia. O encontro abordou a responsabilidade do uso das mídias digitais, a checagem de informação, o cuidado no compartilhamento e o combate à desinformação, e os alunos participaram de um desafio de checagem de notícias falsas e verdadeiras.

Para a pesquisadora Januária Alves, o trabalho pode começar na Educação Infantil, pois até as crianças já têm clara noção do que são notícias falsas. Em uma formação recente para a Secretaria Municipal de Educação, uma professora narrou sua experiência com o trabalho, durante uma roda de conversa. Perguntada se sabiam o que eram fake news, uma criança imediatamente levantou a mão e disse: “é notícia mentirosa e o celular da minha mãe está cheio delas!”. O exemplo mostra a importância de envolver a família nas discussões. A experiência pessoal já nos mostra, por exemplo, que grupos familiares são terreno fértil para a difusão de fake news. Além disso, as implicações da propagação de fake news já são enquadradas criminalmente, em um cerco que deve se apertar, com o avanço da legislação. Ao mesmo tempo, é preciso trabalhar com os professores de todas as áreas e a própria direção escolar. “Não se trata de escolher uma ou outra área para este trabalho, todos são responsáveis por formar para a cidadania”, diz Januária. Assim, cada vez mais, dotar esses futuros cidadãos de ferramentas contra as notícias falsas é essencial. “As fake news representam um ataque à democracia”, finaliza.

 

Ação internacional

 

Sim, um ataque à democracia. É por isso que a Organização Nações Unidas (ONU) vem se mobilizando internacionalmente, com iniciativas como a plataforma Verified, cujo objetivo é conter a propagação de notícias falsas sobre a covid-19 (http://shareverified.com). “Não podemos ceder nossos espaços virtuais a quem trafega mentiras, medo e ódio”, afirmou em seu lançamento o secretário-geral da ONU, António Guterres. “A desinformação se espalha on-line, em aplicativos de mensagens e de pessoa para pessoa. Seus criadores usam métodos de produção e distribuição mais experientes. Para combater isso, cientistas e instituições como as Nações Unidas precisam alcançar pessoas com informações precisas nas quais possam confiar”, disse. Assim como este, diversos sites de checagem rápida de informação, disponíveis em vários idiomas, estão sendo produzidos em parceria entre a mídia jornalística, organismos sociais e grandes empresas de telecomunicação. É o caso brasileiro da Agência Lupa, cujo foco é a caça às fake news, e mesmo de diversos grupos independentes que vêm se formando nas redes sociais. Nos últimos anos, a Unesco, agência da ONU voltada à educação, à ciência e à cultura, produz pesquisas e livros sobre o tema, em uma área denominada Alfabetização Midiática e Informacional (ou Media Literacy, em inglês). Em maio, a Rede Internacional de Escolas Associadas da Unesco, em Paris, promoveu um webinar com especialistas de diversas partes do mundo, envolvendo jovens ativistas e educadores, para discutir caminhos para fazer frente à propagação das notícias falsas. Para os especialistas participantes, o papel da educação é central, mas não deve se restringir ao campo da linguagem. Para o pesquisador Joseph Kahne, da Universidade da Califórnia, é preciso formar pessoas mais solidárias e empáticas. “Nós temos de dar às crianças oportunidades de prática, ajudando os outros, trabalhando com o mundo real. Todos temos responsabilidade sobre a desinformação”, defende. Nos últimos anos, a Unesco, agência da ONU voltada à educação, à ciência e à cultura, produz pesquisas e livros sobre o tema, em uma área denominada Alfabetização Midiática e Informacional (ou Media Literacy, em inglês). Em maio, a Rede Internacional de Escolas Associadas da Unesco, em Paris, promoveu um webinar com especialistas de diversas partes do mundo, envolvendo jovens ativistas e educadores, para discutir caminhos para fazer frente à propagação das notícias falsas. Para os especialistas participantes, o papel da educação é central, mas não deve se restringir ao campo da linguagem. Para o pesquisador Joseph Kahne, da Universidade da Califórnia, é preciso formar pessoas mais solidárias e empáticas. “Nós temos de dar às crianças oportunidades de prática, ajudando os outros, trabalhando com o mundo real. Todos temos responsabilidade sobre a desinformação”, defende. Da mesma forma, os sistemas educativos devem priorizar a educação científica, já que a própria ciência está sob ataque. Para a pesquisadora italiana, Stefania Gianini, deve se mostrar que a ciência é dinâmica e não produz verdades absolutas, mas baseia-se em métodos verificáveis. “É preciso falar sobre a origem da informação, a metodologia, sobre o que pode ser verificado, mostrando que ciência não é um edifício de verdades, mas tem métodos que todos devem conhecer”, lembrou. Quanto mais se torna complexo o tema, mais importante é investir na formação para diversificar estratégias e tornar o trabalho interdisciplinar. “É preciso formar um leitor crítico e analítico, com repertório, que consiga desconfiar e perguntar: quem se beneficiaria com isso?”, defende Januária Alves. Até porque as notícias falsas conversam entre si, espelham ações globais, como é o caso dos discursos de ódio. Para isso, é tão importante o professor de História, Geografia quanto o de Português, o de Ciências e o de Inglês. “Temos de avançar, e realmente fazer com que o aluno tenha repertório para ler o texto, entender o subtexto e analisar o contexto”, explica a pesquisadora. No final do dia, a melhor vacina contra as notícias falsas continua sendo a educação de qualidade.

 

PARA SABER MAIS:

Agência Lupa. Disponível em: mod.lk/alupa. Acesso em: 10 ago. 2020. AIDAR, F.; ALVES, J.C. Como não ser enganado pelas fake news. São Paulo: Moderna, 2019

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8 passos para contar histórias e engajar a turma

8 passos para contar histórias e engajar a turma

Como o ato de contar histórias pode transformar a sua sala de aula em um espaço colaborativo e criativo com grandes resultados de aprendizagem. 

Ilustração Ricardo Davino 

Era uma vez, uma história. Quem não se encanta por elas? Histórias são parte de nossas vidas e se manifestam em diferentes formatos: nos registros produzidos em paredes de cavernas – a chamada arte rupestre –, nas histórias de ninar, nos contos de fadas, na literatura, nas fábulas, nas novelas, nos filmes e nos seriados. As histórias estão também na conversa, no diálogo entre amigos que contam um ocorrido, num álbum de família, numa propaganda, nos arquivos pessoais de um grande gênio da humanidade ou de um indivíduo comum. Já deu para entender que storytelling tem tudo a ver com histórias, né? Mas quando falamos sobre utilizar essa técnica na educação, não estamos tratando apenas de fazer a leitura de um livro e mostrar suas ilustrações aos estudantes. Storytelling vai muito além. Vamos descobrir?

Descobrindo um novo mundo 

Storytelling trata de contar histórias, aliás, mais que isso: trata-se de contar boas histórias. Essa técnica – já utilizada pelas mídias e pelo entretenimento por meio do cinema e da publicidade, por exemplo – pode ser aproveitada também no âmbito educacional pelos professores. Vamos pensar juntos: Qual é o objetivo de uma propaganda de televisão? Entre tantas outras propagandas, além de vender o produto, quer chamar a atenção de quem assiste. Para isso, recursos como cores, sons, imagens, histórias envolventes e a própria linguagem são explorados para gerar emoções e conexões, mantendo o telespectador engajado na mensagem transmitida. A Coca-Cola, por exemplo, é uma das marcas que mais aplicam com sucesso a técnica do storytelling em suas propagandas, especialmente aquelas de Natal que visam emocionar e passar uma mensagem de esperança e bem-estar a quem assiste (mod.lk/ex_coca). O mesmo ocorre com filmes, seriados e novelas: entre cenas de ação, humor e drama, muitas histórias são contadas e construídas, gerando emoções diversas em quem acompanha, ganhando a atenção plena de quem está do outro lado da tela. Não se engane ao pensar que a técnica pode ser utilizada apenas em comerciais. O storytelling pode ser usado em apresentações de trabalho, de projetos, de propostas, em planejamentos, com o objetivo de explicar um conceito, ilustrar uma emoção, apresentar resultados, convencer, conquistar, inspirar e, principalmente, engajar.

Grandes storytellers e seus segredos  

Há alguns indivíduos que se destacaram e mudaram suas vidas por serem grandes storytellers e por utilizarem isso ao seu favor, seja para transmitir sua mensagem, para compartilhar uma causa, para expandir seus negócios ou para se tornar reconhecido em alguma área do conhecimento. É o caso de Steve Jobs, Martin Luther King Jr., Bill Gates e Malala Yousafzai, que nos deixam algumas lições exploradas no livro Storytelling: Aprenda a contar histórias com Steve Jobs, Papa Francisco, Churchill e outras lendas da liderança, de Carmine Gallo:

STEVE JOBS Storytellers inspiradores são eles mesmos inspirados e compartilham o seu entusiasmo com o seu público.

MARTIN LUTHER KING JR. Grandes storytellers se tornam, não nascem assim. Aproveitam as oportunidades para aperfeiçoar suas habilidades de falar em público e de inspirar espectadores.

BILL GATES Quebre expectativas. Quando as pessoas acham que sabem o que vem adiante, surpreenda. Crie histórias inesperadas, chocantes ou surpreendentes. 

MALALA YOUSAFZAI Conte histórias com o coração. Uma boa história pode levar alguém às lágrimas; uma história magnífica pode dar início a um movimento.

A jornada do herói  

O modelo a seguir, também disponibilizado no livro de Carmine Gallo, foi compartilhado por Austin Madison, um animador e criador de storyboards de vários filmes da Pixar, como Ratatouille e Toy Story 3. Em uma apresentação, Austin compartilhou os 7 passos que os filmes da Pixar seguem e que têm como objetivo dar à plateia alguém por quem torcer:

Era uma vez um _________________. (O protagonista/herói)

Todo dia ele _________________. (O mundo desse herói é um mundo comum, cotidiano)

Até que um dia _________________. (Toda história atraente tem um conflito, um desafio para o herói) 

Por causa disso _________________. (Uma série de esforços vão acontecer e se conectar em sequência com a cena seguinte – como se tudo fosse se encadeando)

Por causa disso, _________________. (Outras cenas que são conectadas com as anteriores e as seguintes.) 

Até que finalmente _________________. (O clímax – o triunfo do bem sobre o mal)

Desde então _________________. (A moral da história) 

Agora, veja o exemplo aplicado ao filme Star Wars a partir da história do personagem Luke Skywalker: 

Era uma vez um menino de fazenda que queria ser piloto.

Todo dia ele ajudava na fazenda. Até que um dia sua família é assassinada. 

Por causa disso, ele se junta ao lendário Jedi Obi-Wan Kenobi. 

Por causa disso, contrata o contrabandista Han Solo para levá-lo a Alderaan. 

Até que finalmente Luke alcança seu objetivo e torna-se piloto de guerra e salvador da pátria. 

Desde então, Luke está a caminho de se tornar um cavaleiro Jedi. 

Um exemplo prático  

No meu caso, como professora de História, usei alguns elementos da Jornada do Herói (existem vários modelos para se contar uma história, a Jornada do Herói é uma das possibilidades) para chamar a atenção dos meus estudantes sobre uma temática pouco atraente para a maioria deles: as Cruzadas. Para esse tema, uni duas ferramentas: o storytelling para abordar o assunto e conquistar sua atenção e o Google Maps para aprofundamento e uma experiência de aprendizagem mais significativa. De forma resumida, iniciei a aula em círculo com um bate-papo sobre grupos de pessoas que percorriam, em expedições, longas distâncias, correndo todo o tipo de perigo, desde a fome até doenças para libertar locais sagrados pelos cristãos do domínio islâmico. Algumas pessoas do grupo acreditavam que, ao completarem a jornada, uma mistura de peregrinação com guerra, teriam seus pecados perdoados. 

Conforme a história se aprofundava, íamos abordando outros objetivos das Cruzadas e suas características, e muitas perguntas surgiam: “eles eram loucos?”, “Quantos dias eles andavam?”, “Eles iam morrendo pelo caminho?”, “Que distância eles percorreram?” Era o que bastava para convidar a turma à pesquisa. Em equipes, os alunos jogavam os dados que tínhamos disponíveis no Google Maps e descobriam a distância percorrida em cada Cruzada – com um paralelo ao mapa do mundo atual. De repente, eu ouvia: “professora, você não vai acreditar! Na primeira Cruzada, se a gente fizesse no Brasil saindo lá da pontinha do Rio Grande do Sul, a gente teria que andar até a Bahia! Por que eles faziam isso?! Como eles aguentavam?”. Bem, a partir daí, o casamento entre o storytelling e o uso de ferramentas digitais foi o suficiente para que a aprendizagem das Cruzadas fosse um tema mais relevante, significativo e proveitoso para a turma e eu poderia dar sequência a outras coisas interessantes que veríamos juntos sobre aquele período.

Outro exemplo na minha trajetória como professora foi uma série de arquivos fictícios e pessoais dos tempos da Segunda Guerra Mundial que criei a partir do conteúdo que trabalharia. Era uma turma de Ensino Médio e, num primeiro momento, imaginei que, devido à idade e à fase de vida, os alunos não se interessariam e minha ideia iria por água abaixo. Ledo engano: pessoas amam histórias e desafios. 

Cortei algumas folhas de papel sulfite, derramei café nelas e deixei que secassem de um dia para o outro. Resultado: folhas marrons, parecendo papel antigo. Juntei restos de papel kraft, papel cartão preto e alguns envelopes de carta. O próximo passo foi a definição dos meus personagens: os “donos” dos arquivos. Assim fiz: duas amigas judias se escondendo com suas famílias; pai e filho alemães, sendo o filho soldado do exército; esposa e marido japoneses, sendo ela enfermeira em guerra, e outros. Escrevi à mão algumas cartas curtas, todas com datas do período entreguerras. Na internet, consultei cartões-postais antigos com imagens da França e da Europa em geral, para simular cartões enviados por correspondência. Também imprimi selos de carta da época e colei nos envelopes. Para as cartas mais longas, escrevi no Word, utilizando a fonte Courier New (semelhante à fonte de máquinas de escrever, para manter a sensação de ser algo antigo) e juntei alguns objetos que pareciam antigos. 

Cada equipe ganhou um arquivo e teve de ler, analisar as datas, as informações e descobrir a relação entre o remetente e o destinatário, descobrir o período em que viviam, o que contavam, no que trabalhavam, enfim, uma simulação ao trabalho de pesquisa de um historiador, que tem de lidar com documentos não lineares e que não trazem todas as informações. Ao final, cada equipe apresentou seus personagens e contou suas histórias baseando-se na documentação disponibilizada. Hoje, já adultos, quando os alunos daquela turma me encontram, afirmam: “professora, nunca mais esqueci o que estudamos sobre a Segunda Guerra Mundial e o que aconteceu naquele período”. Tudo porque estudamos um período tão importante, com histórias “reais” em pano de fundo. 

Como começar o storytelling? 

Agora você deve estar se perguntando: quais lições um educador storyteller pode dar a outro educador que quer explorar essa técnica? Como professora de História e, consequentemente, mas não acidentalmente, uma contadora de histórias, compartilho algumas sugestões:

① Pense de forma interdisciplinar. Todas as áreas do conhecimento estão conectadas; a matemática, a geografia, a história, as linguagens, a arte, a educação física, a química – no universo, não há gavetas separando os temas. Conectar a sua temática com outra área ajuda a dar sentido e demonstrar a relação entre o cotidiano e o que está sendo explorado. Numa receita de bolo, a matemática (quantidades) e a química (fermentação) podem se juntar e se transformar em uma história que envolve a vida cotidiana, algo palpável, concreto.

Vejamos um exemplo.

“Pessoal, vocês não imaginam o que aconteceu comigo ontem! Estava muito feliz pelo aniversário do meu sobrinho que fez 18 anos, então me inspirei, tomei coragem e fiz algo que nunca faço: um bolo! Peguei uma receita qualquer na internet, às pressas e sem perceber que as quantidades não estavam fazendo muito sentido. Ao final percebi que havia colocado pouca farinha, muitos ovos e muito fermento. Imaginem o resultado! O bolo ficou com um aspecto estranho e como usei muito fermento, que tem sua reação causada pela temperatura e que só para quando todo o fermento reage, o bolo crescia sem parar! Eu me lembrei da importância das frações na cozinha, seja para não comer comida salgada demais, para não desperdiçar ou mesmo para não causar essa catástrofe que foi o meu bolo de aniversário. Depois de tudo isso, vamos aprender a fracionar e perceber o quanto utilizamos isso no nosso dia a dia?” 

② Domine o conteúdo. Para contar histórias, saiba bem do que está falando. Depois, pense em situações que podem ser reais (a biografia de um ícone daquela área), pessoais (quando você mesmo vivenciou e tirou uma lição) ou criadas (quando você conta situações envolvendo uma história). 

③ Use e abuse de elementos atraentes. Pense em todos os elementos e ferramentas necessários à sua história para torná-la mais relevante. Você pode incluir seus alunos como personagens, sua cidade, a escola; pode inserir algum cantor, uma celebridade, alguém muito conhecido na cidade; pode eleger uma música-tema e usar ferramentas simples do cotidiano da turma como gifs, memes, vídeos, imagens, enfim, o que puder ilustrar esse momento ou partes da história. 

④ Use sua voz. O tom de voz mais baixo indica a sensação de suspense, de contar um segredo. Isso atrai a atenção dos estudantes para o que vem a seguir. Além disso, um tom de voz mais alto indica ânimo, energia, e se utilizado para enfatizar momentos, destacar falas e indicar sensações como a de susto torna a história mais envolvente.

⑤ Ilustre com objetos reais: Antes de falar sobre frações, você pode levar alguns objetos e pedir à turma que divida, some ou multiplique, por exemplo. Em vez de chegar em sala de aula afirmando: “Turma, hoje vamos estudar o Egito Antigo”, apresente imagens de tumbas, das pirâmides, da esfinge, do Egito hoje, ilustrações de Cleópatra e outros ícones egípcios. Faça hipóteses antes de você entrar de vez na temática.

⑥ Avalie com storytelling. Que tal pensar na avaliação utilizando o storytelling? Crie um personagem que precise de ajuda e, a cada questão respondida, o estudante chega mais perto de salvá-lo do mal. 

⑦ Crie zines. Zines são a abreviação de fanzines, muito utilizados por produtores culturais de pequena circulação. São pequenos livros feitos com papel sulfite e que podem ser utilizados como cartões, biografia, livros com histórias curtas, cartões com resumos de conteúdos, etc.

⑧ Desperte a criatividade com ferramentas digitais. Uma boa forma de trabalhar storytelling como aliado no desenvolvimento da competência 4 da BNCC – a comunicação –, são as histórias em quadrinhos, exercitando a expressão a partir de uma variedade de linguagens e plataformas, utilizando a criatividade. Você pode lançar o desafio para os seus alunos através de ferramentas como o Storyboard That (www.storyboardthat.com/pt), o Strip Generator (www.stripgenerator.com) e o Make Beliefs Comix (www.makebeliefscomix.com). Com essas ferramentas digitais, os alunos podem contar sua própria história, a história de um grande cientista, de um escritor ou resumir uma história literária. Além disso, a turma pode sintetizar o conteúdo visto ou trazer curiosidades adicionais sobre a temática estudada.

Nossa história está chegando ao fim, mas para ajudar você, professor, a perceber a importância de conquistar a atenção dos seus estudantes e propiciar uma aprendizagem cada vez mais significativa, finalizo este breve roteiro com uma fala do especialista em Neuroeducação, Francisco Mora, em seu livro Neuroeducación: solo se puede aprender aquello que se ama, publicado em 2013: “A curiosidade, o que é diferente e se destaca no entorno, desperta a emoção. E, com a emoção, se abrem as janelas da atenção, foco necessário para a construção do conhecimento” (p. 66).

 

Emilly Fidelix

é professora há 12 anos, tendo trabalhado com turmas de Educação Infantil ao Ensino Superior. É historiadora, doutoranda em História Global (UFSC) e Especialista em Tecnologias, Comunicação e Técnicas de Ensino (UTFPR). Também é criadora da página no Instagram @seligaprof na qual explora temas como tecnologias e metodologias ativas.

 

PARA SABER MAIS 

  • GALLO, C. Storytelling: Aprenda a contar histórias com Steve Jobs, Papa Francisco, Churchill e outras lendas da liderança. São Paulo: Alta Books, 2018.
  • MORA, F. M. Neuroeducación: Solo se puede aprender aquello que se ama. Madrid: Alianza Editorial, 2017. 

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Formação de professores frente a um currículo em movimento

Formação de professores frente a um currículo em movimento

Como garantir que os professores estejam inseridos nas constantes transformações dos currículos escolares em um contexto tão complexo quanto o brasileiro?

Por Miguel Thompson

A educação brasileira está prestes a enfrentar um de seus maiores desafios. Estimativas apontam que, até 2023, quase metade dos professores estarão em idade de se aposentar. Isso corresponde a cerca de 1,2 milhões de profissionais com potencial de sair da carreira docente. Isto somado à grave crise de qualidade da educação brasileira, traz a pergunta: quem assumirá as salas de aula? A despeito da complexa situação, seria importante pensarmos a aposentadoria dos professores como uma oportunidade para aproveitar as vivências desses profissionais sêniores para o estímulo, preparação e formação de novos docentes. Dessa forma, a principal crise, a da qualidade em educação, poderia ser estrategicamente equacionada, formando profissionais melhor preparados para os novos tempos, sem perder de vista o imenso capital intelectual e experiencial que os professores em processo de aposentadoria podem compartilhar. Este modelo de transição já tem sido adotado em países com ótimo desempenho educacional e tem garantido a qualidade a longo prazo.

Um dos grandes problemas no processo de formação de professores está na incapacidade de atrair os melhores alunos para a profissão. Lembremos que antes dos anos 60, as famílias de elite tinham orgulho de ter entre seus filhos, médicos, advogados, padres e professores. No entanto, nos últimos 50 anos, houve uma progressiva desvalorização da profissão docente. O processo de universalização da educação pública passou a demandar mais profissionais do que o sistema educativo poderia formar com a qualidade desejada e aconteceu uma rápida depreciação salarial dos professores.

Uma profunda preocupação com a formação docente tem sido pauta entre os especialistas. O Plano Nacional de Educação (PNE), em vigor desde 2014, apresenta propostas de melhoria da formação docente, que envolvem temas importantes como a organização curricular, o planejamento letivo, a necessidade de renovação continuada (pesquisa e programas de pós-graduação), a remuneração e os modelos de planos de carreira. A legislação vigente conta com uma clara orientação de melhoria salarial para os próximos anos, mas, fato é que ainda recebemos menos que profissionais de outros setores com a mesma qualificação. Ao analisar os números da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgada pelo IBGE, percebemos que os salários de professores estão crescendo, em média, acima da inflação, e num ritmo superior ao verificado entre os demais trabalhadores com diploma universitário. Isso significa que a distância entre os profissionais que dão aulas em escolas está diminuindo em relação a outras carreiras com formação universitária. Mas, infelizmente, o ritmo de melhoria dos salários ainda é insuficiente para cumprir a meta do PNE.

Formação inicial

Além de tentar atrair os melhores estudantes para a carreira docente, o Conselho Nacional de Educação, em 2015, baixou uma resolução (Resolução 2/2015 – CNE) com orientações vistas como essenciais para a formação de um professor preparado para as transformações do mundo. Assim, o CNE e as faculdades firmaram um compromisso com a qualidade docente desde os primeiros passos acadêmicos. Vamos debater alguns desses pontos e discutir como pode ser pensada a formação dos professores para o século XXI:

1Sólida formação teórica e interdisciplinar 

Uma sólida formação teórica é fundamental para se exercer uma docência de qualidade que atenda as demandas atuais. Sem a capacidade de observar o mundo pelo prisma dos modelos conceituais construídos ao longo da história da humanidade, é quase impossível ser um bom docente. Um professor alfabetizador deve conhecer as principais teorias de alfabetização e letramento para fazer suas escolhas teóricas e metodológicas de acordo com as necessidades dos estudantes e os contextos de sala de aula. O mesmo se aplica para as outras especializações e disciplinas. O profissional contemporâneo deve ter domínio sobre o conhecimento específico que irá ministrar, mas é importante ressaltar que isso não é suficiente para dar boas aulas e construir o aprendizado junto aos alunos. Não se pretende um biólogo ou um físico em sala de aula, mas professores de Biologia e Física que saibam fazer a transposição do conhecimento específico para que ele se torne significativo para todos os estudantes. Aqui, o conhecimento didático e o desenvolvimento dos alunos agrega-se à formação em disciplinas específicas, produzindo uma prática diferente daquela existente em laboratórios de pesquisa ou indústrias, construindo assim a especificidade da ação docente.

Outro ponto a destacar é a necessidade de o professor saber dialogar com distintos campos do saber para poder correlacionar conceitos específicos a outras áreas do conhecimento. Isso é necessário porque o entendimento e a resolução dos problemas reais é muito mais complexa do que a forma como são organizadas as disciplinas escolares. Eventos econômicos (crise econômica de 2008), questões ambientais (mudanças climáticas) ou crises sociais (como os fenômenos migratórios na Europa ou as manifestações sociais brasileiras de junho de 2013) só podem ser interpretadas à luz de diversos conhecimentos disciplinares. Pensando nisso, formaremos jovens mais criativos e inovadores, capazes de usar um repertório de diferentes áreas na resolução de problemas. Em geral, formar um professor com excelente conhecimento específico e amplo espectro de movimentação em diferentes áreas é vital para a formação de jovens inovadores e preparados para um mundo em constante mudança.

Unidade teoria-prática

Transpor um conteúdo específico para a sala de aula é traduzir conceitos em uma linguagem acessível e adequada para a faixa etária e sociocultural daquele contexto escolar. A capacidade de usar analogias, metáforas e exemplos do universo do estudante é fundamental para trazer significado ao que se ensina. Sem essa interação não se constrói conhecimento significativo. Como é possível uma criança lembrar mais de 100 nomes diferentes de Pokémons e não lembrar a capital de um país ou o nome do rio que corre na sua cidade? A educação se dá, na verdade, em um processo de interação entre os conhecimentos formais da escola e o cotidiano do aluno, repleto de ideias espontâneas baseadas em suas experiências. Quanto mais próximo um do outro, mais fácil transformarmos o enorme potencial da mente dos estudantes em uma realidade geradora de novos conhecimentos. É nessa constante interação entre a teoria e a prática, ou seja, entre o que deve ser ensinado de acordo com os currículos oficiais e a realidade vivida pelo estudante, que se constrói o processo educativo. O professor deve ser um investigador, imaginando o currículo a ser ensinado como uma hipótese a ser testada. Os objetivos instrucionais devem aparecer como um planejamento de um experimento, que ocorrerá em sala de aula ou em toda interação educativa. A partir das respostas dos alunos, novos planos de aula são elaborados, em um contínuo investigativo da relação teoria-prática, visando o desenvolvimento máximo daqueles alunos, naquela situação e naquele contexto. Em um mundo de transformações, a teoria deve servir como um apoio importante, mas não pode ser tratada como um catecismo imutável. É na interação com a sala de aula, no registro do professor e na reflexão sobre essa prática que se constrói um projeto educativo que leva em consideração as mudanças no espaço e no tempo, sempre com foco nas necessidades reais dos estudantes. De acordo com a resolução 2/2015 do CNE, isso se dá pensando “a docência como ação educativa e como processo pedagógico intencional e metódico, envolvendo conhecimentos específicos, interdisciplinares e pedagógicos, conceitos, princípios e objetivos da formação que se desenvolvem entre conhecimentos científicos e culturais, nos valores éticos, políticos e estéticos inerentes ao ensinar e aprender, na socialização e construção de conhecimentos, no diálogo constante entre diferentes visões de mundo.” Para que a interação entre teoria e prática funcione, não se pode mais evitar as novas tecnologias. O uso das mídias sociais é fundamental para o professor conectar os estudantes em rede, incentivar o trabalho colaborativo e de cocriação, estimular a comunicação a distância e realizar pesquisas individuais na internet, induzindo também um processo customizado de formação. É por meio das ações sugeridas, associadas ao pensamento crítico, que aproximaremos o docente das novas tecnologias, não oferecendo dispositivos eletrônicos de maneira descontextualizada e sem projetos educacionais robustos. Neste sentido, a gravação de aulas com celulares, por exemplo, permite que o professor utilize as novas tecnologias (TICs), analise individualmente e receba feedbacks que seguramente o ajudarão no aperfeiçoamento do processo educativo e no aprimoramento da prática docente. Por fim, a aproximação dos centros formadores de professores com as escolas deve ampliar a presença do futuro professor na sala de aula, transformando o estágio em uma ferramenta real de formação, reflexão e aquisição de elementos da prática docente.

Trabalho coletivo e interdisciplinar

Se antigamente planejar era um trabalho individual, hoje é irreal imaginar um projeto educativo cujos planos didáticos sejam elaborados por um professor solitário, fechado em sala de aula, em uma interação exclusiva com sua classe. Preparar o planejamento do curso coletivamente, atuar em grupo e refletir com seus pares as melhores estratégias devem ser práticas da escola contemporânea. Comunicar essa prática e incluir os estudantes nesse processo é fundamental para formar os jovens do século XXI. É por homologia de processos, isto é, reproduzindo o que viveu na escola, que se desenvolve o conhecimento e se estimula as práticas dos futuros cidadãos. Não há mais espaço para os profissionais que não sabem trabalhar em grupo. Do plano à ação, da avaliação à gestão da sala de aula, é essencial que se crie o hábito de trabalhar aos pares ou em grupos. Assistir a aula do colega para posterior feedback é uma ferramentas eficiente de melhoria da ação docente. O trabalho coletivo deve, portanto, ser tratado como um valor a ser compartilhado com os estudantes. Uma das características dos novos tempos é a colaboração em massa e os jovens produzem bem desta maneira. Os cientistas trabalham assim há séculos, publicando suas pesquisas e recebendo sugestões de seus colegas. Projetos recentes como o Genoma Humano, que sequenciou todo DNA de nossa espécie, recebeu contribuições coletivas de cientistas de todo o mundo. As empresas vêm usando esse potencial de inteligência coletiva para produzir novos produtos e serviços, como os aficionados por LEGO, que geram novos produtos para a empresa, ou mesmo grupos de consumidores de carros da BMW, que participam coletivamente da discussão e elaboração de novos projetos. Os agrupamentos de jovens, por sua vez, já produzem fenômenos coletivos, como festivais de cultura POP (Comic Con, evento de quadrinhos e séries de TV, por exemplo) ou disputas em estádio de finais de campeonatos de games (League of Legends). No processo de construção coletiva do projeto educativo, os próprios estudantes são fonte de grande valia. Pela primeira vez na história, os jovens acumulam um determinado tipo de conhecimento superior ao acumulado do mundo adulto. É o caso dos usos das novas tecnologias ou conhecimentos gerados pela cultura digital, como os canais de youtubers. O educador contemporâneo deve usar esses valores para seu aprendizado e para desafiar e se aproximar de seus alunos. Interagir com diferentes pontos de vista pode evitar erros e preconceitos inerentes a nossa formação. É no diálogo com o grupo que surgem as melhores aulas. Reconhecer que sabemos pouco sobre algo ao dialogarmos com outros especialistas, além de nos trazer novos conhecimentos, nos faz mais humilde frente aos alunos, que terão contato com toda a gama de conhecimento curricular daquela série. Se nem nós sabemos a maioria dos conteúdos, por que obrigamos os jovens saberem tudo nas avaliações? O diálogo interdisciplinar ressignifica nossos conteúdos, aproxima diferentes conceitos para a resolução de problemas e demonstra aos alunos que, para interpretar o mundo, são necessários diversos tipos de conhecimentos.

Compromisso social e valorização do educador

Já falamos aqui sobre contextualização e complexidade. Nada nos parece mais importante que estabelecer conexão entre o conhecimento escolar e a sociedade, visando a mudança da realidade. Em uma nação com tantos problemas sociais como o Brasil, é muito importante o compromisso do professor com a transformação. Seja em relação às melhorias das condições de vida, seja com uma maior atuação na comunidade e/ou no ambiente. Em um mundo globalizado e com 7 bilhões de pessoas não é mais possível imaginar apenas o desenvolvimento individual dos estudantes. É preciso planejar cursos que os preparem para a série de problemas urbanos, sociais e ambientais que eles herdarão. Assim, engajar o professor nos problemas de seu tempo é engajar os estudantes no seu próprio projeto de vida. Usar exemplos do entorno, da cultura local ou fenômenos mundiais emergentes para estimular a reflexão crítica com modelos de conhecimento escolar e de experiências dos estudantes aproxima o que se aprende na escola com a realidade, permitindo o uso dos conteúdos escolares como ferramenta de entendimento e intervenção no mundo. É também a partir dessa conexão com os contextos reais que as famílias se aproximarão da escola. É no debate sobre temas atuais e relevantes da vida familiar, que os pais entenderão que a escola não existe apenas para formar um jovem para um futuro abstrato, mas está também a serviço da contemporaneidade. É nessa entrada do conhecimento escolar no cotidiano das casas que ocorrerá a valorização do professor e a adequação do conhecimento às emergências do mundo atual.

Fomação continuada e pesquisa

Reiteramos que a única certeza que temos é a mudança. Nos novos cenários muitas funções sociais desaparecerão, como ocorreu com o datilógrafo, por exemplo. Mas, em contrapartida, novas profissões surgirão sem que nem imaginemos. Quem diria há 10 anos que ser blogueiro, youtuber ou gamer seriam profissões nos dias de hoje? Dessa forma, conhecimentos e práticas de hoje podem ser obsoletos em pouco tempo. Não se trata de ampliar nossa ansiedade em busca de cursos de uma forma que prejudique nossa qualidade de vida, mas devemos levar em consideração que precisaremos estudar ao longo de toda nossa vida. Seja para atualizar metodologias, seja para prepararmos nossos alunos de maneira adequada e significativa. Acompanhar as mudanças coletivas, sociais, acadêmicas e tecnológicas será cada vez mais um diferencial na profissão e também uma obrigação. De agora em diante, cada vez mais grupos de interesse criarão conteúdo nas mídias sociais. Questões socioambientais, éticas, estéticas e relativas à diversidade étnico-racial, de gênero, sexual, religiosa, de faixa geracional e sociocultural circularão em grupos organizados e deverão ser objeto de apreciação da escola, do professor e do plano de aula. Aproximar temas emergentes dos conceitos formais escolares será fundamental para contextualizar e trazer significado ao ambiente escolar, exigindo constante estudo, investigação e pesquisa do professor.

Autoconhecimento e formação integral

Para terminar, é imprescindível lembrar que o profissional contemporâneo deve desenvolver um compromisso com seu autoconhecimento e sua formação integral. Não somos apenas organismos cognitivos, e os novos tempos exigem uma integração maior entre mente, corpo, sociedade e ambiente. Vivemos como se vivêssemos em um mundo fragmentado, onde as pessoas, os organismos e os sistemas operassem de forma independente. Mas, na realidade, nossas relações são interdependentes e sistêmicas, portanto complexas. Saber o que não sabemos, buscar nos outros conhecimentos complementares, entender o que nos afeta coletivamente, o que são e como as habilidades socioemocionais (tão exigidas nos dias de hoje) devem ser levadas em consideração e o que devemos desenvolver e estimular nos estudantes, serão questões ainda mais relevantes para o desenvolvimento do professor como indivíduo e como profissional.

Miguel Thompson

É Doutor em Oceanografia pela USP e atua como Diretor da Fundação Santillana*. É autor de livros didáticos pela Editora Moderna e foi professor do ensino básico por 25 anos. 

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Hoje temos muitas maneiras de tornar o aprendizado significativo e envolvente. Um desses caminhos é a gamificação! Ela tornou-se uma das apostas da educação deste século por utilizar elementos dos jogos como forma de engajar as pessoas a atingir um objetivo. Na educação, contribui para despertar o interesse, aumentar a participação, desenvolver criatividade, autonomia, promover o dialogo e resolver situações problemas.

 

Ao participar de uma ação gamificada que faz uso do QR Codes, os estudantes têm a oportunidade de decifrar pistas e missões que estão contidos nesses códigos, podendo ser apresentando em qualquer currículo e conteúdo.

QR Codes

É um código de barras bidimensional que pode ser facilmente escaneado, a partir de programas gratuitos adquiridos nas lojas de aplicativos para celulares e/ou tablets. Esse código é convertido em texto (interativo). Você pode esconder pistas e propor aos alunos que usem seus celulares para descobrir o significado oculto em cada QRCode. Imagine, por exemplo, que você esteja trabalhando algum ponto da história do Brasil. Mostre aos alunos uma imagem desse período e aponte em qual ponto da imagem estará o QRCode para desvendar uma pista que compreenda o entendimento do tema.

 

Gamificação na prática

 

Existem várias maneiras de criar uma gamificação, o importante é apresentar uma atividade em que os alunos possam explorar os espaços e recursos da escola, em busca de pistas a serem decifradas, essas pistas podem ser colocadas em cartas, caixas de papelão ou até mesmo objetos. O formato pode ser de um caça ao tesouro ou de pequenas missões, que exigem primeiro uma pesquisa na internet ou livros da escola, onde o tempo todo, são instigados a trocar ideias com os colegas, rever o objetivo a ser alcançado.

 

O professor Jayse Antonio trouxe o MINECRAFT, Harry Potter e LOL que ainda não fazem parte do debate literário na escola, na mesma escala de importância com que ocupam o imaginário dos jovens fora dela. Sabendo que eles adoravam esse mundo GEEK (fãs de tecnologia, jogos eletrônicos ou de tabuleiro, HQs, livros, filmes, animes e séries), criou um projeto Vamos enCURTAr essa história? que estimula os alunos a escreverem e produzirem histórias que virariam curtas-metragens baseados em assuntos de seu interesse. A proposta vinculava-se ao conteúdo que estava sendo ministrado naquele bimestre, “Cinema”.  Os vídeos produzidos foram postados nas redes sociais para serem apreciados e curtidos por toda a comunidade escolar. Para o professor, “não se tratava apenas de fazer “filminhos” produzidos pelos alunos nas aulas de Artes, a proposta foi bem ampla, envolvendo artes gráficas, cinema, vídeo, fotografia, edição e novas tecnologias, resultando num ensino mais colaborativo, interativo e prazeroso e que estivesse antenado com os anseios desses jovens aprendizes”.

 

Para Jayse Antonio trazer os jogos para a sala de aula foi uma oportunidade para os alunos reinventá-los e elaborar novas regras e/ou novos roteiros para esses jogos é algo desafiante e estimula a criatividade dos alunos. O vídeo foi um sucesso de curtidas. As pessoas gostaram tanto que eles receberão diversas mensagens perguntando como havia sido feito. Elas se encantavam com a quantidade de efeitos especiais e algumas duvidavam que tivesse sido realizado na escola pública.

 

Conheça os vídeos produzidos pelos alunos do Professor Jayse Antonio:

Harry Potter:

Minecraft Apocalipse:

Making Off:

[1]  Jayse Antonio é formado em Educação Artística, possui pós-graduação em Psicopedagogia. Atua há mais de 10 anos como professor e tem experiência em Ensino Fundamental II, Ensino Médio e EJA. Dedica-se a aplicação mais dinâmica das diversas linguagens artísticas, em especial a Fotografia e o Cinema e desenvolveu um projeto chamado EU SOU UMA OBRA DE ARTE que visa resgatar a autoestima e a valorização étnico-racial dos educandos. Em 2014 foi vencedor do 8º Prêmio Professores do Brasil, realizado pelo MEC e seus parceiros, na categoria Ensino Médio e em 2017 na categoria Inovação Pedagógica. Atualmente, dá aulas na cidade Itambé em Pernambuco na rede Estadual e em Pedras de Fogo na Paraíba pela rede Municipal. – Reconhecimentos que recebeu em 2017: Prêmio Professores do Brasil, prêmio de Arte da Revista Select, Prêmio do Detran PE, reportagem para site da nova escola, reportagem para site da Porvir, TV Escola e entrevista para a Contando Saberes.

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Gamificação na prática

 

Existem várias maneiras de criar uma gamificação, o importante é apresentar uma atividade em que os alunos possam explorar os espaços e recursos da escola, em busca de pistas a serem decifradas, essas pistas podem ser colocadas em cartas, caixas de papelão ou até mesmo objetos. O formato pode ser de um caça ao tesouro ou de pequenas missões, que exigem primeiro uma pesquisa na internet ou livros da escola, onde o tempo todo, são instigados a trocar ideias com os colegas, rever o objetivo a ser alcançado.

 

O professor Jayse Antonio trouxe o MINECRAFT, Harry Potter e LOL que ainda não fazem parte do debate literário na escola, na mesma escala de importância com que ocupam o imaginário dos jovens fora dela. Sabendo que eles adoravam esse mundo GEEK (fãs de tecnologia, jogos eletrônicos ou de tabuleiro, HQs, livros, filmes, animes e séries), criou um projeto Vamos enCURTAr essa história? que estimula os alunos a escreverem e produzirem histórias que virariam curtas-metragens baseados em assuntos de seu interesse. A proposta vinculava-se ao conteúdo que estava sendo ministrado naquele bimestre, “Cinema”.  Os vídeos produzidos foram postados nas redes sociais para serem apreciados e curtidos por toda a comunidade escolar. Para o professor, “não se tratava apenas de fazer “filminhos” produzidos pelos alunos nas aulas de Artes, a proposta foi bem ampla, envolvendo artes gráficas, cinema, vídeo, fotografia, edição e novas tecnologias, resultando num ensino mais colaborativo, interativo e prazeroso e que estivesse antenado com os anseios desses jovens aprendizes”.

 

Para Jayse Antonio trazer os jogos para a sala de aula foi uma oportunidade para os alunos reinventá-los e elaborar novas regras e/ou novos roteiros para esses jogos é algo desafiante e estimula a criatividade dos alunos. O vídeo foi um sucesso de curtidas. As pessoas gostaram tanto que eles receberão diversas mensagens perguntando como havia sido feito. Elas se encantavam com a quantidade de efeitos especiais e algumas duvidavam que tivesse sido realizado na escola pública.

 

Conheça os vídeos produzidos pelos alunos do Professor Jayse Antonio:

Harry Potter:

Minecraft Apocalipse:

Making Off:

[1]  Jayse Antonio é formado em Educação Artística, possui pós-graduação em Psicopedagogia. Atua há mais de 10 anos como professor e tem experiência em Ensino Fundamental II, Ensino Médio e EJA. Dedica-se a aplicação mais dinâmica das diversas linguagens artísticas, em especial a Fotografia e o Cinema e desenvolveu um projeto chamado EU SOU UMA OBRA DE ARTE que visa resgatar a autoestima e a valorização étnico-racial dos educandos. Em 2014 foi vencedor do 8º Prêmio Professores do Brasil, realizado pelo MEC e seus parceiros, na categoria Ensino Médio e em 2017 na categoria Inovação Pedagógica. Atualmente, dá aulas na cidade Itambé em Pernambuco na rede Estadual e em Pedras de Fogo na Paraíba pela rede Municipal. – Reconhecimentos que recebeu em 2017: Prêmio Professores do Brasil, prêmio de Arte da Revista Select, Prêmio do Detran PE, reportagem para site da nova escola, reportagem para site da Porvir, TV Escola e entrevista para a Contando Saberes.

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