Avaliação educacional: entenda sua importância no aprendizado e conheça as Avaliações Digitais da Compartilha!

Avaliação educacional: entenda sua importância no aprendizado e conheça as Avaliações Digitais da Compartilha!

Professora entregando avaliação impressa para aluna

A avaliação educacional é uma prática pedagógica que visa verificar o nível de aprendizagem dos estudantes, identificar as dificuldades e os avanços, e orientar as intervenções necessárias para melhorar o ensino. 

Além disso, a avaliação educacional também serve para monitorar a qualidade da educação oferecida pela escola, verificar se os objetivos educacionais estão sendo alcançados e fornecer feedbacks aos educadores, aos estudantes e às famílias.

Mas como fazer uma avaliação educacional eficaz, que realmente contribua para o desenvolvimento dos estudantes e da escola? Quais são os tipos de avaliação existentes e quais são os instrumentos mais adequados para cada situação? Como utilizar os dados coletados pela avaliação para planejar as ações pedagógicas?

Neste artigo, vamos responder a essas perguntas e mostrar como as Avaliações Digitais da Moderna Compartilha podem ajudar você a realizar uma avaliação educacional de qualidade, com dados precisos e confiáveis. Vamos lá?

Conceito de avaliação educacional

A avaliação educacional pode ser definida como um processo sistemático e contínuo de coleta, análise e interpretação de informações sobre o desempenho dos estudantes e da escola, com o objetivo de verificar o grau de aprendizagem, diagnosticar as dificuldades, orientar as intervenções pedagógicas e promover a melhoria da qualidade da educação.

Ela não deve ser vista como um fim em si mesma, mas como um meio para aprimorar o ensino e a aprendizagem. Assim, deve ser realizada de forma integrada ao planejamento e à execução das atividades educacionais, levando em conta os objetivos, os conteúdos, as metodologias e os recursos didáticos utilizados.

Essa avaliação também deve ser participativa, envolvendo todos os agentes educacionais: educadores, estudantes, gestores, famílias e comunidade. Cada um desses atores tem um papel importante na avaliação, seja fornecendo informações, seja recebendo feedbacks, seja tomando decisões com base nos resultados.

Relação da avaliação com o processo de aprendizado

Menino escrevendo em um papel enquanto olha para uma folha de avaliação

A avaliação educacional está intimamente relacionada ao processo de ensino e aprendizagem. Ela serve como um instrumento para verificar se os estudantes estão aprendendo o que se espera deles, se os educadores estão ensinando de forma eficiente e se a escola está cumprindo sua função social.

Também serve como um meio para estimular a aprendizagem dos estudantes, pois permite que eles reconheçam seus pontos fortes e fracos, recebam orientações para superar suas dificuldades e se sintam motivados a progredir. 

Além disso, a avaliação possibilita que os educadores identifiquem as necessidades dos estudantes, ajustem suas estratégias de ensino e ofereçam um acompanhamento individualizado.

Por fim, a avaliação também serve como um recurso para melhorar a qualidade da educação oferecida pela escola, pois fornece dados que podem ser usados para planejar as ações pedagógicas, revisar os currículos, capacitar os profissionais, adequar a infraestrutura e gerenciar os recursos.

Diferença crucial: avaliação somativa X formativa

Existem diferentes tipos de avaliação educacional, que podem ser classificados de acordo com seus objetivos, seus momentos de aplicação e seus critérios de análise. Dois tipos que se destacam são a avaliação somativa e a avaliação formativa.

A avaliação somativa é aquela que ocorre ao final de um período ou ciclo de ensino, com o propósito de verificar o nível de aprendizagem dos estudantes em relação aos objetivos previstos.

Ela tem um caráter classificatório e certificatório, ou seja, serve para atribuir notas ou conceitos aos estudantes e para aprovar ou reprovar os mesmos.

A avaliação formativa é aquela que ocorre ao longo do processo de ensino e aprendizagem, com o propósito de acompanhar o desenvolvimento dos estudantes e orientar as intervenções pedagógicas. 

Ela tem um caráter diagnóstico e formativo, ou seja, serve para identificar as dificuldades e os avanços dos estudantes e para oferecer feedbacks e orientações para a melhoria da aprendizagem.

Ambas são complementares e devem ser realizadas de forma articulada. A avaliação somativa permite verificar os resultados finais da aprendizagem, enquanto a avaliação formativa permite monitorar o processo de aprendizagem e promover ações corretivas ou preventivas.

Saiba mais: A importância da avaliação formativa no ensino-aprendizagem.

Importância dos dados coletados para escolas e educadores

Professoras usando um Tablet e fazendo anotações em uma folha de papel

Os dados coletados pela avaliação educacional são fundamentais para as escolas e os educadores, pois permitem que eles tenham uma visão mais ampla e precisa da realidade educacional em que estão inseridos. Com base nos dados, é possível:

  • Identificar os pontos fortes e fracos dos estudantes, dos educadores, dos gestores e da escola;
  • Comparar o desempenho dos estudantes com os padrões de qualidade estabelecidos pelos sistemas de ensino;
  • Analisar as causas das dificuldades e dos avanços encontrados no processo de ensino e aprendizagem;
  • Estabelecer metas e indicadores de qualidade para a educação;
  • Planejar as ações pedagógicas necessárias para melhorar o ensino e a aprendizagem;
  • Monitorar a execução das ações planejadas e verificar seus resultados;
  • Avaliar o impacto das intervenções realizadas na melhoria da qualidade da educação;
  • Comunicar os resultados da avaliação aos estudantes, aos educadores, aos gestores, às famílias e à comunidade;
  • Prestar contas à sociedade sobre o trabalho desenvolvido pela escola.

Instrumentos para uma avaliação educacional eficaz

Colegas de sala reunidos para responder avaliação escolar

Para realizar uma avaliação educacional eficaz, é preciso utilizar instrumentos adequados para cada tipo de avaliação, para cada objetivo proposto e para cada público-alvo. 

Os instrumentos de avaliação são os meios pelos quais se coletam as informações sobre o desempenho dos estudantes e da escola. Eles podem ser divididos em dois grupos: instrumentos formais e instrumentos informais.

Os instrumentos formais são aqueles que seguem uma estrutura pré-definida, com critérios claros e objetivos de correção. Eles podem ser aplicados individualmente ou coletivamente, oralmente ou por escrito. Alguns são:

  • Provas: são instrumentos que avaliam os conhecimentos conceituais dos estudantes, por meio de questões objetivas ou discursivas, que podem ser de múltipla escolha, verdadeiro ou falso, associação, ordenação, completar lacunas etc;
  • Trabalhos: são instrumentos que avaliam as habilidades procedimentais dos estudantes, por meio de atividades práticas, que podem ser individuais ou em grupo, como pesquisas, relatórios, experimentos, maquetes etc;
  • Portfólios: são instrumentos que avaliam as atitudes valorativas dos estudantes, por meio de um conjunto de produções realizadas ao longo do período ou ciclo de ensino, que podem ser textos, desenhos, fotos, vídeos etc;
  • Autoavaliação: é um instrumento que permite que os estudantes avaliem o seu próprio desempenho, por meio de questionários, escalas ou fichas, que podem conter perguntas sobre o seu nível de aprendizagem, suas dificuldades, seus avanços, seus interesses etc;
  • Avaliação 360: é um instrumento que permite que os estudantes sejam avaliados por diferentes agentes educacionais, como os educadores, os gestores, os colegas e as famílias, por meio de questionários ou entrevistas, que podem conter perguntas sobre o seu comportamento, sua participação, sua colaboração, sua responsabilidade etc.

Já os instrumentos informais são aqueles que não seguem uma estrutura pré-definida, mas dependem da observação e do registro do educador. Eles podem ser aplicados a qualquer momento do processo de ensino e aprendizagem. Alguns exemplos são:

  • Observação: é um instrumento que permite que o educador acompanhe o desempenho dos estudantes durante as atividades realizadas em sala de aula ou fora dela, verificando se eles estão atentos, interessados, motivados, participativos etc.
  • Registro: é um instrumento que permite que o educador registre as informações coletadas pela observação ou por outros meios, anotando os dados relevantes sobre o desempenho dos estudantes em um caderno ou em um sistema informatizado.
  • Conversa: é um instrumento que permite que o educador dialogue com os estudantes sobre o seu processo de aprendizagem, esclarecendo dúvidas, dando orientações, elogiando avanços, sugerindo melhorias etc.
  • Feedback: é um instrumento que permite que o educador devolva aos estudantes os resultados da avaliação realizada por ele ou por outros agentes educacionais, informando-os sobre os seus pontos fortes e fracos e indicando-lhes os caminhos para a melhoria da aprendizagem.

Ambos instrumentos devem ser utilizados de forma combinada e equilibrada pelo educador. Os instrumentos formais permitem uma avaliação mais objetiva e padronizada do desempenho dos estudantes. Os instrumentos informais permitem uma avaliação mais subjetiva e personalizada do desempenho dos estudantes.

Saiba mais: Teorias, abordagens e metodologias de ensino. Vamos conhecer cada uma delas?

Avaliações Digitais da Compartilha e diversos tipos de avaliações

Alunos reunidos em uma mesa fazenda anotações enquanto usam computador

Você já conhece as Avaliações Digitais da Moderna Compartilha? Elas são um conjunto de instrumentos que permitem realizar uma avaliação educacional de qualidade, com dados precisos e confiáveis. Elas são aplicadas por meio de uma plataforma online, que oferece diversas funcionalidades para facilitar o trabalho dos educadores e dos gestores escolares.

Entre elas, podemos destacar três tipos principais: Creare, Alpha e Pleno. Cada tipo tem um objetivo específico e um público-alvo diferente. Conheça melhor:

Creare

É uma avaliação diagnóstica, que tem como objetivo identificar o nível de aprendizagem dos estudantes no início do ano letivo, verificando os conhecimentos prévios que eles possuem sobre os conteúdos que serão trabalhados ao longo do ano. 

Ela é aplicada aos estudantes do Ensino Fundamental I (do 1º ao 5º ano) e do Ensino Fundamental II (do 6º ao 9º ano).

Alpha

É uma avaliação formativa, que tem como objetivo acompanhar o desenvolvimento dos estudantes ao longo do ano letivo, verificando se eles estão atingindo os objetivos de aprendizagem propostos para cada bimestre. 

Ela é aplicada aos estudantes do Ensino Fundamental I (do 1º ao 5º ano) e do Ensino Fundamental II (do 6º ao 9º ano).

Pleno

É uma avaliação somativa, que tem como objetivo verificar o desempenho dos estudantes ao final do ano letivo, comparando-os com os padrões de qualidade estabelecidos pelos sistemas de ensino. 

Ela é aplicada aos estudantes do Ensino Fundamental II (do 6º ao 9º ano) e do Ensino Médio (do 1º ao 3º ano).

As Avaliações Digitais da Moderna Compartilha têm como vantagens:

  • Avaliar os estudantes de forma abrangente, considerando os diferentes tipos de conhecimentos, habilidades e atitudes;
  • Avaliar os estudantes de forma alinhada, seguindo os parâmetros curriculares nacionais e estaduais, bem como as matrizes de referência do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem);
  • Avaliar os estudantes de forma personalizada, adaptando-se aos diferentes níveis de aprendizagem dos mesmos, por meio de um sistema adaptativo que seleciona as questões mais adequadas para cada estudante;
  • Avaliar os estudantes de forma rápida e prática, utilizando uma plataforma online que permite a aplicação das provas em qualquer dispositivo conectado à internet, como computadores, tablets ou celulares;
  • Avaliar os estudantes de forma segura e confiável, utilizando uma plataforma online que garante a integridade e a validade dos dados coletados, por meio de sistemas de criptografia e de controle de acesso;
  • Avaliar os estudantes de forma interativa e lúdica, utilizando uma plataforma online que oferece recursos multimídia, como vídeos, áudios, imagens e animações, que tornam as provas mais atrativas e estimulantes.

Além das avaliações da Compartilha, existem outros tipos de avaliações que podem ser utilizados pelos educadores e pelos gestores escolares. Alguns exemplos são:

Avaliação interna

É aquela que é realizada pela própria escola, com o objetivo de verificar o desempenho dos estudantes e da instituição em relação aos seus objetivos educacionais. Ela pode ser feita por meio de instrumentos formais ou informais, como provas, trabalhos, portfólios, observação, registro, conversa, feedback etc.

Avaliação externa

É aquela que é realizada por um órgão ou entidade externa à escola, com o objetivo de verificar o desempenho dos estudantes e da instituição em relação aos padrões de qualidade estabelecidos pelos sistemas de ensino. 

Ela pode ser feita por meio de instrumentos formais, como provas padronizadas ou questionários socioeconômicos. Alguns exemplos de avaliações externas são o Saeb, o Enem, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) etc.

Avaliação participativa

É aquela que envolve a participação de diferentes agentes educacionais na avaliação dos estudantes e da instituição, como os educadores, os gestores, os colegas, as famílias e a comunidade. Ela pode ser feita por meio de instrumentos formais ou informais, como questionários, entrevistas, reuniões, assembleias, conselhos, etc.

Avaliação 360

É um tipo de avaliação participativa que permite que os estudantes sejam avaliados por diferentes agentes educacionais, como os educadores, os gestores, os colegas e as famílias, por meio de questionários ou entrevistas, que podem conter perguntas sobre o seu comportamento, sua participação, sua colaboração, sua responsabilidade etc.

Conclusão

A avaliação educacional é uma parte vital do processo de ensino-aprendizagem e desempenha um papel fundamental na melhoria da educação. É uma ferramenta que não apenas mede o conhecimento, mas também guia o aprendizado e o ensino de maneira mais eficaz. 

Com as Avaliações Digitais da Compartilha, como Creare, Alpha e Pleno, os educadores têm à disposição instrumentos modernos e flexíveis para atender às necessidades diversificadas de seus alunos. 

Ao compreender a importância da avaliação educacional e escolher as ferramentas certas, podemos continuar a elevar o padrão da educação para as gerações futuras.

Veja outros conteúdos

10 passos para montar um plano de contingência

10 passos para montar um plano de contingência

O que você deve considerar na hora de estruturar aulas on-line e à distância para a educação básica. O anúncio da suspensão das aulas por conta da pandemia do coronavírus (COVID-19) deixa toda a sociedade preocupada em relação ao futuro dos nossos estudantes e, claro, em relação aos prejuízos de aprendizagem. Mais rápido do que imaginávamos, gestores públicos, organizações da sociedade civil e comunidade de profissionais em educação trouxeram a primeira resposta ao fechamento das escolas: o uso das tecnologias digitais. A velocidade em propor que a tecnologia nos ajude em cenários de fechamento de escolas tem a ver, também, com a experiência de outros países onde a pandemia chegou primeiro, ainda como epidemia, como China, Itália e Coreia do Sul. Eu não agi de forma diferente e a primeira coisa que comecei a fazer foi colecionar links de referência com recomendações, relatos de experiências e análises dos impactos da educação online em inglês, português e espanhol. As redes profissionais das quais faço parte também foram importantes para apoiar a construção de algo inédito para a grande maioria de todos nós: planos de educação online e à distância para educação básica. Compartilho aqui 10 passos que estamos construindo juntos para lidar com esta situação tão delicada:

Atenção às políticas públicas e anúncios oficiais

Por mais que campanhas de autoisolamento estejam sendo amplamente disseminadas e recomendadas como ação de responsabilidade individual, a decisão de fechamento de escolas passa, necessariamente, pelo poder público. Redes estaduais e municipais estão divulgando regularmente suas medidas e precisamos ficar atentos às diretrizes diariamente. Um ponto importante a ser observado é se as diretrizes de fechamento vêm acompanhadas de clareza sobre a formalidade do cumprimento dos dias letivos. Esta definição é de suma importância para desenhar nossos planos, pois a obrigatoriedade do cumprimento de dias letivos utilizando tecnologias é muito diferente de manter os estudantes ativos e abastecidos de recomendações de atividades que podem ser realizadas online em período de férias, por exemplo.

Um plano de contingência é um plano mesmo

 

Mesmo um cenário de tanta volatilidade e mudança rápida de decisões não nos desobriga de ter um plano. Sair fazendo coisas sem minimamente pensar, refletir e pactuar com o máximo possível de representantes da comunidade escolar é atropelar as pessoas, processos e causar transtornos maiores do que podemos imaginar. Não teremos um mês para fazer um plano, talvez tenhamos um dia, no máximo uma semana, mas precisamos dele.

Comece já. Em se tratando de plano de tecnologia na educação, o modelo com o qual mais identifico é o do CIEB (Centro de Inovação para Educação Brasileira). O conceito das quatro dimensões nos ajuda a organizar a implementação de planos de tecnologia em quatro frentes concomitantes e integradas: visão, competências, recursos educacionais digitais e infraestrutura (saiba mais sobre elas no Guia Tecnologia na Educação do Porvir). Ao entender esses quatro elementos você terá um panorama do que seja possível fazer

Não é só fazer aulas remotas de casa

 
 

A experiência escolar é algo insubstituível. Talvez seja uma das experiências humanas mais sociais. Fechar escolas e desenhar plano de atividades para crianças e professores à distância é, portanto, algo completamente diferente de planejar atividades escolares presenciais. Sendo assim, seja modesto, por mais que cada dimensão esteja super bem atendida. Comece pequeno e teste antes se a escola ainda estiver aberta. Se o seu turno escolar é de quatro horas, por exemplo, não tente ficar conectado pelo mesmo tempo de forma ininterrupta como na escola. Programe uma atividade por dia com bastante intencionalidade, deixe as regras claras e vá aumentando a carga horária gradativamente conforme perceber o amadurecimento da turma.

Não podemos deixar ninguém para trás

Uma das principais preocupações em torno de aulas online tem a ver com equidade e qualidade. Mais uma vez o episódio do coronavírus escancara nossa colossal desigualdade social. Já sabemos que muitas escolas terão muito mais condições de suportar experiências digitais do que outras, mas nem por isso não podemos pensar em estratégias para tentar diminuir diferenças. Verifique se todos os professores têm dispositivos para utilizar em casa, caso contrário, é possível que a escola empreste os equipamentos? E no caso dos estudantes, é possível que eles levem os equipamentos da escola para casa em regime de empréstimo?

Estabeleça parceria com as famílias

É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança. Quem nunca ouviu essa expressão? Educação não é dever só da escola. Famílias e outras instituições precisam se comprometer nesse processo. Os responsáveis pelas crianças serão pessoas fundamentais nesse processo, por isso será necessário envolvê-los desde o começo. Comece atualizando os contatos de pais e responsáveis. Nesse cenário, será essencial manter uma comunicação clara, transparente e ágil com os responsáveis. Se possível, faça uma pesquisa com as famílias e mapeie endereços, telefones, e-mails, contatos de mensagens instantâneas. Em seguida, comunique seu plano antes de começar. Tente envolver as famílias nas rotinas estabelecidas no plano e pactuar com eles quais delas poderão contar com a participação das famílias para serem cumpridas.

Cuide das especificidades de cada segmento e necessidade

Tecnologia não funciona da mesma forma para todas as faixas etárias. Não faz sentido aulas online para educação infantil, assim como também jovens de ensino médio não precisam de acompanhamento das famílias para realizar atividades online. Utilize tecnologia de acordo com cada segmento para fortalecer o trabalho pedagógico de acordo com as necessidades de desenvolvimento de cada idade. Também não podemos esquecer da inclusão de estudantes com qualquer tipo de deficiência física ou intelectual.

Segurança de todos

Desde que começamos a falar de uso de tecnologias na educação, a questão da segurança digital vem sendo levantada como uma das partes mais esquecidas no contexto de integração. Em um cenário de uso de tecnologias digitais para aprendizagem em casa, nossa atenção deve se redobrar. Há que se observar questões como: tempo de exposição à tela, navegação assistida, requisitos de privacidade e proteção de dados.

Saúde mental de professores e gestores

Uma das grandes questões atuais em educação diz respeito à saúde emocional dos educadores e profissionais de educação. Assim como precisamos cuidar da saúde emocional das crianças, vamos precisar cuidar muito bem de professores e gestores nesse período. Há relatos de extrema exaustão entre os profissionais de outros países que passaram por este período de rápida adaptação. Uma dica importante é não exigir que professores estejam conectados por muito tempo ou com grande parte de atividades síncronas, nem para atividades profissionais e nem em navegação especulativa. É preciso estabelecer horários de atendimentos e respeitá-los. Os professores não podem ficar à disposição de estudantes o tempo todo.

Em tempos de crise, ficamos com fome de novas notícias e atualizações. Recebemos uma enxurrada de notícias e informações e precisamos de muito cuidado para checar se não estamos fazendo parte de uma onda de desinformação. Uma orientação importante é fazer uma navegação com roteiro e outra que priorize a família, a ciência e a arte. Estabeleça um roteiro e não se perca no oceano da internet. Se quiser saber notícias de entes queridos, vá direto às mensagens pessoais. Para se manter informado, vá direto nos canais oficiais como sites e aplicativos de jornais respeitados e do aplicativo criado pelo Ministério da Saúde. Alimente-se com arte e poesia, leia livros que estavam na sua lista, visite museus virtuais, ouça suas músicas preferidas e invista tempo em atividades que exigem aprofundamento como, por exemplo, meditar e escrever um diário. Como o plano de fechamento é generalizado, será possível que, além das rotinas escolares, você também esteja responsável por familiares, portanto, é importante se cuidar.

Por fim, crie uma rotina de cuidado compartilhado. Faça conferências regulares e coloque o assunto da saúde emocional na pauta para falar sobre como está sendo o processo para todos os envolvidos.

Precisamos falar sobre a morte

Parte da série de conteúdos que foram publicados sobre o tema tem a ver com a própria abordagem educativa em torno da pandemia e suas causas, incluindo as mortes. É possível que percamos familiares, sobretudo, pessoas idosas que estão sendo as mais atingidas nesse momento. Como lidar com essa faceta da crise com os estudantes? E se durante esse processo algum familiar dos estudantes vier a falecer? Como incluir esse assunto nas atividades online?

Por uma pedagogia da contingência

Não teremos controle do nosso plano, vamos iniciar, trabalhar, testar, refinar e recomeçar. Indiscutivelmente teremos perdas. É bom começar com essa noção, que ao meu ver, não é pessimista. Uma estratégia importante dessa atuação pedagógica, talvez seja a do registro e da documentação. Um dos recursos mais importantes da tecnologia para a educação, talvez seja a potência de criar registros que nos serão importantes para transformar esta fase difícil em narrativas de vidas, em histórias de enfrentamentos e em sistematizações de algo que nunca fizemos antes e que resultarão em aprendizados importantes para o futuro da educação. Os registros são estratégias importantes para os estudantes também, portanto encoraje que esta seja uma tarefa regular e sistemática. Será importante para retomar o fio da meada quando as aulas recomeçarem. Começar sabendo que coisas podem dar errado nos retira a obrigação de acertar em tudo e nos abre um campo humano seguro para fazer o melhor que podemos exatamente onde estamos, com o que somos, com o que temos e com o que podemos. Vamos em frente.

Comece já. Em se tratando de plano de tecnologia na educação, o modelo com o qual mais identifico é o do CIEB (Centro de Inovação para Educação Brasileira). O conceito das quatro dimensões nos ajuda a organizar a implementação de planos de tecnologia em quatro frentes concomitantes e integradas: visão, competências, recursos educacionais digitais e infraestrutura (saiba mais sobre elas no Guia Tecnologia na Educação do Porvir). Ao entender esses quatro elementos você terá um panorama do que seja possível fazer

Veja outros conteúdos

Vídeo
Atualização prática para o professor
A formação do aluno começa sempre com o desenvolvimento do professor. Pensando nisso, criamos as Formações Educatrix,…
Artigo
A necessidade de resgatarmos na Educação a comunidade aprendente
Lidar com o cenário da pandemia principalmente na Educação tem sido desafiador ao mesmo tempo que nos apresenta maneiras diferentes de possibilitar novos caminhos a Educação.
E-book
Diálogo: escola-família
Clique em Saiba mais para ler este E-Book na íntegra.
Artigo
A importância dos jogos na educação emergencial
Os jogos sempre tiveram um lugar especial na educação

10 passos para montar um plano de contingência

O que você deve considerar na hora de estruturar aulas on-line e à distância para a educação básica. O anúncio da suspensão das aulas por conta da pandemia do coronavírus (COVID-19) deixa toda a sociedade preocupada em relação ao futuro dos nossos estudantes e, claro, em relação aos prejuízos de aprendizagem. Mais rápido do que imaginávamos, gestores públicos, organizações da sociedade civil e comunidade de profissionais em educação trouxeram a primeira resposta ao fechamento das escolas: o uso das tecnologias digitais. A velocidade em propor que a tecnologia nos ajude em cenários de fechamento de escolas tem a ver, também, com a experiência de outros países onde a pandemia chegou primeiro, ainda como epidemia, como China, Itália e Coreia do Sul. Eu não agi de forma diferente e a primeira coisa que comecei a fazer foi colecionar links de referência com recomendações, relatos de experiências e análises dos impactos da educação online em inglês, português e espanhol. As redes profissionais das quais faço parte também foram importantes para apoiar a construção de algo inédito para a grande maioria de todos nós: planos de educação online e à distância para educação básica. Compartilho aqui 10 passos que estamos construindo juntos para lidar com esta situação tão delicada:

Atenção às políticas públicas e anúncios oficiais

Por mais que campanhas de autoisolamento estejam sendo amplamente disseminadas e recomendadas como ação de responsabilidade individual, a decisão de fechamento de escolas passa, necessariamente, pelo poder público. Redes estaduais e municipais estão divulgando regularmente suas medidas e precisamos ficar atentos às diretrizes diariamente. Um ponto importante a ser observado é se as diretrizes de fechamento vêm acompanhadas de clareza sobre a formalidade do cumprimento dos dias letivos. Esta definição é de suma importância para desenhar nossos planos, pois a obrigatoriedade do cumprimento de dias letivos utilizando tecnologias é muito diferente de manter os estudantes ativos e abastecidos de recomendações de atividades que podem ser realizadas online em período de férias, por exemplo.

Um plano de contingência é um plano mesmo

 

Mesmo um cenário de tanta volatilidade e mudança rápida de decisões não nos desobriga de ter um plano. Sair fazendo coisas sem minimamente pensar, refletir e pactuar com o máximo possível de representantes da comunidade escolar é atropelar as pessoas, processos e causar transtornos maiores do que podemos imaginar. Não teremos um mês para fazer um plano, talvez tenhamos um dia, no máximo uma semana, mas precisamos dele.

Comece já. Em se tratando de plano de tecnologia na educação, o modelo com o qual mais identifico é o do CIEB (Centro de Inovação para Educação Brasileira). O conceito das quatro dimensões nos ajuda a organizar a implementação de planos de tecnologia em quatro frentes concomitantes e integradas: visão, competências, recursos educacionais digitais e infraestrutura (saiba mais sobre elas no Guia Tecnologia na Educação do Porvir). Ao entender esses quatro elementos você terá um panorama do que seja possível fazer

Não é só fazer aulas remotas de casa

 
 

A experiência escolar é algo insubstituível. Talvez seja uma das experiências humanas mais sociais. Fechar escolas e desenhar plano de atividades para crianças e professores à distância é, portanto, algo completamente diferente de planejar atividades escolares presenciais. Sendo assim, seja modesto, por mais que cada dimensão esteja super bem atendida. Comece pequeno e teste antes se a escola ainda estiver aberta. Se o seu turno escolar é de quatro horas, por exemplo, não tente ficar conectado pelo mesmo tempo de forma ininterrupta como na escola. Programe uma atividade por dia com bastante intencionalidade, deixe as regras claras e vá aumentando a carga horária gradativamente conforme perceber o amadurecimento da turma.

Não podemos deixar ninguém para trás

Uma das principais preocupações em torno de aulas online tem a ver com equidade e qualidade. Mais uma vez o episódio do coronavírus escancara nossa colossal desigualdade social. Já sabemos que muitas escolas terão muito mais condições de suportar experiências digitais do que outras, mas nem por isso não podemos pensar em estratégias para tentar diminuir diferenças. Verifique se todos os professores têm dispositivos para utilizar em casa, caso contrário, é possível que a escola empreste os equipamentos? E no caso dos estudantes, é possível que eles levem os equipamentos da escola para casa em regime de empréstimo?

Estabeleça parceria com as famílias

É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança. Quem nunca ouviu essa expressão? Educação não é dever só da escola. Famílias e outras instituições precisam se comprometer nesse processo. Os responsáveis pelas crianças serão pessoas fundamentais nesse processo, por isso será necessário envolvê-los desde o começo. Comece atualizando os contatos de pais e responsáveis. Nesse cenário, será essencial manter uma comunicação clara, transparente e ágil com os responsáveis. Se possível, faça uma pesquisa com as famílias e mapeie endereços, telefones, e-mails, contatos de mensagens instantâneas. Em seguida, comunique seu plano antes de começar. Tente envolver as famílias nas rotinas estabelecidas no plano e pactuar com eles quais delas poderão contar com a participação das famílias para serem cumpridas.

Cuide das especificidades de cada segmento e necessidade

Tecnologia não funciona da mesma forma para todas as faixas etárias. Não faz sentido aulas online para educação infantil, assim como também jovens de ensino médio não precisam de acompanhamento das famílias para realizar atividades online. Utilize tecnologia de acordo com cada segmento para fortalecer o trabalho pedagógico de acordo com as necessidades de desenvolvimento de cada idade. Também não podemos esquecer da inclusão de estudantes com qualquer tipo de deficiência física ou intelectual.

Segurança de todos

Desde que começamos a falar de uso de tecnologias na educação, a questão da segurança digital vem sendo levantada como uma das partes mais esquecidas no contexto de integração. Em um cenário de uso de tecnologias digitais para aprendizagem em casa, nossa atenção deve se redobrar. Há que se observar questões como: tempo de exposição à tela, navegação assistida, requisitos de privacidade e proteção de dados.

Saúde mental de professores e gestores

Uma das grandes questões atuais em educação diz respeito à saúde emocional dos educadores e profissionais de educação. Assim como precisamos cuidar da saúde emocional das crianças, vamos precisar cuidar muito bem de professores e gestores nesse período. Há relatos de extrema exaustão entre os profissionais de outros países que passaram por este período de rápida adaptação. Uma dica importante é não exigir que professores estejam conectados por muito tempo ou com grande parte de atividades síncronas, nem para atividades profissionais e nem em navegação especulativa. É preciso estabelecer horários de atendimentos e respeitá-los. Os professores não podem ficar à disposição de estudantes o tempo todo.

Em tempos de crise, ficamos com fome de novas notícias e atualizações. Recebemos uma enxurrada de notícias e informações e precisamos de muito cuidado para checar se não estamos fazendo parte de uma onda de desinformação. Uma orientação importante é fazer uma navegação com roteiro e outra que priorize a família, a ciência e a arte. Estabeleça um roteiro e não se perca no oceano da internet. Se quiser saber notícias de entes queridos, vá direto às mensagens pessoais. Para se manter informado, vá direto nos canais oficiais como sites e aplicativos de jornais respeitados e do aplicativo criado pelo Ministério da Saúde. Alimente-se com arte e poesia, leia livros que estavam na sua lista, visite museus virtuais, ouça suas músicas preferidas e invista tempo em atividades que exigem aprofundamento como, por exemplo, meditar e escrever um diário. Como o plano de fechamento é generalizado, será possível que, além das rotinas escolares, você também esteja responsável por familiares, portanto, é importante se cuidar.

Por fim, crie uma rotina de cuidado compartilhado. Faça conferências regulares e coloque o assunto da saúde emocional na pauta para falar sobre como está sendo o processo para todos os envolvidos.

Precisamos falar sobre a morte

Parte da série de conteúdos que foram publicados sobre o tema tem a ver com a própria abordagem educativa em torno da pandemia e suas causas, incluindo as mortes. É possível que percamos familiares, sobretudo, pessoas idosas que estão sendo as mais atingidas nesse momento. Como lidar com essa faceta da crise com os estudantes? E se durante esse processo algum familiar dos estudantes vier a falecer? Como incluir esse assunto nas atividades online?

Por uma pedagogia da contingência

Não teremos controle do nosso plano, vamos iniciar, trabalhar, testar, refinar e recomeçar. Indiscutivelmente teremos perdas. É bom começar com essa noção, que ao meu ver, não é pessimista. Uma estratégia importante dessa atuação pedagógica, talvez seja a do registro e da documentação. Um dos recursos mais importantes da tecnologia para a educação, talvez seja a potência de criar registros que nos serão importantes para transformar esta fase difícil em narrativas de vidas, em histórias de enfrentamentos e em sistematizações de algo que nunca fizemos antes e que resultarão em aprendizados importantes para o futuro da educação. Os registros são estratégias importantes para os estudantes também, portanto encoraje que esta seja uma tarefa regular e sistemática. Será importante para retomar o fio da meada quando as aulas recomeçarem. Começar sabendo que coisas podem dar errado nos retira a obrigação de acertar em tudo e nos abre um campo humano seguro para fazer o melhor que podemos exatamente onde estamos, com o que somos, com o que temos e com o que podemos. Vamos em frente.

Comece já. Em se tratando de plano de tecnologia na educação, o modelo com o qual mais identifico é o do CIEB (Centro de Inovação para Educação Brasileira). O conceito das quatro dimensões nos ajuda a organizar a implementação de planos de tecnologia em quatro frentes concomitantes e integradas: visão, competências, recursos educacionais digitais e infraestrutura (saiba mais sobre elas no Guia Tecnologia na Educação do Porvir). Ao entender esses quatro elementos você terá um panorama do que seja possível fazer

Veja outros conteúdos

Vídeo
Atualização prática para o professor
A formação do aluno começa sempre com o desenvolvimento do professor. Pensando nisso, criamos as Formações Educatrix,…
Artigo
A necessidade de resgatarmos na Educação a comunidade aprendente
Lidar com o cenário da pandemia principalmente na Educação tem sido desafiador ao mesmo tempo que nos apresenta maneiras diferentes de possibilitar novos caminhos a Educação.
E-book
Diálogo: escola-família
Clique em Saiba mais para ler este E-Book na íntegra.
Artigo
A importância dos jogos na educação emergencial
Os jogos sempre tiveram um lugar especial na educação

BNCC no Ensino Médio: o que esperar?

BNCC no Ensino Médio: o que esperar?

Um mergulho nas áreas de Linguagem e Matemática para compreender caminhos que se abrem às escolas.

A base nacional comum curricular para o Ensino Médio determina os componentes curriculares de Língua Portuguesa e Matemática como obrigatórios para os três anos do segmento. Assim, as disciplinas ganharam mais horas de formação e diretrizes específicas de competências e habilidades que devem ser desenvolvidas. Nesta edição, convidamos autores de Língua Portuguesa e de Matemática para dar um parecer sobre os caminhos para o trabalho com habilidades e competências socioemocionais de maneira integrada, colaborativa, criativa e formativa no Ensino Médio.

O novo Ensino Médio e a resolução de problemas

Foco no desenvolvimento de pensamentos e competências matemáticas para toda a vida.

Texto: Fabio Martins de Leonardo

Os resultados que os estudantes brasileiros vêm apresentando em avaliações nacionais e internacionais refletem, em parte, o fracasso do Ensino Médio no Brasil. Os altos índices de evasão escolar contribuem, ainda, para que este seja considerado o gargalo da nossa Educação Básica. Segundo o censo da Educação Básica publicado pelo Inep em 2019, mais de um terço dos brasileiros de 25 a 34 anos não concluiu o Ensino Médio. Dos cerca de três milhões que ingressaram nessa etapa, aproximadamente 700 mil não chegaram ao último ano.

Os números ilustram uma realidade existente há tempos nas escolas brasileiras e levam a uma reflexão sobre a distância do Ensino Médio — que se concretiza muitas vezes por meio de abordagens pedagógicas afastadas das culturas juvenis, do mundo do trabalho e das dinâmicas e questões sociais contemporâneas — em relação às expectativas dos jovens que se preparam para o mercado de trabalho.

A reforma do Ensino Médio pode ser vista como uma tentativa de atrair os jovens para a escola, pois prevê a substituição do modelo único de currículo por um modelo composto da Formação Geral Básica, que abrange as competências e habilidades das áreas de conhecimento previstas na BNCC, e por Itinerários Formativos, organizados por meio de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino. Esse modelo adota a flexibilidade como princípio de organização e busca atender à multiplicidade de interesses dos estudantes.

Em paralelo, há a preocupação em se garantir aos jovens as aprendizagens necessárias para atuar em uma sociedade em constante mudança e prepará-los para profissões e tecnologias que ainda serão inventadas e para resolver problemas variados. Nesse sentido, a BNCC ressalta a importância de se trabalhar o pensamento computacional, o que envolve as capacidades de compreender, analisar, definir, modelar, resolver, comparar e automatizar problemas e suas soluções, de forma metódica e sistemática, por meio do desenvolvimento de algoritmos.

O pensamento computacional pode ser entendido como processo de resolução de problemas. Segundo José Armando Valente, trata-se da “formulação de problemas de uma forma que permita usar um computador e outras ferramentas para ajudar a resolvê-los; organização lógica e análise de dados; representação de dados através de abstrações como modelos e simulações; automação de soluções através do pensamento algorítmico (a série de passos ordenados); identificação, análise e implementação de soluções possíveis com o objetivo de alcançar a mais eficiente e efetiva combinação de etapas e recursos; e generalização e transferência desse processo de resolução de problemas para uma ampla variedade de problemas”.

Observando as habilidades da Matemática e suas Tecnologias previstas na BNCC para o Ensino Médio, nota-se que muitas trabalham a resolução de problemas:

  • (em13mat306) Resolver e elaborar problemas em contextos que envolvem fenômenos periódicos reais, como ondas sonoras, ciclos menstruais, movimentos cíclicos, entre outros, e comparar suas representações com as funções seno e cosseno, no plano cartesiano, com ou sem apoio de aplicativos de álgebra e geometria.
  • (em13mat315) Investigar e registrar, por meio de um fluxograma, quando possível, um algoritmo que resolve um problema.
  • (em13mat406) Utilizar os conceitos básicos de uma linguagem de programação na implementação de algoritmos escritos em linguagem corrente e/ou matemática.

Assim, espera-se que os estudantes não apenas “resolvam”, mas “resolvam e elaborem problemas”. Espera-se que identifiquem ou construam um modelo para gerar respostas adequadas, analisar os fundamentos e as propriedades de modelos existentes, avaliando seu alcance e validade para o problema em foco e até a possibilidade de transferência desse modelo para a resolução de problemas similares. Espera-se que investiguem e utilizem os conceitos estudados.

Apesar de comumente associado à Matemática, o pensamento computacional não se restringe a ela. Ele permite trabalhar a capacidade de raciocinar logicamente, formular e testar conjecturas, avaliar a validade de raciocínios e construir argumentações – capacidades importantes para diversos aspectos do cotidiano e, portanto, objeto de trabalho nas diversas áreas do conhecimento. Uma das novidades trazidas pela BNCC está, justamente, em propor que o trabalho com essas capacidades esteja presente nas diferentes áreas do conhecimento.

Com as expectativas que se colocam sobre a reforma do Ensino Médio, surgem os desafios de sua implementação, entre eles a flexibilização curricular e a transposição das barreiras disciplinares para o trabalho com temáticas que permeiam as várias áreas do conhecimento, como o pensamento computacional.

Fabio Martins de Leonardo

é licenciado em matemática pela USP e editor executivo de Matemática da Editora Moderna.

Para saber mais

  • Valente, J. A. Integração do pensamento computacional no currículo da educação básica: diferentes estratégias usadas e questões de formação de professores e avaliação do aluno. Revista e-Curriculum. 2016, 14(3), 864-897. Disponível em: mod.lk/ed18linh. Acesso em: 10 fev. 2020.

O novo Ensino Médio e a produção de sentidos

Trabalho em área: a integração em favor do desenvolvimento de competências e habilidades.

Texto: Marisa Balthasar e Shirley Goulart

Dentre as mudanças esperadas para o Novo Ensino Médio, os currículos precisarão garantir os direitos comuns de aprendizagem, nas diferentes áreas do conhecimento*, indicados pela BNCC. Eles configuram uma formação integral dos jovens, com desenvolvimento articulado de competências e habilidades cognitivas e socioemocionais.

Essa formação deverá promover ampliação da participação cidadã, ética e crítica; protagonismo em projetos de vida, com realizações pessoais e coletivas, maior autonomia nos estudos e escolhas para a inserção no mundo do trabalho.

Em vez das sequências de conteúdos disciplinares, os currículos oferecerão situações significativas de aprendizagem para o exercício e o aprimoramento de um conjunto de competências/habilidades, com mobilização de conhecimentos de diferentes ordens: conteúdos, conceitos, procedimentos e processos, atitudes e valores – os objetos de conhecimento.

A Lei n. 13.415/2017 determina as áreas do conhecimento em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; Ciências da Natureza; Linguagens e Matemática. A Lei traz flexibilidade para a arquitetura curricular das redes, mas fixa a obrigatoriedade do ensino de Língua Portuguesa e de Matemática em todos os anos do Ensino Médio. Assim, Língua Portuguesa tanto integra Linguagens, no desenvolvimento de competências e habilidades da área, como responde pelo desenvolvimento de outras mais específicas às práticas de linguagem com língua materna, como as que interessam para a formação do leitor literário ou para o uso reflexivo da argumentação, nas situações orais e multissemióticas em que predomina o argumentar.  *Lei n. 13.415/2017: as áreas do conhecimento”

Habilidade (em13lgg301) Participar de processos de produção individual e colaborativa em diferentes linguagens (artísticas, corporais e verbais), levando em conta suas formas e seus funcionamentos, para produzir sentidos em diferentes contextos.”

Em Linguagens e suas Tecnologias, a BNCC indica que no Ensino Médio deve-se retomar e aprofundar objetos de conhecimento da etapa anterior em favor de habilidades que, em progressão curricular, tornam-se mais complexas pelas ações cognitivas que demandam (interpretar, argumentar, avaliar, estabelecer relações etc.) e pelas práticas de linguagens dos diferentes campos de atuação que as mobilizam, exigindo usos mais críticos, reflexivos, autorais e colaborativos de linguagens, mídias e suas combinações. Espera-se mais autonomia dos estudantes como sujeitos dessas práticas, em especial nas das culturas juvenis, dos novos e dos multiletramentos. 

Quando alinhadas aos pressupostos da área (linguagens como interação; centralidade dos jovens como sujeitos das práticas; usos como base para reflexão, análise e novos usos) e focadas no desenvolvimento de habilidades/competências, as práticas dos diferentes componentes integram-se como práticas de área.

O que se espera no trabalho de Artes, Educação Física, Inglês e Língua Portuguesa é uma integração de “alicerce”, isto é, orientada por uma concepção teórico-metodológica da área e por isso nem sempre os componentes precisarão ter atividades “casadas”, o que acontecia em propostas interdisciplinares frágeis, em que cada componente respondia por uma ação isolada.

Na abordagem em área, para desenvolver a habilidade EM13lgg301, por exemplo, Educação Física poderá propor a experimentação de práticas corporais de diferentes matrizes culturais, problematizando e materializando o respeito ao outro, a colaboração, com inclusão. Arte poderá trabalhar a apreciação e criação com dança, teatro, música, artes visuais e/ou suas combinações, com mobilização de conhecimentos sobre as linguagens artísticas; escolhas, tomada de decisões, considerando intencionalidades e contextos culturais. Já em Língua Portuguesa e Língua Inglesa, processos de produção de textos e atos de linguagem, de autoria individual e coletiva, com mobilização de conhecimentos de recursos linguísticos e multissemióticos, reflexão sobre intencionalidades e efeitos de sentidos.

Assim, o desenvolvimento dessa habilidade pode ocorrer em variadas propostas de autoria coletiva e colaborativa, em atividades dos componentes ou em projetos e ações da área, articulando dimensões relevantes para a formação integral, como escuta interessada, empatia, diálogo em favor de deliberações e consensos, nas diferentes propostas de experimentação, criação e produção com as linguagens artísticas, corporais e verbais.

Observe-se que isso implica procedimentos comuns à área: definição e análise de contextos de produção, circulação e recepção de textos e atos de linguagem, reflexão sobre intencionalidades e valores, processos de criação, experimentação e produção de textos e atos de linguagem, problematização de escolhas de recursos das linguagens e possibilidades de sentidos.

Muitos poderão ser os caminhos para que a área configure a escola como espaço de vivência autoral, criativa, colaborativa, crítica, ética e poética das linguagens: oficinas de criação, coletivos de poesia e arte, manutenção de blogs literários ou revistas digitais, projetos de investigação, de pesquisa…  E as escolhas devem ser conectadas com expectativas, demandas, interesses juvenis, com foco nas competências/habilidades que os estudantes precisam desenvolver até o fim do Ensino Médio. Vale observar que uma prática pode favorecer várias habilidades, a depender de como é planejada, estruturada e mediada como situação didática.

Marisa Balthasar e Shirley Goulart

são autoras da coleção Singular & Plural, da Moderna.

Para saber mais

  • Ferramenta Base Nacional Comum Curricular Comentada – Linguagens, Instituto Reúna. Disponível em: mod.lk/linha18. Acesso em: 10 fev. 2020.

Veja outros conteúdos

Vídeo
Atualização prática para o professor
A formação do aluno começa sempre com o desenvolvimento do professor. Pensando nisso, criamos as Formações Educatrix,…
Artigo
A necessidade de resgatarmos na Educação a comunidade aprendente
Lidar com o cenário da pandemia principalmente na Educação tem sido desafiador ao mesmo tempo que nos apresenta maneiras diferentes de possibilitar novos caminhos a Educação.
E-book
Diálogo: escola-família
Clique em Saiba mais para ler este E-Book na íntegra.
Artigo
A importância dos jogos na educação emergencial
Os jogos sempre tiveram um lugar especial na educação

Todos transformadores

Todos transformadores

O empreendedorismo social colabora para a formação de jovens protagonistas na renovação e atualização do mundo.

O mundo hoje está em constante e acelerada transformação. Por um lado, está cada dia mais evidente a nossa profunda interdependência. Por outro, as revoluções tecnológicas e das comunicações afetam, como nunca, todas as dimensões de nossas vidas. São os jovens, em especial, que enfrentam o maior desafio face a essas mudanças, pois devem projetar suas vidas justamente nesse momento de transição.

Como podem encontrar soluções para um mundo que parece avançar mais rápido do que a nossa capacidade de responder ao que ele nos demanda? O jeito é fazer com que a quantidade de soluções exceda a quantidade de problemas e isso só é possível se todos nós formos sujeitos de transformação social positiva. Isso significa que precisamos desafiar o paradigma atual que ainda prepara as novas gerações para um mundo hierárquico, vertical, cindido em áreas e departamentos do saber e do fazer e orientado para a satisfação dos desejos e das necessidades individuais imediatos por meio da eficiência na repetição.

É face a essa virada civilizatória que o empreendedorismo social – um campo em construção nos últimos 40 anos – reafirma-se mais forte do que nunca ao atrair a atenção de diversos outros campos, especialmente a educação escolar.

Empreendedorismo social: modo de ser

A Ashoka, que cunhou o termo e ajudou a construir o campo, define o empreendedorismo social considerando os atributos e as qualidades que caracterizam o(a) empreendedor(a) social e sua ideia:

  • Seu perfil ou qualidade empreendedora: uma forte motivação para mover recursos de uma área de baixo para uma área de grande impacto social.
  • Possuir uma ou mais ideias inovadoras: novas abordagens para problemas sociais com o potencial de mudar um ou mais sistemas.
  • Ser criativo: ter a capacidade de solucionar problemas e sempre buscar saídas para obstáculos que encontra pelo caminho.
  • O impacto social de suas ideias: as mudanças sistêmicas resultantes de suas ações.
  • A fibra ética: para que esse impacto seja sempre orientado para o bem comum e alcançado por meios éticos.

Por esse conjunto de critérios já se percebe que o empreendedorismo social não é simplesmente algo que se faz, mas uma maneira de ser e estar no mundo. Por isso, se queremos que os aprendizados do empreendedorismo social contribuam com a educação escolar, precisamos ir muito além das abordagens mais utilitárias que o reduzem a um mero conjunto de conteúdos disciplinares. Ao contrário, é preciso voltar às suas origens: o que contribui para que as pessoas cultivem e desenvolvam as competências e habilidades que associamos ao empreendedor social?

Para responder a essa pergunta, a Ashoka realizou um diagnóstico de sua rede global de mais de 4.000 empreendedores sociais em 91 países. Ao olhar suas biografias, foram analisados os fatores que contribuíram para que eles, desde cedo, se dedicassem para o bem comum de maneira empreendedora. Dentre estes, cerca de 800 atuam diretamente com crianças e jovens e têm como objetivo principal contribuir para seu protagonismo social. Por isso também foram analisadas as suas estratégias e metodologias para compreender os principais fatores que contribuem para o sucesso de suas empreitadas.

01 – Desse estudo se pode observar quatro modos ou condições de existência dos empreendedores sociais:

  • Compreender a si mesmo: cultivar a consciência de suas paixões, motivações, habilidades e limitações, combinadas com o compromisso de trabalhar para melhorar a si mesmo.
  • Criar senso de propósito e autopermissão: desenvolver uma compreensão da mudança que se deseja ver no mundo e se permitir correr riscos para persegui-la.

02 – Modos de conhecer

  • Ler o mundo e compreender o campo social: saber como a transformação social acontece, conhecendo os principais caminhos para a mudança estrutural e sistêmica.
  • Conhecer a comunidade através do engajamento: criar relações horizontais com a comunidade e público para conhecer seus desafios e suas fortalezas.

03 – Modos de pensar

  • Pensar de maneira sistêmica: cultivar a capacidade de analisar um problema de maneira sistêmica e aprender a criar hipóteses sobre o que seria necessário para transformá-lo.
  • Definir problemas, projetar soluções: ser capaz de definir um problema e projetar uma solução que leve em consideração consequências intencionais e não intencionais.
  • Pensar criativamente: desafiar o pensamento para além do imediatismo do desafio em questão para visualizar o mundo como ele deveria ser.
  • Pensar com foco nos resultados: aprender a alinhar atividades e táticas com resultados mensuráveis a curto e longo prazo e traçar caminhos para o sucesso.

04 – Modos de conviver

  • Comunicar de forma clara e convincente: ser capaz de criar e comunicar novas narrativas ou paradigmas que anunciem as potências das novas soluções e mobilizem as pessoas.
  • Construir alianças e equipes: ser capaz de estabelecer conexões com colegas e equipes para formar arranjos transformadores capazes de aumentar o impacto social das soluções.

“Uma escola que garante diversos tipos de aprendizados contribui para os projetos de vida ao conectar aquilo que o mundo espera de nós com as nossas próprias potências e capacidades.

Educação transformadora

É o conjunto desses quatro modos que leva, finalmente, às formas de fazer que caracterizam o empreendedorismo social. Estes dependem de pelo menos quatro competências de uma educação transformadora:

  • Empatia: é a capacidade de conhecer seus próprios sentimentos e ideias, conhecer os sentimentos e ideias dos outros e, mais que isso, conectar-se com eles, saindo do eu para, a partir de outros olhares, adentrar uma visão mais abrangente e profunda do mundo. Só através dessa capacidade de estar verdadeiramente aberto àquilo que o outro apresenta, o indivíduo estará apto a refinar sua capacidade analítica, compreendendo diferentes contextos e, com isso, contribuir na busca por transformar o mundo.
  • Criatividade: apostar na força da criatividade é reconhecer os estudantes como sujeitos ativos de suas próprias aprendizagens, uma vez que só se aprende na interação com o mundo natural, social e cultural, na produção de conhecimento e cultura e não na assimilação e reprodução de conteúdos previamente elaborados. Além de valorizar a autoria dos estudantes, de estimular diferentes linguagens e formas de expressão, do incentivo para criar soluções novas para problemas, cultivar a criatividade é antes de tudo abrir espaço para o exercício cotidiano da liberdade.
  • Trabalho em equipe com liderança compartilhada: é a capacidade de cooperar e trabalhar em parceria, na diversidade, empreendendo ações conjuntas visando a resultados comuns. Ela se constrói principalmente através da vivência dos estudantes com seus pares, em grupos auto-organizados, em um ambiente democrático e ético, onde todos podem trazer contribuições e aprender juntos em nome do compromisso com o bem comum. As relações entre as pessoas mudaram e os modelos hierárquicos de liderança, marcados tradicionalmente pelo autoritarismo e pela rigidez, não têm mais espaço. A liderança hoje, mais do que nunca, deve ser compartilhada.
  • Protagonismo social: todos somos, em nossa essência, iniciadores. A cada nascimento, ressurge a esperança da renovação e transformação do mundo. Trata-se, portanto, de uma qualidade inerente ao ser humano, mas que deve ser cuidada para que floresça com vigor. Protagonismo social é a capacidade de tomar iniciativas para o bem comum, buscando ativamente engajamento coletivo. O protagonista social é aquele que reconhece sua potência e assume postura ativa nos processos de transformação da realidade, orientando-se para a resolução prática dos problemas.

Uma educação transformadora, portanto, é aquela que entende, cultiva e potencializa essas quatro competências em toda a comunidade escolar. Uma escola que garante as condições para esses tipos de aprendizados contribui para os projetos de vida das juventudes (como preconiza a competência geral 6 da bncc), mas em conexão com aquilo que o mundo espera de nós e a partir das suas próprias potências e capacidade de transformação.

Um mundo de pessoas que transformam

sse processo, tanto para as novas gerações quanto para a comunidade escolar como um todo, só pode ser uma jornada, uma caminhada. Ela parte, como vimos nos modos de existência empreendedora, da construção do “eu” (identidade), passando pelo encontro com o “outro” (alteridade), até chegar ao “nós” (comunidade). Por isso, quando me perguntam como as escolas podem contribuir para um mundo de pessoas que transformam, convido a olhar o aprendizado que vem das comunidades escolares que já fazem parte desse movimento: invariavelmente elas começam com uma jornada de descoberta de todos os membros da comunidade escolar, e especialmente das crianças e jovens, como sujeitos de transformação.

Mas não basta alguém se reconhecer como transformador: é preciso querer transformar o mundo. É o encantamento com o mundo que desperta a vontade de tomá-lo para si, cuidar dele e de tudo que nele existe. As competências transformadoras, combinadas com uma postura afetiva, ética e que coloca a autoria, a criação e a agência dos estudantes em primeiro lugar, ajudam a criar esse senso de responsabilidade pelo mundo e a fazer com que assumam um papel protagonista nas mudanças, renovações e cuidados demandados pelas diferentes realidades de hoje e de amanhã.

Flavio Bassi 

é antropólogo, educador popular e biólogo. Foi fundador e diretor executivo da Ocareté, atuando no campo socioambiental com povos indígenas e comunidades tradicionais, além de diretor regional da Ashoka para o sul da África. Atualmente é vice-presidente da Ashoka na América Latina, onde também dirige a sua estratégia de Infância e Educação.

Para saber mais

  • Ashoka: ashoka.org
  • Programa Escolas Transformadoras: escolastransformadoras.org.br
  • Série “Corações e Mentes: Escolas que Transformam”: www.videocamp.com/pt/playlists/coracoes-e-mentes-escolas-que-transformam  
  • Movimento de Inovação na Educação: movinovacaonaeducacao.org.br

Veja outros conteúdos

Vídeo
Atualização prática para o professor
A formação do aluno começa sempre com o desenvolvimento do professor. Pensando nisso, criamos as Formações Educatrix,…
Artigo
A necessidade de resgatarmos na Educação a comunidade aprendente
Lidar com o cenário da pandemia principalmente na Educação tem sido desafiador ao mesmo tempo que nos apresenta maneiras diferentes de possibilitar novos caminhos a Educação.
E-book
Diálogo: escola-família
Clique em Saiba mais para ler este E-Book na íntegra.
Artigo
A importância dos jogos na educação emergencial
Os jogos sempre tiveram um lugar especial na educação

Todos transformadores

O empreendedorismo social colabora para a formação de jovens protagonistas na renovação e atualização do mundo.

O mundo hoje está em constante e acelerada transformação. Por um lado, está cada dia mais evidente a nossa profunda interdependência. Por outro, as revoluções tecnológicas e das comunicações afetam, como nunca, todas as dimensões de nossas vidas. São os jovens, em especial, que enfrentam o maior desafio face a essas mudanças, pois devem projetar suas vidas justamente nesse momento de transição.

Como podem encontrar soluções para um mundo que parece avançar mais rápido do que a nossa capacidade de responder ao que ele nos demanda? O jeito é fazer com que a quantidade de soluções exceda a quantidade de problemas e isso só é possível se todos nós formos sujeitos de transformação social positiva. Isso significa que precisamos desafiar o paradigma atual que ainda prepara as novas gerações para um mundo hierárquico, vertical, cindido em áreas e departamentos do saber e do fazer e orientado para a satisfação dos desejos e das necessidades individuais imediatos por meio da eficiência na repetição.

É face a essa virada civilizatória que o empreendedorismo social – um campo em construção nos últimos 40 anos – reafirma-se mais forte do que nunca ao atrair a atenção de diversos outros campos, especialmente a educação escolar.

Empreendedorismo social: modo de ser

A Ashoka, que cunhou o termo e ajudou a construir o campo, define o empreendedorismo social considerando os atributos e as qualidades que caracterizam o(a) empreendedor(a) social e sua ideia:

  • Seu perfil ou qualidade empreendedora: uma forte motivação para mover recursos de uma área de baixo para uma área de grande impacto social.
  • Possuir uma ou mais ideias inovadoras: novas abordagens para problemas sociais com o potencial de mudar um ou mais sistemas.
  • Ser criativo: ter a capacidade de solucionar problemas e sempre buscar saídas para obstáculos que encontra pelo caminho.
  • O impacto social de suas ideias: as mudanças sistêmicas resultantes de suas ações.
  • A fibra ética: para que esse impacto seja sempre orientado para o bem comum e alcançado por meios éticos.

Por esse conjunto de critérios já se percebe que o empreendedorismo social não é simplesmente algo que se faz, mas uma maneira de ser e estar no mundo. Por isso, se queremos que os aprendizados do empreendedorismo social contribuam com a educação escolar, precisamos ir muito além das abordagens mais utilitárias que o reduzem a um mero conjunto de conteúdos disciplinares. Ao contrário, é preciso voltar às suas origens: o que contribui para que as pessoas cultivem e desenvolvam as competências e habilidades que associamos ao empreendedor social?

Para responder a essa pergunta, a Ashoka realizou um diagnóstico de sua rede global de mais de 4.000 empreendedores sociais em 91 países. Ao olhar suas biografias, foram analisados os fatores que contribuíram para que eles, desde cedo, se dedicassem para o bem comum de maneira empreendedora. Dentre estes, cerca de 800 atuam diretamente com crianças e jovens e têm como objetivo principal contribuir para seu protagonismo social. Por isso também foram analisadas as suas estratégias e metodologias para compreender os principais fatores que contribuem para o sucesso de suas empreitadas.

01 – Desse estudo se pode observar quatro modos ou condições de existência dos empreendedores sociais:

  • Compreender a si mesmo: cultivar a consciência de suas paixões, motivações, habilidades e limitações, combinadas com o compromisso de trabalhar para melhorar a si mesmo.
  • Criar senso de propósito e autopermissão: desenvolver uma compreensão da mudança que se deseja ver no mundo e se permitir correr riscos para persegui-la.

02 – Modos de conhecer

  • Ler o mundo e compreender o campo social: saber como a transformação social acontece, conhecendo os principais caminhos para a mudança estrutural e sistêmica.
  • Conhecer a comunidade através do engajamento: criar relações horizontais com a comunidade e público para conhecer seus desafios e suas fortalezas.

03 – Modos de pensar

  • Pensar de maneira sistêmica: cultivar a capacidade de analisar um problema de maneira sistêmica e aprender a criar hipóteses sobre o que seria necessário para transformá-lo.
  • Definir problemas, projetar soluções: ser capaz de definir um problema e projetar uma solução que leve em consideração consequências intencionais e não intencionais.
  • Pensar criativamente: desafiar o pensamento para além do imediatismo do desafio em questão para visualizar o mundo como ele deveria ser.
  • Pensar com foco nos resultados: aprender a alinhar atividades e táticas com resultados mensuráveis a curto e longo prazo e traçar caminhos para o sucesso.

04 – Modos de conviver

  • Comunicar de forma clara e convincente: ser capaz de criar e comunicar novas narrativas ou paradigmas que anunciem as potências das novas soluções e mobilizem as pessoas.
  • Construir alianças e equipes: ser capaz de estabelecer conexões com colegas e equipes para formar arranjos transformadores capazes de aumentar o impacto social das soluções.

“Uma escola que garante diversos tipos de aprendizados contribui para os projetos de vida ao conectar aquilo que o mundo espera de nós com as nossas próprias potências e capacidades.

Educação transformadora

É o conjunto desses quatro modos que leva, finalmente, às formas de fazer que caracterizam o empreendedorismo social. Estes dependem de pelo menos quatro competências de uma educação transformadora:

  • Empatia: é a capacidade de conhecer seus próprios sentimentos e ideias, conhecer os sentimentos e ideias dos outros e, mais que isso, conectar-se com eles, saindo do eu para, a partir de outros olhares, adentrar uma visão mais abrangente e profunda do mundo. Só através dessa capacidade de estar verdadeiramente aberto àquilo que o outro apresenta, o indivíduo estará apto a refinar sua capacidade analítica, compreendendo diferentes contextos e, com isso, contribuir na busca por transformar o mundo.
  • Criatividade: apostar na força da criatividade é reconhecer os estudantes como sujeitos ativos de suas próprias aprendizagens, uma vez que só se aprende na interação com o mundo natural, social e cultural, na produção de conhecimento e cultura e não na assimilação e reprodução de conteúdos previamente elaborados. Além de valorizar a autoria dos estudantes, de estimular diferentes linguagens e formas de expressão, do incentivo para criar soluções novas para problemas, cultivar a criatividade é antes de tudo abrir espaço para o exercício cotidiano da liberdade.
  • Trabalho em equipe com liderança compartilhada: é a capacidade de cooperar e trabalhar em parceria, na diversidade, empreendendo ações conjuntas visando a resultados comuns. Ela se constrói principalmente através da vivência dos estudantes com seus pares, em grupos auto-organizados, em um ambiente democrático e ético, onde todos podem trazer contribuições e aprender juntos em nome do compromisso com o bem comum. As relações entre as pessoas mudaram e os modelos hierárquicos de liderança, marcados tradicionalmente pelo autoritarismo e pela rigidez, não têm mais espaço. A liderança hoje, mais do que nunca, deve ser compartilhada.
  • Protagonismo social: todos somos, em nossa essência, iniciadores. A cada nascimento, ressurge a esperança da renovação e transformação do mundo. Trata-se, portanto, de uma qualidade inerente ao ser humano, mas que deve ser cuidada para que floresça com vigor. Protagonismo social é a capacidade de tomar iniciativas para o bem comum, buscando ativamente engajamento coletivo. O protagonista social é aquele que reconhece sua potência e assume postura ativa nos processos de transformação da realidade, orientando-se para a resolução prática dos problemas.

Uma educação transformadora, portanto, é aquela que entende, cultiva e potencializa essas quatro competências em toda a comunidade escolar. Uma escola que garante as condições para esses tipos de aprendizados contribui para os projetos de vida das juventudes (como preconiza a competência geral 6 da bncc), mas em conexão com aquilo que o mundo espera de nós e a partir das suas próprias potências e capacidade de transformação.

Um mundo de pessoas que transformam

sse processo, tanto para as novas gerações quanto para a comunidade escolar como um todo, só pode ser uma jornada, uma caminhada. Ela parte, como vimos nos modos de existência empreendedora, da construção do “eu” (identidade), passando pelo encontro com o “outro” (alteridade), até chegar ao “nós” (comunidade). Por isso, quando me perguntam como as escolas podem contribuir para um mundo de pessoas que transformam, convido a olhar o aprendizado que vem das comunidades escolares que já fazem parte desse movimento: invariavelmente elas começam com uma jornada de descoberta de todos os membros da comunidade escolar, e especialmente das crianças e jovens, como sujeitos de transformação.

Mas não basta alguém se reconhecer como transformador: é preciso querer transformar o mundo. É o encantamento com o mundo que desperta a vontade de tomá-lo para si, cuidar dele e de tudo que nele existe. As competências transformadoras, combinadas com uma postura afetiva, ética e que coloca a autoria, a criação e a agência dos estudantes em primeiro lugar, ajudam a criar esse senso de responsabilidade pelo mundo e a fazer com que assumam um papel protagonista nas mudanças, renovações e cuidados demandados pelas diferentes realidades de hoje e de amanhã.

Flavio Bassi 

é antropólogo, educador popular e biólogo. Foi fundador e diretor executivo da Ocareté, atuando no campo socioambiental com povos indígenas e comunidades tradicionais, além de diretor regional da Ashoka para o sul da África. Atualmente é vice-presidente da Ashoka na América Latina, onde também dirige a sua estratégia de Infância e Educação.

Para saber mais

  • Ashoka: ashoka.org
  • Programa Escolas Transformadoras: escolastransformadoras.org.br
  • Série “Corações e Mentes: Escolas que Transformam”: www.videocamp.com/pt/playlists/coracoes-e-mentes-escolas-que-transformam  
  • Movimento de Inovação na Educação: movinovacaonaeducacao.org.br

Veja outros conteúdos

Vídeo
Atualização prática para o professor
A formação do aluno começa sempre com o desenvolvimento do professor. Pensando nisso, criamos as Formações Educatrix,…
Artigo
A necessidade de resgatarmos na Educação a comunidade aprendente
Lidar com o cenário da pandemia principalmente na Educação tem sido desafiador ao mesmo tempo que nos apresenta maneiras diferentes de possibilitar novos caminhos a Educação.
E-book
Diálogo: escola-família
Clique em Saiba mais para ler este E-Book na íntegra.
Artigo
A importância dos jogos na educação emergencial
Os jogos sempre tiveram um lugar especial na educação

Educar para viver em sociedade

Educar para viver em sociedade

Educação em valores deve ser coletiva, prioritária e intencional.

Professor, gestor escolar e doutor em Psicologia pela Universidade de Valladolid (Espanha), José María Avilés Martinez é uma referência global em estratégias de combate ao bullying, ao cyberbullying e aos diferentes fenômenos que afetam a convivência escolar. Tendo como base seu trabalho em Valladollid, Martinez tem colaborado com grupos de pesquisa no Brasil e acompanhado pessoalmente a implantação de suas ideias, traduzidas na metodologia Prires. Em sua última visita ao país, a Educatrix foi conhecer mais sobre a metodologia e o trabalho do educador.

Educatrix: A agenda de temas urgentes em educação é ampla em todo o mundo. Entre tantas prioridades, qual é o lugar da educação em valores e do tema da convivência escolar?

José María Avilés Martinez: O trabalho das escolas no campo dos valores é crucial e deve ser central, porque se trata de um tema transversal que impregna a atuação de todos os agentes educativos. Em uma sociedade democrática, que demanda da escola a formação de cidadãos para o futuro, é imprescindível que a escola exerça esse mandato de forma consciente. Por isso, é importante explicitar a educação em valores como uma tarefa planejada, intencional e compartilhada por todos de forma colaborativa, sejam famílias, professores ou o próprio alunado.

Educatrix: A convivência escolar permite aprender sobre valores?

J.M.A.M. Sim! A convivência escolar é um ambiente privilegiado por colocar em jogo esses valores. Ao pô-los em prática, permite-se aprendê-los a partir de situações espontâneas e habituais, como conflitos, ou por meio de circunstâncias planejadas, que trabalham intencionalmente valores como o respeito, a solidariedade, a tolerância e a igualdade. Uma escola pode, por meio de seu Plano de Convivência e das atuações a partir dele, planejar o trabalho em valores com reflexões e debates coletivos de suas experiências, propondo práticas sistematizadas com o uso das melhores estratégias.

Educatrix: Qual é a melhor definição de bullying e como diferenciá-lo do cyberbullying?

J.M.A.M. Trata-se do mesmo fenômeno, embora com diferenças decisivas. Em ambos existem três componentes definidores: o desequilíbrio de poder que torna o agressor mais forte que sua vítima (física, social, digital ou psicologicamente); a intencionalidade expressa em situações planejadas para causar dano; e a recorrência ou a repetição que leva os atores a persistirem em um cenário em que ambos ocupam posições de domínio ou submissão diante dos olhos de testemunhas. Assim, a definição de assédio pode ser maus-tratos repetidos entre jovens em idade escolar, mantidos ao longo do tempo, quase sempre longe dos olhos dos adultos, com a intenção de humilhar e sujeitar abusivamente uma vítima indefesa por um agressor ou grupo com resultados de vitimização psicológica e rejeição de grupo. Já o cyberbullying acontece quando um sujeito recebe repetidas agressões abusivas por meio de mídias móveis ou ambientes virtuais, com o objetivo de prejudicá-lo e a seu status social, reduzir as chaves socioemocionais e tirar proveito do anonimato. A vítima está em uma posição ainda pior do que no bullying com relação àqueles que a maltratam. Quem sofre vitimização tem menos segurança, menos controle e mais imprevisibilidade. Quem pratica o abuso deixa de reconhecer os sentimentos da vítima por agir do outro lado de uma tela, não recebe feedback do sofrimento e isso torna deficitário o 

O pilar decisivo é a intenção educacional das ações implementadas, um olhar que permite construir processos a partir dos alunos, do que são, do que têm, do que sentem e com um impacto explícito no que os motiva e os preocupa.

Seu pensamento sobre as consequências de seus atos. Contextualmente, o cyberbullying aumenta o número de testemunhas e prolonga a permanência do dano enquanto as imagens ou os vídeos ofensivos ainda forem propagados na rede.

Educatrix: Há uma tendência a piorar o problema do cyberbullying?

J.M.A.M. É importante abordar o fenômeno educacionalmente, porque se nada for feito os problemas podem aumentar e os sujeitos envolvidos podem se sentir muito mal e procurar soluções enganosas de fuga. Até agora, o que muitas escolas fizeram foi proibir dispositivos em seu ambiente; outras permitem o seu uso, mas mantêm uma distância educativa que não fornece pistas ou critérios para o relacionamento que os jovens estabelecem. A atuação da instituição deve ser proativa e preventiva, fornecendo critérios razoáveis ​​para os alunos tomarem decisões corretas na gestão de seus relacionamentos na internet. Com as famílias, é preciso ter diretrizes de suporte e supervisão do relacionamento com os dispositivos, regulando o tempo, o conteúdo e os locais de uso. Com o corpo docente, no currículo escolar, apoiar o uso positivo das redes sociais para a aprendizagem dos alunos e para o trabalho colaborativo. Esse conjunto de ações vale tanto para o enfrentamento dos riscos da rede, como para uma utilização saudável desses dispositivos digitais pelos alunos, para que se tornem autônomos, independentes, respeitosos e felizes em usá-los.

Educatrix: O bullying é um problema estritamente escolar?

J.M.A.M. O bullying não é um fenômeno estritamente escolar. Acontece na escola, sim, mas como um reflexo da própria sociedade. Na escola, chamamos isso de bullying entre iguais; na família, de violência de gênero, abuso de idosos ou abuso de crianças; no local de trabalho, chamamos de assédio moral. Poderíamos continuar em outros setores sociais ou políticos, colocando rótulos diferentes em processos semelhantes. Trata-se de um problema social de se exercer o poder de maneira abusiva, de violência replicada em diferentes espaços de relacionamento. Portanto, a reflexão sobre intimidação e maus-tratos entre iguais nos leva a um pensamento mais geral, sobre como concebemos nossos relacionamentos interpessoais, sobre como exercemos poder e que espaço damos aos direitos de outras pessoas em nossa interação. Em resumo, devemos pensar em como colocamos em jogo os valores do relacionamento e da convivência democrática em nossos ambientes próximos. Se a escola deve continuar a ser um motor de transformação social, é a partir dela que vamos trabalhar para a construção de valores de solidariedade, respeito, justiça e igualdade, modelos de relacionamentos interpessoais saudáveis, em que a cultura do cuidado e da ajuda impere frente à imposição e ao abuso.

Educatrix: Como pesquisador, diretor e educador, você construiu uma visão multidisciplinar sobre o cyberbullying que resultou em uma metodologia de referência. O que diz essa metodologia?

J.M.A.M. Apresentei recentemente o Prires, um programa educacional para orientar a gestão de redes sociais e em situações de cyberconvivência que está sendo aplicado nas escolas espanholas com a colaboração de famílias, professores e até estudantes que atuam como tutores de seus companheiros mais jovens. Fundamentalmente, essa abordagem multidisciplinar me ajudou a ter uma perspectiva de trabalho muito coletiva, colaborativa e participativa com os colégios que assessoro e com os diferentes agentes educacionais. Assim, trabalhamos com os professores em estruturas como as equipes de convivência e os tutores, e entre os alunos com estruturas criadas por nós, como equipes de ajuda ou equipes de mediação. A orientação sobre bullying e cyberbullying baseia-se no trabalho preventivo de valores e convivência escolar. É um caminho de ida e de volta. Valores e boa convivência são trabalhados para evitar o assédio moral e, ao mesmo tempo, temos estratégias específicas para lidar com o abuso de colegas, porque sabemos que apenas trabalhar na convivência escolar não é suficiente.

Educatrix: Quais são os pilares do seu trabalho?

J.M.A.M. Os pilares fundamentais são: o trabalho proativo e preventivo contra medidas reativas; a construção de estratégias de equipe que promovam ações coletivas previamente debatidas e acordadas contra soluções individualistas; a implementação de processos de baixo para cima, ou seja, que surgem da necessidade das equipes que tomam decisões e que tornam suas respostas originais e não repetíveis, sempre projetadas para os problemas da própria escola. Por fim, o pilar decisivo é a intenção educacional das ações implementadas, um olhar que permite construir processos a partir dos alunos, do que são, do que têm, do que sentem e com um impacto explícito no que os motiva e os preocupa. O envolvimento dos estudantes na solução de seus problemas é uma condição indispensável. Sem dúvida, também é preciso uma visão recíproca: os professores e os adultos precisam acreditar no lado positivo dos alunos para ajudá-los a alcançar seus próprios objetivos.

Educatrix: Quais os primeiros passos para uma escola que, a partir de agora, quer resolver a questão do bullying?

J.M.A.M. Em geral, começar por estratégias conjuntas, porque o assédio e a intimidação são abordáveis quando os enfrentamos de maneira coordenada, levando em consideração a perspectiva e a cultura das famílias, a liderança e o conhecimento dos professores e equipes de gestão das escolas e o protagonismo dos estudantes como um grupo que não permite que comportamentos de assédio sejam instalados na sua própria cultura de convivência. Depois, aumentar a conscientização sobre a importância de trabalhar juntos para resolver o problema. É necessária sinergia entre professores, famílias e estudantes para que sejam competentes para dar uma resposta eficaz a essas situações e/ou atos de intimidação; construir protocolos e medidas preventivas para impedir que as ações de abuso se tornem fortes em contextos em que o silêncio e o consentimento prevalecem. Essas ações só são possíveis ao refletirmos como comunidade educacional na implementação de valores positivos que vão contra os valores de intimidação, como imposição, abuso, medo, coerção ou desrespeito. Trabalhar valores como tolerância, coragem, empatia, compaixão, assertividade e solidariedade dentro dos grupos faz com que a sala de aula adote outras atitudes e exemplos, que se tornam predominantes no discurso institucional da escola e no discurso informal dos alunos, ocupando o espaço, o tempo e os idiomas do grupo.

Educatrix: Você visitou escolas brasileiras e trabalhou com pesquisadores daqui. O desafio brasileiro é semelhante ao enfrentado em outros países?

J.M.A.M. Cada país tem seus desafios, suas vantagens e desvantagens, dependendo do seu desenvolvimento educacional e de sua cultura escolar. Nos últimos anos, transferimos para algumas escolas e grupos de pesquisa metodologias de convivência que estão obtendo resultados muito bons. Esses dados revelam diferenças entre os estudantes de nossos países em relação à adesão a valores como justiça, respeito, solidariedade e convivência democrática, em geral, justificados pelos diferentes trabalhos dos sistemas educativos sobre valores e pelas diferenças na sistematização das tarefas do corpo docente para promover a convivência escolar. O Brasil, como outros países, enfrenta um desafio de trabalhar este tema, a fim de generalizar estratégias educacionais eficazes e conscientizar os professores e as equipes de gestão sobre seu papel decisivo na implementação dos Planos de Convivência e no trabalho em valores.

Educatrix: Como adotar a abordagem que você propõe?

J.M.A.M. As escolas devem se olhar e se encontrar. Cada escola tem valor em si mesma para a tomada de boas decisões. É verdade que muitas escolas precisam de força, orientação e treinamento de pessoas que já fizeram essa jornada com outros grupos e que conhecem as etapas para alcançar os objetivos propostos. Estamos dispostos a ajudá-las nesse trânsito. O importante, mais do que o ponto de destino, são os processos que a própria escola constrói entre seus pares nessa viagem. Mas insisto, é necessário contar com as pessoas que formam a escola; sem elas, a viagem em si não será possível, nem se construirá qualquer coisa. Assessoramos e formamos equipes de gestão e de professores que desejam implementar planos de convivência ou projetos antibullying. Fornecemos materiais de formação e professores profissionalmente competentes em convivência em diferentes perspectivas e técnicas de trabalho que possibilitam a internalização dos valores democráticos nas escolas. No entanto, isso só será possível se os membros da comunidade escolar se envolverem, quiserem mudar o que fazem e procurar saídas ponderadas para seus problemas de coexistência e para a construção de valores futuros.

Educatrix: Qual é a relação entre educação em valores, qualidade de convivência e desempenho acadêmico?

J.M.A.M. Existem vários estudos que apoiam essa ideia e várias instâncias educativas já reconhecem na certificação acadêmica das qualificações dos alunos sua participação em ações relacionadas à promoção de valores e à construção de uma convivência positiva em seu entorno. Isso também se deve à demanda das empresas que buscam em seus colaboradores novas habilidades além do desempenho acadêmico de egressos, como a capacidade de trabalhar em grupo, a competência para resolver problemas de perspectivas inovadoras ou criativas ou habilidades para se colocar no lugar do outro. Finalmente, estudos recentes como o da Fundação BBVA sobre boas práticas educacionais na Espanha ou o estudo realizado por mim na Universidade de Valladolid, em escolas de Castilla e León, fornecem dados a esse respeito. As pesquisas identificam o trabalho em valores como um dos indicadores relevantes para o desempenho acadêmico, a eficácia e o sucesso escolar entre os alunos das escolas, que estão cada vez mais preocupadas em incluir em seu planejamento estratégico a implementação de valores para a construção da convivência democrática.

Para saber mais

  • MARTINEZ, J. Bullying: guia para educadores. Campinas: Mercado de Letras, 2013.
  • MARTINEZ, J. Educar en las Redes Sociales. Programa preventivo PRIRES. Bilbao: Desclée de Brouwer, 2018.
  • MARTINEZ, J.; PETTA, R. Los Sistemas de Apoyo entre Iguales (SAI) para el fomento de la convivencia en positivo, la mejora del clima de aula y la prevención de situaciones de bullying: La experiencia de Brasil y de España. European Journal of Child Development, Education and Psychopathology, v. 6, n. 1, p. 5-17, 2018. Disponível em: mod.lk/aviles. Acesso em: 9 fev. 2020.

Veja outros conteúdos

Vídeo
Atualização prática para o professor
A formação do aluno começa sempre com o desenvolvimento do professor. Pensando nisso, criamos as Formações Educatrix,…
Artigo
A necessidade de resgatarmos na Educação a comunidade aprendente
Lidar com o cenário da pandemia principalmente na Educação tem sido desafiador ao mesmo tempo que nos apresenta maneiras diferentes de possibilitar novos caminhos a Educação.
E-book
Diálogo: escola-família
Clique em Saiba mais para ler este E-Book na íntegra.
Artigo
A importância dos jogos na educação emergencial
Os jogos sempre tiveram um lugar especial na educação

Até onde vai o impacto da inovação na educação

Até onde vai o impacto da inovação na educação

De novas tecnologias e práticas na melhoria do aprendizado em diferentes países.

Quando se discute a necessidade de inovar em sala de aula para desenvolver com os estudantes de hoje as habilidades que eles vão precisar no futuro, uma das grandes dificuldades que se encontra é saber onde, como e qual a efetividade das inovações educacionais. A inovação na educação pode ser vista como indutora de mudanças nos sistemas educacionais pelo mundo? Qual o papel da tecnologia nesse processo? Para responder essas e outras questões, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) divulgou o relatório Measuring Innovation in Education 2019 (“Medindo a Inovação na Educação”, em livre tradução).

De acordo com a publicação, que examinou 139 práticas de ensino fundamental e médio em bancos de dados como o PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), TIMMS (Tendências Internacionais nos Estudos de Matemática e Ciência) e o PIRLS (Estudo Internacional sobre o Progresso do Letramento em Leitura), mensurar a inovação e entender como ela funciona é essencial para melhorar a qualidade dos sistemas. Mesmo sem ter informações sobre o Brasil, com o estudo em mãos formuladores de políticas públicas podem saber o que está dando certo no exterior para ter um melhor respaldo na hora de realizar intervenções e direcionar os recursos.

Para avaliar inovações na educação, o documento parte de três perspectivas: comparação da educação com outros setores, identificação de mudanças significativas nos sistemas educacionais e construção de métricas para verificar a relação entre a inovação e as mudanças nos resultados educacionais.

Antes de descrever os resultados, primeiro é importante determinar o que é inovação em educação, segundo a OCDE. “Inovação está relacionada à adoção de novos serviços, tecnologias, processos e competências por instituições de ensino que levem à melhora de aprendizagem, equidade e eficiência”, diz o documento.

Apesar das inovações serem moderadas, alunos de sistemas dentro da média da OCDE têm experimentando diferentes práticas de ensino e aprendizagem em comparação aos seus pares nos últimos dez anos. Entre uma das maiores mudanças, está a aquisição de conhecimento independente, já que mais estudantes usam computadores e podem buscar informações para ampliar as discussões em sala de aula.

Ainda que as inovações não estejam necessariamente relacionadas ao uso de tecnologia, o documento destaca que as TICs (Tecnologias da informação e Comunicação) têm se apresentado como um importante motor de mudança.

Entre os professores, o relatório também apresentou mudanças práticas. A proporção de docentes que participaram nas últimas décadas de atividades de aprendizagem entre pares aumentou, enquanto o treinamento formal permaneceu estável.

O documento aponta que a inovação não deve ser vista como um fim, mas como um meio de melhorar resultados educacionais. Em média, os países avaliados que mudaram suas práticas pedagógicas conseguiram melhorar os resultados acadêmicos dos estudantes e aumentaram o nível de satisfação e diversão na escola.

Na hora de indicar o que impulsiona a inovação, o documento aponta seis fatores de destaque: Recursos humanos: habilidades e abertura para inovação por parte de atores do setor educacional; Organização de aprendizagem: organização e capacidade das instituições para gerar conhecimento e aprimorar práticas.

“Inovação está relacionada à adoção de novos serviços, tecnologias, processos e competências por instituições de ensino que levem à melhora de aprendizagem, equidade e eficiência”

Tecnologia: aplicação de tecnologias na educação, particularmente de big data. Regulação e organização do sistema: a inovação só ganha força em ambientes onde boas ideias podem ser implementadas e não são encobertas por diretrizes com muita aversão ao risco para currículos ou processos de avaliação. Pesquisa educacional: o investimento em pesquisa e avaliação é considerado um elemento chave para o ecossistema de inovação. Desenvolvimento educacional: como acontece em outros setores, a educação também deve buscar desenvolver ferramentas inovadoras, organizações e processos para melhorar e mudar suas práticas.

A seguir, selecionamos algumas conclusões do estudo a partir da associação entre inovação e resultados acadêmicos, além do peso do investimento financeiro. Trata-se de uma maneira de ajudar atores em diferentes níveis do processo educativo a entender se as mudanças estão se traduzindo em melhoria nas escolas e salas de aula, bem como se estão em linha com o que foi planejado inicialmente.

Resultados acadêmicos

Fundamental 1: No ensino fundamental, o mesmo professor geralmente ensina todas as áreas do conhecimento, o que sugere que a inovação pode ter um efeito interdisciplinar e estar vinculada a todos os resultados da aprendizagem. Isso acontece positivamente tanto em letramento, quanto em matemática e ciências.

Fundamental 2 e Médio: Existe uma pequena associação positiva entre a inovação nas práticas de ensino e a mudança média nos resultados da aprendizagem em matemática e ciências. Como existe um professor para cada área, há menos chance de fertilização cruzada entre inovação em matemática e educação em ciências. A inovação no ensino de ciências tem sido positivamente associada com a melhoria dos resultados da aprendizagem na última década, enquanto que com a inovação na educação matemática isso não acontece. Isso nos lembra que a inovação não leva necessariamente a uma melhoria nos resultados desejados, exatamente como as reformas políticas às vezes falham. Por outro lado, também reforça o tempo necessário para que a inovação produza seus efeitos.

Investimentos financeiros

A inovação na educação pode ser feita com poucos ou muitos recursos. A conectividade e o uso pedagógico de TICs durante as aulas pode depender de um determinado nível de equipamento e infraestrutura, além da formação de equipes técnicas. Dada a estabilidade e até mesmo a pequena diminuição no acesso às TICs, não se deve esperar investimento em larga escala. Algumas inovações podem requerer formação de professores, mas também demandar a participação em cursos informais, que também envolvem algum custo (como o tempo da equipe).

Mudar as práticas de ensino e aprendizagem pode demandar novos conhecimentos, crenças ou atitudes, e isso pode exigir algum investimento para: produção de novos conhecimentos, comunicação, facilitação da aprendizagem entre pares, por meio de posts no blog da escola ou revisões sistemáticas de evidências existentes, ou ainda reuniões internas da escola e a participação em conferências promovidas por outras organizações.

Texto Marina Lopes e Vinicius de Oliveira, do Portal Porvir

Veja outros conteúdos

Vídeo
Atualização prática para o professor
A formação do aluno começa sempre com o desenvolvimento do professor. Pensando nisso, criamos as Formações Educatrix,…
Artigo
A necessidade de resgatarmos na Educação a comunidade aprendente
Lidar com o cenário da pandemia principalmente na Educação tem sido desafiador ao mesmo tempo que nos apresenta maneiras diferentes de possibilitar novos caminhos a Educação.
E-book
Diálogo: escola-família
Clique em Saiba mais para ler este E-Book na íntegra.
Artigo
A importância dos jogos na educação emergencial
Os jogos sempre tiveram um lugar especial na educação

Inteligência emocional digital: o que é e como desenvolvê-la

Inteligência emocional digital: o que é e como desenvolvê-la

Em tempos de profundas transformações nas quais os mundos físico, digital e biológico se misturam e os seres humanos e as máquinas se relacionam de forma cada vez mais próxima, precisamos desenvolver uma inteligência emocional digital para enfrentar novos desafios e aproveitar oportunidades inéditas de aprendizado e de crescimento.

Nas últimas décadas a nossa vida vem rapidamente se tornando digital. Estamos a todo momento não somente utilizando diversas tecnologias como também sendo, sem perceber, profundamente influenciados por elas. Vivemos rodeados de tecnologias digitais acessíveis, intuitivas, disruptivas e extremamente atraentes, o que nos coloca em uma posição ao mesmo tempo de poder e de vulnerabilidade. Munidos de ferramentas tão eficazes, somos capazes de desenvolver produtos e serviços que podem resolver problemas graves nos cantos mais remotos do mundo. Por outro lado, essas tecnologias têm o potencial de nos trazer riscos perigosos e difíceis de prever e manejar.

A iminência da Quarta Revolução Industrial está nos impondo reflexões e atitudes que permeiam todo o cenário digital, pois já começamos a observar transformações profundas em vários níveis da sociedade. Dentro dessa revolução, novas formas de produzir, de consumir e de se relacionar com as pessoas e com as coisas devem fazer com que a sociedade passe a ser mediada pela mobilidade, pela alta conectividade e por tecnologias digitais muito complexas que dissolverão as diferenças entre os seres humanos e as máquinas. Robôs companheiros, brinquedos inteligentes e tecnologias assistivas já são uma realidade e tendem a invadir o mercado nos próximos anos com a promessa de nos entender e nos ajudar em inúmeros aspectos do nosso cotidiano.

O fenômeno chamado “Figital” mostra que, pouco a pouco, a fronteira entre o mundo físico e o digital se confunde e dá lugar a novas formas de relacionamento entre as pessoas, a jeitos inéditos de aprender e de ensinar, a novos desafios éticos e a diferentes maneiras de se posicionar no mundo.

Há alguns anos construímos uma presença digital que começa a fazer parte da nossa identidade pessoal. Nossas experiências digitais estão moldando a nossa personalidade e abrindo caminhos para novas formas de trabalho e de desenvolvimento pessoal.

Como eu devo me comportar nas redes sociais? Como navegar na internet de forma segura e responsável? Quais ferramentas tecnológicas darão suporte ao meu trabalho? Como posso usar a tecnologia para o meu bem-estar? De que forma as tecnologias avançadas afetarão a humanidade?

Cada vez mais, tais questionamentos fazem parte do nosso modelo mental e são absolutamente necessários para a evolução das sociedades. Dentro deste contexto ultratecnológico, como podemos aproveitar as oportunidades e nos proteger de possíveis riscos?

É urgente entendermos melhor o papel das tecnologias no nosso bem-estar e na evolução do mundo. Para isso, o conceito de “sabedoria digital”, proposto por Marc Prensky em 2012, pode ser útil. Para ele, sabedoria significa a habilidade de encontrar soluções práticas, criativas, adequadas aos diferentes contextos e emocionalmente satisfatórias para problemas complexos. Segundo o autor, a “sabedoria baseada em tecnologia” é um conceito duplo, pois se refere tanto à sabedoria adquirida a partir do uso da tecnologia digital quanto àquela que usa a tecnologia para melhorar as nossas capacidades inatas como seres humanos.

Com o avanço nas pesquisas e no desenvolvimento de máquinas inteligentes, a combinação entre as tecnologias avançadas e a mente humana pode resultar em um cérebro capaz de pensar melhor, de tomar decisões mais assertivas e de fazer escolhas mais adequadas. Porém, devemos nos perguntar se esta fusão mente-máquina poderá nos distanciar da nossa essência humana, da nossa capacidade de amar, de cuidar, de sentir a dor do outro e de ajudar as pessoas sem pedir nada em troca. Para atingirmos uma sabedoria digital e mantermos o lado bom do ser humano, precisamos ser emocionalmente inteligentes com relação às tecnologias e ao ambiente virtual.

Desenvolvendo a inteligência emocional digital

Muito se fala da necessidade de desenvolver uma inteligência emocional para lidar com as complexidades do mundo atual. Entender as próprias emoções, trabalhar em grupo, resolver problemas, ser criativo e tomar decisões adequadas são alguns exemplos de competências mais do que urgentes atualmente. No entanto, é necessário ampliar os horizontes e transpor estas habilidades também para o âmbito digital. Em 2016, o Fórum Econômico Mundial propôs o termo “Inteligência Emocional Digital” como um dos pilares de uma habilidade mais ampla e essencial no século XXI: a inteligência digital. Todavia, a definição do termo ficou restrita à noção de ser empático e capaz de construir bons relacionamentos on-line. Desta forma, iremos abordar o conceito de “Inteligência Emocional Digital” como um conjunto de habilidades que abrange alguns pontos:

  • 1. Conhecimento da linguagem das tecnologias que usamos.
  • 2. Abertura para aprender e incluir novas tecnologias no cotidiano.
  • 3. Entendimento sobre os próprios hábitos tecnológicos e comportamentos nas redes sociais.
  • 4. Gestão das emoções quando estamos on-line.
  • 5. Reflexão sobre o impacto das tecnologias no desenvolvimento pessoal.
  • 6. Comunicação eficaz e respeitosa nos canais digitais.
  • 7. Empatia com o comportamento e as emoções dos outros em ambientes virtuais.
  • 8. Habilidade de se relacionar on-line e com as tecnologias de forma sensata, cuidadosa e ética.
  • 9. Desenvolvimento de uma visão crítica sobre os conteúdos produzidos e compartilhados na internet.
  • 10. Criação de uma estratégia sobre o próprio posicionamento nas redes sociais, considerando os objetivos de vida e profissional.
  • 11. Criatividade para gerar tecnologias que atendam às necessidades humanas.
  • 12. Compreensão do impacto social e global das novas tecnologias na evolução da humanidade.

A partir deste conjunto de habilidades, devemos criar uma atitude constante de reflexão e ação para aperfeiçoar e ampliar a nossa inteligência emocional digital e a nossa sabedoria digital. A seguir, vamos conhecer quatro esferas interdependentes em que diferentes habilidades para a vida digital devem ser desenvolvidas para lidarmos com as oportunidades e com os desafios impostos pela Quarta Revolução Industrial: Eu Digital, Família Digital, Escola Digital e Mundo Digital.

EU DIGITAL

O Eu Digital se refere ao indivíduo e à sua relação pessoal com o ambiente digital e com o uso das tecnologias. Nesta esfera, podemos exercitar o autoconhecimento e a gestão das próprias emoções no ambiente digital. Reflexões do tipo “Como eu me sinto ao lidar com esta ferramenta tecnológica? Que tipo de emoções a internet e as redes sociais evocam em mim? De quais redes sociais eu devo participar e por quê?” são essenciais para o desenvolvimento de uma inteligência emocional digital. Outros elementos importantes para o Eu Digital são a manutenção de hábitos pessoais digitais seguros e sem excessos; e a construção de uma identidade digital coerente com as atitudes e os valores que exercemos no cotidiano. Além disso, é importante termos a consciência do rastro digital que deixamos ao usar a internet e pesquisar sobre quais tecnologias podem auxiliar na organização do nosso cotidiano e bem-estar geral. Desta forma, vamos construindo uma saúde mental digital.

FAMÍLIA DIGITAL

Família Digital é a esfera que abrange a cultura familiar e os hábitos tecnológicos da família como um todo. Os pais têm um papel fundamental na educação digital dos filhos, tanto para orientá-los com relação aos benefícios e riscos das tecnologias, como também para criar uma rotina on-line saudável. Além disso, os adultos da família devem servir como modelo e inspiração para as crianças a partir das suas atitudes. Abertura para o uso de novas tecnologias, reflexão sobre os hábitos tecnológicos, compreensão das próprias emoções on-line, diálogo sobre os assuntos ligados ao âmbito digital, proteção no ambiente virtual e pesquisa sobre novas tecnologias que podem ser úteis são diretrizes importantes para criarmos crianças e adolescentes capazes de serem responsáveis e independentes no mundo digital. Afinal de contas, as novas gerações tendem a conhecer melhor do que os adultos as inovações tecnológicas e as suas formas de uso. Independência com responsabilidade continuará sendo um alicerce indispensável na formação dos jovens.

ESCOLA DIGITAL

A esfera da Escola Digital abrange aspectos relacionados às políticas públicas em educação e tecnologia, à cultura digital da escola e às estratégias de ensino e aprendizagem digitais. Questões sobre a infraestrutura de internet da escola, as tecnologias usadas, o ensino de programação, a implementação de programas de cidadania digital, a gestão de conflitos on-line envolvendo alunos e a integração do brincar com tecnologias que tornem o aprendizado mais eficaz são alguns dos pilares desta esfera. A escola tem um papel importante em trazer discussões mais amplas sobre as tecnologias e as necessidades do mundo, incentivando projetos que envolvam não somente a criação de conteúdo digital como o desenvolvimento de iniciativas práticas que resolvam problemas reais. Estas atividades têm o potencial de formar alunos capazes de serem agentes de transformação social, de pensar de forma global e crítica e de manter uma atitude de constante aprendizado.

MUNDO DIGITAL

Na esfera do Mundo Digital, podemos desenvolver a inteligência emocional digital por meio da capacidade de refletir e agir sobre os impactos globais das novas tecnologias. Questões como o monitoramento constante das pessoas, o desemprego em massa, a exclusão digital, a ética na criação e na aplicação de novas tecnologias e o uso tecnológico para solução de problemas globais precisam fazer parte da consciência e da preocupação das pessoas. Os dilemas éticos e filosóficos ligados a tais questões precisam ser cuidadosamente analisados para que possamos entender quais caminhos queremos para a humanidade a partir da evolução tecnológica. Portanto, precisamos urgentemente levar essas discussões para as escolas e para dentro de casa a fim de ajudar as novas gerações a mapear diferentes cenários futuros, a antecipar problemas complexos, a evitar perigos irreversíveis e a vislumbrar novas oportunidades de vida que estejam alinhadas com as suas aspirações individuais, com as necessidades dos seres humanos e com as carências do mundo.

Para saber mais

  • Prensky, M. (2012) Brain Gain: Technology and the Quest for Digital Wisdom. Editora Palgrave MacMillan Trade
  • The Fourth Industrial Revolution: what it means, how to respond goo.gl/3RkVMr
  • What is Your Digital Emotional Intelligence? goo.gl/26fnGX
  • 8 digital skills we must teach our children goo.gl/HvCTZR
  • The Emotional Intelligence Revolution (Search Inside Yourself Institute – Google) goo.gl/JUy4gh
  • #DQEveryChild™: Any child to be able to measure their digital intelligence goo.gl/Dhbd2v

Veja outros conteúdos

Vídeo
Atualização prática para o professor
A formação do aluno começa sempre com o desenvolvimento do professor. Pensando nisso, criamos as Formações Educatrix,…
Artigo
A necessidade de resgatarmos na Educação a comunidade aprendente
Lidar com o cenário da pandemia principalmente na Educação tem sido desafiador ao mesmo tempo que nos apresenta maneiras diferentes de possibilitar novos caminhos a Educação.
E-book
Diálogo: escola-família
Clique em Saiba mais para ler este E-Book na íntegra.
Artigo
A importância dos jogos na educação emergencial
Os jogos sempre tiveram um lugar especial na educação

Quando entrar no chat significa aprender

Quando entrar no chat significa aprender

Chatbots e a inteligência artificial entraram de vez nas rodas de conversa da educação. Quais perguntas você deve se fazer para inseri-los no cotidiano da sua escola?

Nas últimas férias, nosso colega Fernando Herranz, da Espanha, presenciou a seguinte situação enquanto seu filho Rodrigo, de dois anos e meio, tomava mamadeira pela manhã. Por descuido do pai, Rodrigo pegou o celular e, sob seu olhar atento, manteve a seguinte conversa espontânea com o dispositivo:

Rodrigo: E aí, Siri, você está aí?

Siri: Estou aqui.

Rodrigo: Você quer mamadeira?

Siri: Tudo o que eu preciso está na nuvem.

Para aqueles que não conhecem a Siri, ela é o chatbot (ou “robô conversacional”) embutido no sistema operacional dos dispositivos da Apple. Outras grandes empresas de tecnologia, como Google, Microsoft e Amazon já possuem tecnologias semelhantes, todas baseadas em inteligência artificial (IA).

A história pode soar inofensiva, mas já é possível imaginar um futuro não muito distante em que assistentes virtuais, baseados em voz ou não, ocupam um papel de destaque na vida de crianças e jovens. Afinal, a relação com a máquina é natural para essas gerações e está no centro de seus processos de aprendizado e de seu dia a dia.

Pensando nisso, o que podemos fazer, como educadores, para nos prepararmos para o impacto que a IA deve causar no mundo educativo? A análise a seguir é uma reflexão coletiva da qual participaram várias pessoas da área de tecnologia e aprendizagem, com diferentes pontos de vista, no Brasil e na Espanha.

Primeira parada: um chat… o quê?

Antes de mais nada, é preciso se familiarizar com a tecnologia. É possível que você até já seja usuário, e esteja acostumado a acionar seu celular ou computador por voz. Esse é o primeiro passo para não ser pego de surpresa pela explosão que, nos próximos anos, essa nova modalidade de relação entre humanos e máquinas deve experimentar.

A segunda etapa é entender o que são robôs conversacionais, ou chatbots. Em resumo, eles são programas treinados para manter uma conversa e, às vezes, para aprender mais sobre nós. Essas conversas podem ser realizadas em texto, áudio, vídeo etc. Atualmente, elas são utilizadas, sobretudo, em contextos comerciais e de atendimento a clientes.

Para Marta Bonet, doutora em Filosofia e Ciências da Educação, essas inovações decorrem do fato de que hoje as máquinas podem, finalmente, utilizar a linguagem humana. “Agora podemos interagir com elas em nossa própria linguagem, o que elimina barreiras entre pessoas e máquinas e abre novas portas”.

Segunda parada: mais dúvidas do que certezas (ou não)

Segundo algumas análises, tais portas se abrirão em breve para o mundo da educação. Em 2017, o Fórum Econômico Mundial divulgou uma análise que aponta que a maior empresa da internet em 2030 será educativa, e que a base de seu negócio será a aplicação da inteligência artificial e o desenvolvimento de chatbots.

Hoje, porém, ainda temos muitas dúvidas: será que os chatbots solucionarão problemas de aprendizagem? Ampliarão a personalização? Farão da aprendizagem algo mais natural? Realmente falarão a língua dos alunos? Trabalharão habilidades?

Antonio Rodríguez de las Heras, professor da Universidade Carlos III de Madri, considera que essas ferramentas serão um elemento que vai intervir e servir de mediador entre o professor e o aluno. “É preciso abrir espaço para elas entre nós. A educação personalizada será o resultado de uma tríade formada pelo aluno, o professor e o bot – com os três aprendendo ao mesmo tempo”, comenta. 

Entretanto, elas terão de achar seu espaço e isso não será fácil, diz Alfredo Hernando, especialista em inovação educacional. Para ele, “os chatbots podem ocupar um espaço na correção rápida de respostas ou onde não há necessidade de compreensão semântica avançada”. A psicóloga Natalia Calvo, que pesquisa aprendizagem e neurodidática, concorda. “O desafio será encontrar um espaço adequado. Não acho que consigam dar resposta a todos os conteúdos de todas as disciplinas”.

Natalia tem sensações contraditórias ao analisar o fenômeno. “É normal uma criança ficar amiga de um robô? Que habilidades socioemocionais estará trabalhando? E quais estará realmente desenvolvendo?”. Mas suas incertezas contrastam com as surpresas positivas que, segundo ela mesma, esses recursos podem trazer para o aprendizado. “O chatbot pode contribuir para canalizar e potencializar a curiosidade de forma que as respostas provoquem novas perguntas, conduzindo a criança atráves de diferentes dimensões do conhecimento”, explica. 

A mesma linha é compartilhada por Marta Bonet. Ela ressalta os efeitos que a chamada “computação cognitiva” pode ter na hora de desenvolver processos de aprendizagem baseados mais na vontade de saber do aluno do que no armazenamento de informações. “Como a máquina decifra a linguagem natural, ela pode digerir conteúdos já existentes de forma rápida – e o aluno, em vez de passar as páginas ou deslizar a tela, pode falar com ela e obter a resposta que procura em sua própria linguagem. A relação com o conhecimento é muito mais natural e próxima”. 

Víctor Sánchez, fundador e CEO da startup Mashme, também considera imprescindível desenvolver essa relação natural entre o aluno e a máquina para que os chatbots tenham sucesso. “À medida que os processadores de reconhecimento da linguagem natural forem melhorando, o nível das perguntas que serão capazes de responder de forma completa e satisfatória aumentará exponencialmente”. 

Terceira parada: qual espaço os chatbots ocuparão no mundo educativo?

Se parece inevitável que robôs conversacionais sejam usados em contextos de aprendizagem, que espaço eles ocuparão? Será que substituirão alguém? Oferecerão formas alternativas de aprender? Os especialistas divergem quanto aos caminhos.

Alfredo Hernando ressalta que, apesar do potencial dos chatbots “nos cursos on-line ou semipresenciais, nos quais sua incorporação tenderia a ser maior, até o momento optou-se mais pelo crowdsourced. Isto é, antes de automatizar as respostas e correções, os alunos se ajudam uns aos outros ou o grupo, em conjunto, resolve e soluciona as dúvidas de maneira participativa, mas organizada”.

A professora da Unifesp Paula Carolei acredita que a inteligência artificial não deve ser usada para produzir respostas, e sim para embasar perguntas e gerar provocações. “É uma questão metodológica. Esses programas podem ser de grande ajuda para organizar dados, encontrar padrões, contradições etc. Mas infelizmente há sistemas de tutoria sendo criados para dar respostas muitas vezes redutoras, o que é uma pena diante do potencial da tecnologia”, afirma.

Já para Antonio Rodríguez, da Universidade Carlos III de Madri, é clara a transformação que eles trarão ao sistema. Para o aluno, “um edubot é um assistente educativo pessoal, que estará sempre ao lado do aprendiz. Sua presença será intensa, mesmo que invisível. De acordo com o nível educativo e o propósito, ele pode até ter um corpo, dirigido especialmente à afetividade que todo relacionamento necessita”. Do ponto de vista do professor, será como um “discípulo do mestre, assimilando sua sabedoria e a interpretando para depois responder às demandas do aluno. Assim, o trabalho do professor não fica nem reduzido nem encoberto pela incansável entrega do bot”.

Os robôs estão entre nós

Rastrear chatbots educacionais hoje é tarefa relativamente fácil, pois a área ainda está evoluindo, especialmente na educação básica. Segundo a designer conversacional Camila Canonici, uma das “experiências pioneiras e revolucionárias” foi o Robô Ed, da Petrobras, que até 2016 trocou 250 milhões de frases com internautas. “A partir de 2004, quando entrou no ar, ele foi aprendendo com as conversas e evoluiu até conseguir dar cerca de 40 mil respostas, indo de petróleo a Machado de Assis”.

Camila cita um projeto do governo do Ceará e outro de Moçambique como exemplos recentes da aplicação dessa tecnologia para fins educacionais. No caso do Ceará, o governo vai testar robôs da empresa Somai em salas de aula a partir de 2019. “A presença física dos robôs gera uma experiência relevante, o que contribui para a memória de longo prazo”. Já em Moçambique, a ambição do robô Dr. Wilson é ajudar a “salvar 20 mil crianças de até 5 anos nos próximos 36 meses”, por meio de conversas com “cidadãos comuns” sobre higiene, uso racional da água e esgoto.

Em São Paulo, a inteligência artificial está presente também como disciplina. No colégio Dante Alighieri, desde o início de 2018, há uma eletiva dedicada ao tema. O professor Rodrigo Assirati Dias, responsável pela cadeira, conta que a iniciativa faz parte da carga horária do novo Ensino Médio e foi um sucesso. “Foram 37 inscritos e 25 selecionados no primeiro semestre. Eles aplicaram conhecimentos de matemática e linguística, refletiram sobre questões éticas e tiveram de produzir um chatbot com um personagem histórico, além de escrever um artigo”, conta.

“Mas por que incorporar esse assunto ao currículo tão cedo?”, você talvez se pergunte. Rodrigo, que também dá aula no ensino superior, tem a resposta na ponta da língua. “A coordenação do colégio escolheu IA porque ela vai ser parte da vida de todo mundo no futuro. Mas a gente também ouviu os alunos, e eles se interessaram muito pelo tema”, explica.

STRYX, um chatbot que ajuda a estudar

Na noderna, o tema dos bots tem sido objeto de estudo há alguns anos. Em 2019, o trabalho vai dar seu primeiro fruto: o chatbot Stryx chega nas escolas com a missão de ajudar os alunos a estudar. “Detectamos em pesquisa que os alunos não querem mais estudar só com o livro, e que os professores acreditam que o principal desafio da profissão hoje é tornar a matéria mais atrativa e gerar interesse”, diz a coordenadora executiva de conteúdo digital, Ivonete Lucírio. 

Em resposta a esses problemas, o núcleo de inovação criou um estudo guiado em forma de diálogos, que incentiva a retomada dos conteúdos e atende o aluno no momento em que ele mais precisa: quando está sozinho, sem o apoio do professor nem dos colegas. “A pesquisa mostrou que, nessa hora, muitos recorrem ao celular, mas têm dificuldade para fazer uso produtivo do dispositivo”, conta Ivonete. “Acreditamos que, com a ajuda da Stryx – uma coruja bem-humorada e amigável, sem ser sabichona –, esse tempo de tela vai ser mais eficaz, e o aluno vai ganhar autonomia”, acrescenta ela.

A proposta não é substituir o professor nem o livro, muito menos esgotar os temas. Stryx é, em essência, um colega virtual. “Ela recupera o principal de cada assunto por meio de uma conversa, em uma linguagem próxima do aluno. Usamos inclusive elementos típicos das trocas de mensagem, como gifs, emoticons e abreviações, mas sem perder em nenhum momento o rigor da informação”, garante a coordenadora.

Para o aluno que tiver dúvida ou quiser se aprofundar, o chatbot sugere links de recursos confiáveis, como videoaulas e aplicativos relacionados a cada matéria. Alinhada com a BNCC, a novidade acompanha a reformulação do projeto Araribá Plus, coleção destinada para o Ensino Fundamental 2, e está disponível nas disciplinas de Português, Matemática, História, Geografia e Ciências.

Natalia Calvo propõe uma perspectiva fascinante em que os bots podem contribuir de forma decisiva para uma nova relação entre aprendizagem e erro. “O fato de uma máquina trabalhar com o erro de forma diferente diminui a pressão sobre o aprendizado, o que contribui para que ele aconteça de forma mais natural, como ocorre em contextos não formais”. Segundo Calvo, “os últimos avanços da neurociência demonstram que o cérebro necessita do erro para progredir. Um chatbot deve guiar e oferecer desafios que abram a mente das crianças e as ajudem a mergulhar em sua própria curiosidade”.

Despertar a curiosidade, o espírito crítico, emocionar-se. Todas essas questões podem se tornar mais fáceis se “o acesso à informação não passar obrigatoriamente pelo professor”, diz Marta Bonet. “Isso fará com que ele possa dedicar mais tempo a uma interação de maior qualidade com os alunos. Só que a melhora na qualidade da interação não acontecerá somente entre aluno e professor, mas também entre aluno e máquina. A interação será mais complexa, mais rica e mais natural”, completa.

Segundo Víctor Sánchez, as coisas poderiam ir muito além. Para ele, essas ferramentas vão desenvolver várias capacidades paulatinamente e acabarão resolvendo desde perguntas frequentes e triviais até dúvidas complexas e transcendentais. “Um chatbot poderá talvez se converter em uma espécie de psicólogo, detectando e tratando problemas como depressão, déficit de atenção ou até o bullying real e digital”. 

Esse potencial ressoa com a designer conversacional Camila Canonici, que desde 2001 acompanha os efeitos que os robôs têm, inclusive no público em idade escolar. “Depois que a Petrobras lançou o Robô Ed, em 2004, ele teve de passar a falar de problemas familiares com as crianças, pois esse tópico surgia direto nas conversas”.

Quarta parada: quando os chatbots serão realidade na educação? 

Essa pergunta talvez seja a mais fácil de responder, pois a verdade é que já há chatbots disponíveis para uso educacional, tanto no Brasil quanto no exterior. Víctor Sánchez lembra que “hoje já temos o IBM Watson atuando como um professor assistente em fóruns de universidades americanas”. Na próxima década, segundo ele, poderemos ver “versões avançadas, difíceis de serem diferenciadas de professores reais, especialmente ao conversar sobre materiais e disciplinas específicas”.

Para Agustín Cuenca, fundador e CEO da empresa ASPGems, o fenômeno “acontecerá mais tarde do que acredito (5 ou 10 anos), mas antes do que calculam aqueles que pensam que ele não vai acontecer”.

Além do quando, Antonio Rodríguez acha que será muito relevante o como. “Desorientação e resistências serão inevitáveis no caminho. Deverá ser superado o preconceito de que isso significa automatizar a educação, de que a inteligência artificial coloca a função do professor em segundo plano, ou de que ela vai trazer um controle excessivo ao acompanhar e avaliar tão de perto a aprendizagem do aluno”.

Na mesma linha, Marta Bonet acredita que essas ferramentas terão espaço desde que o ser humano entenda que máquinas têm a função de melhorar a qualidade de vida e não a de substituir outras coisas. “O ser humano é resistente a mudanças, mas a tecnologia tem colocado muitos paradigmas de pernas para o ar. Por isso, em relação à chegada da inteligência artificial, torna-se cada vez mais urgente trabalhar o espírito crítico dos alunos para que possam entender e gerenciar essa importante mudança”, explica.

O cenário é mesmo inquietante e, por ora, a única certeza talvez seja a de que, com a inteligência artificial, a transformação das formas e das relações será significativa. Por enquanto, vale continuarmos atentos às conversas das crianças com a Siri…

Texto Fernando Herranz, com colaboração de Gabriela Dias | Ilustração Leandro Lassmar

 

Fernando Herranz  é responsável pelo Departamento de Inovação da Santillana na Espanha.

Para saber mais

  • Blog Toyoutome, Cuando chatear signifique aprender… y enseñar: mod.lk/1wpfj 
  • Robô Ed Petrobrás: www.ed.conpet.gov.br/br
  • Projeto Araribá Plus / Stryx: mod.lk/V44F2
  • Relatório IBM – Possibilidades da inteligência artificial na educação: mod.lk/pesqibm

Veja outros conteúdos

Vídeo
Atualização prática para o professor
A formação do aluno começa sempre com o desenvolvimento do professor. Pensando nisso, criamos as Formações Educatrix,…
Artigo
A necessidade de resgatarmos na Educação a comunidade aprendente
Lidar com o cenário da pandemia principalmente na Educação tem sido desafiador ao mesmo tempo que nos apresenta maneiras diferentes de possibilitar novos caminhos a Educação.
E-book
Diálogo: escola-família
Clique em Saiba mais para ler este E-Book na íntegra.
Artigo
A importância dos jogos na educação emergencial
Os jogos sempre tiveram um lugar especial na educação

ESPECIAL EDUCAÇÃO 4.0|02 Construir, desconstruir e reconstruir a aprendizagem

ESPECIAL EDUCAÇÃO 4.0|02 Construir, desconstruir e reconstruir a aprendizagem

A interação com o outro é o ponto de partida para que os alunos possam construir, desconstruir e reconstruir a aprendizagem, em uma espiral de conhecimento, seja com o objeto de estudo ou com o exercício da docência. A mediação pedagógica assume novo enfoque, no qual o professor exerce o papel de orientador e incentivador, tornando-se parceiro do aluno e instigando-o a refletir e compartilhar. É importante ter em mente que aprenderemos juntos em uma aprendizagem colaborativa. Os professores são mediadores que constroem comunidades em torno do aprendizado, promovendo o talento e as habilidades de seus alunos.

As relações socioemocionais e interpessoais possibilitam elaboração e reelaboração por parte de professores e alunos. Ao redefinir o papel do professor, os processos educacionais têm como pilar o trabalho colaborativo. Para Marta Relvas, bióloga, Dra. e Ms. em Psicanálise, neuroanatomista, neurofisiologista, psicopedagoga e especialista em Bioética, ao utilizar ferramentas tecnológicas, o professor consegue ativar o cérebro do estudante por meio de “rotas alternativas” para produção de novas conexões neuronais e aquisição do aprendizado. O ato de fazer estabelece e fortalece as interligações neurais, formando o que a neurobiologia denomina de “teia neuronal”.

O professor, na Educação 4.0, deve ter percepção e flexibilidade do trabalho docente, assumindo diferentes papéis na aprendizagem: aprendiz, mediador, orientador e pesquisador na busca de novas práticas. O docente precisa criar circunstâncias propícias às exigências desse novo ambiente de aprendizagem, assim como propor e mediar ações que levem à cognição do aluno. Para isso, é preciso ter metas e objetivos bem definidos, compreendendo o contexto histórico sociocultural e as dificuldades do aluno. Como contraponto, o poder público precisa entender a prática docente como uma atividade transformadora, cujo papel é mediar o conhecimento.

O que esperar da educação 4.0?

O primeiro passo é integrar a escola com o uso das tecnologias e com o currículo, fomentar conversas com as diferentes áreas do conhecimento, explorar as metodologias ativas para trabalhar e desenvolver projetos que trabalhem a investigação, a resolução de problemas, a produção de narrativas digitais e o desenvolvimento do aprender a fazer, transformando ferramentas digitais em linguagem. O processo da Educação 4.0 não é algo pronto e não existe uma receita; está em criação constante. A seguir, vamos conhecer mais sobre algumas estratégias que têm funcionado.

Metodologias ativas

As mudanças propostas pelas metodologias ativas propõem transmutação de papéis: o aluno é protagonista, tendo participação ativa no processo; e o professor é o mediador do processo, em que o fazer é estratégia principal para alcançar os objetivos pedagógicos. Um muito comum, que ganha destaque, é a aprendizagem baseada em projetos, o Problem Basead Learning (PBL).

Cultura maker

Os movimentos realizados nas escolas e os chamados makerspaces estão fortalecendo uma educação pautada em criatividade, usando diversos recursos e contando com um ambiente propício à experimentação. Estudos realizados por pesquisadores da Universidade de Stanford (EUA) demostram que estudantes que vivenciaram a aprendizagem mão na massa tiveram um desempenho 30% mais alto do que aqueles que seguiram o aprendizado de maneira convencional.

Equipamentos são importantes, mas é necessário deixar claro que disponibilizar altos recursos tecnológicos e ambientes virtuais de aprendizagem não garante aprendizagem efetiva; é essencial que eles venham acompanhados de práticas pedagógicas que possibilitam experienciar vivências significativas, pautadas em uma educação humanizadora e integral. A abordagem ainda é um desafio para a educação, principalmente para as escolas públicas, mas não é impossível.

Espaços de aprendizagem

Não é preciso ter um makerspace para tornar a sala de aula um ambiente mão na massa. Reorganizar o mobiliário e incluir, a baixos custos, bancadas, reaproveitando portas e prateleiras, e acrescentar cavaletes e ferramentas, já proporciona um lugar de trabalho participativo e colaborativo entre os estudantes. No Especial Mão na Massa do portal Porvir, você pode consultar um simulador maker, com uma lista de equipamentos, custos e sugestões de atividades pedagógicas para realizar com alunos do Ensino Fundamental e Médio. Para construir esse espaço, é possível envolver o entorno e pedir doações de materiais não utilizados em casa, integrando a escola e a comunidade.

Situações de aprendizagem

Favoreça estratégias que contribuam para o desenvolvimento de projetos. Uma das propostas é trabalhar com questões norteadoras, que agucem a criatividade e despertem para explorar coisas novas, permitindo testar, errar, refazer, reavaliar, aprendendo a fazer, através de um roteiro de trabalho.

Comece com projetos simples que fortaleçam a empatia, o espírito lúdico, a criatividade, a vivência e a autonomia. Leve para a sala de aula materiais não estruturados e recicláveis como papelão, plásticos, potes, tampinhas, garrafas PETs, materiais eletrônicos como Leds, resistores, baterias, motores de 3V, 9V, garras de jacarés, conectores, fios, suportes de baterias, produzindo projetos mão na massa.

Programação

Nas aulas, os alunos podem codificar e desvendar o Scratch, um software on-line e off-line, livre e gratuito, que funciona de maneira fácil e intuitiva, através de blocos de arrastar, montar circuitos elétricos, incorporando o pensamento maker. Como professor, você pode montar fichas de observação e investigação para os estudantes registrarem o conhecimento. A partir destas fichas, você pode realizar intervenções e apontar caminhos necessários ao processo.

Todas essas habilidades são importantes para resgatar o encantamento das aulas e desenvolver o espírito criativo e inovador, e funcionam para as todas as áreas do conhecimento. É preciso explorar novos recursos e ferramentas, mediando o espaço entre o aluno e a informação, de forma participativa e interativa, próxima da realidade no processo de construção e reconstrução do seu conhecimento ao trabalhar com as diversas facetas do processo de aprendizagem. Porque o futuro já chegou.

Débora Garofalo é professora da rede pública de Ensino de São Paulo, Formada em Letras e Pedagogia, mestranda em Educação, colunista de Tecnologias para o site da Nova Escola.

Para saber mais: Portal QEdu | Porvir, Especial Mão na Massa

Veja outros conteúdos

Vídeo
Atualização prática para o professor
A formação do aluno começa sempre com o desenvolvimento do professor. Pensando nisso, criamos as Formações Educatrix,…
Artigo
A necessidade de resgatarmos na Educação a comunidade aprendente
Lidar com o cenário da pandemia principalmente na Educação tem sido desafiador ao mesmo tempo que nos apresenta maneiras diferentes de possibilitar novos caminhos a Educação.
E-book
Diálogo: escola-família
Clique em Saiba mais para ler este E-Book na íntegra.
Artigo
A importância dos jogos na educação emergencial
Os jogos sempre tiveram um lugar especial na educação

A neurociência a favor da educação matemática

A neurociência a favor da educação matemática

Em meio aos incontáveis desafios enfrentados pelos educadores brasileiros, a educação está mudando e exige novas adequações. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aponta as aprendizagens que devem ser garantidas a todo estudante da Educação Básica, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. O documento tem o intuito de nortear o currículo das escolas públicas e privadas do Brasil e determina, para cada etapa escolar, conhecimentos essenciais, competências, habilidades e objetivos de aprendizagem. Em sua essência, a BNCC visa ao preparo e ao desenvolvimento dos estudantes para a vivência, a convivência e a participação plena na sociedade. Algumas competências gerais previstas pela BNCC abordam a relação dos alunos com o mundo do trabalho, a resolução de problemas e o uso de tecnologias como meio de resolvê-los. A Matemática ganha, então, espaço nas discussões e reflexões docentes, considerando-se sua relevância para o desenvolvimento dessas competências. Há um longo caminho para atingir o objetivo maior de formar cidadãos críticos, atuantes e colaborativos, capazes de enfrentar os desafios do século 21. Esse caminho requer a adequação dos currículos, a formação inicial e contínua dos professores, a adequação, elaboração e o desenvolvimento de materiais didáticos e a criação de soluções educacionais eficientes. Essas propostas já contam com estudos recentes da área da Neurociência, como os trabalhos desenvolvidos por Jo Boaler ou David Dockterman. A aplicação das ideias desenvolvidas nesses estudos pode representar o início do processo para minimizar as desigualdades na Educação Matemática, que levam a um baixo desempenho nos exames nacionais e internacionais. Alguns números da educação brasileira Há algum tempo, observamos o fraco desempenho dos estudantes brasileiros em avaliações de larga escala, como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Os resultados divulgados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), com base na última edição do Pisa, de 2015, mostram estagnação no desempenho em Leitura e Ciências e queda no desempenho em Matemática. Se compararmos nosso resultado com o dos países-membros da OCDE, percebemos o quanto estamos atrasados e o grande desafio que temos pela frente. Em Leitura, a média desses países foi de 493 pontos, enquanto a média do Brasil foi de 407 pontos. Em Ciências, obtivemos 401 pontos contra 493 dos outros países. Em Matemática, que teve a primeira queda desde 2003, os estudantes brasileiros obtiveram 377 pontos, um resultado bem abaixo dos 490 pontos obtidos pelos países-membros da OCDE. Dos 72 participantes avaliados, o Brasil ficou na 65ª posição. De acordo com a OCDE, o nível 2 de proficiência é considerado o mínimo adequado para a plena participação na vida social, econômica e civil. O cenário nacional é, portanto, trágico, já que 70,3% dos estudantes brasileiros estão abaixo desse indicador. Diante desses resultados, fica evidente a necessidade de investir em mudanças. Como educadores, é preciso refletir sobre o nosso papel docente e participar ativamente das discussões sobre a reforma do ensino brasileiro em todas as esferas, revendo a infraestrutura, a adequação do currículo à realidade e às necessidades dos alunos e a importância da formação profissional contínua. A matemática e a busca de novos caminhos Grande parte das escolas brasileiras ainda ensina matemática de forma segmentada e conteudista, carente de formação específica de professores e vulnerável à inconsistência do sistema educacional. Essa prática influencia diretamente os resultados abaixo da média nas avaliações de larga escala. Ao refletir sobre os resultados do Pisa, o físico e estatístico alemão Andreas Schleicher, coordenador desse sistema de avaliação, disse que “conteúdo em excesso é sinônimo de aprendizado superficial”. Ele analisou o currículo de Matemática de diferentes países e concluiu que o currículo brasileiro contém o triplo de conteúdo do currículo de Singapura, país que está no topo nos índices de desempenho. Schleicher falou sobre a importância de “ater-se aos conceitos essenciais e às ferramentas que permitem ao aluno raciocinar melhor”. Em Os sete saberes necessários à educação do futuro, o filósofo francês Edgar Morin afirma que “ao examinarmos as crenças do passado, concluímos que a maioria delas contém erros e ilusões, mesmo quando pensamos há vinte anos atrás e constatamos como erramos e nos iludimos sobre o mundo e a realidade. E por que isso é tão importante? Porque o conhecimento nunca é um reflexo ou espelho da realidade. O conhecimento é sempre uma tradução, seguida de uma reconstrução”. Nesse sentido, o olhar crítico e reflexivo sobre as práticas didático-metodológicas brasileiras talvez seja uma estratégia mais adequada para nos manter abertos a outras linhas de pensamento e a abordagens capazes de enriquecer nosso repertório, ampliar nossa visão e possibilitar mudanças eficazes. Diversos caminhos podem ser trilhados para atender às necessidades da educação nos dias de hoje: Analisar sistemas educacionais de outros países ou provenientes de realidades e contextos diferentes promove reflexões e enriquece as discussões sobre nossa realidade. Conhecer instituições, pesquisas acadêmicas e educadores diversos para buscar modelos que possam ser usados ou adaptados para o nosso contexto.Investir em tecnologia (aprendizagem móvel, ensino adaptativo e big data) com o intuito de uma educação personalizada, que viabilize a coleta de informações de forma rápida e eficiente sobre o desempenho e a evolução desse aluno ao longo do aprendizado e em relação ao sistema educacional no qual está inserido. A neurociência a favor da educação matemática De Santiago Ramón y Cajal, considerado o fundador da Neurociência, até os dias de hoje, a neurociência avançou consideravelmente e adentra várias áreas; entre elas, a educação. O estudo sobre como funciona o cérebro nos momentos de aprendizagem pode contribuir para as práticas pedagógicas de maneira bastante assertiva. Mentalidades e cultura sobre o erro A Matemática habitualmente é vista como assustadora para crianças e adultos. É considerada difícil, complicada e desinteressante. É associada ao cálculo puro e simples, acreditando-se que, quanto mais exercícios forem resolvidos no menor tempo possível, mais eficiente será seu aprendizado. Esse pensamento a reduz a uma disciplina de desempenho, o que pode causar ansiedade nos estudantes e afastá-los ainda mais do interesse em conhecê-la. Carol Dweck, professora na Universidade de Stanford e autora do bestseller Mindset: a nova psicologia do sucesso, em que disserta a respeito de mindsets (“mentalidades”, em tradução literal), afirma que a maneira como as pessoas enxergam a própria relação com a aprendizagem pode influenciar diretamente a qualidade e o nível dessa aprendizagem. Dweck define como “de mentalidade fixa” as pessoas que acreditam na possibilidade de aprender, mas não são capazes de mudar o próprio nível de inteligência, limitando-se inconscientemente. Isso significa que, se uma pessoa acredita que não consegue aprender Matemática, por exemplo, ela terá dificuldades em seu processo de aprendizagem. Em contrapartida, há a “mentalidade de crescimento”, que se refere às pessoas que acreditam que, com trabalho árduo, a inteligência se transforma e elas podem atingir o mais alto grau de compreensão e domínio do conhecimento. Então, na mesma medida em que uma mentalidade pode prejudicar a aprendizagem, ela também pode potencializar. Sabemos que o erro faz parte do processo de aprendizagem. Mas a Neurociência trouxe à luz a relevância dos erros. Jason Moser, psicólogo da Universidade de Michigan, documentou em suas pesquisas o que acontece com o cérebro humano ao errar: sinapses! Quando uma pessoa erra, são disparadas sinapses, e seu cérebro reage mais intensamente do que quando ela acerta. Segundo Moser, as pessoas sequer precisam estar conscientes do erro, o que pode parecer confuso, mas faz sentido se pensarmos em como um erro genuíno acontece. Se um problema suficientemente complexo é apresentado a um aluno e ele não desiste, persiste, buscando a solução, mesmo ao errar, o cérebro está trabalhando. A sinapse é ainda mais intensa em pessoas com a mentalidade de crescimento. O efeito dessas reações é o “crescimento” do cérebro. É interessante perceber como alguns fatos e pesquisas convergem para bons resultados. Muitos países orientais apresentam bons desempenhos no Pisa. Dentre eles, podemos citar a China e o Japão. Segundo Jo Boaler, em seu livro O que a Matemática tem a ver com isso? Como professores e pais podem transformar a aprendizagem da Matemática e inspirar sucesso, nesses países, a cultura em relação aos erros é bem diferente da nossa. Enquanto no Ocidente (e no Brasil), o erro em Matemática pode ser interpretado negativamente, nas aulas que Boaler documentou, os erros são vistos como descobertas ou oportunidades. Em Xangai, os alunos ficaram animados em compartilhar as estratégias que não funcionavam, dividindo-as com toda a turma para que todos pudessem aprender. Esse fato também é documentado no artigo Matemática para todos, publicado pela revista Cálculo, em que se analisa a postura de professores em sala de aula no Japão, comparando-a com a postura de professores em salas de aula nos Estados Unidos. No Japão, o erro é visto como descoberta – uma maneira que não funciona para resolver um problema –, enquanto nos Estados Unidos, o erro é visto como um problema, algo a ser corrigido ou remediado. Ao levar em consideração essas e outras descobertas, podemos criar ferramentas e meios de intervenção no processo de ensino-aprendizagem. Um exemplo disso é a plataforma AXIOS, cujo foco é o diagnóstico dos erros mais cometidos por uma turma em determinado assunto. A plataforma trata os erros como estratégias equivocadas, justamente para que o peso de errar seja reduzido. A ideia é identificar essas estratégias, discuti-las com a turma, para então, retomar o assunto de outras maneiras, com foco no conceito no lugar dos algoritmos decorados. A “fotografia” da turma possibilita um processo de engenharia didática ao professor, por meio do qual poderá propor intervenções pedagógicas o mais rápido possível, evitando que uma estratégia equivocada ou a compreensão equivocada de um conceito perdure e siga adiante na formação escolar. As narrativas e a resolução de problemas como estratégias para engajar e motivar os alunos A falta de atenção e a desmotivação dos alunos são recorrentes nas salas de aula e afetam diretamente sua aprendizagem. É fundamental buscar estratégias e recursos para despertar o interesse pelos estudos e engajar a turma na rotina escolar. As narrativas são uma poderosa ferramenta para trabalhar a empatia e envolver os estudantes ao longo de seu aprendizado. Pesquisas recentes de David Dockterman, professor catedrático de Educação Matemática na Universidade de Harvard, mostram que as experiências e o conhecimento acumulados de cada pessoa influenciam seu compromisso com a busca de informação. Todos nós somos atraídos por descobrir, mas nem todos queremos descobrir as mesmas coisas. Segundo Dockterman, a narrativa e a busca de informação têm papel especial na maneira como nosso cérebro aprende e se relaciona com o mundo. As histórias, por exemplo, nos ajudam a recordar. Antes de criar a escrita, as pessoas usavam outras ferramentas para ajudá-las a recordar e transmitir regras sociais, hierarquias e rituais culturais. Os bons narradores aproveitam essas características cognitivas para captar nossa atenção, injetando incerteza no conhecido. Convidam-nos a conhecer mundos em que nosso cérebro opera próximo a uma zona de busca de informação. Sabemos o suficiente para tentar adivinhar o que acontecerá, como acontecerá e como uma pessoa poderá se sentir, mas sem termos certeza. “As narrativas mais poderosas também nos afetam emocionalmente. Não importam apenas nossas previsões, mas também os personagens. As histórias nos levam mais além de uma simples busca de informação: conectam e desenvolvem empatia e habilidade de ver o mundo através dos olhos de alguém. Os pesquisadores chamam esta habilidade de Teoria da Mente”, afirma David Dockterman no artigo Conectar as emoções para a aprendizagem matemática: o poder de uma boa história. A conexão emocional com os personagens pode influenciar o comportamento das pessoas. Dockterman complementa dizendo que “a mescla entre drama e personagens provoca uma mudança química em nosso cérebro. Os neurocientistas têm observado a ativação de áreas associadas com a Teoria da Mente e com a empatia durante a exposição a este tipo de narrativa”. Tradicionalmente, no ensino da Matemática, as respostas exatas são resultados importantes, principalmente no campo da Aritmética. Problemas como “qual é o resultado da operação 8 + 3?” são recorrentes, mas não captam o impulso motivador de busca da informação. Refletindo sobre isso, David Dockterman fala sobre a “incerteza de baixo risco”, que pode ser introduzida nas aulas e incentivar os alunos à reflexão. “Em vez de enfatizar o resultado, por exemplo, pode-se centrar a atenção no processo. De quantas formas distintas podemos obter 8 + 3? Duas? Três? Cinco? Pode-se contar 8 + 1 + 1 + 1. Ou podemos simplesmente recordar uma soma memorizada. Outra opção é decompor 3 em 2 + 1 e usar a estratégia de obter 10: (8 + 2) + 1”. Assim, a ação de averiguar é satisfatória e os alunos podem refletir sobre as possibilidades para a obtenção do resultado. Dockterman amplia a ideia para problemas mais complexos. “A incerteza também pode ser introduzida de maneira produtiva na definição de um problema. Há vários exemplos que apresentam tentativas de se obter as possibilidades de busca de informação dos estudantes desta maneira. Um método é apresentar uma situação sem uma pergunta. Sofia tem 50% mais seguidores em redes sociais que Hector. Hector tem 112 seguidores. Com isso se pode desafiar os estudantes com questões como: quantos problemas matemáticos podemos criar com essas informações? ou “o que será pedido para resolver com essa informação? Ambas as perguntas ativam o pensamento matemático e a curiosidade pela busca de informação”. Seguindo as linhas de pesquisa de Jo Boaler sobre o erro e as recentes publicações de David Dockterman sobre as narrativas e a resolução de problemas, a obra Compartilha Matemática, destinada aos Anos iniciais do Ensino Fundamental, foi estruturada e concebida para promover experiências de aprendizagem e para, através de histórias, conectar emocionalmente os estudantes com a Matemática. No material, destaca-se a resolução de problemas de forma que os alunos não se limitem à aplicação de conceitos e procedimentos. Propõe-se a criação de enunciados, identificação e representação de variáveis, identificação de perguntas importantes e outros elementos necessários para desenvolver o raciocínio e preparar os alunos para enfrentar situações do mundo real. Os estudantes criam argumentos, interagem com os colegas e mobilizam diferentes recursos cognitivos no processo de aprendizagem. É uma construção ambiciosa que reúne o ponto de vista da Educação Matemática e da Neurociência. O currículo foi organizado com base na estrutura em espiral de Bruner, na qual o aluno passa por um assunto em mais de um momento no processo de formação. Essas passagens têm diferentes graus de abstração, pois empregam um dos recursos do método Singapura – metodologia de Concreto-Pictórico-Abstrato (CPA). Os alunos, nos momentos adequados, devem lidar com os conceitos nesses três níveis de abstração em pontos diferentes da aprendizagem. Isso permite que o foco seja dado ao conceito, na medida em que se manipula o objeto de conhecimento. A mudança e a busca de melhores resultados Uma vez que os resultados em testes padronizados nos dão indícios de que mudanças nos processos de ensino e aprendizagem são necessárias, essas mudanças devem ser feitas de forma embasada e abranger todos os envolvidos: gestores públicos, gestores escolares, professores, pais e os próprios estudantes. Como pudemos ver nos trabalhos de Jo Boaler, Carol Dweck e David Dockterman, é preciso mais do que novos materiais didáticos ou plataformas educacionais, é imprescindível uma mudança de cultura dos envolvidos. Esperamos que a postura de reflexão contínua sobre o trabalho realizado, a busca de novos caminhos, embasados em pesquisas acadêmicas e a renovação dos materiais didáticos e de soluções educacionais possam contribuir para alcançarmos melhores resultados nas avaliações e para formar cidadãos capazes de enfrentar os desafios do século 21.

Quem é Jo Boaler?

Jo Boaler é professora de Educação Matemática na Universidade de Stanford (EUA) e cofundadora do YouCubed, site criado para oferecer a professores e pais recursos e ideias para que eles inspirem e incentivem os estudantes para conhecer a Matemática. Boaler é analista para testagem do Pisa na OCDE e autora do primeiro Curso On-line Aberto e Massivo (MOOC) de ensino e aprendizado de Matemática.

Para saber mais

YouCubed: www.youcubed.org/pt-br

Fabio Martins de Leonardo é licenciado em Matemática pela USP e editor executivo de Matemática na Moderna.

Romenig da Silva Ribeiro é mestre em Ciência da Computação pela USP e editor de Matemática na Moderna.

Veja outros conteúdos

Vídeo
Atualização prática para o professor
A formação do aluno começa sempre com o desenvolvimento do professor. Pensando nisso, criamos as Formações Educatrix,…
Artigo
A necessidade de resgatarmos na Educação a comunidade aprendente
Lidar com o cenário da pandemia principalmente na Educação tem sido desafiador ao mesmo tempo que nos apresenta maneiras diferentes de possibilitar novos caminhos a Educação.
E-book
Diálogo: escola-família
Clique em Saiba mais para ler este E-Book na íntegra.
Artigo
A importância dos jogos na educação emergencial
Os jogos sempre tiveram um lugar especial na educação