As novas tecnologias e o desenvolvimento do cérebro

Tudo o que memorizamos e aprendemos altera a estrutura de nosso cérebro

As novas tecnologias têm modificado a forma como crianças e adolescentes compreendem e processam o mundo. O que os pais devem saber para facilitar o processo de aprendizagem dos filhos e diminuir os fatores de risco? 

Não temos como impedir ou mesmo proibir a utilização de recursos tecnológicos, mas temos como selecionar conteúdos e monitorar usos

Como processamos as informações do ambiente?

Tudo o que conhecemos e nomeamos é resultado das reconstruções que nosso cérebro faz dos estímulos recebidos por meio dos canais sensoriais (visão, audição, tato, olfato e paladar). Cada estímulo é transformado em impulso elétrico, permitindo que o órgão entre em contato com tudo o que acontece ao redor.

A partir daí temos a reconstrução do estímulo pelo cérebro, que ficará na memória (com a ajuda da atenção) até que seja identificado, nomeado, armazenado e/ou seja formulada uma resposta específica para esse estímulo.

De que forma isso se relaciona com as novas tecnologias?

Tudo o que memorizamos e aprendemos vai alterando a estrutura de nosso cérebro, ao modificar rotas e conexões neurais. As novas tecnologias têm modificado a forma como crianças e adolescentes compreendem e processam o mundo, já que possuem características de estímulos e exigem respostas bastante específicas. 

 

Os estímulos das novas tecnologias digitais 

Recursos que envolvem estímulos visuais com cores fortes, movimento, elementos que surgem e desaparecem exigem respostas automatizadas e com pouca elaboração cognitiva, ou seja, pouca criação do cérebro. Muitas vezes, as respostas são dadas de forma automática.

Quando perguntamos a uma criança ou adolescente como respondeu ao estímulo de um jogo, ou por que deu determinada resposta numa situação envolvendo mídia digital, normalmente recebemos como respostas um “porque sim” ou “porque era para dar essa resposta”.

Nesses momentos, fica claro o processamento envolvido em jogos digitais e em novas tecnologias: a estimulação de processos automáticos como a atenção e a ausência de raciocínio que exige planejamento e organização por meio de recursos verbais. A interatividade que exige respostas imediatas para múltiplos estímulos também provoca pouca elaboração cognitiva. Sim, são estimulados processos que envolvem a visão e que estão diretamente relacionados à organização viso-espacial, mas fica a pergunta: essas habilidades são as únicas que queremos desenvolver?

Como as tecnologias digitais podem estimular aprendizados

Existem recursos tecnológicos que não se baseiam nessa avalanche de estímulos sensoriais. Há atividades que envolvem reflexões e elaborações cognitivas altas, mas elas não são atrativas porque exigem atenção voluntária e controle do raciocínio. Esses estímulos normalmente não são vendidos e não são largamente usados por crianças e adolescentes; São utilizados em contextos educacionais ou clínicos, já que devem ter mediação para que promovam progressos cognitivos e aquisição de conhecimento. 

Até mesmo a televisão pode ter esses dois usos se os programas forem acompanhados por um adulto que desenvolva crítica e elaborações sobre o que está sendo visto e apresentado. O problema, então, não é a tecnologia, mas o uso que fazemos dela. Não temos como impedir a utilização de recursos tecnológicos, mas podemos selecionar os conteúdos e monitorar os usos. 

O ambiente e a cultura em que estamos inseridos afetam e determinam os processos cognitivos que serão predominantes no funcionamento cerebral. Podemos repensar o uso, o tempo e os motivos que nos levam a utilizar a tecnologia como forma de entretenimento passivo perguntando: “Quais são as necessidades reais hoje para cada faixa etária?”

O cérebro não se reorganiza de forma fácil, casual ou arbitrária. São necessários processos de atenção e entradas sensoriais significativas utilizados de forma repetitiva e intensa para que as modificações ocorram. Assim, o uso eventual e lúdico não é condenado, e a pergunta que devemos formular é: “Como é o uso por parte das crianças no mundo atual?”

Não podemos prever as capacidades e habilidades exigidas para as crianças daqui a 30 ou 40 anos, porém o equilíbrio e o bom senso devem prevalecer. O problema, mais uma vez, não é a tecnologia, mas o uso que se faz dela. Cada vez mais devemos proporcionar às crianças e aos adolescentes oportunidades de construção de realizar reflexões e elaborar pensamentos críticos a partir das experiências vividas. As novas tecnologias devem fazer parte da temática desses questionamentos.

Abram, Stephen. The New Scholar: “How are they different and how are libraries changing?”. National Association of Independent Schools, The Collection Chamber – A Playground for the Mind. Jan. 8, 2008.  

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McElhinny, K. “Remedial Instruction Rewires Dyslexic Brains, Provides Lasting Results, Carnegie Mellon Study Shows; Researchers Say Findings Could Usher in New Era of Neuro-Education.(Report).” Ascribe Higher Education News Service (5 Ago, 2008): NA. Expanded Academic ASAP. Gale. Blue Earth Area Public Schools. 2 Out. 2008.

Slavin, Robert E., Chamberlain, Anne, Daniels, Celia. “Preventing reading failure.” Educational Leadership, Out. 2007, 22-27.

Por que é importante dormir bem para melhorar o rendimento escolar?

O sono beneficia a energia e o aprendizado.

O ritmo escolar e de aprendizagem às vezes pode ser forte e exigente. Dormir a quantidade de horas necessárias garante que as crianças tenham os níveis necessários de energia e extraiam o máximo de proveito de seu aprendizado. 

Devemos garantir o momento de desconexão cognitiva antes de ir para a cama

Nossa rotina diária exige muita energia e atenção. Com as crianças em fase escolar não é diferente. Sabemos que o dia a dia delas pode ser tão intenso quanto o dos adultos. Garantir que seu filho tenha um sono de qualidade é essencial para ele recuperar a energia e se desenvolver adequadamente. 

É importante desconectar antes de ir dormir

A carga de atividades a que algumas crianças são expostas pode ser a causa do sono insuficiente para as necessidades delas. Por isso, devemos vigiar se essa demanda é excessiva a ponto de se tornar um problema para a saúde e a vida escolar.

É recomendável revisar periodicamente os horários e o número de atividades que as crianças realizam todos os dias, para garantir que durmam as horas que precisam. Veja algumas sugestões para isso:

  • Reservar um tempo de desconexão do cérebro. Antes de ir dormir, algumas das atividades indicadas são: ler, conversar relaxadamente em família, ouvir música suave, praticar algum hobby que distraia e tranquilize, como pintar ou montar quebra-cabeças.
  • Alcançar um estado de relaxamento corporal. Diminuir o ritmo da atividade à medida que se aproxima a hora de dormir, tomar um banho ou fazer um relaxamento depois da atividade física ajudam a preparar o corpo para o descanso.
  • Estabelecer uma rotina. Respeitar os horários do jantar e os preparativos para o momento de dormir é uma forma de oferecer ao corpo e à mente uma regularidade que pode ajudar a conciliar o sono com facilidade.
  • Prestar atenção ao número de horas de sono. O tempo necessário varia para cada pessoa, mas respeitar o mínimo recomendado de 10 horas para crianças em fase escolar garante que tenham o descanso de que necessitam.
  • Zelar pelo ambiente em casa. Para que os pequenos tenham as horas necessárias de sono com qualidade, prestar atenção ao nível de ruído que existe na casa perto da hora de ir dormir. Diminuir a intensidade da iluminação no quarto também ajuda.

Se, apesar dessas medidas, a criança continuar não descansando adequadamente, procure avaliar se existe algo específico que a preocupa e busque resolver a questão, pois um bom descanso é fundamental para o rendimento acadêmico adequado. 

Como estimular a criatividade nas crianças

A criatividade resulta de processamentos ativos no cérebro e pode ser trabalhada de forma consciente

 

A criatividade resulta de processamentos ativos no cérebro e pode ser trabalhada de forma consciente

A criatividade não é como uma lâmpada que se acende de forma involuntária na mente. Ela é o resultado de processamentos que já estão ativos no cérebro – e podemos trabalhá-los de forma consciente.

A criatividade pode ser desenvolvida em qualquer área de atividade.

odas as descrições de criatividade envolvem habilidades denominadas pelos estudos cognitivos e cerebrais como “funções executivas”. A criatividade envolve diretamente imaginação (capacidade de abstração), resolução de problemas, planejamento e organização dos processamentos cognitivos e emocionais realizados pelo cérebro.

Para uma pessoa ser inovadora ela tem que ser capaz de realizar conexões cerebrais entre áreas específicas que envolvem os conceitos cognitivos e emocionais associados à informação a ser processada. Essas conexões precisam formar redes estáveis e de uso frequente envolvendo inter-relações entre os conceitos envolvidos, sejam eles relacionados a habilidades artísticas como música, dança, jogos e brincadeiras imaginativas, ou a atividades mais estruturadas – por exemplo, habilidades de linguagem ou matemática.

Criatividade não é um processo que surge de repente no cérebro. Embora as pessoas achem que a criatividade funciona como uma lâmpada que se acende, ela é, na verdade, o resultado de processamentos que já estão ativos no cérebro em termos de funcionamento subliminar (pouco consciente). É como se as conexões cerebrais, ao se manterem ativas, acabassem por encontrar “soluções” para determinados problemas ou questionamentos que já estão sendo processados pelo cérebro.

Diversos autores consideram que a criatividade pode ser desenvolvida em qualquer área de atividade desde que fornecidos os conhecimentos e as habilidades suficientes para que sejam estimulados e respeitados as condições e o estágio de desenvolvimento em que a criança ou o adolescente se encontra.

Os estudiosos citam que a maior parte das crianças apresenta, nos primeiros anos da vida, uma capacidade criativa bastante evidente, envolvendo principalmente atividades lúdicas e recreativas. A falta de estimulação e intervenção direta do ambiente social e o próprio desenvolvimento cognitivo acabam por reduzir esse potencial.

Como podemos estimular e manter o potencial criativo de uma criança? 

O primeiro ponto importante a ser destacado é a ênfase que o adulto dá à criança nos momentos em que a criatividade é destaque. Em geral, consideramos engraçado ou ficamos passivos nesses momentos. É importante que haja uma intervenção direta com ênfase nos processos cognitivos e emocionais que a levaram a elaborar e construir os momentos criativos. Devemos propiciar a possibilidade de controle de seu potencial por meio da consciência dos pensamentos que a levaram a ser criativa.

Não podemos esquecer que a estimulação deve considerar a fase de desenvolvimento em que a criança se encontra. Assim, se a criatividade envolver pensamento mágico e isso estiver de acordo com a etapa de desenvolvimento não se deve enfatizar questões cognitivas ou de raciocínio lógico, mas sim contar com a verbalização do pensamento e os questionamentos também mágicos que podem envolver a estimulação.

Abrir a inter-relação entre habilidades criativas lúdicas e simbólicas por meio de recursos verbais já permite inter-relacionar habilidades e realizar sua manutenção com aquelas de desenvolvimento posterior, mais relacionadas às esferas cognitivas e verbais.

Devemos encorajar a criança a resolver seus problemas de forma criativa e, compreender que não existe uma resposta certa e uma errada para as perguntas e dúvidas que ela apresenta. Devemos formular dúvidas com ela e ensiná-la a verbalizar o pensamento e o raciocínio para a solução de problemas. Um cuidado muito importante é o não responder às perguntas de modo automático e com a resposta pronta.

Para que a criança possa desenvolver melhor a capacidade de verbalizar seus pensamentos, devemos ser o modelo e mostrar a ela os pensamentos que nos levam a determinadas respostas. Esse é o lado interessante da criatividade: ao estimular essa habilidade nas crianças acabamos por estimulá-la em nós mesmos, melhorando nossas conexões cerebrais e favorecendo o próprio potencial.

Robinson report. Grã-Bretanha. Department for Education and Employment. Department for Culture, Media and Sport. National Advisory Commitee on Creative and Cultural Education. All Our Futures: Creativity, Culture and Education. Londres: DfEE. 1999.Runco, M. A. “Education for creative potential”. Scandinavian Journal of Educational Research, 47, 3, 317-24. 2003.Craft, A. “Creative thinking in the early years of education”. Early years, 23, 2, 143-54. 2003.Murdock, M. C. “The effects of teaching programmes intended to stimulate creativity: a disciplinary view”. Scandinavian Journal of Educational Research, 47, 3, 339-57. 2013.

Como escolher as atividades extraescolares dos filhos

Os benefícios podem desaparecer se a agenda ficar sobrecarregada

As atividades extraescolares permitem desenvolver habilidades essenciais e complementares àquelas trabalhadas em sala de aula. 

 

Atividades extraescolares são ótimas oportunidades para desenvolver competências e destrezas diferentes das que se adquire em sala de aula

 

É importante ouvir os interesses da criança

As atividades extraescolares oferecem muitos benefícios para o desenvolvimento da criança. Elas proporcionam um novo âmbito para as relações sociais e as ajudam a ser mais independentes, ao mesmo tempo que elevam a autoestima pelas conquistas obtidas.

No entanto, escolher a atividade correta não é tarefa fácil, pois muitas vezes os pais não sabem em que se basear e frequentemente têm dúvidas. Como escolher as atividades extraescolares: em função das preferências da criança, das pretensões dos pais ou da logística familiar? Para ajudá-los nesse processo, apresentamos algumas informações essenciais:

1. Motivação

A criança deve estar motivada para realizar a atividade extraescolar, que não deve ser uma imposição dos pais por gosto ou interesse próprio, ou por um desejo ou frustração de infância.

2. Interesses

Deve-se ouvir as preferências da criança ao planejar suas atividades extraescolares, mesmo que nem sempre se possa atender exatamente o que ela deseja. O ideal é que pais e filhos cheguem a um acordo.

3. Frequência

É importante não saturar a agenda da criança com cursos e aulas extraescolares (três dias por semana no máximo). A criança precisa de tempo para descansar, brincar, estar em família e fazer suas tarefas de casa, todos os dias. Por outro lado, é importante que exista um compromisso por parte dela em relação a um tempo mínimo para realizar a atividade extra.

4. Aconselhamento

Os professores, que passam grande parte do dia com seu filho e sabem como ele se desenvolve e aprende em sala de aula, podem recomendar as atividades mais adequadas, aquelas que mais poderão auxiliar em seu desenvolvimento.

5. Conceito

As atividades extraescolares contribuem para o desenvolvimento integral da criança, por isso não é recomendável usá-las como moeda de troca para possíveis prêmios ou castigos. Elas devem ter importância em si mesmas, e a criança deve entender isso. Não se aconselha suspender as atividades em caso de mau comportamento, nem obrigá-la a realizar alguma atividade como castigo.

Principais atividades extraescolares:

1) Atividades esportivas

São uma excelente maneira de combater o sedentarismo e a obesidade infantil. Entre as mais adequados para crianças estão:

  • Esportes em equipe: futebol, basquete, vôlei etc. No plano físico, desenvolvem a velocidade, os reflexos, a força e a agilidade No plano de valores, fomentam o companheirismo, a tolerância e o respeito a regras. São ótimos para crianças introvertidas.
  • Artes marciais: judô, caratê etc. Melhoram a coordenação, a força, a agilidade e a flexibilidade. Perfeitas para crianças inquietas ou agressivas, pois ajudam a dominar os impulsos. Também são muito recomendáveis para as tímidas, uma vez que aumentam a autoestima.
  • Individuais: tênis, ginástica rítmica, patinação etc. Melhoram a coordenação, o movimento e os reflexos. O tênis ajuda a descarregar a agressividade. São esportes que fomentam a superação e a capacidade de superação.

2) Idiomas

Na atualidade, é essencial falar idiomas, e quanto antes uma criança começar a aprender uma segunda língua, melhor. Está comprovado que até os 7 anos o cérebro tem uma maior plasticidade e capacidade para aprender vários idiomas ao mesmo tempo. Além disso, aprender cedo um segundo idioma favorece o aprendizado posterior de um terceiro, um quarto etc.

Ser bilíngue ou poliglota não apenas é benéfico para o futuro profissional da criança; também contribui para seu desenvolvimento intelectual e favorece as relações pessoais. Portanto, também é indicado para crianças tímidas.

3) Atividades artísticas

Favorecem a imaginação e a capacidade de superação. São indicadas para crianças criativas.

  • Danças: fomentam a agilidade, a flexibilidade e o conhecimento do corpo, além de favorecer a sociabilidade, a disciplina e a memória.
  • Teatro, escrita: desenvolvem a capacidade criativa, a comunicação e as relações sociais. O teatro é perfeito para crianças introvertidas, embora elas possam ter dificuldade a princípio.
  • Artes plásticas (pintura, escultura, fotografia): fomentam a criatividade, a imaginação, a motricidade fina e a expressão plástica. Ótimas atividades para crianças introvertidas e extrovertidas.
  • Música: desenvolve a memória, a percepção auditiva, a capacidade de atenção, a superação e a disciplina. A música é muito adequada para jovens organizados, maduros, meticulosos e exigentes consigo mesmos.

Transtornos de aprendizagem

Cada vez mais, crianças e adolescentes são diagnosticadas com algum transtorno de aprendizagem. Mas, o problema está na criança ou os ambientes ao redor não utilizam metodologias apropriadas para desenvolver o potencial dela? 

Quando pensamos em educação, um dos grandes objetivos da família e da escola é desenvolver o potencial da aprendizagem da criança de forma plena e tranquila. Porém, muitas vezes, com o ingresso na escola surgem dificuldades que começam a ser observadas pelos pais ou são apontadas pelos professores e nos fazem questionar as condições que envolvem a aprendizagem.

Afinal, o problema está na criança ou a escola não consegue utilizar metodologias apropriadas para desenvolver seu potencial? Essa não é uma pergunta fácil de ser respondida, e é essencial conhecer e observar a criança em diversos ambientes e situações para chegar a uma conclusão que permita à escola, aos pais e a possíveis profissionais envolvidos em seu atendimento desenvolver o potencial necessário para que a aprendizagem possa se regularizar.

O diagnóstico envolvendo a aprendizagem, ao contrário de outros na área de saúde, sofre interferência constante do ambiente. Isso pode provocar a sobreposição de sintomas e dificultar a implementação de processos de intervenção efetivos. Não basta ter uma queixa de dificuldade de aprendizagem para saber qual é o problema. É preciso investigar a sua estrutura pedagógica da escola e a participação do aluno no contexto escolar; a estrutura familiar e se ela permite à criança cumprir o processo de ensino-aprendizagem, incluindo em sua rotina momentos propícios ao estudo e à reflexão escolar; e, é claro, do potencial cognitivo e emocional dela.

Quando consideramos a interface ambiente-cérebro (nos aspectos cognitivos e emocionais) resultando na aprendizagem, encontramos diversos estudos que confirmam essas inter-relações. A leitura, a escrita e a aprendizagem do cálculo matemático não dependem somente de aspectos desenvolvimentais. São invenções sociais e culturais que dependem do cérebro, porém, é fundamental que existam condições ambientais e emocionais para que ocorra uma aprendizagem efetiva e coerente. É necessário que a escola propicie, por exemplo, condições para a aquisição das habilidades necessárias para a aprendizagem de forma sequencial e coerente. Assim, para a aprendizagem da leitura e da escrita é necessário o reconhecimento das letras e a conversão grafo-fonêmica; no caso das habilidades matemáticas, é importante que a criança encontre com ambientes que propiciem a organização do raciocínio matemático e das noções de quantidade para que as quatro operações básicas se estabeleçam.

Os pais também devem providenciar um suporte de situações estratégicas e de vida real que permitam a criança vivenciar a utilização desses conceitos. A necessidade dessas aquisições deve ser enfatizada por meio da leitura de livros, da construção de imagens mentais, de brincadeiras envolvendo conceitos (rimas, aliteração, cálculos) e do fortalecimento social e emocional que as pessoas adquirem quando têm essas informações.

Autores como Ciasca, Zorzi e Capellini, e Pantano e Zorzi, que estudam e atuam na área de educação, consideram as alterações do processo de ensino-aprendizagem por meio dos seguintes critérios diagnósticos:

– Dificuldades ou problemas de aprendizagem: falhas decorrentes de condições ambientais inadequadas ou falhas pedagógicas; alterações entre as modalidades de ensino e de aprendizagem.

– Distúrbio de aprendizagem ou transtorno de aprendizagem: alterações resultantes de processos cognitivos intrínsecos ao sujeito da aprendizagem.

O transtorno de aprendizagem é considerado específico e recebe classificações (dislexia, disgrafia e discalculia) quando não pode ser atribuível a fatores externos como questões econômicas, sociais ou educacionais, desenvolvimento intelectual, problemas motores ou de linguagem ou deficiências sensoriais. Esse diagnóstico só pode ser realizado a partir da entrada da criança na educação formal por uma equipe multidisciplinar.

O maior objetivo na intervenção dos transtornos de aprendizagem é ajudar a criança a adquirir o conhecimento e as habilidades necessárias para compreender e participar ativamente da situação escolar por meio de suas habilidades. Se um aluno não possui uma linguagem oral competente, ele apresenta risco para dificuldades acadêmicas, comportamentais, sociais e emocionais. Normalmente, observa-se em crianças com transtornos de aprendizagem prejuízos no processamento da linguagem, no processamento fonológico, no processamento visoespacial, na velocidade de processamento, na memória e atenção e na função executiva.

Uma boa avaliação e um planejamento adequado para tratar transtornos de aprendizagem devem envolver os pontos fortes e fracos da criança e/ou adolescente e objetivos semanais, mensais e anuais. Deve-se, também, estabelecer quais estratégias, canais sensoriais e recursos cognitivos serão utilizados de forma prioritária para garantir a compreensão das atividades e as explicações. 

1. Berninger V. W., May M. O. M. “Evidence-based diagnosis and treatment for specific learning disabilities involving impairments in written and/or oral language”. J. Learn. Disabil. 2011;44(2):167-83.

2. Ciasca, S. M. Distúrbios de aprendizagem – Proposta de avaliação interdisciplinar. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2003.

3. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Sistema Nacional de Educação Básica – Saeb, 2005. [acesso em 20 de abril de 2012]. Disponível em http://www.inep.gov.br/.

4. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Prova Brasil, 2007. [acesso em 20 de abril de 2012]. Disponível em: http://www.inep.gov.br/.

5. OECD, C.f.E.R.a.I. “Preliminary Synthesis of the Second High Level Forum and Learning Sciences and Brain Research: Potential Implications for Education Policies and Practices. Brain Mechanisms and Youth Learning”. OECD Report, Granada, Espanha. 2001c.

6. Pantano, T., Zorzi, J. Neurociência aplicada à aprendizagem. São José dos Campos: Pulso Editorial; 2009.

7. Snowling, M.; Hulme, C. The science of reading: A handbook. Oxford, Reino Unido: Blackwell. 2005.

8. Zorzi, J., Capellini, S. Dislexia e outros problemas de aprendizagem. São José dos Campos: Pulso Editorial; 2008.

Metodologias ativas para a aprendizagem

Uma metodologia ativa coloca o estudante em um papel protagonista em relação à construção da própria aprendizagem.

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Estratégias e didáticas que favorecem que os estudantes sejam protagonistas de sua aprendizagem, visando um melhor aproveitamento escolar e o desenvolvimento de atitudes mais coerentes com as demandas da atualidade.

Quanto mais as famílias compreenderem e apoiarem a escola na implementação de mudanças, maior será a chance de os estudantes se envolverem e assumirem posturas ativas, protagonistas, beneficiando-se ao máximo das novas possibilidades dentro da escola.

A educação pós era industrial

O modelo tradicional de escola, baseado em professores transmissores de informações e em provas, foi desenhado para atender as necessidades da “era industrial”, quando a hierarquia, a padronização e a repetição eram a grande inovação.

Hoje, na era do conhecimento, famílias e empresas tendem ao diálogo e à participação, crianças e jovens têm acesso a informações via internet e televisão, e novas profissões surgem a cada dia. O mercado de trabalho e a vida em geral demandam autonomia e espírito empreendedor, criatividade, capacidade de adaptação, pensamento crítico e inteligência emocional.

Embora escolas alternativas e menos tradicionais venham trabalhando nessa linha há décadas, é nesse contexto que as chamadas metodologias ativas vêm ganhando cada vez mais destaque no Ensino Básico e Superior, no Brasil e no mundo. Em uma busca na internet, você terá acesso a inúmeros artigos e estudos de caso e poderá se familiarizar mais com o tema.

Princípios das metodologias ativas

Chamamos de metodologias ativas um conjunto de metodologias, estratégias e didáticas elaboradas para que os alunos sejam protagonistas de sua aprendizagem, visando um melhor aproveitamento escolar e o desenvolvimento de atitudes mais coerentes com as demandas da atualidade.

Embora haja um conjunto de metodologias específicas descritas como ativas, qualquer atividade focada na aprendizagem que siga alguns princípios e formatos pode ser assim qualificada.

Metodologias ativas exigem dos alunos capacidade de levantar questões sobre temas específicos, buscar, organizar, analisar e validar dados e informações, elaborar e testar hipóteses, solucionar problemas, criar e planejar, aplicar conhecimentos em práticas diversas, trabalhar colaborativamente e desenvolver autoavaliação e avaliação de pares, entre outros.

Uma metodologia ativa elimina a atitude passiva do estudante e o coloca em um papel protagonista em relação à construção da própria aprendizagem. O professor passa a ser um mediador, um provocador, um orientador dos caminhos percorridos pelos alunos.

Aprendizagem baseada em projetos

Esse é um método bastante testado e difundido, e costuma entusiasmar as classes. Trata-se de organizar a aprendizagem a partir da elaboração de um projeto com um objetivo final. Os conteúdos vão sendo pesquisados, elaborados e aplicados pelos estudantes conforme o projeto é executado. Por exemplo, na construção de um avião em madeira, é possível explorar aprendizagens nas áreas de história e geografia, matemática e ciências, artes e línguas.

As aprendizagens podem seguir um currículo mais aberto, que caminha estritamente focado no interesse da classe, ou um currículo mais diretivo, no qual os educadores dirigem certos conteúdos de acordo com os contextos do projeto de maneira a torná-los significativos, vivenciados e aplicados pelos alunos.

As formas de avaliação são várias e podem ocorrer ao longo do projeto, conforme os estudantes vão passando pelas etapas planejadas, ou mesmo com verificações de aprendizagem ao final do trabalho.

Ensino híbrido e aula invertida

Essas são propostas recentes que têm ganhado espaço por apresentarem resultados satisfatórios e muita flexibilidade de uso para diversos tipos de escolas e alunos.

O ensino híbrido mescla recursos presenciais com virtuais de modo a ampliar as possibilidades de fontes de estudo, antes restritas ao espaço da sala de aula ou da escola.

Com recursos digitais é possível trazer para dentro da classe os museus mais importantes do mundo, documentos e monumentos históricos, manifestações de culturas tradicionais ou distantes, além de profissionais dos mais diversos tipos com os quais alunos podem interagir para obter um aprendizado vivo e estimulante.

No caso da aula invertida, os recursos digitais são estudados previamente e os alunos chegam às aulas com perguntas, dúvidas e pontos a debater sobre o tema em estudo, tornando os momentos com a presença de professor mais ricos e proveitosos.

Aprendizagem entre pares

Esse método baseia-se na troca e interação entre estudantes. Em um desenho mais formal, duplas respondem a um mesmo questionário ou roteiro inicial sobre o tema a ser explorado. Em seguida, a classe compara respostas e inicia-se o processo de aprendizagem a partir das dúvidas, problematizações e aspectos mais críticos do tema em estudo.

O método possibilita que o professor tenha um diagnóstico sobre o que os alunos podem ensinar uns aos outros, até que ponto podem caminhar sozinhos e quanto ele deverá interferir.

Há variações dessa estrutura, sem questionários iniciais, mas que também exploram a colaboração entre estudantes e a mediação do docente.

Parceria entre família e escola

Vale lembrar que as metodologias ativas mudam a visão tradicional de educação e podem causar insegurança nas famílias e, em alguns casos, nos alunos. Por isso, é importante que os pais conversem com as coordenações pedagógicas e com os professores para conhecer o que as escolas estão aplicando e compreender como acompanhar e apoiar os filhos nesses novos modelos de estudos. A parceria entre família e escola é mais do que bem-vinda para que essas inovações sejam confortáveis para todos e tenham êxito nos resultados de aprendizagem.

Quanto mais as famílias compreenderem e apoiarem a escola na implementação dessas mudanças, maior será a chance de os estudantes se envolverem e assumirem posturas ativas, protagonistas, beneficiando-se ao máximo das novas possibilidades dentro da escola.

Promover o pensamento crítico para a independência

Desenvolva a autonomia como atitude diante da vida.

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Questionar o mundo ao redor e analisar a veracidade das informações levando em conta evidências objetivas nos torna menos influenciáveis a manipulações e a informações errôneas.

O pensamento crítico é o processo intelectual que nos permite pensar de forma lógica e chegar a uma resposta sensata.

O pensamento crítico é um processo intelectual que se realiza de forma consciente e autorregulada e que exige usar a lógica para chegar a um juízo razoável analisando, avaliando, interpretando, inferindo e explicando a realidade por meio de questões evidenciáveis e objetivas. Consiste em ser receptivo à informação, questionando-a, sem aceitá-la de imediato.

Devemos usar a inteligência de maneira racional e eficaz

Pensamos o tempo todo, mas nosso cérebro não pode processar simultaneamente toda a informação que recebe. Assim, utilizamos alguns “atalhos” para funcionar de maneira adequada, o que faz com que, em muitos momentos, simplesmente acumulemos informação de maneira sistemática, sem parar para analisá-la, ou que baseemos o pensamento em preconceitos e outras ideias distorcidas. 

Apesar da comodidade que esse recurso proporciona, é imprescindível treinar desde cedo as habilidades necessárias para usar a inteligência e o conhecimento de maneira racional e eficaz.

As características do pensamento crítico, segundo o Miniguia para o pensamento crítico (2003) são:

  • • Receptividade: capacidade de realizar observações detalhadas sobre um objeto ou informação e emitir conclusões.
  • • Questionamento e reconstrução do saber: estar aberto a novas descobertas, relacionar conhecimentos novos com antigos.
  • • Questionamento permanente: não ser conformista; buscar e enunciar o porquê de tudo.
  • • Mente aberta: não ter opiniões rígidas, mas disposição para aceitar as ideias dos outros e reconhecer os próprios equívocos.
  • • Coragem intelectual: enfrentar as decisões difíceis ou não aceitar as críticas dos outros.
  • • Autorregulação: capacidade de controlar a maneira de pensar e de atuar.
  • • Controle emocional: manter a calma diante de ideias ou pensamentos contrários aos seus e não se deixar levar por impulsos.
  • • Avaliação justa: dar às opiniões e acontecimentos o valor que objetivamente mereçam.

Por que é importante que as crianças aprendam a pensar de maneira crítica?

As crianças estão sempre aprendendo, e o pensamento crítico lhes permite evitar a memorização e a rotina e realizar aprendizados significativos. Ou seja, pensar a partir do que estão aprendendo para que o conteúdo faça sentido para elas, e não seja uma mera acumulação de dados.

Pensar criticamente favorece a motivação e a curiosidade para aprender, já que a criança é o ator principal do processo, e não apenas um receptor de informação. Além disso, favorece o desempenho acadêmico, já que também prepara para a aquisição de competências matemáticas, de leitura e de escrita, e facilita a compreensão do método científico.

Assim, pensar de maneira crítica é pensar de maneira racional, levando em conta as possíveis opções e suas consequências, sem se deixar levar pelas emoções, o que constitui uma vantagem para resolver problemas e tomar decisões.

A capacidade de questionar a realidade e analisar a veracidade das informações levando em conta evidências objetivas também nos torna menos influenciáveis a manipulações e a informações errôneas.

Em síntese: pensar criticamente fomenta nas crianças a capacidade de antecipar acontecimentos e atuar diante deles com autonomia e responsabilidade; de ser mais flexíveis no nível cognitivo; de não se deixar levar por preconceitos; e de ser mais tolerante diante de diferentes pontos de vista.

Como desenvolver o pensamento crítico nas crianças?

Existem crianças são mais curiosas do que outras e questionam o mundo de maneira natural. No entanto, todas podem aprender habilidades de pensamento crítico, e tanto pais como professores são os melhores orientadores desse processo. A seguir, apresentamos sugestões de atividades para desenvolver o pensamento crítico:

  • • Sempre que uma criança pergunta o porquê de alguma coisa, é importante não responder de modo direto, mas perguntar o que ela acha, para que primeiro chegue às próprias conclusões. Depois disso, o adulto pode fornecer informação adicional.
  • • Realizar atividades nas quais ela tenha que avaliar detalhes. Por exemplo, pedir que observe bem uma ilustração ou um quadro e perguntar: “O que você acha que está acontecendo aqui?”; “Por que acha que isso está acontecendo?”.
  • • Agir como modelo, pensando em voz alta quando precisar resolver um problema ou situação.
  • • Antes de uma leitura, seja um livro ou uma atividade para casa, fazer perguntas, para que a criança se conscientize da informação prévia que já tem sobre o tema.
  • • Ao terminar uma leitura ou atividade para casa, perguntar à criança o que ela sabia antes e o que sabe agora sobre o assunto, e se algo mudou em relação ao que pensava.
  • • Sempre que possível, permitir que a criança aprenda mediante projetos nos quais tenha que buscar, analisar, resumir e apresentar informações obtidas em várias fontes, pois isso exige que se aprofunde no assunto pesquisado.
  • • Ensiná-la a avaliar o trabalho de maneira objetiva. Por exemplo, pode registrar o que aprendeu – escrever a respeito implica tomar consciência do que sabe –, sintetizar, expor e, posteriormente, cotejar a informação que possui com a obtida em outras fontes (livros, enciclopédias etc.) para corrigir informações, incluir dados ou eliminar o que não é relevante.
  • • Trabalhar na realização de inferências. Por exemplo, tanto em um relato oral como em um filme ou texto, o adulto pode perguntar à criança por que determinados fatos acontecem e como ela os interpreta. Ao ler um texto, trabalhar com o estabelecimento de hipóteses, focando as perguntas não apenas em questões de memória (o que, como, quando, onde), mas também em aspectos que não constem de forma literal, mas que ela deve extrair de seus conhecimentos prévios.
  • • Ajudá-la a compreender conceitos de maneira crítica. Por exemplo, pedir à criança que procure um conceito no dicionário e depois perguntar o que aquele termo significa para ela, solicitando que o aplique em alguma frase ou em algum exemplo espontâneo.
  • • Ensinar a criança a trabalhar em equipe: compartilhar ideias com os outros, chegar a acordos e ceder em alguns aspectos.
  • • Treinar a criança a resolver problemas cotidianos: identificar o problema, fazer um levantamento de ideias sobre possíveis soluções, pensar em vantagens e desvantagens de cada uma e decidir qual é a melhor opção.
  • • Realizar debates sobre temas controversos nos quais a criança tenha que defender sua posição e também a contrária com argumentos, não com opiniões ou crenças.
  • • Ensinar a criança a comparar informações. Por exemplo, perguntar a ela em que se parecem e se diferenciam dois conceitos, personagens ou histórias.
  • • Quando ela se equivoca, fazer perguntas para ajudá-la a encontrar a solução correta e também estimulá-la a fazer perguntas para que se aprofunde na investigação e, em seguida, se corrija.
  • • Transmitir-lhe valores essenciais como empatia, responsabilidade, tolerância e justiça, e que os utilize nos questionamentos que fizer da realidade.
  • • Deixar, sempre que possível, que a criança decida com autonomia, para que aprenda a assumir a responsabilidade por suas decisões.

Paul, R. e Elder, Linda. La mini-guía para el pensamiento crítico – conceptos y herramientas. Fundación para el Pensamiento Crítico (2003).

Aprender a aprender: o desenvolvimento da autonomia do estudante

O aprendizado focado em memorização de conteúdos vem sendo substituído por metodologias que estimulam o aprender a pensar e a resolver problemas reais.

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O aprendizado focado em memorização de conteúdos vem sendo substituído por metodologias que estimulam o aprender a pensar criticamente e o aprender a aprender.

As escolas inovam e se reinventam para transformar suas práticas pedagógicas em experiências relevantes para todos os estudantes.

Novos tempos, novas exigências

Podemos dizer, com segurança, que a exigência sobre o estudante de hoje é bem mais complexa do que na primeira metade do século passado. Basta perceber o quanto decorar os afluentes de um rio – habilidade muito valorizada no tempo de nossos avós – é mais simples do que, por exemplo, compreender, analisar e criticar os fatores socioambientais que incidem sobre o ecossistema de um rio. Esse é o tipo de demanda que se coloca aos estudantes hoje.

É natural que se dê menos valor à memorização de fatos e datas em uma sociedade em que dados e informações objetivas podem ser obtidos rapidamente na internet. A exigência passa a ser, então, a capacidade de transformar informações em conhecimento significativo e socialmente relevante.

Além disso, vivemos em uma sociedade que revisa e produz conhecimento em ritmo galopante, com o surgimento de novas profissões e a extinção de outras. Nesse contexto, outra exigência que nos é colocada é a de aprender por toda a vida, após as etapas formais de estudo, inclusive do Ensino Superior.

É hora de redescobrir a escola, mas uma nova escola

Em 1996, um importante relatório sobre a educação para o século 21 produzido para a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) por especialistas de todo o mundo motivou grandes debates, pesquisas e propostas de renovação pedagógica. Desde então, essas discussões têm influenciado significativamente o reposicionamento das prioridades educacionais em muitos países, inclusive no Brasil.

O relatório “Educação: um tesouro a descobrir” coloca a educação como fator central para o desenvolvimento e aponta quatro pilares nesse novo contexto: aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver.

O primeiro pilar foi o que mais teve aderência mais rápida no mundo escolar, seja porque muitas escolas de vanguarda já vinham trabalhando nesse sentido, seja porque é o que apresenta mais consenso na comunidade educacional.  

A partir de então, o aprendizado mecânico, focado em memorização e conhecimento acrítico de conteúdos, foi sendo substituído por metodologias que estimulam o aprender a pensar criticamente e o aprender a aprender. Daí a necessidade de as escolas inovarem, se reinventarem, sabendo distinguir o que devem manter e o que devem transformar em suas práticas pedagógicas.

Aprender a aprender: do que estamos falando

O relatório citado aponta aprendizados que devem ser estimulados desde a primeira infância:

  • • O aprendizado da atenção, de processos lentos e aprofundados de apreensão, em oposição à velocidade usual de um clique na internet.
  • • A capacidade de memorização associativa, ou seja, de selecionar o que deve ser memorizado a fim de possibilitar a realização de combinações de informações, e não mais a memorização como um automatismo.
  • • A associação de uma cultura geral ampla com conhecimentos específicos aprofundados.
  • • O pensamento indutivo e lógico, assim como o dedutivo e analítico.

Nas escolas, isso foi concretizado em diferentes estratégias de ensino que, respeitando o desenvolvimento de cada idade, mas desde os pequeninos, têm como objetivo promover a autonomia do estudante para aprender por toda a vida.

Novas metodologias, novas habilidades

Por tudo isso, as escolas adotam novas metodologias que exigem protagonismo do aluno e lhe dão a oportunidade de, ao aprender conhecimentos das diversas disciplinas, desenvolver também habilidades específicas.

As habilidades envolvidas no aprender a aprender, ou aprender por toda a vida, são várias – algumas novas, outras nem tanto, mas que passam a ser mais valorizadas:

  • • Desenvolver a curiosidade e o prazer da descoberta.
  • • Identificar necessidades de aprendizagens para resolver problemas, dúvidas, curiosidades.
  • • Localizar informações, sabendo distinguir tipos de fontes adequadas.
  • • Avaliar a qualidade das informações ponderando critérios distintos.
  • • Analisar e aplicar conhecimentos nas mais diversas situações.
  • • Compreender e relacionar os fenômenos estudados a contextos sociais.
  • • Relacionar conhecimentos entre diversos campos de estudo, de forma intedisciplinar.
  • • Criar conhecimento novo.

Como saber se uma pessoa aprendeu a aprender? Quando ela tem autonomia para transformar informações em conhecimento, dando-lhes significado, sentido e utilidade. Em outras palavras, quando é capaz de utilizar de maneira própria todas essas habilidades para satisfazer suas necessidades de aprendizagem – pessoais,exigidas pelo mercado de trabalho ou para sua ação cidadã e transformadora. 

A importância da leitura em voz alta nos primeiros anos

A neurociência descobre aspectos importantes como as entonações e as melodias durante a leitura em voz alta

A neurociência descobre aspectos importantes como as entonações e as melodias durante a leitura em voz alta

A neurociência tem explorado uma linha de pesquisa que envolve aspectos importantes como as entonações e as melodias presentes na leitura em voz alta e que estão associadas à emoção.

A criança precisa atribuir um som à letra que está aprendendo a ler

Você sabia que a leitura silenciosa tem origem nas leituras em voz alta eficientes e significativas? A importância da leitura em voz alta é o tema deste vídeo com Telma Pantano, mestre e doutora em Ciências e pós-doutora em Psiquiatria pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Confira as interessantes explicações da consultora e peça para seu filho ler uma história para você hoje à noite antes de dormir!

Efeito das novas tecnologias no cérebro de 0 a 3 anos

Conheça os benefícios e os riscos de deixar crianças pequenas imersas nas telas digitais

 

Entenda por que os recursos tecnológicos atraem tanto as crianças e os problemas que eles podem trazer para o desenvolvimento do processamento cerebral.

Que criança queremos formar para o futuro? Essa é a pergunta que deve guiar nossas escolhas na hora de deixar as crianças interagirem com tecnologia. 

Telma Pantano, mestre e doutora em Ciências e pós-doutora em Psiquiatria pela FMUSP, revela por que os recursos tecnológicos atraem tanto as crianças e os problemas que eles podem trazer para o desenvolvimento do processamento cerebral.