É comum ouvir pais, mães e responsáveis falarem que fariam de tudo por seus filhos, mas, se tivessem que escolher, o maior desejo seria o de garantir que fossem felizes e repletos de saúde. Mesmo se você não tiver filhos, é algo que podemos imaginar, não é mesmo? Afinal, quem nunca recebeu um conselho parecido com: “tendo saúde e felicidade, o resto se conquista”?
O conceito de felicidade pode ser bastante abstrato e ter significados diferentes, de acordo com as ambições familiares, do tempo e espaço que vivem, de tradições culturais, etc. Assim, como este assunto pode ser abordado por pontos de vista totalmente distintos, deixaremos esta conversa para um outro momento. Iremos, portanto, falar de outro aspecto, mais pragmático: a saúde dos filhos.
Ainda que tenhamos esse recorte, saúde ainda é um tema muito amplo. Reflita: quando se depara com o termo “saúde”, o que aparece na sua mente? Talvez, uma imagem com alimentos naturais, como frutas e verduras? Quem sabe você veja alguma pessoa sorridente, praticando exercícios físicos? Arquétipos desse tipo estão normalmente associados a um estilo de vida saudável, mas será que ter saúde se restringe somente a elementos tão específicos?
A cada dia, a saúde é pensada de forma mais integral e sistêmica, e sabe-se que, além de ter um corpo saudável, para sermos realmente saudáveis, devemos levar em conta um fator fundamental: a saúde mental.
A saúde mental está relacionada ao bem-estar psicológico e emocional de uma pessoa, isto é, engloba diversos aspectos, desde como ela pensa, sente e age, além de sua capacidade de lidar com estresse, enfrentar desafios, manter relacionamentos positivos e tomar decisões importantes. Portanto, ter uma boa saúde mental não significa estar livre de emoções negativas, mas ter a capacidade de lidar com a complexidade das emoções de maneira saudável e equilibrada.
Na educação do século XXI, a saúde mental é tratada como um dos temas centrais a serem trabalhados pela escola, sendo abordado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que propõe o desenvolvimento da inteligência emocional por meio das competências socioemocionais, isto é, através das habilidades do indivíduo para reconhecer suas próprias emoções e as emoções de outras pessoas ao seu redor, incluindo a capacidade de gerenciar os sentimentos a fim de fazer escolhas conscientes, com equilíbrio emocional, construindo relações interpessoais saudáveis.
Desta forma, os pais sabem que é dever da Escola tratar a inteligência emocional por meio de diversas abordagens, assim como é direito das crianças e dos jovens se desenvolverem. Mas será que este é um trabalho apenas para a Escola?
Muito pode ser feito dentro de casa, e os pais podem e devem contribuir para a saúde mental dos filhos, principalmente quando falamos em inteligência emocional. Então, vamos explorar algumas dicas do que pode ser feito nesse sentido?
É muito importante criar um ambiente seguro e acolhedor, incentivando que crianças e jovens falem sobre suas emoções sem medo de julgamentos. Devemos sempre nos lembrar – e praticar – que a emoção de outra pessoa é sempre válida e importante. Quando queremos que os outros expressem sentimentos, pensamentos e preocupações, precisamos mostrar que existe espaço para isso, e que estamos ali para apoiá-los.
Nesse sentido, é fundamental praticar a chamada “escuta ativa”, isto é, prestar atenção, fazer perguntas para compreender o que está sendo dito, mostrando interesse genuíno em relação às experiências e dúvidas que estão sendo trazidas.
É válido lembrar que as crianças e jovens enxergam os pais como modelos a serem seguidos, então, para que haja comunicação aberta com os filhos, deve haver uma troca de mão dupla. Dessa forma, os adultos também devem falar sobre os próprios sentimentos, explicando aquilo que sentem e, assim, mostrar que também lidam com diversas emoções, que há dias melhores e piores, que enfrentam dificuldades e que essa mistura de estados do espírito faz parte da vida.
Muitas vezes, mesmo para um adulto, identificar uma emoção não é algo fácil. É frequente vivenciarmos alguma situação de estresse, por exemplo, e confundirmos o que sentimos, não é mesmo? Imagine, então, o desafio que é saber o que se sente quando se é uma criança ou um jovem em formação, um ser que sequer possui o domínio de um vocabulário amplo. Em outras palavras, é importante lembrar que estes indivíduos em formação, apesar de possuírem uma bagagem enorme de sentimentos dentro de si, muitas vezes ainda não sabem nomeá-los.
Para ajudá-los com este desafio, uma dica é incentivar que os filhos compartilhem aquilo que sentem propondo alguma brincadeira, apresentando alguma atividade lúdica que contemple esta identificação de sentimentos. Por exemplo, pedir para que façam um desenho, cantem uma música, ou até mesmo façam uma mímica sobre aquilo que estão sentindo.
Outra forma de contribuir com esta identificação dos sentimentos é fazer perguntas para ajudar na explicação sobre o sentimento, para que, assim, o adulto possa mediar este momento, oferecendo algumas pedras para que eles trilhem seus próprios caminhos, “Como você se sente sobre isso?” ou “O que você está experimentando agora?” são exemplos simples, que podem ser muito eficientes. Desta forma, espera-se que seja possível dar ajuda e suporte no desenvolvimento da consciência emocional das crianças e dos jovens.
Muitas vezes, uma situação que gera desconforto e sentimentos negativos, pode desencadear uma reação não desejada, ou, até mesmo, impensada. Por exemplo, é frequente em uma sala de aula de uma turma da educação infantil, um aluno não querer compartilhar os brinquedos. Assim, a reação do colega que quer brincar conjuntamente pode ser bastante impulsiva, como por exemplo, ficar com raiva e dar um grito, ou chorar compulsivamente, se o outro aluno disser que quer brincar sozinho.
É importante, portanto, dar suporte para que as crianças e os jovens encontrem maneiras saudáveis de lidar com as emoções. Primeiramente é necessário identificá-las e saber como controlá-las. Uma sugestão é ensinar que contar até dez é bastante poderoso para acalmar-se, respirar profundamente em momentos de estresse também pode ajudar muito, ou ainda, encontrar um local tranquilo para alinhar as emoções pode ser uma forma muito proveitosa.
É essencial encorajar que as crianças e jovens consigam olhar outros pontos de vista, se colocando no lugar dos outros. Para isso, os pais podem trabalhar na direção para que seus filhos saibam respeitar outras perspectivas e, portanto, viverem em harmonia e apreciando a diversidade. Assim, será possível que trabalhem as habilidades necessárias para compreenderem as emoções de outras pessoas, desenvolvendo a empatia.
Uma estratégia para trabalhar a empatia é discutir como os outros podem se sentir em determinadas situações. Outra maneira, é incentivar a cooperação e a colaboração em tarefas da rotina da casa: no preparo de refeições ou na organização dos cômodos, promovendo, assim, momentos de ajuda mútua e respeito pelo outro.
Este tipo de prática também contribui para encorajar os filhos a identificarem problemas, analisarem e avaliarem situações para encontrarem soluções para eles. Assim, promovendo uma tomada de decisão responsável, ajuda-os a desenvolverem a resiliência emocional e a autonomia.
Embora seja importante propiciar que as crianças e os jovens atuem de maneira autônoma, um ambiente seguro e estruturado é essencial para o desenvolvimento emocional. Assim, limites e regras consistentes devem ser estabelecidos, para que as crianças e jovens se sintam seguros e saibam o que esperar.
É importante lembrar que quando essas regras são definidas de forma conjunta com a criança ou com o jovem, há maior envolvimento e engajamento, contribuindo para que eles se sintam agentes das próprias vidas, com muita responsabilidade, tendo papel essencial no bom funcionamento do dia a dia.
Por fim, é sempre bom lembrar que o reconhecimento das atitudes baseadas na inteligência emocional que as crianças e jovens realizam deve ser praticado continuamente. Assim, a sugestão é elogiar os esforços emocionais deles, não apenas suas conquistas práticas, para ajudá-los a entenderem que sempre existirão desafios emocionais a serem enfrentados, e que o processo de lidar com as emoções é importante e relevante para a vida toda!
Como tem sido com sua família, as questões de saúde mental e inteligência emocional estão sendo trabalhadas? Esperamos que algumas dicas possam ser colocadas em prática o quanto antes e, assim, contribuir para que as crianças e os jovens caminhem em direção à saúde e à felicidade!