O que é projeto de vida? Como elaborar? Qual é o papel do aluno, da escola e da família na construção e na implementação de projetos de vida?
Desde que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) trouxe o projeto de vida como o eixo sobre o qual a escola deve organizar suas práticas, muito se discute sobre protagonismo, autoria e educação integral, mas nem sempre fica claro como ele pode ser desenvolvido.
Antes de propô-lo aos alunos, pense em você: qual é o seu projeto de vida? O que você deseja para o seu presente e para o seu futuro? O que tem feito para atingir seus objetivos?
Difícil responder, não?
Então vamos mudar as perguntas: o que o move? O que dá sentido à sua vida? Essa motivação está relacionada com a sua atuação profissional?
O que move você é o seu propósito, ou seja, aquilo que o inspira, que o faz sair da cama todos os dias, a sua causa, a sua bandeira. O propósito deve guiar as suas escolhas e ser a base dos seus objetivos. Como educador, por exemplo, talvez o seu propósito profissional seja fazer a diferença na vida dos seus alunos por meio da educação e transformar o mundo com conhecimentos e vivências. A partir dessa motivação, você se preparou, traçou e trilhou o seu caminho e a sua carreira.
Propósito é a sua motivação, aquilo que o inspira
E hoje: quais são os seus objetivos? O que você quer alcançar em curto, médio e longo prazo na esfera pessoal, na social e na profissional?
É preciso tempo e informações para organizar os pensamentos, estabelecer metas e pensar em modos de atingir esses objetivos. É preciso, também, fazer uma análise do presente para definir formas de chegar ao futuro desejado.
Como você deve ter percebido, mais do que respostas, a proposta do projeto de vida é oferecer as perguntas certas. As respostas são individuais e podem mudar em função do período de vida. O papel da escola e da família é estimular a reflexão sobre o campo de possibilidades dos alunos: a identificação de diferentes estilos de vida baseados em escolhas livres e responsáveis em função do contexto socioeconômico deles.
Campo de possibilidades são os diferentes caminhos rumo ao futuro com base na análise do presente
O projeto de vida visa ampliar esse campo de possibilidades, levando os jovens a considerar as vantagens e desvantagens dos diferentes estilos de vida profissional, seja por meio do empreendedorismo, seja pelo meio acadêmico ou empresarial.
Enquanto os alunos conhecem e analisam as trajetórias possíveis, é possível conduzir de forma segura a elaboração de um plano de ação para levá-los a identificar interesses, transformá-los em objetivos realistas e desenvolver as competências e as habilidades necessárias para atingi-los e, se for o caso, revê-los de acordo com as mudanças no entorno.
As três dimensões do projeto de vida
Com base em reflexões, vivências individuais e coletivas e conhecimentos, é possível desenvolver as três dimensões da vida e definir um projeto para cada uma delas. As três dimensões a serem desenvolvidas no projeto de vida são: pessoal (autoconhecimento), social (vida em sociedade) e profissional (mundo do trabalho).
Na dimensão pessoal, os jovens se (re)conhecem como sujeitos e refletem sobre os aspectos que impactam na sua identidade, como seus valores, o modo como lidam com os seus sentimentos e emoções, a sua origem (a família biológica e a de convivência) e a sua atitude de abertura ao novo e à diversidade. Além disso, descobrem interesses e aspirações e detectam competências e habilidades que podem se relacionar com as profissões que irão exercer.
As atividades e as vivências nessa dimensão devem contribuir para promover a autoaceitação e a autovalorização, favorecendo, assim, o fortalecimento da autoestima dos jovens, o seu crescimento emocional e o seu empoderamento.
Na dimensão social, os alunos refletem sobre as relações interpessoais com o seu entorno imediato e com o mundo e sobre o impacto que essas relações causam neles como cidadãos.
As atividades dessa dimensão, maioritariamente em grupos, visam ao desenvolvimento do senso de responsabilidade para com o bem comum, por meio do convívio baseado em valores, como ética e empatia, e no respeito a direitos e deveres sociais. Promove-se a atuação na sociedade por meio da força de ações e intervenções coletivas para a solução de problemas reais que afetam da escola à comunidade, da cidade ao planeta.
Na dimensão profissional, abordam-se os fatores que contribuem para a mobilidade social dos jovens por meio da sua atuação produtiva. A inserção e a permanência no mundo do trabalho dependem da identificação e do desenvolvimento de habilidades, competências e conhecimentos alinhados às demandas do século XXI, como uso da tecnologia, empreendedorismo, criatividade e resiliência.
Nesse contexto, já não se fala mais em “vocação”, como se as pessoas nascessem predestinadas a descobrir e exercer determinada profissão. No mundo dinâmico da sociedade 4.0, as demandas e os trabalhos estão em constante transformação e, para além de preparar os jovens para uma profissão específica, o objetivo da educação contemporânea é oferecer subsídios para que eles se tornem cidadãos e “profissionais” no sentido amplo do termo, que possam se adaptar e crescer tanto em situações favoráveis quanto nas adversas, com base em valores e saberes pessoais, relacionais e cognitivos.
O desenvolvimento dessas três dimensões contribui para a formação de jovens cidadãos críticos, autônomos e éticos, capazes de identificar e realizar objetivos alinhados ao presente e ao futuro que desejam para si e para o mundo.
O passo a passo para o projeto de vida
Promover a reflexão e a construção de projetos de vida na escola significa oferecer ferramentas e recursos para que os jovens transformem as aspirações em objetivos concretos alinhados aos seus propósitos. Um desses recursos é a elaboração de um plano de ação que, baseando-se nesses objetivos, estabelece metas com prazos claros e viáveis, assim como estratégias para realizá-los.
Plano de ação é o planejamento dos passos em direção a um projeto
Para evitar que os jovens sejam levados pelo acaso das oportunidades ou por necessidades, a proposta de construção de um projeto de vida desnaturaliza e combate o determinismo social partindo da análise da realidade e da elaboração de um planejamento estratégico para superar desafios. Assim, o plano de ação para o desenvolvimento de um projeto de vida deve estabelecer objetivos, metas, prazos e estratégias realistas, que não contem com a sorte ou com o acaso, como ganhar na loteria.
Por meio da construção e da atualização sistematizada e constante do plano de ação para a realização dos seus projetos de vida, os jovens podem refletir, trocar ideias com pessoas próximas, pesquisar sobre as perspectivas locais e globais, fazer escolhas e tomar decisões sobre suas vidas, tendo em vista que elas impactam no entorno e – por que não? – no mundo.
Aluno + escola + família + sociedade = projeto de vida
As noções de protagonismo e autoria abordadas no Ensino Fundamental desenvolvem-se no Ensino Médio por meio do projeto de vida. A educação nessa etapa escolar visa desenvolver os alunos não apenas na dimensão cognitiva, mas de forma integral, com base nos seus interesses e potencialidades. Nesse contexto, o desenvolvimento das juventudes é responsabilidade não apenas do professor e da escola, mas de toda a comunidade.
A família e a sociedade são fundamentais para o acolhimento, o respeito e a valorização dos projetos de vida dos seus jovens e exercem importante influência sobre eles, principalmente por meio de seus modelos — referências locais ou globais que se tornam exemplos por seus valores e atitudes.
A participação da comunidade nas atividades escolares contribui para o desenvolvimento estudantil, social e profissional dos jovens e ela pode ser realizada por meio de interações e vivências coletivas nas quais se promova a apresentação dos projetos de vida, assim como das habilidades e capacidades dos jovens.
A inclusão dos familiares e dos amigos na agenda da escola aumenta o engajamento e o fortalecimento da identidade, essenciais na fase de tomada de decisões que vivem.
Essas escolhas da juventude começam no Ensino Médio, com a opção por determinadas áreas do conhecimento e itinerários formativos. Essa construção autoral dos seus currículos é o primeiro passo rumo ao projeto de vida e a escola é a propulsora dessa importante trajetória. Enquanto se prepara para o futuro profissional e cidadão, o jovem constrói o presente alinhado aos seus percursos e às suas histórias e toma decisões éticas fundamentadas ante os desafios da sociedade contemporânea.
Não é um destino, é um caminho
Traçar um projeto de vida e definir um plano de ação para atingir os objetivos não é uma tarefa com data para acabar. A vida está sujeita a mudanças e influências do contexto afetivo, social, cultural, econômico e político, nacional e internacional, e o projeto precisa se adaptar a elas. Mas como prever o futuro se ele é incerto?
O conhecimento e a preparação para as adversidades são as melhores estratégias para não ser surpreendido. Estar atualizado com os saberes de interesse, desenvolver as competências e habilidades necessárias ao mercado de trabalho e ter “planos B” pode contribuir para que não seja preciso mudar de rota no caminho rumo aos sonhos, apenas recalculá-la para chegar ao destino desejado.
O projeto de vida não começa no futuro, ele é o presente. Preparar-se para ele já é vivenciá-lo, é ser protagonista da própria história hoje e amanhã.
E você? Qual é o seu projeto de vida para a dimensão pessoal, social e profissional?
Identifique seus objetivos e trace você também seu projeto de vida. Ser protagonista não é uma aprendizagem exclusiva para alunos.
Roberta Amendola
é Mestra em Educação pela USP, bacharel e licenciada em Letras pela USP, especialista em Ensino de Espanhol para Brasileiros pela PUC-SP, em Mercado Editorial pela FIA-USP/CBL e em Edição pela Universidad Complutense de Madrid. Editora e autora de materiais didáticos de espanhol e projeto de vida.
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